Posts By : João Pedro Carvalho

Chocapalha

Texto João Pedro de Carvalho

A Quinta de Chocapalha está situada nas proximidades da Aldeia Galega da Merceana (Alenquer) a 45km de Lisboa. Um local onde a tradição do vinho está bem enraizada e cuja qualidade dos seus vinhos e vinhas remonta ao século XVI, com a história mais recente a colocar a Quinta nas mãos da família Tavares da Silva nos anos 80 do século passado.

Alice e Paulo Tavares da Silva, pais da enóloga Sandra Tavares da Silva, compraram a propriedade e dando continuidade às antigas tradições da casa, enveredaram pela produção de vinho tendo feito um investimento tanto nos 45ha de vinhas como na própria adega.

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Prova na Quinta da Chocapalha © Blend All About Wine, Lda

Os resultados deste investimento apenas iriam ver a luz do dia na colheita de 2000, ano em que se entendeu, e bem, que os vinhos já tinham alcançado um patamar de qualidade acima da média. O sucesso estava mais que garantido, a procura constante da excelência aliada a uma simpatia da parte de quem nos recebe fazem deste projecto algo muito especial, tão especial que a demanda pelos seus vinhos levou a que em 2012 tivesse sido inaugurada uma nova e bonita adega, mais funcional e com a capacidade de resposta para os dias que correm. A tradição continua bem viva na Quinta de Chocapalha e a arte de fazer bom vinho parece perdurar.

Uma prova muito bem conduzida, sempre de sorriso no rosto onde reinou a boa disposição. O dia estava chuvoso e infelizmente não foi possível visitar as vinhas, mas as vinhas vieram até nós numa prova onde foram apresentadas as mais recentes novidades com um pequeno bónus pelo caminho.

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Vinhos ao almoço © Blend All About Wine, Lda

Os vinhos têm um brilho muito próprio, influência da proximidade do mar e da natureza dos solos calcários, permitindo uma frescura acentuada com fruta de grande qualidade onde a definição de aromas e sabores faz toda a diferença. Para todos aqueles que poderiam em algum momento duvidar da capacidade de envelhecimento destes vinhos foi dado a provar o Arinto by Quinta de Chocapalha 2008 que mostrou toda a classe de um vinho adulto com uma bonita complexidade e frescura, sinais de que a casta Arinto quando bem trabalhada precisa de tempo para se mostrar.

A marca Mar de Lisboa surge como uma gama mais acessível, com rótulos bem-dispostos, tanto o branco 2013 como o tinto 2012 se mostraram capazes de bons momentos à mesa, feitos a pensar no consumo diário, bem frescos, boa harmonia com a fruta muito presente, ligeira austeridade no tinto com taninos espigados, caindo a minha escolha no Mar de Lisboa branco 2013.

A marca Quinta de Chocapalha engloba toda a gama média da casa, onde se encontra o branco e o tinto com o mesmo nome e um lote de varietais bastante interessantes com vinhos que se destacam pelo carácter muito próprio, assumidamente frescos e com uma fruta sempre presente mas muito bem balanceada com o restante conjunto.

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Quinta de Chocapalha Arinto 2013 © Blend All About Wine, Lda

Quinta de Chocapalha Sauvignon Blanc 2013
Um Sauvignon Blanc que mostra uma faceta mais vegetal, mineral, seco e com grande frescura, leve fumado de fundo em companhia de fruta de caroço. Mostra garra na boca, frescura e sabor com bom final.

Quinta de Chocapalha Arinto 2013
Ainda muito tenso, nervoso, marcado pelas notas de citrinos com folha de limoeiro tão característica da casta Arinto. Acidez marcante num vinho cheio de garra, austeridade no palato a pedir tempo de garrafa prometendo a riqueza exibida pelo 2008.

Quinta de Chocapalha Cabernet Sauvignon 2012
Um Cabernet Sauvignon bem evidente nas boas e frescas notas vegetais, destaque para ligeiro pimentão que se desvanece com tempo de copo dando lugar a fruta silvestre madura num conjunto fresco e de grande qualidade. Não deixa de dar uma piscadela de olho a Bordéus no perfil que assume, fresco, com bom corpo e taninos a segurarem todo o conjunto.
A marca Chocapalha fica destinada apenas para os topos de gama da Quinta, aqui encontramos o Chocapalha Reserva branco e os tintos Vinha Mãe e CH.

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CH by Chocapalha Touriga Nacional 2011 © Blend All About Wine, Lda

Chocapalha Reserva branco 2013
Em prova ao lado do Reserva 2012, a Chardonnay largou o Viosinho que tinha e aparece agora com 15% de Arinto. Perdeu parte da untuosidade que tinha na anterior versão para se mostrar agora mais perfumado e solto, fresco, envolto numa fragrância muito delicada e feminina, untuosidade da Chardonnay num conjunto fresco, saboroso com muito boa presença no palato, muita classe em final frutado e persistente.

Chocapalha Vinha Mãe 2010
Vinho intenso, fresco e profundo, onde brilham os frutos do bosque maduros, especiarias, coeso e muito cerrado, cheio de vida com uma passagem marcante pelo palato. Envolvente e com uma estrutura firme, fresco e a mostrar ligeira austeridade de taninos no final longo e persistente.

CH by Chocapalha Touriga Nacional 2011
Mostra uma Touriga Nacional fresca e perfumada num conjunto pujante, extraído e com muita intensidade. A fruta preta muito suculenta e fresca mostra-se ao lado de violetas, atraente e ao mesmo tempo a dar sinais que mais algum tempo de garrafa só lhe vai fazer bem. Grande amplitude na boca, marcante com muito sabor a fruta, barrica a aconchegar tudo com ligeira mineralidade em final muito persistente.

Contactos
Email: chocapalha@chocapalha.com
Site: Quinta da Chocapalha

Júlio B. Bastos Garrafeira Alicante Bouschet 2007

Texto João Pedro de Carvalho

Ainda por terras de Estremoz, saindo da Quinta do Mouro viro à esquerda e rumo em direção a Monforte, um pouco antes da zona dos Supermercados na saída de Estremoz viro à esquerda na placa que indica Agroturismo. Um pouco mais à minha frente fica a Quinta Dona Maria, que segundo conta a história foi adquirida em tempos por D.João V para oferecer a uma cortesã, D.Maria, por quem estava perdidamente apaixonado. Esta Quinta é também conhecida como Quinta do Carmo, pois numa época posterior à edificação da casa, construiu-se uma capela datada de 1752, que foi dedicada e consagrada a Nossa Senhora do Carmo.

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Quinta Dona Maria – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

O vinho foi sempre parte integrante da Quinta, juntamente com os seus imponentes lagares de mármore, mas seria apenas nos anos 80 com enologia de João Portugal Ramos que Júlio Bastos, o atual proprietário, iria começar a comercializar os seus vinhos, com destaque para os fantásticos Garrafeira Quinta do Carmo 1985, 1986 e 1987, onde despontava a casta Alicante Bouschet. A ligação desta casta à Quinta Dona Maria surge com um dos seus antigos proprietários, John Reynolds (Herdade do Mouchão) casado com Isabel d´Andrade Bastos.

Os anos passaram e após a venda da marca Quinta do Carmo ao grupo Bacalhoa, Júlio Bastos decidiu relançar em 2003 os vinhos com o nome Quinta Dona Maria. Recuperou o vinhedo mais antigo de Alicante Bouschet e na colheita de 2004, com enologia de Sandra Gonçalves, decidiu homenagear o seu pai, Júlio Bandeira Bastos com o lançamento do primeiro Garrafeira Dona Maria.

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Júlio B. Bastos Garrafeira Alicante Bouschet 2007 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Júlio B. Bastos Garrafeira Alicante Bouschet 2007 é o resultado da escolha das melhores uvas das vinhas velhas (50 anos) de Alicante Bouschet, pisadas em lagares de mármore e posteriormente estagiado em barricas novas de carvalho francês durante 14 meses.

Um portento de vida e classe, liquorice, tinta da china, denso e profundo com enorme frescura e definição, envolvente com uma complexidade invejável num vinho que apesar dos seus 7 anos ainda está muito novo. A fruta silvestre muito madura, limpa, envolta numa capa de notas balsâmicas, onde a barrica integrada aconchega um conjunto de luxo de traço Alentejano. Boca a condizer, sente-se um conjunto firme, intenso e ao mesmo tempo harmonioso, profundo e conquistador num final muito longo. Um hino à região e ao passado glorioso desta casa.

Contactos
Quinta do Carmo 7100-055 Estremoz
Tel: (+351) 268 339 150
Fax: (+351) 268 339 155
Email: donamaria@donamaria.pt
Site: donamaria.pt

Quinta do Mouro Vinha do Malhó 2009

Texto João Pedro de Carvalho

Se há locais destinados à produção de vinho de alto gabarito, a zona de Estremoz (Alentejo) é um desses sítios a ver pela quantidade de projectos e respectiva qualidade dos vinhos ali produzidos. A Quinta do Mouro localizada em Estremoz é sem dúvida alguma um dos melhores exemplos do que de melhor se faz no Alentejo e em Portugal. Ali quem manda é o carismático produtor Miguel Louro, podendo mesmo afirmar que os grandes vinhos que ali são produzidos são frutos da sua teimosia e genialidade. O primeiro Quinta do Mouro saiu para o mercado em 1994, em 1999 foi lançado o ensaio daquele que é o mais cobiçado vinho do produtor, o Quinta do Mouro Rótulo Dourado.

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Quinta do Mouro Vinha do Malhó 2009 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

A última coqueluche a sair da adega dá pelo nome de Vinha do Malhó 2009, o primeiro vinho do produtor produzido apenas de uma vinha (2ha) plantada em 2001, a do Malhó, composta por duas parcelas na encosta em frente à casa da Quinta do Mouro. Localizada em solo de xisto, muito pobre, o rendimento é baixo e durante todos estes anos tem contribuído apenas para enriquecer o lote do Quinta do Mouro.

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Adega Quinta do Mouro – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Estamos perante mais um vinho fruto da saudável teimosia que caracteriza Miguel Louro, uma vez que contrariando toda a equipa de enologia ele considerou que um dos lotes disponíveis se diferenciava com mais amargos, mais acidez, mais taninos, mais de tudo… as tais características únicas e com identidade suficiente para espelhar aquilo que Miguel Louro entende ser o espelho da Vinha do Malhó numa produção de 3.000 garrafas que só voltará a ser lançado com a colheita de 2012. Como já foi dito destaca-se pela frescura, pela solidez e profundidade que mostra mesmo sendo ainda um jovem com toda uma vida pela frente. Esse vigor sente-se no palato, dominado por taninos e fruta muito viva, segundo plano terroso e especiado num final muito longo e persistente. Elegante e provocador, uma verdadeira tentação.

Contactos
Quinta do Mouro
7100 – 056 Estremoz
Tel.: (+351) 268 334 097
Fax: (+351) 268 337 585
E-mail: geral@quintadomouro.com
Site: www.quintadomouro.com

Burmester Colheita 2001

Texto João Pedro de Carvalho

Passear nas ruas do Centro Histórico de Gaia é como dar um salto atrás no tempo, imaginar a rolagem das pipas pelas pedras da calçada, as enormes salas de estágio onde moram autênticos sonhos por engarrafar. Visitar cada uma das caves é entrar num mundo aparte, apesar do fio condutor que as une, ali mora um silêncio que perdura na história, talvez apenas o sussurro dos néctares divinos que vão estagiando seja o único som que mereça ser ouvido, autênticos pavilhões do conhecimento que se pudessem falar teriam tanto para nos contar, tal a história e segredos que encerram.

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Burmester Colheita 2001 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

A Burmester pertence ao grupo Sogevinus e é um especialista no que toca à categoria de Porto Tawny. Neste caso o que cai no copo é o Burmester Colheita 2001, um vinho de perfil muito novo com todas as vicissitudes que tal acarreta uma vez que a sua complexidade não se aproxima dos patamares alcançados pelos vinhos de maior idade, mantendo da mesma forma o fio condutor tão característico dos grandes Porto Colheita desta casa. Se colocado ao lado de um 20 Anos teremos por comparação um vinho muito mais complexo que resulta da mestria do blend das variadas colheitas que dele fazem parte.

Por aqui o que se encontra é este bouquet menos rendilhado mas ao mesmo tempo ligeiramente evoluído, profundo e intenso, cheio de vida, com notas de avelã e alperce seco. Já a mostrar aquele toque untuoso no palato acompanhado de grande frescura e elegância, numa passagem que deixa boas recordações. O prazer de beber um Porto Colheita dos mais recentes é algo único, ter lado a lado a magia da oxidação com a força da juventude, capaz de ligações fantásticas como por exemplo uma generosa fatia de Bolo Inglês.

Contactos
Avenida Diogo Leite 344
Vila Nova de Gaia
4400-111
Portugal
Tel: (+351) 22 374 66 60
Fax: (+351) 22 374 66 99
E-mail: comercial@sogevinus.com
Site: www.burmester.pt

Alborok

Texto João Pedro de Carvalho

O produtor Joaquim Arnaud (Vinhos Arundel) em conjunto com o enólogo Tomás Viera da Cruz criaram o Alboroque 2012. Um vinho feito e pensado para as tapas/aperitivos/petiscos, um verdadeiro todo terreno com capacidade de se desdobrar em variados campos, desde conservas, presunto, queijos secos e picantes, azeitonas, enchidos, espargos…

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Alboroque Colheita 2012  – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

O seu nome Alboroque vem do árabe Alborok e significa refeição, definição que encaixa perfeitamente no vinho em causa, um branco seco, cuja inspiração no estilo do Fino de Jerez se transportou para o terroir da vinha da Terra Larga (Salvaterra de Magos). Fruto de um lote de Arinto e Fernão Pires, repousou sob véu de flor, sem qualquer adição de aguardente. Destaca-se pela elevada acidez durante a prova. A oxidação a que esteve sujeito apenas lhe deu mais complexidade, um conjunto de aromas e sabores diferentes numa combinação entre os aromas frescos e florais da casta Arinto, e o toque mais estruturado da casta Fernão Pires (Maria Gomes na Bairrada).

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Alboroque Colheita 2012  – Foto de João de Pedro Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Não é um vinho de fácil consenso, a única maneira de ser compreendido é com comida por perto. Sirva-se bem fresco a acompanhar umas azeitonas e umas finas lascas de presunto ibérico ou de mojama com uma pinga de azeite e umas amêndoas torradas. Toda a sua frescura com toques de maçã reineta, ligeira salinidade e notas de amêndoa vão criar uma ligação mágica. Enquanto isto, abre-se uma lata de sardinhas em molho de tomate com pão torrado e ao lado já estão uns mexilhões de escabeche e umas puntillas fritas. O vinho é festivo, alegre, continua a brilhar, acompanha e ao mesmo tempo limpa o palato para a próxima dentada, não cansa e quando damos por ele já acabou. Está na altura de ir jantar, a mesa está repleta de amigos, onde muitos outros vinhos vão ser servidos e provados… depois conto.

Quinta da Murta = Arinto

Texto João Pedro de Carvalho

A região de Bucelas (demarcada desde 1911) fica situada às portas de Lisboa, concelho de Loures, e é caracterizada pela produção de brancos e espumantes com base na casta Arinto. Ganhou fama no estrangeiro aquando da Guerra Peninsular/Invasões Francesas, pelo facto do General Wellington terá levado uns pipos do branco de Bucelas para George III, passando o “Lisbon Hock” a ser exportado nessa altura em grande quantidade para Inglaterra. Terá sido também o vinho de Shakespeare imortalizado com o nome “Charneco”.

A região adormeceu durante largos anos e apenas se revitalizou com o surgimento de novos projetos no início dos anos 90, onde a figura do enólogo Nuno Cancela de Abreu teve um papel muito importante.

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Vinhas Quinta da Murta – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Um dos projectos do qual fez parte foi a Quinta da Murta, uma propriedade vinícola com 27 hectares, situada a 2,5 km de Bucelas, aproximadamente 20 km a norte de Lisboa e com a primeira colheita em 1994.

A propriedade possui 14,5 hectares de vinha, implantadas a 250 metros de altitude nas encostas do Vale da Ribeira do Boição, beneficiando de solos compostos por margas calcárias e calcários cristalinos, com numerosas presenças de fósseis. Com natural presença da casta Arinto, cuja acidez natural aliada às características dos solos e do microclima da região permite produzir na Quinta da Murta, agora com o enólogo Hugo Mendes, vinhos únicos com grande potencial de guarda onde brilha a gama de brancos e de espumantes.

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Quinta da Murta Reserva Bruto 2008 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Quinta da Murta Reserva Bruto 2008 (DOC Bucelas)
Uma pequena parte do lote fermentou em barricas usadas, com posterior estágio em garrafa. Mostra um Arinto evoluído, complexo, aroma muito fresco com citrinos maduros, folha de limoeiro, maçã, muito vivo e direto com mineralidade de fundo. Boca com muita frescura, mousse ligeira com citrinos, vivacidade e mineral, numa bela acidez em final persistente e seco. Um espumante que pede pratos de marisco por perto, por exemplo mexilhões ou ameijoas ao natural, apenas com umas gotas de sumo de limão e coentros picados.


Contactos

Quinta da Murta, Estrada Velha do Boição nº 300
2670-632 Bucelas Portugal
Tel: 210 155 190
Telemóvel: 932 857 750
Fax: 210 155 193
Email: qmurtageral@hotmail.com
Site: www.quintadamurta.pt

Caves São João – Porta dos Cavaleiros Reserva Seleccionada 1983 – 1985

Texto João Pedro de Carvalho

Não se pode falar da história do vinho do Dão, uma das mais antigas regiões vitivinícolas de Portugal, demarcada em 1908, sem mencionar as carismáticas Caves São João e os seus míticos Porta dos Cavaleiros dos anos 60 e 70.

Alguns deles fazem mesmo parte do lote dos melhores vinhos alguma vez feitos em Portugal. As Caves São João foram fundadas em 1920 pelos irmãos José, Manuel e Albano Ferreira da Costa, mas apenas em 1959, já com os descendentes dos fundadores, Alberto e Luís Costa, iriam surgir as marcas que lançaram as Caves São João para o estrelato – o Frei João (Bairrada) e o Porta dos Cavaleiros (Dão) cujo Reserva ostenta um bonito rótulo de cortiça, inovador para a altura.

Caves S. João – Foto de João Pedro de Carvalho | All Rights Reserved

Sem produção própria ou sequer vinificação na região do Dão, limitavam-se a comprar vinhos nas adegas cooperativas e em algumas quintas da região para posterior estágio e loteamento na sua sede localizada na Bairrada.

Aqui foi decisivo o grande conhecimento que os irmãos Alberto e Luís Costa detinham sobre a região, facto que lhes permitiu adquirir/abastecer de forma continuada com alguns dos melhores vinhos de toda a região.

A mestria com que dominavam a arte do lote e tendo em conta a qualidade da matéria-prima disponível, permitiu criar vinhos de excelsa qualidade com um cunho muito próprio aliado a um perfil marcadamente clássico da região, vinhos que perduraram na sua grande totalidade até aos dias de hoje.

Com a evolução dos tempos e consequente evoluir da região do Dão, passou a DOC em 1990, no final dos anos 80 muitos dos que antes forneciam as Caves São João com os melhores vinhos enveredaram pela produção própria, desta maneira a qualidade dos lotes disponíveis como seria de esperar sofreu um rude golpe.

No silêncio das caves residem nos dias de hoje mais de um milhão de garrafas que resistiram imaculadas à passagem do tempo e cujos vinhos na maior parte dos casos mostram uma saúde invejável. É pois todo um privilégio e uma rara oportunidade para os apreciadores poderem entrar em contacto com toda a glória e esplendor de tempos que já não voltam.

Porta dos Cavaleiros Reserva Seleccionada 1985 – Foto de João Pedro Carvalho | All Rights Reserved

Porta dos Cavaleiros Reserva Seleccionada 1983 (Dão) 

Mostra o aroma clássico que de imediato nos remete para a sua região de origem, o Dão.
Precisa de tempo no copo, complexo e profundo com muito mato, caruma, ervas de cheiro, fruta negra (cereja, framboesa) sumarenta bem limpa e fresca a ser acompanhada por notas de violeta, fumado, terroso e especiado (pimenta). Mais robusto que o 1985 com uma presença vegetal mais acentuada, pleno de harmonia na boca com muita fruta madura, cereja em destaque, pinheiro e especiaria, tudo com grande frescura, corpo médio numa passagem pelo palato sedosa e cheia de vivacidade, final longo e persistente.

Porta dos Cavaleiros Reserva Seleccionada 1985 (Dão)

Aroma clássico da região, quase que em forma de compêndio, mais fresco e definido que o 1983, embora de igual patamar de qualidade, aqui com a energia de uma fruta vermelha (bagas silvestres) muito viva, tabaco seco, fumo, ameixa seca, pinhal, cheio de finesse. Boca cheia de fruta viva e suculenta que apetece trincar, acetinado no palato, um autêntico prazer que apetece beber, fantástico equilíbrio e uma frescura invejável. Um hino ao que de melhor o Dão e Portugal têm para oferecer. Vinho de classe mundial? Porque não.

Contactos
Caves de São João
São João da Azenha, Anadia, Ap-1
3781-901 – Avelãs de Caminho, Portugal
Phone: + 351 234 743 118
Email: geral@cavessaojoao.com
Site: http://www.cavessaojoao.com/

Roques & Maias – Os Novos Clássicos do Dão

Texto João Pedro de Carvalho

Se há produtores marcantes quer ao nível da Região quer ao nível dos vinhos que produz, o proprietário da Quinta dos Roques (Mangualde) e da Quinta das Maias (São Paio de Gouveia) é seguramente um desses casos, assumindo-se como um dos melhores produtores de Portugal e um dos pilares da Região do Dão.

A Quinta dos Roques fica situada a 450 metros de altitude, onde predominam os solos arenosos com presença de granito. Num total de 40 hectares divididos em 12 parcelas, viu em 1978 o seu vinhedo ser reconvertido para o que conhecemos hoje em dia. A Quinta das Maias fica situada no sopé da Serra da Estrela, em pleno Parque Natural a 600 metros de altitude, sendo a vinificação feita, desde 1992, na Quinta dos Roques.

A característica dominante desde que surgiram em 1990 é o fantástico equilíbrio que os seus vinhos conseguem mostrar entre elegância e potência, numa combinação perfeita entre o clássico e o moderno, aliada a uma tremenda vocação gastronómica. Neles encontramos um fio condutor que se soube manter através do tempo e ao longo da sua gama, tal como uma invejável consistência colheita após colheita, sempre alheados de modas ou das tentações mercantilistas do agrado fácil, mostram uma saudável austeridade que mesmo assim lhes permite um desfrute pleno enquanto novos.

FOTO 1 - ROQUES

Quinta das Maias (Jaen 1999) – Quinta dos Roques (Touriga Nacional 1999 | Alfrocheiro Preto 1999 | Reserva 1999) – Foto de João Pedro Carvalho | Todos os Direitos Reservados

O grande responsável por tudo isto é Luís Lourenço, membro do grupo de produtores Independent Winegrowers Association e um dos pioneiros e principais responsáveis pelo ressurgimento do “novo” Dão, aquele que em parte hoje conhecemos e apreciamos. Mantendo-se leal no que toca à região, quebrou em parte com os tradicionais vinhos de lote e cedo decidiu vinificar a solo as castas de que dispunha. Daqui resultou um melhor entendimento das castas e dos seus locais, permitindo aprimorar o perfil dos vinhos produzidos, tanto nos Roques como nas Maias e entender qual o melhor contributo de cada uma para o lote final. O culminar desses seus estudos surge pela primeira vez no ano de 1996 com o lançamento dos seus primeiros monocasta a que chamou Colecção e cuja iniciativa se tem repetido até aos dias de hoje sempre que os anos tenham qualidade para tal. Durante os primeiros anos a enologia esteve a cargo do Prof. Virgílio Loureiro que deu lugar em 2002 a Rui Reguinga.

Início de prova com o branco Quinta dos Roques Encruzado, um vinho que precisa de descansar dois a três anos após ser colocado no mercado para ganha uma outra dimensão, a nível da complexidade de sabores e aromas. Neste caso é um 2004 que com dez anos se mostra na plenitude das suas capacidades. Nos tintos foi feita uma pequena retrospetiva do ano 1999 em que todos os vinhos em prova se apresentaram com 12,5%Vol., estando presente o Quinta das Maias Jaén, Quinta dos Roques Alfrocheiro Preto, Quinta dos Roques Touriga Nacional e Quinta dos Roques Reserva.

Quinta dos Roques Encruzado 2004 (DOC Dão): Espetacular envolvência de aromas, complexidade envolta numa onda fresca com toque melado. Fruta (Citrinos) madura, suculenta, resina, rebuçado de limão, profundo e cativante. Boca com boa frescura a envolver a fruta, untuoso, grande presença com muita harmonia, final longo e persistente.

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Encruzado Quinta dos Roques 2004 – Foto de João Pedro Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Quinta das Maias Jaén 1999 (DOC Dão): É um miminho bom, cheio de fruta (amora, cereja, mirtilo) limpa, redonda e rechonchuda, envolta em frescura. Perfumado, sempre com um ligeiro toque rústico, bosque, flores, pinheiro. Delicada e refinada complexidade com palato de veludo tão característico do Dão, fresco e ainda com alguma garra a mostrar secura num prolongado e especiado final.

Quinta dos Roques Alfrocheiro Preto 1999 (DOC Dão): Mais escuro e fechado que o Jaén, fresco, fruta densa e mais gulosa com destaque para morango, bagas silvestres muito envolvente com rama de tomate e especiarias a complementar. Entra mais saboroso e domado na boca, mais acidez presente envolta por uma capa vegetal, muita e boa fruta pelo meio num conjunto de grande presença e envolvência, final longo.

Quinta dos Roques Touriga Nacional 1999 (DOC Dão): Sente-se a Touriga no nariz, violetas, bom perfume, evolução grande no copo com fruta resplandecente e muito madura (bagas, mirtilos, bergamota), baunilha, caruma, pinheiro, chocolate e tabaco num conjunto profundo e conversador. Boca com enorme vida e presença, muita classe com harmonia e sabor marcado pela fruta opulenta que se mastiga, folha seca de tabaco, final longo e persistente deste glorioso Touriga Nacional.

Quinta dos Roques Reserva 1999 (DOC Dão): Mostra a arte e mestria do lote, depois de provadas algumas das principais castas que lhe compõem o lote, faltou Tinta Roriz e Tinto Cão. Perfeito entendimento das castas num conjunto cheio de classe, terciários de grande qualidade, fina complexidade de um conjunto muito composto, fresco e apelativo. Boca com frescura, fruta viva e saborosa a marcar o palato, boa concentração em equilíbrio com acidez e corpo de média estrutura. Sem cansar, este vinho brilha à mesa com a mais variada gastronomia. Um prazer.

Contactos
Quinta dos Roques
Rua da Paz – Abrunhosa do Mato
3530-050 Cunha Baixa – Portugal
Phone: 00 351 232 614 511
Email: info@quintaroques.pt
Site: www.quintaroques.pt/

Conceito Branco – Um Grande Vinho do Douro Superior

Texto João Pedro de Carvalho

Em visita recente ao Douro Superior tive oportunidade de provar algumas colheitas daquele que é um dos melhores brancos feitos em Portugal, o Conceito da enóloga Rita Marques Ferreira. No total foram provadas quatro das seis colheitas já lançadas no mercado, relembro que a primeira colheita deste branco foi 2006, mas em prova apenas estiveram os 2008, 2009, 2010, 2011 aos quais se juntou à última da hora o 2012.

Este fantástico vinho branco nasce em terras de Cedovim (Douro Superior), na Quinta do Cabido, onde residem os 10 hectares de vinha exclusivamente destinados para castas brancas, num planalto localizado a 500 metros de altitude. A transição de solos faz com que por ali mande o granito, em parte responsável pela excepcional qualidade destes vinhos, a outra parte provém da mão da enóloga, influenciada pelo tempo que esteve em Bordéus, onde foi aluna e estagiária do “guru” dos brancos de Bordéus (Denis Dubourdieu).

Na visão muito própria que a enóloga tem pela região e pelos vinhos que cria, nascem brancos de Conceito muito particular, num perfil diferente, mais fresco, sem arestas e onde o detalhe e equilíbrio é palavra de ordem. Dominam as castas locais, Rabigato, Códega do Larinho e Gouveio provenientes de vinhas muito velhas. A passagem por madeira tem vindo a ser afinada e as barricas novas deram lugar a barricas usadas (madeira Francesa e do Cáucaso).

A boa notícia, ou confirmação daquilo que poucos pensavam no início, é que a evolução dos vinhos em causa tem sido fabulosa e não é obra do acaso. Aliás, o Conceito branco tem vindo a ser afinado ao longo das suas “curtas” seis colheitas de história, mostrando-se sempre predicados mais que suficientes para conquistar, por direito próprio lugar entre os grandes vinhos brancos de Portugal.

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Alto Douro Vinhateiro – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Resrvados

Conceito branco 2008 (DOC Douro)
Complexo, amplo com a sensação de pão torrado a mostrar uma barrica muito bem integrada num conjunto cheio de harmonia, que alia frescura com flores e fruta de qualidade (citrinos, pêra) envolta em leve calda. Nada beliscado pelo tempo, boca com muito sabor, frescura e finesse, corpo cheio de detalhe num fundo fresco e mineral. Final longo e persistente.

Conceito branco 2009 (DOC Douro)
Mais amplo e texturado que o 2008, muita frescura num blend com uma fruta (citrinos, pêssego) sólida, bem madura e limpa, nada tocada pelo tempo e com grande pureza de conjunto. Um pouco menos expressivo mas sempre com harmonia e classe, tão características, mostra notas fumadas de uma madeira plenamente integrada, que o arredonda e embala no palato, sem perder o travo fresco e mineral de fundo.

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Conceito White – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Resrvados

Conceito branco 2010 (DOC Douro)
A partir desta colheita a madeira nova perdeu presença, dando ainda mais lugar à fruta (toranja, lima, pêssego) que se apresenta desta forma com maior frescura e definição. O conjunto mantem-se de igual forma em grande nível, complexo e profundo, mais floral e mineral, embora muito mais rico em delicadeza. Mineralidade sentida num conjunto fresco, com vigor que mostra maior sensação de pureza durante toda a prova.

Conceito branco 2011 (DOC Douro)
Vem na boa linha do 2010, aqui muito fino de acidez e conjunto, muito mais delineado nos aromas e sabores. Conjunto complexo, com boa exuberância da fruta (citrinos, pêra). Madeira em grande harmonia, mostra-se afinado, com boca cheia de sabor e frescura, muita classe numa prova repleta de prazer e vivacidade.

Conceito branco 2012 (DOC Douro)
Somos dominados pelos citrinos e pela mineralidade, da madeira pouco ou nenhum sinal, apenas aquela nota de pão torrado que marca toda a linha. Depois quase que ficamos reféns de uma ligeira austeridade mineral que nos domina por instantes, quer o nariz quer o palato, num conjunto ainda tenso, cheio de nervo que se pode até confundir, por momentos, como algo duro no palato e fechado no nariz.

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Conceito – Vinhos
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Alambre 20 Anos…A magia do Moscatel de Setúbal

Texto João Pedro de Carvalho

Portugal é o único país do Mundo capaz de colocar à mesma mesa três generosos de classe Mundial, provenientes de três regiões fantásticas e únicas. Estes vinhos são o Vinho do Porto, Vinho da Madeira e obviamente o Moscatel de Setúbal.

O Moscatel de Setúbal é um vinho generoso com Denominação de Origem Protegida (DOP) reconhecida desde 1907. No entanto, na  José Maria da Fonseca, a produção destes vinhos remonta a 1834 o que possibilita ter um património inédito de vinhos moscatéis em stock.

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Alambre 20 Anos Moscatel de Setúbal – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Photo by João Pedro Carvalho | All Rights Reserved

O Alambre 20 Anos é elaborado a partir da casta Moscatel plantada em solos argilo-calcários, que da produção anual vê uma parte ser destinada ao envelhecimento mais prolongado em cascos de madeira usada na mítica Adega dos Teares Velhos (Vila Nogueira de Azeitão).

O vinho em causa é uma referência obrigatória e um dos meus favoritos, tendo lugar indiscutível entre os melhores vinhos doces de Portugal, com um preço que a rondar os 24€ lhe dá uma invejável relação preço/satisfação. Fruto de um conjunto de grandes moscatéis, envelhecidos e lotados com mestria, resulta um blend de 19 colheitas em que a mais nova tem pelo menos 20 anos e a mais antiga perto de 80 anos.

Um vinho muito complexo e intenso. Elegante, com notas de frutos secos e fruta passa, laranja cristalizada, mel, ligeiro vinagrinho, envolto em frescura e harmonia. Boca com grande presença, gordo mas com bastante frescura, macio com travo melado e de fruta, num final maravilhoso. É o par perfeito para um bom chocolate negro com laranja ou simplesmente para terminar um jantar de amigos em grande classe.

Contactos
José Maria da Fonseca, S.A.
Quinta da Bassaqueira, Estrada Nacional 10
2925-542, Vila Nogueira de Azeitão, Setúbal, Portugal
Tel: (+351) 212 197 500
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