Posts By : João Pedro Carvalho

Esporão Verdelho 2004, da cave para a mesa

Texto João Pedro de Carvalho

Desde cedo que enquanto enófilo ganhei o gosto de guardar vinhos por longo período na minha cave. O objectivo sempre foi e continuará a ser a curiosidade por ver como evoluem uns e a necessidade expressa dessa mesma guarda por outros tantos vinhos que ali ficam esquecidos durante largos anos. Quem gosta de vinhos e gosta de os apreciar é curioso por natureza, faz parte de condição humana o ser curioso. É essa mesma curiosidade que nos leva a querer saber algo mais sobre a maneira como se vão comportar com a passagem do tempo, até que forma o tempo os consegue educar ou não. Certo e sabido que o risco é quase sempre um factor também a ter em conta, mais ainda quando os vinhos que guardamos não têm qualquer historial que nos garanta o sucesso da nossa operação. A ressalva será sempre feita para todos aqueles que estando demasiado jovens e com os taninos em pontas necessitam de um bom repouso. E depois lá vão ficando algumas dezenas, depois centenas de garrafas acumuladas por tipo e região, garanto que o mais difícil é começar todo este processo. As surpresas até hoje têm sido quase sempre positivas, aprende-se sempre um bocadinho com estas comparações entre o vinho que foi em novo e o vinho adulto que é hoje, outros surgem já cansados e com as rugas da idade mais ou menos vincadas.

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Garrafeira – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Esporão Verdelho 2004 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Muito recentemente e por motivo de um jantar de amigos aqui em casa, decidi resgatar um desses vinhos que tenho na cave, um Esporão Verdelho 2004. Um branco com 11 anos de idade, um atrevimento ou até loucura dirão alguns, mas a verdade é que este Verdelho conseguiu a proeza de atingir aquele momento wow destinado apenas aos grandes vinhos. Esse momento é quando a generalidade dos convivas esboça um sorriso após provar o vinho que tem no copo e diz a dita palavrinha… wow. Um vinho que provei vezes sem conta na altura do seu lançamento no mercado, gostava tanto na altura que resolvi guardar umas garrafas. Esta terá sido a última resistente deste Verdelho 2004 que mostrou ainda uma invejável frescura de boca e de nariz, toda a fruta que antes era fresca agora está envolta em calda e ligeiramente adocicada, toques vegetais com tisana, ramalhete de flores, tudo muito bem composto num vinho sério e adulto, com as ideias muito bem delineadas. Na boca frescura, ponta de untuosidade a enrolar a fruta no palato, mostra-se com consistência e muito boa presença, muito prazer a beber e a voltar a beber, sem cansar.

É este um dos motivos que me leva a guardar vinho, acima de tudo a curiosidade mas também a satisfação de posteriormente os poder partilhar com gente que lhes sabe dar o respectivo valor. O único senão é quando a garrafa fica vazia e nos questionamos por que razões na altura não se guardaram mais umas garrafas.

Contactos
Herdade do Esporão
Apartado 31, 7200-999
Reguengos de Monsaraz
Tel: (+351) 266 509280
Fax: (+351) 266 519753
E-mail: reservas@esporao.com
Website: esporao.com

Barão de Vilar LBV 2010

Texto João Pedro de Carvalho

Estamos já em pleno Outono, altura em que os dias ficam mais curtos e o tempo parece que demora a passar. Um contra senso talvez, uma vez que em pleno Verão os dias são maiores embora com mais tempo para nos distrairmos nem se dá pelo passar das horas. Por esta altura do ano entram em cena as nozes, as abóboras, as romãs ou as maçãs, é altura dos marmelos mas acima de tudo das castanhas. E falar de castanhas é um lembrar no imediato o cheiro das castanhas assadas a percorrer as ruas das nossas terras em dias de frio e neblina.

Foram tantas as vezes que fui comprar meia dúzia enrolada num cartuxo em papel de jornal, quase sempre das antigas páginas amarelas que nos deixava as mãos cheias de tinta, e corria para casa para as comer uma a uma bem ao lado da lareira. Hoje em dia ainda as compro na rua, mesmo a casa já seja em plena cidade onde desapareceu a lareira e por imposição das entidades competentes que acharam que o antigo papel de jornal nos ia deixar todos muito doentes, agora o papel passou a ser outro. Mas o que interessa é que o sabor e as memórias que recordo valem pelo instante, quase sempre acompanhado de um copo de Vinho do Porto. Quase sempre um LBV que costumo ter aberto em casa, calhou desta vez ser um Barão de Vilar LBV de 2010, com enologia de Álvaro van Zeller. É um quase antecipar a tradição de São Martinho, comemora-se a 11 de Novembro e diz que “come-se as castanhas e prova-se o vinho”, ou então que “no dia de São Martinho vai à adega e prova o vinho”.

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Castanhas assadas

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Barão de Vilar LBV 2010 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Neste caso é um estilo de vinho que aprecio bastante nesta altura em que o frio se começa a instalar, a chuva começa a marcar presença e tal como este LBV é um vinho que já está muito pronto a beber, com frescura dos frutos vermelhos, com a ligeira austeridade que o Outono nos mostra e que na mistura de aromas e sabores tão característicos desta estação do ano nos consegue dar aquele momento de prazer que procuramos enquanto nos recostamos no sofá. Muito certinho, sem falhas nem grandes motivos de exaltação e é por isso que gosto dele, eficácia tremenda para aquilo a que se destina e isso nos dias que correm começa a ser raro encontrar vinhos que pela relação satisfação/qualidade/preço nos deixem tão satisfeitos e bem aconchegados.

Contactos
Núcleo de Acolhimento de Empresas de Sta. Comba da Vilariça, Lotes 10/11
5360-170 Santa Comba da Vilariça
Tel: (+351) 22 3773330
Fax: (+351) 22 3753735
Website: www.baraodevilar.com

Casa da Passarella, um dia nas vindimas

Texto João Pedro de Carvalho

Fomos visitar a histórica Casa da Passarella, no Dão, com a Serra da Estrela em pano de fundo e literalmente metemos as mãos nas vinhas mais velhas deste produtor. Em plena altura das vindimas o convite foi aceite para ir conhecer as fantásticas vinhas velhas que dão origem aos melhores vinhos desta Casa, num trabalho de campo com muita aprendizagem e um almoço bem descontraido onde brilharam dois novos lançamentos. No final ainda tivemos uma vertical do tinto Vinhas Velhas ao lado de duas novidades que em breve vão chegar ao mercado.

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Casa da Passarella – Foto Cedida por Casa da Passarella | Todos os Direitos Reservados

Foi chegar, pegar na tesoura e descer as ruas do pitoresco vilarejo da Passarela até chegar às vinhas. Um cenário fantástico com três pequenas parcelas de vinha cuja idade supera já os cem anos, dispersas em três pequenos patamares, assente em solo predominantemente granítico onde cepas de uvas brancas convivem lado a lado com cepas de uvas tintas. Castas com nomes que de tão estranhos correm o risco de ficar esquecidos no tempo e por mais que se queira apenas se consegue entender toda a magia e especificidade de uma vinha como esta estando no local e reparar na enorme variedade de castas que ali moram. Pena que durante largos anos as vinhas do Dão estiveram em decadência e com isso a qualidade dos vinhos a que davam origem. Foi preciso um forte investimento por parte dos produtores em plantar nova vinha, o que de certa maneira ajudou a um afastamento ou até mesmo o arranque do vinhedo mais velho.

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Uvas das vinhas centenárias – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Enxertia Jaén 2012 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

O blend resultante destas vinhas velhas carrega a alma da região, o Dão tem nas suas vinhas mais velhas a sua maior riqueza e temos de agradecer a todos aqueles que com esforço e bastante dedicação, lutam para as preservar e conseguir vinhos que quando educados de forma correcta na adega, atingem patamares muito altos de qualidade. Portanto não é de estranhar a forma apaixonada como o enólogo Paulo Nunes fala destas suas “meninas” com quem, segundo palavras dele, tem aprendido muito. E com o que estas vinhas velhas lhe ensinam ele na sua parte de mestre criador tem conseguido interpretar de maneira tal que os resultados falam por si. Fora de modas, sabe criar e educar grandes vinhos, nota-se que à medida que as colheitas vão passando o seu estilo “Dão da Serra” afina num misto de tradição/modernidade com vinhos de fina exuberância, muita definição da fruta que combina raça, carácter, corpo e um natural aveludado que teima em dar sinais logo desde cedo.

Foi já à mesa servido por um tradicional prato de Rancho que me fiz acompanhar da mais recente novidade, o Enxertia Jaén 2012. Um vinho perigosamente apetecível que desapareceu do copo num ápice, a combinação entre estrutura/frescura/fruta sumarenta resulta num combo perfeito à mesa. Em momento de desfrute e amena cavaqueira, foi rei e senhor este Jaén que soube pela vida e marcou mais um belíssimo momento de convívio.

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Paulo Nunes, vertical de Vinhas Velhas – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Mas foi ainda com as vinhas velhas na memória que se realizou a vertical desde o primeiro exemplar Vinhas Velhas 2008 até ao mais recente 2012. Notou-se a evolução do perfil, com o 2008 a mostrar uma maior presença de baunilha e tosta ao lado de fruta muito gorda e sumarenta. O que mostrou menor prestação e mesmo mais deslocado de toda a prova foi o 2010 cujos apontamentos mais adocicados destoam por completo dos restantes. O mais calado de momento é o 2011 que se encontra na fase de arrumação e ainda pouco quer mostrar embora esteja um belíssimo vinho em perspectiva. Vencedores da prova se é que se podem considerar assim, tanto o 2009, arriscando a ser o melhor até à data com o 2012. Vinhos compactos e sedutores, bom equilíbrio com corpo médio e um pouco de maior arredondamento dado pela barrica, tudo isto sempre com uma acidez/frescura habitual dos vinhos da região.

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Os novos “O Fugitivo” – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Por último ficou a apresentação oficial dos novos vinhos que já tinham sido dados a conhecer ainda que de forma envergonhada e agora sim foram dados a provar com a roupagem definitiva. Inseridos na gama O Fugitivo, surgem o Garrafeira branco 2013 e o tinto Vinhas Centenárias 2012. A produção de qualquer um deles não supera as 2000 garrafas, são dois grandes vinhos que espelham a terra que os viu nascer. Enquanto o tinto vai buscar como foi dito lá atrás a raça, carácter e corpo com uma acidez e travo de ligeiro vegetal que lhe confere uma bonita energia no palato. Complexo, profundo e ao mesmo tempo ainda muito novo, muito no perfil do Vinhas Velhas 2012 embora todo ele com um pouco mais de tudo. Já o Garrafeira branco é um vinho de estrondo, nada fácil e fora de modas, cheira a Dão de outros tempos, cheio de garra com taninos a marcarem o final cheio de secura, o vinho grita por descanso em garrafa. Eléctrico, nervoso, tudo ainda muito novo tanto no nariz como na boca, do melhor que a região me colocou no copo nos últimos anos.

Contactos
Rua Santo Amaro, 3, Passarela
6290-093 Lagarinhos
Telefone: (+351) 238 486 312
Fax: (+351) 238 486 218
Email: info@casadapassarella.pt
Website: www.casadapassarella.pt

Caves da Montanha

Texto João Pedro de Carvalho

Ainda pela Bairrada, o passeio encerra com a visita a um dos maiores produtores da região, as Caves da Montanha (Anadia). A produção anual ronda o milhão e setecentas mil garrafas, tendo actualmente cerca de 2 milhões de garrafas guardadas nas longas caves subterrâneas das quais cerca de vinte mil supera os vinte e quatro meses de estágio em garrafa. Em Portugal o espumante de qualidade nem sempre foi uma realidade, é algo que tem vindo a crescer e a afirmar-se junto dos consumidores na última década. Nunca por cá se bebeu tão bom vinho como nos dias de hoje, é uma realidade, mas a somar a tudo isto também é verdade que a Bairrada se assume cada vez mais como a região onde produzir espumante fará mais sentido.

Fundadas em 1943 por Adriano Henriques, a empresa tem passado de pais para filhos estando actualmente na quarta geração com Alberto Henriques ao comando. Apesar do leque de ofertas se estender um pouco por todas as regiões com os mais diversos produtos é nos espumantes da Bairrada que a meu ver mora a alma deste negócio. A equipa de enologia composta por António Selas e Bruno Seabra, juntamente com Alberto Henriques têm sabido encontrar o rumo certo e juntos têm dado o seu contributo para um renascimento da região da Bairrada.

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Caves da Montanha Chardonnay-Pinot 2009 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Para este refresh de toda uma região, muito tem contribuído a Comissão Vitivinícola da Bairrada na pessoa do seu dinâmico presidente José Pedro Soares. Mas todo este assunto é merecedor de um artigo próprio, por agora o que interessa destacar são os espumantes que se provaram nas instalações das Caves da Montanha. O primeiro de todos foi um Montanha Grande-Cuvée Baga 2009, nascido num ano considerado de excelência pelo produtor. Um espumante que mostra um perfil mais clássico se assim se pode chamar, combina notas de alguma evolução com a frescura da fruta madura, notas de biscoito e ligeiro fruto seco. Boa presença de boca, com a fruta a marcar presença em quantidade e sabor, muita frescura com elegância e final de boa persistência. Um espumante com energia suficiente para acompanhar pratos de maior temperamento.

Em 2008 surge a primeira referência do Montanha Grande-Cuvée Chardonnay-Baga, todo ele cheio de frescura no nariz, com leve biscoito e notas de pêra, muita fruta associada à casta Chardonnay com leve fermento. Boa exuberância de conjunto, mousse fina e elegante com acidez a limpar o palato num espumante de fácil harmonia à mesa. O Montanha Real Grande Reserva 2009 é o topo de gama, sai quase de dois em dois anos e mostra-se nesta colheita com um blend de Chardonnay, Arinto, Pinot e Baga. Aroma com cocktail de frutas, ligeiras notas de biscoito, alguma geleia, muita frescura e vigor. Boca com envolvência que preenche o palato, frescura com sensação de cremosidade, final seco e prolongado.

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Caves da Montanha Chardonnay-Baga 2008 – Foto Cedida por Caves da Montanha | Todos os Direitos Reservados

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Caves da Montanha A.Henriques Edição Especial 70 Anos 2006 – Foto Cedida por Caves da Montanha | Todos os Direitos Reservados

Para o final ficou o A. Henriques Edição Especial 70 Anos Bruto 2006, um espumante feito à base de Chardonnay, Arinto e alguma Baga, que combina muito boa frescura com notas da passagem do tempo. Envolto numa delicada e muito fina complexidade que combina aromas de polpa branca da Chardonnay , os travos mais citrinos da Arinto, com a Baga a conferir robustez ao conjunto. Em fundo notas de biscoito com tisana, algum pão torrado num conjunto complexo que na prova de boca se mostra bastante elegante combinando ligeira cremosidade com a boa frescura da fruta. Brilhou a acompanhar um leitão assado à Bairrada.

Contactos
Rua Adriano Henriques 12
Apartado 18
3781-907 Anadia
Portugal
Tel: (+351) 231 512 260
Fax: (+351) 231 515 602
Website: www.cavesdamontanha.pt

Quinta dos Abibes, a Bairrada em modo Sublime

Texto João Pedro de Carvalho

Abandonada durante mais de uma década a Quinta dos Abibes (Anadia) vai buscar o seu nome a uma ave migratória de seu nome Abibe (Vanellus vanellus). A propriedade conta com 10 hectares dos quais 7 hectares são de vinha e foi adquirida em 2003 pelo Prof. Doutor Francisco Batel Marques. A enologia ficou a cargo do reconhecido enólogo Osvaldo Amado e a primeira colheita da Quinta dos Abibes iria nascer apenas em 2007. As castas escolhidas foram as tintas Baga, Touriga Nacional e Cabernet Sauvignon, enquanto que nas brancas a Arinto, Bical e Sauvignon Blanc.

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Prof. Dr. Francisco Batel Marques to the left and winemaker Osvaldo Amado to the right – Photo Provided by Quinta dos Abibes | All Rights Reserved

Na Quinta dos Abibes destaca-se a aposta na diferença e acima de tudo na qualidade dos seus produtos, onde por exemplo a Baga apenas é utilizada na vinificação de espumantes. No caso do Espumante Quinta dos Abibes Sublime Brut Nature 2009 a produção limitou-se a 3200 garrafas, num espumante de qualidade onde se destacam as notas de biscoito que combinam alegremente com aromas de citrinos, bem fresco com algum tostado em fundo mineral. Boca a condizer e de grande harmonia entre fruta e notas tostadas, ligeira cremosidade sentida num espumante de muito bom nível.

Entrando nos vinhos tranquilos com o Quinta dos Abibes Sublime branco 2010 feito a partir da casta Arinto no melhor registo a que o enólogo Osvaldo Amado nos tem vindo a acostumar. Um branco que se mostra com notas de fruta madura onde o destaque vai para os citrinos e alguma maçã em conjunto com a madeira por onde passou que marca o conjunto, um pouco demais para o meu gosto, contribuindo com aromas de tosta e algum fruto seco. Saboroso com boa passagem que alia frescura e untuosidade, elegância com final de boa persistência.

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Quinta dos Abibes white 2010, Sublime 2010 & Sparkling wine Sublime Brut Nature 2009 – Photo Provided by Quinta dos Abibes | All Rights Reserved

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Vanellus Classic Edition Cabernet Sauvignon 2011 – Photo Provided by Quinta dos Abibes | All Rights Reserved

Mudamos a tonalidade e entramos no campo dos tintos com o Quinta dos Abibes Sublime 2010 onde brilha a solo a casta Touriga Nacional. Vinho de perfil concentrado e pujante, muita energia e frescura a mostrarem fruta preta madura com toques fumados, especiarias, algum terroso de fundo. Boca a mostrar boa envergadura, fruta com mais detalhe que no nariz, muito saborosa, frescura a percorrer todo o palato, final longo e persistent e com taninos ainda presentes a mostrarem a sua presença no final de boca.

Termino com o Vanellus Classic Edition Cabernet Sauvignon 2011, um Beira Atlântico com ares de Bordéus, aromas de grafite, notas terrosas e com carga vegetal ligeira. Fruta madura e bem fresca, muito mirtilo, muitas bagas silvestres a explodir de sabor, perfumado num conjunto fresco e coeso. Corpo médio, com rusticidade a pedir tempo em garrafa, frescura a embalar a fruta madura e saborosa num final de boa persistência.

Contactos
Quinta dos Abibes Vitivinicultura, Lda
Aguim – Anadia
3780 Anadia
Bairrada – Portugal
Tel: (+351) 917 206 861
E-Mail: quintadosabibes@gmail.com

Madeira: The Islands and their Wines by Richard Mayson

Texto João Pedro de Carvalho

O autor é Richard Mayson, conceituado escritor e crítico de vinhos bem conhecido por obras como Portugal’s Wine and Winemakers, The Wines and Vineyards of Portugal ou o best-seller Port and the Douro. É um profundo conhecedor dos vinhos de Portugal e um especialista em fortificados. Fruto de décadas de provas e de inúmeras viagens à Madeira, com muita visita e conversa com produtores, foi possível o lançamento do seu novo livro de nome Madeira: the islands and their wines.

Madeira: The Islands and their Wines in infideas.com

Madeira: The Islands and their Wines in infideas.com

 

Richard Mayson desmistifica como poucos o Vinho da Madeira, num registo de fácil entendimento e que torna o livro de tal forma delicioso que neste momento já o estou a ler pela segunda vez. O autor começa por fazer uma introdução histórica sobre a Madeira com um espaço dedicado aos nomes daqueles, que segundo ele, ajudaram a moldar a Madeira naquilo que é hoje enquanto região produtora de vinho. Conta ainda com uma breve introdução acerca das ilhas, aborda o factor social, governo, clima, terminando na agricultura. A lição continua com a abordagem às castas e os seus vinhedos, numa visão daquilo que já foram e a sua perspectiva de como poderá vir a ser no futuro. Sem perder o interesse somos conduzidos de forma simples por todo o processo de vinificação onde são explicadas as várias categorias de Vinho da Madeira.

E é a partir deste ponto que quanto a mim este livro faz toda a diferença e se torna ainda mais indispensável a todos os apreciadores de Vinho da Madeira. Não só pela detalhada abordagem feita aos vários produtores, mas pela exaustiva e surpreendente vasta lista de vinhos apresentados. Diga-se de passagem que o autor num registo impressionante aborda desde as mais recentes novidades numa viagem pelo tempo até aos vinhos do séc. XVIII. A complementar as notas de prova encontra-se no final do livro uma muito interessante descrição dos aromas que caracterizam o Vinho da Madeira, tal como um pequeno guia de viagem pela ilha e uma pequena secção onde se aborda a ligação do Vinho da Madeira/Gastronomia. Um livro sem dúvida alguma imprescindível.

Traga o livro e venha conhecer a Madeira e os seus fantásticos vinhos num tour privado criado para si pela Blend – All About Wine.

Quintas de Caiz, nas Encostas do rio Tâmega

Texto João Pedro de Carvalho

Quintas de Caiz é um projecto muito recente no panorama vínico nacional que fica enquadrado na região dos Vinhos Verdes. Fruto da paixão que a família Freitas tem pela terra e da vontade de criar algo distinto que fosse ao mesmo tempo um bom exemplo daquela região, mais propriamente daquelas encostas por onde serpenteia o rio Tâmega. Os três vinhos Encostas de Caiz provados, todos de 2014, daquela que foi a primeira colheita a ser colocada no mercado.

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Vinhas Quintas de Caiz – Foto Cedida por Quintas de Caiz | Todos os Direitos Reservados

Vinhos irrequietos, com os nervos próprios de terem sido engarrafados muito recentemente quando me tinham chegado às mãos. Digo e repito que regra geral os vinhos oriundos desta região beneficiam quase sempre com um a dois anos de estágio em garrafa, aquele tempo mais que suficiente para deixarem os nervos de lado e quando se mostram estarem sem tremideiras ou faltas de memória. Com um arejamento prévio a coisa compôs-se e a prova foi bastante convincente da qualidade destes novos Encostas de Caiz.

O primeiro vinho provado foi o Encostas de Caiz Grande Escolha 2014, lote feito de Alvarinho e Loureiro. De todos o que menos disse, com o Loureiro completamente sequestrado pelo Alvarinho o conjunto precisa de tempo com tudo ainda muito tenso e em fase de afinação. Não obstante mostra-se envolto em frescura, com nervo suficiente para se poder desembrulhar à vontade num par de anos. Melhor o Encostas de Caiz Grande Escolha Alvarinho 2014, se bem que também este a mostrar que precisa de mais algum tempo em garrafa. Muito fresco e bem afiado nos aromas e sabores, conjunto bastante apertado, tenso e pouco ou nada tropical com domínio de frutos de pomar bem maduros embrulhados em frescura com nuances de flores e a austeridade mineral a dominar em pano de fundo.

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Trio Encostas de Caiz – Foto Cedida por Quintas de Caiz | Todos os Direitos Reservados

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Sardinhas – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Para o fim fica aquele que mais gostei, que mais agradou e que mais depressa desapareceu das garrafas, o Encostas de Caiz Grande Escolha Avesso 2014. Conquista no imediato pelo combo entre fruta ligeiramente exótica com toque de pêra e citrinos ao que se junta o aroma floral. Perfumado e convidativo mostra um fundo marcado pela mineralidade, muito boa capacidade de revitalizar o palato com pratos de gastronomia oriental onde o tempero mais forte costuma imperar. Neste caso todos os vinhos serviram para acompanhar umas belíssimas sardinhas assadas no carvão.

Convento do Paraíso, a reconquista do Algarve

Texto João Pedro de Carvalho

O Algarve enquanto região produtora passou praticamente de inexistente para uma tímida e crescente vontade de se fazer ouvir. Os investimentos que têm sido feitos na última década têm sabido mostrar os seus frutos e hoje em dia o Algarve enquanto região produtora de vinho de qualidade é uma realidade. A região vive ainda órfã de uma identidade própria que consiga distinguir os vinhos ali produzidos das restantes regiões, algo que acontece por culpa própria e que depende dela própria para saber encontrar o melhor caminho. Têm esse dever os produtores que ali têm sabido fazer vingar com sucesso os seus projectos, como disto é exemplo o Convento do Paraíso (Silves).

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Vinhas Convento do Paraíso – Foto Cedida por Convento do Paraíso | Todos os Direitos Reservados

Tudo acontece na Quinta de Mata Mouros, propriedade do empresário Vasco Pereira Coutinho, localizada ao lado do rio Arade paredes meias com a cidade de Silves. O Convento de Nossa Senhora do Paraíso foi edificado no séc XII após conquista de Silves, de vinha são 12 hectares plantada de raiz no ano de 2000, onde despontam Cabernet Sauvignon e Sousão nas tintas e Alvarinho e Arinto nas brancas, sendo esta apenas a quarta vindima desta joint venture que começou em 2012 e que junta a família Pereira Coutinho com a família Soares (Herdade da Malhadinha Nova e Garrafeira Soares). Na adega juntam-se para o mesmo fim a vertente mais tradicional com os lagares e a faceta mais moderna com a tecnologia de ponta.

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Imprevisto 2014 – Foto Cedida por Convento do Paraíso | Todos os Direitos Reservados

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Euphoria tinto – Foto Cedida por Convento do Paraíso | Todos os Direitos Reservados

Poderiam optar por fazer vinhos previsíveis, felizmente não o fazem digo eu e serve isto de mote para o tinto Imprevisto 2014 num lote de Touriga Nacional/Aragonez. Desponta juventude com muita fruta carnuda e bem suculenta, muito vigor com balanço entre a doçura da fruta e a acidez, floral com toque aconchegante de alguma compota, bastante direto e apetecível desde o primeiro copo. Segue-se a gama Euphoria que nos invoca a sensação de bem-estar, satisfação e alegria, com versão rosado, branco e tinto. Três vinhos que seguem o mesmo diapasão, fruta bem limpa e madura com aromas muito presentes num conjunto a mostrar-se com energia e muito bem-disposto. O branco 2014 centrado no duo Alvarinho/Arinto brilha pela sua frescura, alguma calda tropical a envolver os citrinos de bom-tom, floral num todo convidativo e muito atraente. Enquanto o rosado 2014 com Touriga Nacional/Aragonez mostra os seus frutos vermelhos bem torneados envoltos num delicado perfume. Boa frescura no palato com passagem saborosa e ligeiramente seco no final de boa persistência. Por fim o tinto 2013 que teve ainda direito a 6 meses de estágio em barricas de carvalho francês. Mostra-se num plano mais sério onde a fruta negra e vermelha muito centrada nas bagas e frutos silvestres se mistura com um toque vegetal muito presente. Ao conjunto juntam-se ainda notas terrosas e de alguma especiaria, em fundo a barrica aconchega todo o conjunto que ainda com sinais de juventude dá bastante prazer à mesa.

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Convento do Paraíso 2012 – Foto Cedida por Convento do Paraíso | Todos os Direitos Reservados

Finalmente o que se assume como topo de gama, o Convento do Paraíso 2012 que resulta do inusual lote de Cabernet Sauvignon e Sousão. Diferente, desafiante e ao mesmo tempo cativante quer a nível de aromas como de sabores. Da fruta muito sólida e fresca combina tons de vegetal maduro, alguma compota e especiaria com bonita envolvência da madeira.  Vinhos de um projecto recente que merecem ser conhecidos e cujo cunho de qualidade conferido pela equipa da Herdade da Malhadinha promete muitas alegrias no futuro próximo.

Da praia ao campo com um copo de vinho na mão

Texto João Pedro de Carvalho

Em pleno Agosto o momento é de pura descontracção, na realidade nesta altura e tal como na comida não gosto de complicar muito, procuro vinhos polivalentes e que toda a gente vai gostar. E com a chegada do Verão é tempo de fazer uma pequena selecção. Certo é que entre praia ou campo o destino quase sempre leva ao encontro das grelhas com marisco, peixe ou carne. Altura em que as comidas mais frescas e leves têm por direito lugar reservado à mesa e da mesma forma os vinhos também se querem frescos e com pouca ou nenhuma passagem por madeira.

De norte a sul de Portugal tive oportunidade de escolher alguns dos brancos que ao longo do ano mostraram a capacidade de me proporcionar momentos marcantes de boa disposição e amizade ao lado de familiares e amigos. Alguns desses exemplos são oriundos da região dos Vinhos Verdes onde se encontram os melhores exemplares de Alvarinho e Loureiro, marcas como Soalheiro ou Quinta do Ameal são sinónimo de satisfação garantida e certamente que mesmo que me esqueça de alguma garrafa há a garantia de se aguentarem por largos anos. As ligações que estes vinhos proporcionam com as mais diversas saladas ou pratos de cariz mais oriental justificam em pleno a sua escolha.

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Praia – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Um pouco mais abaixo por terras da Bairrada sem esquecer os brancos ali produzidos a minha aposta recaiu nos espumantes, com exemplares da Adega de Cantanhede e Caves São Domingos. Estes como outros espumantes são quase sempre os pontos de partida da refeição, os espumantes dão o ar festivo a uma refeição, animam os copos e a ligação com as mais diversas entradas é quase sempre muito bem conseguida.

Continuando perto do mar e já na região de Lisboa, procurei vinhos de grande frescura e com corpo suficientemente capaz de acompanhar desde os mariscos servidos ao natural até às cataplanas ou mesmo os mais variados pratos de arroz. Vinhos com menos aromas de cariz tropical, neste caso mais tensos com aquele pendor mineral e uma acidez que revigore ao mesmo tempo que limpa o palato. O leque de escolhas é amplo e diversificado, desde a versatilidade da casta Arinto que varia entre os ChocapalhaVale da Capucha ou até Bucelas com os Quinta da Murta. Ampliando o leque para a Malvazia de Colares com o Arenae da Adega de Colares ou o Malvazia do Casal de Santa Maria. Para finalizar o passeio por Lisboa fui buscar o Vale da Mata branco, um vinho que ano após ano consegue uma muito boa prestação à mesa ao lado de pratos com mais tempero como um peixe no forno.

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Campo – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Termino as minhas escolhas com alguns rosados de grande nível e que são inegavelmente do melhor que se cria em Portugal. Vinhos como o Dona Maria Rosé (Alentejo) ou o Covela Rosé (Vinhos Verdes), escolhidos para acompanhar o que vai saindo da grelha, servidos frescos são companheiros à altura dos mais atrevidos cortes de carne ou de peixes mais gordos. Como é óbvio as escolhas poderiam ter sido outras, mas este ano quer na praia ou na piscina estes foram os vinhos que escolhi para ter no copo.

Quinta do Cardo, os vinhos biológicos

Texto João Pedro de Carvalho

A Beira Interior, localizada no interior centro de Portugal, tem um passado histórico vitivinícola que remonta à época romana. Com cerca de 16 000 hectares de vinha, a região apresenta uma grande variedade de castas, com destaque nas brancas para a Síria, Fonte Cal, Malvasia e Arinto e, nas Tintas, a Touriga Nacional, Touriga Franca e a Tinta Roriz. Os vinhos desta região são influenciados pela montanha cuja altitude com variações entre os 400 e os 750 metros, é dominada por solos de origem granítica na sua maioria, sendo os restantes essencialmente de origem xistosa.

A Quinta do Cardo pertence ao grupo Companhia das Quintas e fica situada nas proximidades da vila de Figueira de Castelo Rodrigo, distrito da Guarda, no Interior Norte de Portugal. Desde a sua fundação, no inicio do Sec XX até 1988, a propriedade esteve nas mãos de uma família da região, de sobrenome Maia que se dedicavam maioritariamente ao cultivo de gado e à produção de queijos sendo o vinho um negócio secundário. O nome “Quinta do Cardo” advém das grandes extensões de cardos (leiteiros) existentes na propriedade que eram utilizados para a produção de queijos. Num total de 180 hectares, dos quais 69 são de vinhas cultivadas numa cota de 750 metros de altitude e os restantes acolhem uma extensa reserva de sobreiros e floresta espontânea.

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Quinta do Cardo Síria 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Quinta do Cardo Bruto Touriga Nacional 2010 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

A colheita de 2014 marca o lançamento da gama de vinhos biológicos da Quinta do Cardo,cujos 69 ha de vinhas se encontram em modo de produção biológica. É desta colheita que sai o novo Quinta do Cardo Síria 2014, um vinho que de certa forma tem sido um estandarte dos brancos da região. A sua fama vem de longe muito por causa das características tão peculiares que costuma apresentar. Também o novo rótulo a fazer a diferença, diga-se que tanto o rótulo como o vinho encerram muitos e bonitos detalhes. Um vinho refrescante, mineral (pederneira), perfume floral, sente-se tenso e com nervo, limão, lima, maçã, boa frescura. Boca com ligeira untuosidade de início que se esbate numa saborosa passagem com final onde domina a austeridade mineral.

Por outro lado foco também atenções no primeiro espumante lançado pela Quinta do Cardo, Quinta do Cardo Bruto Touriga Nacional 2010, com direito a 36 meses de estágio em garrafa com o primeiro degorgement a ser feito em Junho de 2014. Aroma marcado pelos morangos, framboesas, floral ligeiro, biscoito numa delicada e bonita envolvente. Boca com bonita prestação, fruta a marcar o compasso com boa acidez presente, mostra uma boa secura no final persistente.