Blend All About Wine

Wine Magazine
O chefe Marco Gomes, do “Foz Velha”, agora também com a “Casa do Marco”

Texto José Silva

Nasceu em Alfândega da Fé, em Trás-os-Montes, e tirou o curso em Bragança, tendo-se formado bastante cedo, iniciando um trajecto fulgurante que o levou a unidades hoteleiras e restaurantes um pouco por todo o país: Algarve, Lisboa, Viseu, Alfândega da Fé, Chaves e Amarante, onde foi então reabrir o restaurante da estalagem “Casa da Calçada”.

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Chefe Marco Gomes – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Dali foi o salto para o Porto, para abrir o restaurante “Foz Velha”, na zona antiga da Foz, em frente ao mar e muito perto da foz do rio Douro, já lá vão doze anos.

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“Foz Velha” – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Ao longo dos quais o transformou num dos mais conhecidos e apreciados da cidade, onde pratica uma cozinha de autor, mas baseada quase sempre nos produtos portugueses e nos nossos aromas e paladares, mantendo sempre uma forte ligação a Trás-os-Montes, a sua terra mãe. Começou então uma carreira que lhe viria a dar um reconhecimento nacional e mesmo internacional, pois tem sido convidado para cozinhar em vários pontos do mundo: Espanha, Brasil, Estados Unidos, Canadá, Suécia, Dinamarca, Suíça, Escócia, Alemanha, Hong-Kong e Macau. Neste último participou até no arranque dum novo projecto. Actualmente está ligado a um projecto na ilha de S. Miguel, o restaurante “Forneria Sta. Clara”, nos Açores.

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Chefe Marco Gomes – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Participou também na elaboração de vários livros, um do quais bem curioso, que partilha com outros colegas e onde cada um tem a cozinhar consigo o próprio filho! Filho de peixe…

Fazer serviços de pequena, média e grande envergadura passou a ser uma constante, um pouco por todo o país. Dá formação em várias escolas, ajudando muitas vezes os alunos a fazer os seus estágios e até a encontrar colocação.
Com naturalidade, foi convidado a participar num programa televisivo, a “Praça da Alegria”, onde partilhou o espaço com outros colegas, e onde esteve até este programa ser “deslocalizado” para Lisboa. Hoje tem um espaço no programa da manhã do “Porto Canal”, um vez por semana, com bastante sucesso.

Mas como a vida é feita de evolução, recentemente decidiu efectuar uma enorme transformação no seu “velho” Foz Velha e meteu mão à obra. Tendo há alguns anos recuperado duas salas do piso térreo e criado a “Academia Marco Gomes”, um espaço polivalente onde se faz “show cooking”, formações diversas e refeições para pequenos grupos, manteve este espaço e criou um novo conceito, com imagem renovada, novos logotipos e decoração totalmente nova: a “Casa do Marco”.

Nova decoração – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Lareira acolhedora – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Foram feitas obras de renovação das infra-estruturas, melhorando o conforto, e no primeiro piso, onde funcionava o “Foz Velha”, passaram a funcionar dois espaços e conceitos: o “Foz Velha” mantém-se num espaço mais recatado, usufruindo da lareira acolhedora, e ali servem-se apenas menus de degustação, mantendo a qualidade e o nível de serviço a que já nos habituamos.

Um espaço mais recatado – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

“Casa do Marco” – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

A parte maior da sala é agora a “Casa do Marco”, um espaço mais jovem, informal, mas com o traço comum na decoração, nas mesas e mesmo no serviço, mas agora com uma oferta de petiscos que se dividem em: Para Picar, Os Caldos, Dá Cá Um Bacalhau, Carne, Inovações, Por Encomenda, Que Lateirices, As Frigideiras, O Tacho, Acompanhantes e O Que É Doce, Doce É!! E está tudo dito…

Menu – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

O que se pretende é que, debaixo do mesmo ambiente e serviço, se possam fazer refeições ligeiras ou completas, escolhendo livremente desta ementa divertida mas com uma grande variedade de oferta onde se pode mesmo só “picar”, ou ir até mais longe com pratos mais substanciais.

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“Pica-Pau” – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Com a inclusão de muito do receituário tradicional português e mesmo tripeiro (lá está o pica pau, as tripas à moda do Porto e mesmo a francesinha!!), o cliente tem a possibilidade de escolher não só o que mais lhe agrada, mas também as quantidades à medida do seu apetite. O que também se traduz no preço final, que pode ser uma boa surpresa. Muitos dos vinhos da carta variada são servidos a copo, a preços bastante sensatos.

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Chefe Marco Gomes – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

O próprio chefe Marco Gomes vem muitas vezes à mesa, inteirando-se da satisfação dos clientes e recolhendo opiniões que pode mesmo utilizar na melhoria da prestação desta “casa” que é dele, mas que quer partilhar com os clientes.

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Aros de Lula – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Já lá comemos o pica-pau, a alheira e a chouriça grelhadas, um belo presunto de porco bísaro, uma óptima seleção de queijos, rodas de lulas douradas, ovos rotos e um salmão curado soberbo.

Caldo de Tomate – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Caldo de Cebola – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Os caldos de tomate e de cebola são deliciosos, servidos muito quentes. O bacalhau à Braz estava no ponto, assim como o arroz de costelinhas em vinha d´alho.

Ovos Rotos – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Açorda de Camarão – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Os ovos rotos e a francesinha tradicional são mesmo muito bons, assim como a açorda de camarão, o lombinho de porco em vinha d´alho, a posta de vitela grelhada e o costeletão de vitela, enorme, grelhado no ponto, excelente.

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Grão de bico com mão de vaca – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

O arroz de estrugido é irresistível e as tripas à moda do Porto e o grão de bico com mão de vaca são coisas muito sérias. Nas sobremesas o destaque para a tarte folhada de maçã com gelado de maçã verde e a mousse caseira de chocolate com avelã.

Fica então o convite do chefe Marco Gomes para fazermos uma visita à sua “Casa do Marco”.

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Convite – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Vai valer a pena…

Contactos
Casa do Marco
Esplanada do Castelo 141  •  Porto 4150-196 PORTO
Tel: (+351) 226 154 178
Telemóvel: (+351) 918 818 147
E-mail: mail@fozvelha.com
Site: www.marcogomes.ptwww.fozvelha.pt

Escola velha, vinho novo…Ripanço Private Selection 2013

Texto João Pedro de Carvalho

Voltamos à afamada Casa Agrícola José de Sousa (Reguengos de Monsaraz), propriedade da José Maria da Fonseca, de onde nos chega este novo lançamento chamado Ripanço Private Selection 2013. Este vinho é o resultado da união entre a tradição e história com a moderna tecnologia, o resultado é uma mistura entre o antigo e o moderno onde o que faz toda a diferença neste caso é a ter-se utilizado uma técnica (ripanço) que remonta à era dos Romanos. Assim, a chamada técnica do ripanço consiste no desengaçamento das uvas à mão com auxílio de uma mesa de ripanço, que é constituída por várias ripas de madeira. O movimento das mãos dos trabalhadores pressionando ligeiramente os cachos faz com que os bagos de soltem e fiquem separados do engaço, como se pode constatar no vídeo aqui colocado. Esta terá sido a primeira maneira de desengaçar a uva, evitando assim a presença dos taninos duros do engaço que podem originar um excessivo e indesejado amargor no vinho.

Vídeo cedido por José Maria da Fonseca

O vinho foi elaborado a partir do blend das castas Syrah (48%), Aragonês (32%) e Alicante Bouschet (20%) que tiveram direito a estagiar durante 6 meses em barricas de madeira nova de carvalho francês e americano. O que se destaca no imediato é o seu aroma com muita fruta madura, muitas notas de groselha preta e ameixa, com algum tempo no copo evolui e ganha alguma complexidade com ervas de cheiro, café expresso num fundo onde a baunilha derivada da barrica aparece bem instalada. O conjunto é fresco e solto, com ligeiro nervo que lhe dá alguma garra para conseguir acompanhar pratos mais temperados, como por exemplo uma Lasagne Bolognese. De resto nada complicado neste tinto com boa presença de boca, sempre cheio de frescura, fruta que explode de sabor e se prolonga até ao final, onde a compota e a especiaria se despendem de nós.

Contactos
QUINTA DA BASSAQUEIRA – ESTRADA NACIONAL 10,
2925-542 VILA NOGUEIRA DE AZEITÃO, SETUBAL, PORTUGAL
Tel: (+351) 212 197 500
E-mail: INFO@JMF.PT
Site: www.jmf.pt

Bruno Prats na Fruta Mágica do Douro e Uma Vertical de Chryseia

Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira

Ultimamente, o negócio tem sido rápido a atrair talentos bordaleses para o Douro. Poças Júnior anunciou recentemente que Hubert de Boüard e Philipe Nunes da Château Angélus têm estado a trabalhar com eles desde a vindima de 2014. No ano anterior, Lima & Smith causou uma agitação quando contratou Jean-Claude Berrouet, ex-enólogo na Château Pétrus, para ser consultor na Quinta da Boavista.

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Bruno Prats com uma Vertical of Chryseia – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Enquanto os resultados destas recentes colaborações ainda estão para ser vistos, outra parceria Bordéus/Douro faz as manchetes, Prats & Symington com o décimo lançamento “Grand Vin”, Prats & Symington Chryseia 2011. Este que é até à presente data a minha colheita favorita do Prats & Symington Chryseia, figurou no Top 100 de vinhos do ano 2014 cobiçados pela Wine Spectator.

No início deste mês participei numa prova vertical de Chryseia, apresentado pela metade bordalesa deste casamento franco-português, Bruno Prats, antigo dono do Château Cos d’Estournel. A família Symington foi representada pela quinta geração, Charlotte Symington, a primeira mulher desta bem conhecida família de Porto a figurar na folha de pagamento (é embaixadora da marca Porto na importadora britânica Fells, que é também propriedade da Symington).

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Quinta de Roriz – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Prats ainda há pouco tempo tinha vendido Cos d’Estournel e já se aventurava na parceria 50/50 com os Symingtons. Diz-me que o projecto arrancou mais rápido que estava à espera. Depois de apenas de um ano de experiências, foi feito o primeiro Chryseia, colheita de 2000. Desde então, a selecção das uvas mudou dramaticamente, primeiro a parceria adquiriu a Quinta de Perdiz em 2004, seguindo-se em 2009 a compra da Quinta Roriz, a qual tem uma adega apenas para a Prats & Symington. (Aliás, outra mudança dramática desde 2000 é o preço dos melhores Bordeaux, o que, diz Prats sorrindo, significa que os melhores tintos do Douro se comparam muito favoravelmente aos Bourdeax da mesma gama de preços).

Prats pode até denominar o Chryseia de “Grand Vin”, mas disse-nos “o nosso objectivo sempre foi produzir vinhos elegantes, gastronómicos e equilibrados, focados no requinte e não na potência”. Os seus comentários relembraram-me uma conversa de há dez anos com o bordelense Baron Eric de Rothschild. Em resposta à minha observação de que os vinhos de Domaine Baron de Rothschild (Lafite) da Argentina, Chile, Portugal, Estados Unidos e Sul de França partilhavam uma incomum restrição, disparou “podem tirar um homem de Bordéus, mas não podem tirar Bordéus de um homem”.

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Luis Coelho, Enólogo Assistente da Prats & Symington com vinhas Touriga Nacional na Quinta De Roriz -Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Ainda assim, tenho a certeza que é apenas coincidência o facto de Prats apenas se ter focado em duas castas do Douro. Enquanto Bordéus tem a sua dicotomia Cabarnet Sauvignon/Merlot, Prats afirma que apenas acha “interessantes” as castas Touriga Nacional e Touriga Franca. Este foco varietal draconiano é uma das razões pelas quais ele dá primazia às parcelas (de casta única) de vinha recentemente plantadas em vez das tradicionais parcelas de multiplicidade varietal do Douro. Como é que sabemos quando colher as vinhas velhas, pergunta retoricamente, para mais tarde afirmar “Estou convencido que devemos trabalhar com parcelas de plantação em que teremos a certeza de estar a colhê-las na altura certa”. O que parece estranho, já que a maior parte dos melhores produtores da região lidam bem com isso, e utilizam até parcelas de vinhas velhas multivarietais de maneira fabulosa – Niepoort e Quinta do Crasto vêm-me à mente. Além do mais, o foco da Niepoort na elegância e digestibilidade confirma que estas duas qualidades não são exclusivas de vinhas monovarietais (ainda menos de duas castas).

Dito isto, penso que Prats tem razão quando diz “é fácil obter potência no Douro, e é por isso que é importante concentrarmo-nos na elegância”. Embora tenhamos de discordar que as parcelas de plantação e as duas castas (reconhecidamente de classe mundial) sejam a chave para a elegância, há poucas dúvidas em relação ao impacto positivo de longas mas gentis macerações e de um relativamente curto período em carvalho quando comparado com outros topos-de-gama do Douro (e até de Bordéus). Como seria de esperar de um reconhecido enólogo bordalês, a gestão de taninos na Prats & Symington tem sido sempre exemplar.

Segundo Prats, ao contrário da Cabarnet Sauvignon, nem a Touriga Nacional nem a Touriga Franca “podem receber um nível elevado de carvalho”. Também explica o porquê da preferência de barris de 400 litros ao invés das barricas de 225 litros de Bordéus. Para Prats “o que é mágico no vinho do Douro é a fruta; temos de preservar a fruta”.

Sou completamente a favor da fruta, especialmente quando exprimida tão brilhantemente quanto no 2011 e 2012, mas o que mais me cativa nestas colheitas do Chryseia é a sua mineralidade patente. A qualidade, posso adiantar que está presente em ambos, embora Prats descreva um (o 2011) como “um estilo mais duriense” e o outro (2012) como “um estilo mais bordalês”.

A mim parece-me que esta mineralidade é um cunho da Quinta de Roriz (e da sua vizinha, a Quinta da Gricha de Churchill). Prats faz uma observação, o xisto na Roriz é particularmente mineralmente rico (muito friável em comparação com o xisto mais duro e espesso da Perdiz). Aparentemente, existia, há quarenta anos, uma mina de estanho na propriedade, mas quanto à razão pela qual isso se transmite no copo, Prats diz “estou contente por isso ainda ser um mistério” – podemos dizer que é mais da magia do Douro.

Abaixo irão encontrar as minhas notas sobre os últimos lançamentos bem como da prova vertical do Chryseia. O Chryseia tem sido produzido todos os anos salvo 2002 e 2010. Desde 2002, e adoptando um discurso bordalês, um “segundo vinho”, o Post Scriptum, tem sido produzido anualmente. É feito dos barris que não atingem a qualidade “Grand Vin”. (Pode ler mais sobre a história e evolução da Prats & Symington na minha reportagem duma visita à Quinta de Roriz.)

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Uma Vertical de Chryseia, colheitas mais jovens – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Prats & Symington Prazo de Roriz 2011 (Douro)

Provenientes da Quinta de Roriz (70%)  e da Perdiz (30%), Prats diz que as uvas de classe A vão para o Post Scriptum e para o Chryseia. O equilíbrio deste vinho que incorpora uma gama muito mais ampla de castas do Douro. Como era de esperar neste colheita de topo, o Prazo de Roriz 2011 tem uma boa concentração de ameixas e suculentas cerejas pretas/frutos silvestres. A Tinta Barroca, a casta com mais peso (39%) é facilmente identificável com o seu palato mais suave e doce. Porém, e em linha com a filosofia de elegância, partilha do final fresco e limpo e dos taninos finos do Post Scriptum e do Chryseia 2011. É um tinto iniciático conseguido. 14.3%

Prats & Symington Post Scriptum 2011 (Douro)

Um lote com 56% de Touriga Nacional, 30% de Touriga Franca, 7% Tinta Barroca, 7% Tinta Roriz que estagiou durante 13 meses em barris de 400 litros de carvalho francês com um ano. Tonalidade profunda e muito mais estruturado que o Prazo de Roriz, com amoras e cerejas mais reluzentes e mais bem definidas. Taninos finos, minerais, enfumaçados e de tacto gentil. O final é preciso e muito persistente. Muito bom. 13.9%

Prats & Symington Post Scriptum 2012 (Douro)

Este lote com 53% de Touriga Franca, 45% Touriga Nacional e 2% de outras variedades estagiou por 13 meses em barris de 400 litros de carvalho francês com um ano. Um Verão mais ameno (com baixa produção, devido à seca) produziu um vinho mais delicado, com fruta vermelha em vez de negra, taninos furtivos e acidez fresca e persistente. Uma palato marcadamente de meio-peso revela ameixa e ameixa-de-damasco doce e abaunilhada, grafite e especiaria de fruta (não de carvalho). Embora não tão carismático como o 2011, 0 2012 tem um elegante e já visível charme. 13.3%

Prats & Symington Chryseia 2012 (Douro)

Colheita: O aspecto mais notável do ano vinícola de 2011/2012 foi a falta de água. Um Inverno frio incomum, o mais frio da última década, foi seguido por Primavera errática, que com condições meteorológicas imprevisíveis levou a um fraco conjunto de fruta, e uma colheita muito mais pequena. Temperaturas mais baixas do que o normal durante o Verão mitigaram os efeitos da seca, e porque haviam menos cachos nas videiras, o processo de amadurecimento das uvas decorreu de maneira muito satisfatória, permitindo-nos produzir alguns bons vinhos. As uvas para o Chryseia foram colhidas na Quinta de Roriz entre 12 de Setembro e 8 de Outubro e na Quinta da Perdiz entre 27 de Setembro e 9 de Outubro.

Um lote com 72% de Touriga Nacional e 28% de Touriga Franca, provenientes da Quinta de Roriz, Quinta da Perdiz e da Quinta da Vila Velha. Estagiou por 15 meses em barris de 400 litros de carvalho francês 100% novos (Tonnellerie du Sud-Ouest, Boutes, François Frères). Outra vez ênfase nas frutas vermelhas, aqui mais concentradas e com um muito sedutor brilho de carvalho perfumado (chocolate, canela e cedro). Bergamota e notas leves de tabaco de cachimbo conferem uma adicional camada e toque a este vinho com um núcleo doce de framboesa, cereja preta e frutos silvestres. Acidez fresca a proporcionar um final muito equilibrado, persistente e brotar xisto; a sua fluidez é sublinhada pelos seus taninos ultra-finos. Muito elegante. 13.7%

Prats & Symington Chryseia 2011 (Douro)

Colheita:O ano de 2011 foi muito seco, tendo sido de extremo valor, a precipitação caída entre Outubro e Dezembro de 2010. O Douro e os seus solos apresentam uma aptidão enorme para armazenarem água. A videira, pela sua perfeita adaptação a climas agrestes, consegue ir buscar água a vários metros de profundidade, graças ao seu sistema radicular bem adaptado, daí a importância crucial das reservas constituídas pela água da chuva caída na estação fria. O fantástico terroir de Roriz sempre prevalece, este ano com a ajuda acrescida das chuvas de Agosto e início de Setembro. A colheita das uvas para o Chryseia 2011 teve inicio a 16 de Setembro com a Touriga Nacional da Quinta de Roriz, tendo a Touriga Franca dado entrada na adega no dia 30 de Setembro. Toda a vindima decorreu com condições metereológicas perfeitas, o que contribuiu para que 2011 seja, sem qualquer dúvida, uma das melhores colheitas de Chryseia.

Um lote com 65% de Touriga Nacional e 35% de Touriga Franca, estagiou por 15 meses em barris de 400 litros de carvalho francês 100% novos (Tonnellerie du Sud-Ouest, Taransaud, Boutes, François Frères). Este, um dos meus Top 10 Novos Douro de 2011 provados em Dezembro de 2013, tem desfrutado de um sucesso de vendas, um pouco também por ter figurado no Top 100 da Wine Spectator. É uma colheita fabulosa do Chryseia, o primeiro a realmente deixar uma marca em mim. Penso que é porque, como Prats diz, é mais um Douro que um Bordeaux. Porquê? Porque tem bem patente a mineralidade xistosa, salgada e enfumaçada do seu terroir – um cunho da Quinta de Roriz, e também da vizinha Quinta da Gricha de Churchill. E esta mineralidade está muito mais à superfície no 2011 apesar das suas imponentes mas muito equilibradas frutas pretas. Muito vivo, muito longo e focado, o seu enquadramento desmente a concentração e intensidade deste vinho; um exercício excelente em potência e contenção. 14%

Prats & Symington Chryseia 2009 (Douro)

Colheita: A magnífica vinha de Roriz, uma das mais belas quintas do vale do Douro, com uma longa e rica história como produtor independente de grandes vinhos, foi adquirida pela Prats & Symington na Primavera de 2009. O Chryseia de 2009 foi assim o primeiro a ser vinificado na moderna adega de vinhos tranquilos da propriedade. Trabalhar as vinhas de montanha do Douro apresenta muitos e variados desafios, todos os anos quase sem excepção e 2009 não foi diferente. Foi o terceiro ano consecutivamente seco e para agravar a situação de seca, o calor intenso que se fez sentir, particularmente em Agosto e Setembro, aportou uma significativa redução no tamanho da colheita (uma das mais pequenas dos últimos 15 anos no Douro). Apesar das condições adversas, o terroir de Roriz fez-se valer; a exposição norte atenuou a ferocidade do calor e as duas castas que compõem o Chryseia (a Touriga Nacional e a Touriga Franca) são das melhores que resistem ao calor, um facot que jogou a nosso favor. Aliás a Touriga Franca é de maturação tardia, e beneficiou das condições quentes e secas registadas durante o mês de Setembro. Quer a Touriga Nacional, quer a Touriga Franca completaram de modo muito satisfatório os seus ciclos de maturação, assegurando elevada qualidade.

Um lote de 70% de Touriga Nacional e 30% de Touriga Franca, estagiou por 13 meses em barris de 400 litros de carvalho francês 100% novos (Tonnellerie du Sud-Ouest, Taransaud, Boutes, Radoux, François Frères, Saury). Esta foi a primeira colheita proveniente de e vinificada na Quinta de Roriz. Não é a minha colheita favorita do Douro – a seca e o calor deram origem a vinhos bastante corpulentos. Ainda assim, para aqueles que procuram elegância de expressão, este é um vinho bem construído; foi interessante ouvir Prats a especular que provavelmente poderiam ter feito um vinho melhor se conhecessem melhor as vinhas. Musculado e opulento com taninos maduros e aveludados, o Chryseia 2009 tem uma borda púrpura no seu interior rico de framboesa e ameixa. O achocolatado carvalho novo incrementa ainda mais a doçura, portanto, tudo somado, o 2009 carece da contenção e finesse dos vinhos anteriores. O que não quer dizer que não seja bom; se gostar vinhos largos e encorpados, isto será mais a sua praia. 14.4%

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Uma Vertical de Chryseia, colheitas mais velhas – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Prats & Symington Chryseia 2004 (Douro)

Colheita: A um outono chuvoso em 2003, seguiu-se um inverno muito seco, com uma notória ausência de chuva durante uma fase crucial. O tempo ameno e seco em Maio de 2004, encorajou um desenvolvimento rápido e um vingamento ligeiramente abaixo da média. No final de Julho as vinhas estavam em excelentes condições, mas a persistente falta de chuva suscitou alguma preocupação devido à possibilidade de ‘stress’ hídrico. Depois aconteceu o inesperado: fortes chuvadas em Agosto – os 77mm registados entre os dias 9 e 17 foram os valores mais elevados no Douro em 104 anos. Seguiram-se 25 dias ininterruptos de sol em Setembro que conduziram a um amadurecimento perfeito do fruto e propiciaram condições de vindima ideais. A vindima teve início mais tarde do que é habitual, no dia 23 de Setembro e ficou concluída mesmo antes do regresso da chuva em 9 de Outubro. O que poderia ter sido um ano muito difícil, revelou-se afinal um ano muito bom, com uma conjugação favorável de produções baixas, excelente teor de açúcar nas uvas, originando um vinho com uma estrutura possante e cor profunda.

Os detalhes das percentagens varietais e tempo de estágio não foram disponibilizados, mas a fruta proveio das Quintas Vesuvio, Bomfim, Vila Velha e, pela primeira vez, da então recentemente adquirida Quinta da Perdiz da Symington. Sou uma grande fã da colheita de 2004 e foi interessante voltar a provar esta colheita do stock de Londres da Fells. O vinho pareceu mais reluzente e fresco do que a garrafa que provei no Porto em Dezembro de 2013 quando avaliei alguns tintos Douro 2004. Tal como a garrafa que provei na altura, o Chryseia 2004 é particularmente picante e perfumado com notas de alcaçuz, esteva e caruma, e também um toque de bergamota. Que, juntamente com os seus concentrados e ainda vivos frutos silvestres, conferem a este vinho uma fantástica energia – um perfil mais “selvagem” do Douro (apesar dos seus taninos ultra-requintados). Um final envolvente com uma pitada salgada, e uma mineralidade xistosa a persistir bastante tempo; este é um vinho com muita potência e muito carácter. 14.2%

Prats & Symington Chryseia 2003 (Douro)

Colheita: O Outono foi bastante chuvoso bem como o mês de Janeiro. O mês de Março caracterizou-se por temperaturas acima da média. As condições climatéricas do mês de Maio forma bastante favoráveis para a floração e o vingamento, podendo desde logo adivinhar-se uma colheita abundante. O Verão foi quente e seco mas a qualidade da fruta foi substancialmente melhorada pela chuva dos dias 27 e 28 de Agosto. As uvas foram colhidas manualmente entre 18 de Setembro e 9 de Outubro e chegaram à adega com baumés ideais, tendo-se obtido um mosto com cor formidável.
Um lote de 60% Touriga Franca, 35% Touriga Nacional e 5% Tinta Cão, provenientes das Quintas Vesuvio, Bomfime Vila Velha. Estagiou por 12 meses em barris de 350 e 400 litros de carvalho francês 100% novos (Tonnellerie du Sud-Ouest, Taransaud). Este foi o vinho preferido de Prats de entre as colheitas mais antigas, que, observou, são caracterizadas por notas aportuadas. É um vinho muito polido, escuro, achocolatado com taninos suaves e fruta muito suave and brilhante. Sim, conseguido (menos aportuado do que outros 2003 que já provei) e muito bom de beber, mas, para mim, faltava-lhe algum sentido de lugar – o detalhe, interesse e energia que tanto gostei no 2004. 14%

Prats & Symington Chryseia 2001 (Douro)

Colheita: O Inverno de 2001 foi extremamente chuvoso e de temperaturas bastante amenas. A ocorrência de boas condições climatéricas durante o período da floração, permitiu prever à data um ano de grande produção no Douro. Contudo, um Verão muito quente e seco originou uma redução da produção geral, tornando 2001 num ano médio em termos de quantidade produzida. As uvas foram colhidas manualmente a partir de 13 de Setembro e terminou no dia 27 de Setembro.

Um lote de Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinta Cão das Quintas Vesuvio, Vila Velha e Vale de Malhadas. Prats diz que foi um erro incluir a Tinta Roriz. Estagiou por 10 meses em barris de 350 e 400 litros de carvalho francês 100% novos (Tonnellerie du Sud-Ouest, Taransaud). Evoluiu com notas rústicas, bravas e de Bovril no seu nariz e palato aportuados e acidez desengonçada (volátil?). Desapontante. 13.8%

Contatctos
Prats & Symington
Quinta de Roriz
São João da Pesqueira
5130-113 ERVEDOSA DO DOURO
Portugal
Tel: +351-22-3776300
Fax: +351-22-3776301
E-mail: info@chryseia.com
Site: www.chryseia.com

Quando dei por mim estava a pensar em Oscar Wilde

Texto João Barbosa

Os portugueses desvalorizam o vinho e essa desconsideração é transversal a classes sociais e económicas. Indaguemos professores catedráticos, de ciências várias, acerca da hipótese de o vinho ser arte…

Já coloquei a questão diversas vezes e somei: o vinho pode ser alimento, negócio, produto indutor de alteração de estado de consciência e daí derivando para finalidade de dependência tóxica e doença aditiva, flagelo social e problema de saúde pública… arte, é que não – quase sempre.

Como só faz falta quem cá está e só é sábio quem pensa e se permite pensar, deixo-os na paz das academias. Dedico-me à afirmação de que o vinho é uma peça de teatro!

Todas as representações têm o mesmo texto de base, o elenco, o cenário e… nunca é o mesmo. E se acrescentarmos mais elementos – época, sociedade, companhia dramática – maiores serão as disparidades.

Vou contar uma experiência – extrema – que certamente a maioria dos enófilos já experimentou: abrir garrafas iguais duma colheita antiga. Lembro-me duma em que se desrolharam cinco garrafas «iguais», em que três estavam magníficas e diferenciadas, outra cansada e a quinta estragada. Desde esse ano de 1955 que a sua vida foi igual… todavia… porém… contudo… no entanto… mas…

Gosto muito de Camões e das suas sabedorias!

Os marinheiros que presenciaram um fenómeno eléctrico e meteorológico eram desmentidos por quem nunca sentira a água salgada na pele, agarrados aos calhamaços das certezas. Luís de Camões, na sua descrição da viagem de Vasco da Gama para a Índia, presencia o fogo-de-santelmo, descreve-o e desafia:

“– Vejam agora os sábios de escritura, que fenómenos são estes de natura.”

Envelhecer é uma arte, garante o cantautor Sérgio Godinho. É válido para os homens e para o vinho – uma peça de teatro em que os actores são bio-seres.

Há o encanto da juventude e o charme da experiência – como há também adolescentes alarves e idosos caquécticos e mal-humorados. Outro dia entristeci-me quando vi uma «amiga», com 46 anos, mais «jovem» do que quando tinha 17. A plástica correu-lhe bem, a ideia de a fazer tornou-a patética.

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O retrato de Dorian Gray in wikipedia.pt

O romance homo-erótico «O retrato de Dorian Gray», de Oscar Wilde – editado com censura em 1890 e em versão integral no ano seguinte – ocorre-me frequentemente quando penso em vinho com idade.

A beleza do sempre-jovem Dorian – que fez um pacto para se tornar eternamente jovial – contrastava com o envelhecimento e degradação do quadro, reflectindo a idade, o vício e a corrupção moral.

Quando o desejo me assalta para um vinho com idade, olho para a garrafa e imagino o único romance de Oscar Wilde. Que vinho ali viverá? O rótulo envelheceu na vez do vinho?

Nesta pequena fantasia não entram mais personagens, além de Dorian e seu corruptor; nem mesmo Basil Hallward, o artista que lhe apreendeu a beleza e o «entregou» ao hedonista Lorde Henry Wotton, que – como Fausto – o leva a cair… o único modo de nos livrarmos duma tentação é a ela nos entregarmos. O poeta usou o mesmo pensamento noutra vez: «Consigo resistir a tudo, menos a uma tentação».

Assim se traça o destino da garrafa de vinho velho ou de vinho antigo, o Dorian ou o seu retrato. Uns envelhecem e outros ganham charme. Citando novamente Sérgio Godinho: «Pode alguém ser quem não é»?

Piparote na adega

Texto João Barbosa

Podem o Governo e organizações económicas fazer campanhas de promoção e defesa das produções portuguesas que o indígena vai sempre olhar para si e para a algibeira. Somos um povo individualista, muitas vezes invejoso e com grande pontaria para acertar com as balas nos pés.Há dias provei um vinho da Adega Cooperativa de Vila Real que bom prazer daria num dia quente. Um rosado guloso para ser bebido à conversa, demasiado doce para acompanhar o que quer que seja.

Não havia nada de errado com o vinho. A crítica vai para o vedante. É certo que vinhos para serem bebidos jovens se compreende a utilização de carica ou tampa de rosca. Percebe-se, mas fica mal aos portugueses. Pelo menos no que vendem dentro de portas. Há mercados que preferem objectos sintéticos… e aí é negócio, compreendo se enquadrem nessa prateleira de vinhos fáceis e breves.

Uma empresa que escolher, para fechar o seu vinho, um cilindro sintético, escorregadio para saca-rolhas razoáveis, de cor a imitar a da cortiça, devia pagar 85% de IRC. No mínimo! Não só é uma «fraude» imitar cortiça, como é um atentado à economia.

Fake

Rolha sintética

O turismo é responsável por 5,8% da riqueza nacional. Em Maio, talvez Abril, chegam escandinavos da cor de leite, pouco resistentes à força do Sol da Europa meridional. De Junho a Setembro, chegam aos milhares, em voos regulares, em companhias low-cost, em charters, de comboio… todo o ano chegam cruzeiros. Lisboa, Algarve, Porto, Madeira ou Fátima oferecem variedade: praia, negócio, cultura, espiritualidade, etc.

O turista senta-se numa esplanada da Rua Augusta e pede um vinho. O empregado, de humor variável, apresenta-lhe uma garrafa com vedante artificial. Que imagem leva para a sua terra? Que os portugueses desprezam a sua economia.

A Adega Cooperativa de Vila Real não é, infelizmente, caso único. O que torna mais grave é ser uma empresa que lida com muitos agricultores, que lhes paga as uvas e sustenta emprego directo e indirecto. Devia ter mais respeito pelos silvicultores e industriais nacionais.

Ao escolher uma rolha falsa, a Adega Cooperativa de Vila Real deita por terra o incentivo ao consumo do que é nosso. Por que raio hei-de beber vinhos portugueses? O que me levará a oferecer Douro, Alentejo, Bairrada… a um amigo doutro país?

Os cilindros com cor de cortiça – além de parecerem o que não são – são feitos com materiais sintéticos, com impacto negativo no ambiente. Pode argumentar-se que pode ser reciclado. Pois, mas até aí chega a cortiça: além de reciclável é facilmente reutilizável. Acresce, que os montados, para lá do rendimento e do emprego que geram – directa e indirectamente – são positivos para o meio ambiente, fixando carbono e sustentando ecossistemas.

Irá longe o tempo em que beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses. Vai longe, mas a fileira dá emprego a muitos portugueses. Em 2012, o vinho foi responsável por 11% das exportações de bens alimentares. No conjunto das vendas ao exterior, o vinho pesou 1,6% – correspondendo a 725 milhões de euros.

Cork

Rolha cortiça

E o que dizer da cortiça? Pela casca do sobreiro nascem 2% das exportações nacionais – 845,7 milhões de euros, por 189,3 mil toneladas. A fileira da cortiça dá trabalho a mais de 8.700 pessoas.

Não seria melhor que os portugueses se apoiassem mutuamente? Os silvicultores, muitos deles também vitivinicultores ou viticultores, merecem reconhecimento. Não é caso único, repito… mas a uma casa com tantos agricultores fica muito mal trocar a rolha de cortiça por um bocado de «palavrão».

O Grande Alicante Bouschet da Herdade do Rocim

Texto João Pedro de Carvalho

A Herdade do Rocim tem colheita após colheita, vindo a ganhar uma consistência notável nos seus vinhos, o detalhe e o bom gosto tomaram conta daquela Herdade situada bem perto da Vidigueira. Nota-se que em toda a gama de vinhos há um detalhe e um carinho que os envolve, até na maneira como são dados a conhecer, nada é deixado ao acaso, novamente um mundo de pequenos mimos dirigidos por uma mão feminina, a mão da produtora Catarina Vieira. E nesta caminhada vão sendo afinados e retocados colheita após colheita, aprendendo e mostrando que ali é possível serem criados grandes vinhos.

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Grande Rocim Reserva 2011 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

E por falar em grandes vinhos, o topo de gama da Herdade do Rocim dá pelo nome de Grande Rocim Reserva, com a nova colheita de 2011 sobre a qual escrevo e que foi recentemente colocada no mercado. Um vinho que tem na alma a essência da casta Alicante Bouschet, durante um ano e meio serenou em barrica com direito ainda a mais um ano de garrafa até ser colocado à disposição dos consumidores. É acima de tudo um vinho cheio de carácter, que enverga uma pesada armadura que o envolve e o torna majestoso, arrebatador e feito para perdurar no tempo. Apesar do peso que para alguns pode ser considerado de excessivo, alia o seu lado mais vigoroso com uma invejável elegância de movimentos.

Todo o tempo extra que continuar em garrafa só lhe fará bem, de momento está ainda muito novo, embora com grande frescura de nariz, início com fruta vermelha (bagas, amoras) muito sumarenta, toque herbáceo, cacau, conjunto coeso e profundo, lá no fundo uma ligeira nota de licor. Boca de grande impacto com enorme presença a mostrar um vinho poderoso, amplo, fresco, muito boa estrutura com fruta vermelha a explodir de sabor ao lado de algum bálsamo, quase que se mastiga, terminando longo com travo de especiaria. Tudo com grande detalhe, enorme estrutura num conjunto coeso, limpo e fresco com uma enorme vida pela frente, paga-se por tudo isto coisa de 50€ com a garantia que se leva para casa um dos melhores tintos feitos no Alentejo e em Portugal.

Contactos
Herdade do Rocim
Estrada Nacional 387 | Apartado 64
7940-909 Cuba | Alentejo
Tel: (+351) 284 415 180
Fax: (+351) 284 415 188
E-mail: pedro.ribeiro@herdadedorocim.com
Site: www.herdadedorocim.com

Anselmo Mendes, Produtor e Enólogo

Texto José Silva

Sendo de Monção, Anselmo Mendes acabou por se estabelecer em Melgaço, em 1997, onde comprou uma propriedade e onde, além duma pequena casa, acabou por construir uma adega. Que foi crescendo, crescendo, até ao limite possível. E assim, foi com naturalidade que lançou, em 1998,o seu primeiro vinho, o Muros de Melgaço.

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Anselmo Mendes – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Estudioso, pesquisador, aplica os ensinamentos da riquíssima história dos vinhos portugueses à produção dos seus próprios vinhos, juntando-lhes a modernidade apenas necessária. Gosta de estudar as vinhas, sendo hoje enólogo consultor em várias outras regiões do país e mesmo no Brasil. Também gosta de ensinar e dar formação a quem trabalha com ele e o acompanha, que também o ajudam a fazer experiências, muitas experiências, na vinha, mas sobretudo na adega, com que também se vai divertindo. Aliás Anselmo Mendes é uma pessoa divertida, de conversa fácil e muito interessante, que transpira a paixão e o conhecimento que tem deste mundo fascinante que é o vinho.

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New winery – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Quando a sua adega chegou ao seu limite físico, Anselmo Mendes resolveu construir uma adega de raíz, mais abaixo, moderna, bem equipada, mas com espaço adequado á quantidade de vinho que produz nos dias de hoje.

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Old facilities recuperated – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Mas aproveitou para recuperar as antigas instalações com muito bom gosto, transformando a adega das cubas numa zona de provas, que inclui uma confortável sala de estar e uma sala de provas muito bem equipada, com vista para o vale, que vai até ao rio Minho.

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Old Barrels’ room- Photo by José Silva | All Rights Reserved

A antiga sala de barricas, mantendo algumas das velhas barricas e equipamentos que já não se usam, é agora uma sala para as suas “experiências”, de que por vezes saem coisas deliciosas.

Numa visita recente, passamos pela adega para provar alguns vinhos das cubas, todos de 2014, com destaque para um Loureiro que nos deixou quase estarrecidos, tal a sua qualidade e potencial! E, claro, provaram-se os Alvarinhos que hão-de dar os vários vinhos deste produtor, bem conhecidos no mercado. No entanto Anselmo Mendes promete novidades para este ano…ficamos a aguardar.

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Bottling and labeling – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Saídos da adega, onde se engarrafavam e rotulavam já alguns vinhos, não passaram 5 minutos até estarmos nas “velhas” instalações, neste caso no conforto da sala de provas.

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Tastings’ room – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Mas não resistimos a passear um pouco pelas vinhas, nesta época do ano completamente nuas, após terem sido podadas, que daqui a um mês estarão a dar os primeiros rebentos.

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The vineyard – Photo by José Silva | All Rights Reserved

No frio da manhã o vale estava tranquilo, o fumo das lareiras aqui e ali, e os montículos das vides resultantes da poda a marcar também a paisagem, com um tanque de água corrente de permeio.

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Tank – Photo by José Silva | All Rights Reserved

E, a toda a volta, os imponentes muros de granito, a fazer algumas separações, entre o arvoredo e a vinha, e entre patamares de várias vinhas.

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Granite Walls – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Dizia o Anselmo: “Já não se fazem muros destes!” A diferença principal entre os vinhedos de Alvarinho de Monção e Melgaço (que constituem, em conjunto, a sub-região de Monção e Melgaço), é que em Monção os vinhedos estão principalmente num amplo vale, que vai estreitando para montante, apertado entre o rio Minho e a montanha, até que toma a forma de patamares, por ali acima, já em Melgaço. Estas vinhas do Anselmo são um bom exemplo disso.

Ainda passamos pela antiga adega de barricas, agora a aguardar novidades e novos processos, e ficou combinada nova visita em vindimas, lá para Setembro, para nos divertirmos um bocado. Mas era hora da prova principal, e sentamos-nos à mesa com o nosso anfitrião, para provar…18 vinhos!!

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18 wines’ tasting – Photo by José Silva | All Rights Reserved

A coisa prometia e lá fomos guiados pelo mestre, que foi explicando, aconselhando e por vezes justificando as suas escolhas. Mas será preciso justificação para provar estes vinhos?!

Começamos pelos Muros Antigos de 2014, 2012 e 2010. Mesmo o 2010 ainda muito fresco, com muito boa acidez, e o 2014 ainda cheio de fruta, algum tropical, sedoso, a prometer belas experiências lá para o verão. Seguiram-se os Muros Antigos Loureiro de 2014 e 2010. A outra casta que Anselmo Mendes trabalha intensamente, na perfeição, aqui a dar-nos duas perspectivas diferentes: 2014 muito floral, intenso, com óptima acidez na boca e um final muito fresco e persistente, e 2010 sensacional, evoluído mas ainda com bela acidez, alguma fruta branca madura, exótico, com final aveludado e elegante, a provar que também os brancos da região dos vinhos verdes envelhecem com galhardia.

Passamos então aos quatro Muros Antigos Alvarinho: 2014, 2012, 2010 e 2009. O primeiro, ainda muito jovem, quase um bebé, a precisar de tempo de garrafa, mas já a denotar alguma mineralidade a equilibrar a fruta, que está bem presente, com bom volume de boca, na linha dos seus irmãos mais velhos. 2012 é já um clássico deste patamar, a fruta mais moderada embora presente, uma mineralidade intensa, elegante mas robusto, muito boa acidez, num conjunto muito equilibrado ainda com alguma juventude. 2010 é um Alvarinho já com alguma evolução em que a fruta quase desapareceu, para dar lugar a notas secas, aromas químicos deliciosos ainda muito suaves, mas onde a mineralidade granítica se mantém e se afirma. Redondo na boca, persistente, volumoso, até ligeiramente austero, com muito boa acidez a dar-lhe prolongamento final. 2009 é já um Alvarinho evoluído, muito elegante, até mesmo exótico, cheio de complexidade, com aromas terciários inebriantes e difíceis de distinguir mas por isso mesmo tentadores e um final muito longo, sedoso, seguro.

Passando para outro estilo, provaram-se os Contacto de 2014, 2012 e 2010. Um Alvarinho mais aromático, este 2014 ainda cheio de fruta tropical, intenso, muito fresco, aveludado, um dos mais gastronómicos, pede comida. 2012 apresentou-se mais fechado, embora no copo fosse evoluindo, ainda alguma fruta, mas mais madura, fresco e elegante. 2010 a apresentar alguma evolução, mantendo o perfil de suavidade, agora quase sem fruta, mas com toque seco e notas tostadas, muito envolvente na boca, com acidez intensa a dominar um belo conjunto.

Veio então o Muros de Melgaço com a sua garrafa estranha mas que é já uma referência. O 2013 apresentou-se cheio de força, notas de fruta tropical bem madura, muito maracujá, elegante e intenso, muito redondo na boca, com óptimo volume, um dos grandes clássicos de Anselmo Mendes. O 2009 apresenta grande evolução, já muito pouca fruta, muito suave, notas intensas de evolução, ainda alguma frescura, complexo mas muito seguro, ainda vai evoluir muito, para nosso prazer. Finalmente passamos aos dois patamares superiores dos Alvarinhos de Anselmo Mendes.

Primeiro os Curtimenta 2013 e 2012. O 2013 está poderoso, ainda com muita fruta, com notas tropicais, mas com uma mineralidade intensa e muita frescura. Na boca é incrível, a mineralidade quase salina a traduzir os terrenos graníticos na sua plenitude, fresco, acidez intensa e um final imenso. O 2012 é semelhante ao anterior, apenas mais elegante, mantendo o volume na boca, intenso, mineral, ligeiramente mais sedoso, a revelar que a evolução no tempo vai ser fascinante.

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A fantastic tasting – Photo by José Silva | All Rights Reserved

E terminamos uma prova fantástica com dois Parcela Única: 2013 e 2012. Qual deles o melhor! 2013 ainda cheio de juventude, a fruta tropical muito elegante, aveludado, cheio de requinte no nariz, quase um perfume. Na boca é envolvente, apresenta-se muito equilibrado entre a frescura, a fruta e a acidez, tudo dominado por uma mineralidade que se vai sentindo ao longo da prova, precisa de estar algum tempo no copo e não pode ser servido muito fresco. Final muito elegante e longo, muito longo. O 2012 em relação ao anterior tem um perfil semelhante, ainda mais elegante, a fruta a ficar mais suave, o perfume mais envolvente, muito complexo, um vinho fantástico.

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On the way out – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Deixamos Melgaço com a certeza que em breve teremos mais alguns excelentes vinhos no mercado. Em Setembro, lá estaremos nas vindimas.

Contactos
Zona Industrial de Penso, Lote 2
4960-310 Melgaço · Portugal
Tel/Fax: (+351) 227 128 541
E-mail: anselmo.mendes@netcabo.pt
Site: www.anselmomendes.pt

MAPA a nadar ribanceira acima como um Burbot

Texto Ilkka Sirén | Tradução Bruno Ferreira

As estações potenciam oportunidades para beber diferentes tipos de vinho. Aqui na Finlândia podemos dizer que altura do ano é pelo que as pessoas estão a beber nesse momento. Durante a Páscoa bebe-se principalmente vinho tinto e, países como a Espanha e a Itália são bastante populares, especialmente os vinhos da Veneto, como o Valpolicella por exemplo. Se vir pessoas a consumir quantidades excessivas de espumantes baratos pelas ruas e parques de estacionamento, então provavelmente é dia 1 de Maio. No início do Verão os vinhos rosés começam a emergir como se fossem ursos que terminaram o seu período de hibernação.

Quando as pessoas começam a levar para as suas casas os vinhos bag-in-box, significa que o pleno Verão está a chegar. No final do Verão os rosés desaparecem tão rápido como apareceram e, quando os dias começam a encurtar as pessoas mudam a preferência para os tintos encorpados, provavelmente do Chile ou Argentina. Posso estar a exagerar um pouco, mas os finlandeses são bastante previsíveis no que toca a hábitos de beber. Em boa verdade acho que acontece o mesmo por todo o mundo.

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Ovas de Burbot – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Tal como as quatro diferentes estações do ano mudam, também a comida e bebidas que consumimos mudam. Uma das iguarias desta altura do ano na Finlândia é o burbot. Provavelmente nunca ouviu falar dele, mas é um peixe. Não é de todo um dos peixes mais bonitos, parece um cruzamento de bacalhau com enguia, mas é sem dúvida um dos mais saborosos. A época do burbot é geralmente entre Janeiro e Fevereiro. Existem algumas maneiras de o cozinhar, mas a mais famosa é a sopa clássica de burbot. Certifique-se que retira as ovas antes de o deitar na panela. Normalmente comem-se em tostas ou blinis com cebola e natas. As ovas do burbot são de grão fino e extremamente saborosas. Normalmente a bebida de eleição para acompanhar seria uma cerveja e schnapps, mas eu optei por um vinho branco do Douro.

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MAPA Douro Branco 2013 – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

O Douro ainda é largamente visto como a terra do vinho do Porto. Se há 20 anos alguém dissesse que o Douro era capaz de produzir vinhos frescos não fortificados, a maior parte das pessoas apelidá-lo-ia de louco. Eu tenho a minha cota parte de altos e baixos na relação amorosa que tenho com o vale do Douro e os seus vinhos. Mas de vez em quando dou de caras com vinhos que me relembram a razão pela qual me apaixonei por ele. Foi esse o caso do MAPA Douro Branco 2013 que escolhi beber com as ovas do burbot. O MAPA vem de Muxagata, um local do Douro Superior. O vinho em si tinha menos aromas de frutos tropicais maduros do que eu estava à espera. Mais virado para citrinos frescos, brotos de abeto e um toque de pêra. O que realmente me impressionou foi a estrutura compacta do vinho que ainda assim ostentava uma certa ligeireza que conferia ao vinho um final longo e de deixar água na boca. Foi uma óptima harmonização com a comida e pareceu criar um burburinho positivo à mesa, o que é sempre bom.

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MAPA Vinha dos Pais 2013 – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Com o prato principal, a sopa, bebemos o MAPA Vinha dos Pais 2013. É praticamente um lote típico do Douro com os suspeitos do costume, como a Rabigato, a Viosinho, a Arinto e a Gouveio. Fermentado e envelhecido em barris de carvalho de 500 litros durante 12 meses. Ambos os vinhos eram de 2013, mas ao contrário do MAPA Branco este vinho pareceu-me demasiado jovem. Com a comida comportou-se bastante bem mas sem ela o vinho era um pouco estranho. O carvalho não estava realmente integrado, mas tinha uma mineralidade subjacente fantástica. Reconheço ainda que, após apenas mais um ano em garrafa poderá estar muito mais equilibrado. É uma daquelas coisas que é preciso esperar para ver. Após a pureza magnífica do primeiro vinho fiquei ligeiramente desapontado. Principalmente porque o carvalho parecia não encaixar e em vez de ter um perfil de sabor linear parecia algo desconectado. Posso apenas tê-lo encontrado numa fase estranha e irei definitivamente prová-lo de novo para ver a sua evolução.

No geral, o MAPA é realmente uma boa adição à fantástica categoria de vinhos do Douro Superior. Estou ansioso por beber mais dos seus vinhos e quem sabe, talvez, um dia visitá-los em Portugal, com ou sem o burbot.

Contactos
MAPA
Muxagata – Vila Nova de Foz Côa – Douro Superior
Urbanização Vila Campos, lote 40
5000-063 Vila Real
Tel: (+351) 259 374 155
Mobile: (+351) 938 537 914
E-mail: geral@mapavinhos.pt
Site: www.mapavinhos.pt

Cozinha dos Lóios

Texto José Silva

A cidade do Porto continua a sua epopeia de evolução turística, com cada vez mais visitantes de todo o mundo a rumarem a esta cidade invicta, que os acolhe sempre de braços abertos. A cidade tem vindo a evoluir, modernizando-se, apetrechando-se com infra-estruturas de qualidade, a rede de transportes tem muito boa , nos autocarros de nova geração, muitos deles movidos a gás e já com alguns ensaios eléctricos. Mas é a sua moderníssima rede de metro que é uma referência, com o desenvolvimento de alguns sistemas inovadores da engenharia portuguesa, e que os turistas utilizam com enorme facilidade, ajudando a transformar a cidade do Porto numa cidade verdadeiramente europeia.

Mas sabendo preservar e manter as suas muitas tradições, algumas delas mesmo seculares. Como é a zona histórica da cidade, já há muitos anos património da humanidade, como é o caso da tradição do vinho do Porto, que tem na Feitoria dos Ingleses, no Instituto do Vinho do Douro e Porto e na Confraria do Vinho do Porto as suas instituições de grande peso e como é o caso desse prato que faz parte da cidade, as tripas à moda do Porto, que comemoram este ano 600 anos de existência e tradição, e que são apreciadas hoje como então.

E é a gastronomia que também no Porto tem enorme peso, pois as gentes da cidade apreciam a boa mesa e gostam de a partilhar com quem as visita. E por isso, acompanhando a evolução e modernização da cidade, cada vez mais restaurantes vão abrindo as portas, com oferta muito variada, entre tradição e evolução. Isto acontece com mais força nas zonas antigas da cidade, que têm vindo a ser recuperadas e onde se vive a cidade, o seu granito, a sua luz, os seus aromas.

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Cozinha dos Lóios – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Uma dessas casas de comeres que abriu recentemente chama-se “Cozinha dos Lóios”, numa referência ao Largo dos Lóios, ali mesmo ao lado. A iniciativa deste lugar é dum homem que veio duma área completamente diferente, a engenharia, mas que sempre foi apaixonado pela cozinha, que foi aprendendo como autodidata e da qual se foi apaixonando cada vez mais. Até que achou que tinha chegado a hora de se lhe dedicar a tempo inteiro.

Se bem o pensou, melhor o fez e vai de procurar o espaço que lhe agradasse. Não foi difícil decidir-se por este espaço que já existia, ali na confluência das ruas dos Caldeireiros e das Flores.

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Upper Room – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Fez-lhe algumas alterações e resultou um restaurante com dois espaços distintos: uma sala ao nível da rua, em que o granito prevalece com naturalidade nas paredes, grossas traves de madeira no tecto e soalho em ripas finas também de madeira; uma outra sala no piso inferior, na cave, e lá está o granito tripeiro, nas paredes mas também no chão, com uma simpática garrafeira ao fundo, que deixa ver o bom gosto que ali se tem pelos vinhos de qualidade.

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Tall Tables – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Em cima há mesas altas com bancos muito confortáveis e muita luz na sala, em baixo há mesas normais com cadeiras também confortáveis e uma iluminação mais suave, a dar um ar mais intimista e romântico. As mesas em ambos os casos estão postas com simplicidade mas o que está em cima tem imensa qualidade, a começar pelos copos. O serviço está a cargo de gente jovem mas bem formada, a fazer um óptimo acompanhamento, atento e atencioso, sem falhas. O proprietário, que também é o cozinheiro, vai fazendo a viagem cozinha-sala-cozinha, inteirando-se dos pedidos dos clientes, dando uma explicação, obtendo uma opinião, vê-se que tem prazer naquilo que faz, que é servir bem utilizando os melhores produtos.

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Champagne Mailly Grand Cru – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Na refeição que fiz comecei com umas tostinhas muito fininhas, crocantes, manteiga com ervas aromáticas e um copo de champanhe Mailly Grand Cru, que estava soberbo, na temperatura certa, cremoso, com excelente acidez, notas secas de palha e pão torrado, cheio de frescura.

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Lóios Toasts – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Seguiu-se uma degustação de tostas dos Lóios, para picar, tostinhas com vários petiscos em cima, que vão variando.

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Mushrooms carpaccio – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Depois foi um curioso e saborosíssimo carpaccio de mão de porco, muito bem temperado, logo seguido dum carpaccio de cogumelos selvagens, uns boletos enormes, bem laminados, umas trompetas da morte no meio, azeite e raspas de lima, num preparado para além de muito bonito, delicioso.

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Almonds – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Apareceram também umas amêndoas salteadas e uma elegante e cremosa salada de vieiras com coentros.

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Salmon – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Para terminar os petiscos apreciou-se salmão com lentilhas em tostas aromatizadas.

Gilt-Head Bream – Photo by José Silva | All Rights Reserved

O prato de peixe foi um filete de dourada de mar corado com legumes assados, suave, saboroso, muito bom.

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Meat Dish – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Na carne veio o entrecôte com puré de batata, simples, carne tenra e saborosa, o puré fofo e apaladado.

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Dessert – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Sempre com a explicação do chefe Miguel, foram provadas duas sobremesas, ambas deliciosas embora completamente diferentes: uma original infusão de frutos vermelhos com gelado de baunilha, a acidez belíssima dos frutos vermelhos a contrastar com a doçura e cremosidade do gelado, e um flan de turron mesmo muito bom, bem ligado, doce mas sem exagero, untuoso, excelente. Com as sobremesas apreciou-se o Moscatel de Setúbal Alambre de 20 anos, soberbo, notas de frutos secos intensas, seco, grande acidez na boca, persistente mas muito elegante, belo vinho.

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Quinta dos Poços Grande Reserva 2011 – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Durante a refeição, a seguir ao champanhe, bebeu-se o Quinta dos Poços Grande Reserva 2011, um vinho de grande classe, muito elegante no nariz, algo floral, fresco e com notas de frutos vermelhos bem maduros. Na boca apresentou-se seguro, intenso, com muito boa acidez, volumoso mas ao mesmo tempo elegante, com notas de framboesas, alguma baunilha e tabaco, final longo e persistente.

Um belo vinho, uma refeição saborosa.

Contactos
Restaurante Cozinha dos Loios
Rua dos Caldeireiros 28-30
4050 137 PORTO
Mobile: (+351) 935 198 717
Facebook: cozinhadosloios.pt

Giroflé

Texto João Pedro de Carvalho

A aposta no consumidor mais jovem e irreverente, com vinhos onde acima de tudo o prazer está garantido à mesa e onde se destacam rótulos apelativos e até atrevidos, tem sido colocada em prática muito timidamente por parte dos produtores nacionais. Por enquanto ainda é mais fácil deitar por terra rótulos carregados de história do que mais propriamente tentar criar um novo segmento. Felizmente essa é uma realidade que calmamente parece ir mudando e hoje em dia já podemos encontrar por parte de alguns projectos, vinhos com rótulos que apresentam um grafismo mais arrojado e cujos vinhos mostram ser de fácil aceitabilidade por parte de quem o consome. É esse o caso do projecto Giroflé (FAP Wines) onde o enólogo João Matos aposta claramente numa linha de vinhos que se enquadra em tudo o que já aqui foi dito, aliando um forte pendor gastronómico.

Enquanto o rótulo do Alvarinho a autoria foi da autoria de António Queirós Design, o Espumante e os dois Douro vêm os seus rótulos serem criados pelo jovem graffiter Hazul Luzah. Da experiência acumulada por João Matos em empresas como a VDS ou a Beyra Vinhos de Altitude, sem adega própria decidiu estabelecer parceria com produtores onde produz e engarrafa os seus Giroflé.

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Giroflé Alvarinho 2013 & Giroflé 2013 white & Giroflé 2013 red – Photo by João Pedro de Carvalho | All Rights Reserved

Abrindo as hostilidades com o Giroflé Alvarinho 2013 a mostrar-se algo tenso de início, precisando de algum tempo no copo. Desdobra-se em toques de fruta madura, citrinos com ligeiro apontamento tropical, alguma geleia, muita frescura num vinho jovial com rasgo fumado em fundo. Na boca alguma austeridade a marcar o início de prova, abertura para ponto de mel com toda a frescura da fruta, saboroso e com boa persistência final. Grande companhia de umas gambas al ajillo.

Dando um salto até ao Douro, surgem dois vinhos, o Giroflé branco 2013 onde brilham as castas Viosinho, Rabigato e Malvazia, aconchegados nuns saudáveis 12,5%. Quanto ao vinho de início a mostrar ligeira austeridade vegetal, abrindo para fruta de caroço, o toque de pederneira confere alguma profundidade. Boca a replicar tudo o encontrado, boa presença da fruta de polpa branca, rasto mineral, tudo em estrutura mediana. Muito bom com filetes de peixe-espada e arroz de tomate.

O outro Giroflé é um tinto 2013 do Douro, resultante de um blend de Touriga Nacional, Tinta Roriz e Tinta Barroca, num conjunto fresco muito marcado pela fruta bem carnuda e sumarenta que se destaca e nos atira para o perfil mais fresco do Douro. Todo o conjunto mostra equilíbrio e frescura, cacau e especiaria em fundo, tornando-o bastante convidativo e atraente. Boca de passagem suave com sabor e presença da fruta, a frescura equilibra a presença da fruta num vinho ideal para carnes grelhadas no carvão.

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