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Roques & Maias – Os Novos Clássicos do Dão

Texto João Pedro de Carvalho

Se há produtores marcantes quer ao nível da Região quer ao nível dos vinhos que produz, o proprietário da Quinta dos Roques (Mangualde) e da Quinta das Maias (São Paio de Gouveia) é seguramente um desses casos, assumindo-se como um dos melhores produtores de Portugal e um dos pilares da Região do Dão.

A Quinta dos Roques fica situada a 450 metros de altitude, onde predominam os solos arenosos com presença de granito. Num total de 40 hectares divididos em 12 parcelas, viu em 1978 o seu vinhedo ser reconvertido para o que conhecemos hoje em dia. A Quinta das Maias fica situada no sopé da Serra da Estrela, em pleno Parque Natural a 600 metros de altitude, sendo a vinificação feita, desde 1992, na Quinta dos Roques.

A característica dominante desde que surgiram em 1990 é o fantástico equilíbrio que os seus vinhos conseguem mostrar entre elegância e potência, numa combinação perfeita entre o clássico e o moderno, aliada a uma tremenda vocação gastronómica. Neles encontramos um fio condutor que se soube manter através do tempo e ao longo da sua gama, tal como uma invejável consistência colheita após colheita, sempre alheados de modas ou das tentações mercantilistas do agrado fácil, mostram uma saudável austeridade que mesmo assim lhes permite um desfrute pleno enquanto novos.

FOTO 1 - ROQUES

Quinta das Maias (Jaen 1999) – Quinta dos Roques (Touriga Nacional 1999 | Alfrocheiro Preto 1999 | Reserva 1999) – Foto de João Pedro Carvalho | Todos os Direitos Reservados

O grande responsável por tudo isto é Luís Lourenço, membro do grupo de produtores Independent Winegrowers Association e um dos pioneiros e principais responsáveis pelo ressurgimento do “novo” Dão, aquele que em parte hoje conhecemos e apreciamos. Mantendo-se leal no que toca à região, quebrou em parte com os tradicionais vinhos de lote e cedo decidiu vinificar a solo as castas de que dispunha. Daqui resultou um melhor entendimento das castas e dos seus locais, permitindo aprimorar o perfil dos vinhos produzidos, tanto nos Roques como nas Maias e entender qual o melhor contributo de cada uma para o lote final. O culminar desses seus estudos surge pela primeira vez no ano de 1996 com o lançamento dos seus primeiros monocasta a que chamou Colecção e cuja iniciativa se tem repetido até aos dias de hoje sempre que os anos tenham qualidade para tal. Durante os primeiros anos a enologia esteve a cargo do Prof. Virgílio Loureiro que deu lugar em 2002 a Rui Reguinga.

Início de prova com o branco Quinta dos Roques Encruzado, um vinho que precisa de descansar dois a três anos após ser colocado no mercado para ganha uma outra dimensão, a nível da complexidade de sabores e aromas. Neste caso é um 2004 que com dez anos se mostra na plenitude das suas capacidades. Nos tintos foi feita uma pequena retrospetiva do ano 1999 em que todos os vinhos em prova se apresentaram com 12,5%Vol., estando presente o Quinta das Maias Jaén, Quinta dos Roques Alfrocheiro Preto, Quinta dos Roques Touriga Nacional e Quinta dos Roques Reserva.

Quinta dos Roques Encruzado 2004 (DOC Dão): Espetacular envolvência de aromas, complexidade envolta numa onda fresca com toque melado. Fruta (Citrinos) madura, suculenta, resina, rebuçado de limão, profundo e cativante. Boca com boa frescura a envolver a fruta, untuoso, grande presença com muita harmonia, final longo e persistente.

FOTO 2 - ROQUES

Encruzado Quinta dos Roques 2004 – Foto de João Pedro Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Quinta das Maias Jaén 1999 (DOC Dão): É um miminho bom, cheio de fruta (amora, cereja, mirtilo) limpa, redonda e rechonchuda, envolta em frescura. Perfumado, sempre com um ligeiro toque rústico, bosque, flores, pinheiro. Delicada e refinada complexidade com palato de veludo tão característico do Dão, fresco e ainda com alguma garra a mostrar secura num prolongado e especiado final.

Quinta dos Roques Alfrocheiro Preto 1999 (DOC Dão): Mais escuro e fechado que o Jaén, fresco, fruta densa e mais gulosa com destaque para morango, bagas silvestres muito envolvente com rama de tomate e especiarias a complementar. Entra mais saboroso e domado na boca, mais acidez presente envolta por uma capa vegetal, muita e boa fruta pelo meio num conjunto de grande presença e envolvência, final longo.

Quinta dos Roques Touriga Nacional 1999 (DOC Dão): Sente-se a Touriga no nariz, violetas, bom perfume, evolução grande no copo com fruta resplandecente e muito madura (bagas, mirtilos, bergamota), baunilha, caruma, pinheiro, chocolate e tabaco num conjunto profundo e conversador. Boca com enorme vida e presença, muita classe com harmonia e sabor marcado pela fruta opulenta que se mastiga, folha seca de tabaco, final longo e persistente deste glorioso Touriga Nacional.

Quinta dos Roques Reserva 1999 (DOC Dão): Mostra a arte e mestria do lote, depois de provadas algumas das principais castas que lhe compõem o lote, faltou Tinta Roriz e Tinto Cão. Perfeito entendimento das castas num conjunto cheio de classe, terciários de grande qualidade, fina complexidade de um conjunto muito composto, fresco e apelativo. Boca com frescura, fruta viva e saborosa a marcar o palato, boa concentração em equilíbrio com acidez e corpo de média estrutura. Sem cansar, este vinho brilha à mesa com a mais variada gastronomia. Um prazer.

Contactos
Quinta dos Roques
Rua da Paz – Abrunhosa do Mato
3530-050 Cunha Baixa – Portugal
Phone: 00 351 232 614 511
Email: info@quintaroques.pt
Site: www.quintaroques.pt/

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