Cozinha dos Lóios Anselmo Mendes, Produtor e Enólogo

MAPA a nadar ribanceira acima como um Burbot

Texto Ilkka Sirén | Tradução Bruno Ferreira

As estações potenciam oportunidades para beber diferentes tipos de vinho. Aqui na Finlândia podemos dizer que altura do ano é pelo que as pessoas estão a beber nesse momento. Durante a Páscoa bebe-se principalmente vinho tinto e, países como a Espanha e a Itália são bastante populares, especialmente os vinhos da Veneto, como o Valpolicella por exemplo. Se vir pessoas a consumir quantidades excessivas de espumantes baratos pelas ruas e parques de estacionamento, então provavelmente é dia 1 de Maio. No início do Verão os vinhos rosés começam a emergir como se fossem ursos que terminaram o seu período de hibernação.

Quando as pessoas começam a levar para as suas casas os vinhos bag-in-box, significa que o pleno Verão está a chegar. No final do Verão os rosés desaparecem tão rápido como apareceram e, quando os dias começam a encurtar as pessoas mudam a preferência para os tintos encorpados, provavelmente do Chile ou Argentina. Posso estar a exagerar um pouco, mas os finlandeses são bastante previsíveis no que toca a hábitos de beber. Em boa verdade acho que acontece o mesmo por todo o mundo.

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Ovas de Burbot – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Tal como as quatro diferentes estações do ano mudam, também a comida e bebidas que consumimos mudam. Uma das iguarias desta altura do ano na Finlândia é o burbot. Provavelmente nunca ouviu falar dele, mas é um peixe. Não é de todo um dos peixes mais bonitos, parece um cruzamento de bacalhau com enguia, mas é sem dúvida um dos mais saborosos. A época do burbot é geralmente entre Janeiro e Fevereiro. Existem algumas maneiras de o cozinhar, mas a mais famosa é a sopa clássica de burbot. Certifique-se que retira as ovas antes de o deitar na panela. Normalmente comem-se em tostas ou blinis com cebola e natas. As ovas do burbot são de grão fino e extremamente saborosas. Normalmente a bebida de eleição para acompanhar seria uma cerveja e schnapps, mas eu optei por um vinho branco do Douro.

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MAPA Douro Branco 2013 – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

O Douro ainda é largamente visto como a terra do vinho do Porto. Se há 20 anos alguém dissesse que o Douro era capaz de produzir vinhos frescos não fortificados, a maior parte das pessoas apelidá-lo-ia de louco. Eu tenho a minha cota parte de altos e baixos na relação amorosa que tenho com o vale do Douro e os seus vinhos. Mas de vez em quando dou de caras com vinhos que me relembram a razão pela qual me apaixonei por ele. Foi esse o caso do MAPA Douro Branco 2013 que escolhi beber com as ovas do burbot. O MAPA vem de Muxagata, um local do Douro Superior. O vinho em si tinha menos aromas de frutos tropicais maduros do que eu estava à espera. Mais virado para citrinos frescos, brotos de abeto e um toque de pêra. O que realmente me impressionou foi a estrutura compacta do vinho que ainda assim ostentava uma certa ligeireza que conferia ao vinho um final longo e de deixar água na boca. Foi uma óptima harmonização com a comida e pareceu criar um burburinho positivo à mesa, o que é sempre bom.

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MAPA Vinha dos Pais 2013 – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Com o prato principal, a sopa, bebemos o MAPA Vinha dos Pais 2013. É praticamente um lote típico do Douro com os suspeitos do costume, como a Rabigato, a Viosinho, a Arinto e a Gouveio. Fermentado e envelhecido em barris de carvalho de 500 litros durante 12 meses. Ambos os vinhos eram de 2013, mas ao contrário do MAPA Branco este vinho pareceu-me demasiado jovem. Com a comida comportou-se bastante bem mas sem ela o vinho era um pouco estranho. O carvalho não estava realmente integrado, mas tinha uma mineralidade subjacente fantástica. Reconheço ainda que, após apenas mais um ano em garrafa poderá estar muito mais equilibrado. É uma daquelas coisas que é preciso esperar para ver. Após a pureza magnífica do primeiro vinho fiquei ligeiramente desapontado. Principalmente porque o carvalho parecia não encaixar e em vez de ter um perfil de sabor linear parecia algo desconectado. Posso apenas tê-lo encontrado numa fase estranha e irei definitivamente prová-lo de novo para ver a sua evolução.

No geral, o MAPA é realmente uma boa adição à fantástica categoria de vinhos do Douro Superior. Estou ansioso por beber mais dos seus vinhos e quem sabe, talvez, um dia visitá-los em Portugal, com ou sem o burbot.

Contactos
MAPA
Muxagata – Vila Nova de Foz Côa – Douro Superior
Urbanização Vila Campos, lote 40
5000-063 Vila Real
Tel: (+351) 259 374 155
Mobile: (+351) 938 537 914
E-mail: geral@mapavinhos.pt
Site: www.mapavinhos.pt

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