Posts By : João Pedro Carvalho

Quinta das Bágeiras, o minimalismo enológico

Texto João Pedro de Carvalho

Rumamos à Bairrada, mais propriamente a Fogueira (freguesia de Sangalhos, concelho de Anadia) onde fica situada a Quinta das Bágeiras e onde nos espera o produtor Mário Sérgio Nuno, nome incontornável da Bairrada e dos vinhos de mesa de Portugal. Os rótulos e garrafas que têm como símbolo a fogueira que é também nome da terra, no entanto este símbolo marca o início de Mário Sérgio como jovem agricultor e produtor de vinho. Fruto da oferta de um amigo seu conhecido, também produtor, a marca Fogueira que não podia ser marca de vinho por ser nome de terra, acabou por surgir como símbolo dos vinhos da Quinta das Bágeiras.

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Quinta das Bágeiras Logo in facebook.com/quintadasbageirasvinhos

Um trabalho de três gerações, que apenas com Mário Sérgio Alves Nuno começou a produzir e engarrafar com marca própria, antes era tudo vendido a granel. Tudo começou com a produção da colheita de 1987 que tinha praticamente sido toda vendida para as Caves São João e Mário Sérgio pediu ao seu pai para ficar com um tonel para fazer o seu próprio vinho. Uma opção que viria a dar frutos com um terceiro prémio no concurso de vinhos do IVV, com o primeiro branco a ser lançado em 1989. A enologia fica a cargo do enólogo e amigo Rui Moura Alves que está desde a primeira hora ao lado de Mário Sérgio, sendo parte responsável pelo sucesso e estatuto de produtor de referência alcançado na década de 90.

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Mário Sérgio Nuno – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Avô Fausto – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Os brancos das Bágeiras estendem-se pelos espumantes, colheita, Garrafeira, Pai Abel e Avô Fausto. Mário Sérgio prefere para os seus brancos solos planos e argilo-calcários situados em cota baixa, onde despontam a Bical e Maria Gomes. Com a casta Baga realiza três vindimas, a primeira para aguardente, a segunda para espumantes e a terceira para os tintos. Recuperou e manteve as parcelas que eram dos seus pais e dos seus avós, dos 12 hectares iniciais hoje conta já com 28 hectares. Com mais de 25 anos a produzir vinhos que mostram a face mais tradicional da Bairrada, minimalismo enológico, decantação em lagares abertos e estágio em antigos tonéis, sem colagens nem filtrações, com uma identidade e rusticidade muito própria que lhe conferem toda a autenticidade que os caracteriza.

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Antigos tonéis – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

E é de visita às instalações em que se dá conta que por ali a modernidade teima em ficar à porta e o saber passa de geração em geração, não fosse esta uma empresa familiar. Um saber que tem vindo a ser colocado em prática com os seus vinhos desde o início e homenageado por Mário Sérgio na forma de novos lançamentos que visam o seu Pai Abel e o seu Avô Fausto. O destaque desta vez vai para os dois últimos e também os mais recentes, o Pai Abel acaba por ser a homenagem ao seu progenitor, que apesar dos seus 80 anos continua a trabalhar as vinhas e a transmitir todo o seu conhecimento às gerações mais novas.

Este Pai Abel branco 2013 é um branco que sai de uma vinha com 20 anos de idade com as castas Maria Gomes e Bical. O que interessa é a qualidade final do produto, por isso pouca produção, com a primeira passagem pela vinha a levar as uvas para os espumantes e a segunda passagem finalmente para o branco. Fermenta em barrica usada de pequena capacidade, o uso de tonel fica apenas para o Garrafeira, aqui o que nos surge no copo é um branco tenso e muito preciso, complexo de aromas firmes a mostrar a sua juventude e rasto mineral de fundo. Ao mesmo tempo a madeira a dar bom volume, fruta madura com tisanas, boca ampla com muita frescura, profundo e cheio de nervo com grande persistência num vinho que vai durar largos anos em garrafa.

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Pai Abel branco 2013 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Avô Fausto branco 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

.O segundo vinho surge em homenagem ao seu avô, Fausto Nuno, que foi quem lhe despertou o gosto pelos vinhos e também o responsável pela vocação vitivinícola da família. O Avô Fausto branco 2014 é um branco proveniente de vinhas velhas e vinhas com cerca de 15 anos, num perfil que seria ao gosto de Fausto Nuno, elegante, fresco e macio. Neste caso apenas Maria Gomes com estágio em barrica, aromático, muito preciso, fresco e delicado, ao mesmo tempo a mostrar-se tenso e cheio de nervo, perfume de rosas, muito citrino acompanhada de notas resinosas e ligeiríssima untuosidade. Uma abordagem diferente mas com a chancela da Quinta das Bágeiras.

Contactos
Fogueira
3780-523 Sangalhos, Aveiro
Portugal
Tel: (+351) 234 742 102
Telemóvel: (+351) 964 190 336
E-mail: quintadasbageiras@mail.telepac.pt
Website: www.quintadasbageiras.pt

Frei João, a Bairrada das Caves São João

Texto João Pedro de Carvalho

De volta às Caves São João para falar do vinho cujo perfil se poderá afirmar como o mais clássico de toda a Bairrada, o Frei João. Para tal convém reavivar a memória e recuar aos idos anos 50 onde a dupla, Luís e Alberto Costa decide começar a seleccionar, comprar e envelhecer vinhos de grande qualidade nas caves da empresa. É desses vinhos que surgiram marcas emblemáticas como os Porta dos Cavaleiros em 1963, ou em 1945 o primeiro Caves São João Reserva Particular. Em 1960 iria surgir o primeiro Bairrada, o Frei João cujo nome serve de homenagem ao frade carmelita Frei João Baptista (Convento de Santa Cruz do Buçaco) um dos primeiros a plantar vinha na região.

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Caves São João logo – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Os primeiros Frei João teriam como origem lotes comprados pelos dois irmãos, junto a produtores da região sendo as Adegas Cooperativas de Mogofres e Cantanhede dois dos principais fornecedores na altura. O Frei João Reserva, ainda em garrafa Borgonhesa, iria nascer na colheita de 1963 e teria o condão de afirmar o seu perfil como o mais clássico de toda a Bairrada. Factores como a tipicidade e a importante consistência geográfica dos lotes adquiridos ano após ano foram determinantes, tal como uma vinificação onde a fermentação com engaço era uma realidade contribuíram para a afirmação ao longo das décadas de um perfil clássico, representativo do melhor que se fazia em toda a região. Nos anos 70 de certo modo assistimos a uma revolução que se manifestou no perfil dos vinhos, na mudança de garrafa do Frei João para bordalesa ou até na própria região com a demarcação da Bairrada em 1979. Em 1972 é adquirida a propriedade Quinta do Poço do Lobo, que com produção própria começa a dar o seu contributo para os lotes aos quais se junta cada vez com maior presença lotes provenientes da zona de Vilarinho do Bairro.

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Frei João – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Um passeio pela história de um ícone da Bairrada, apenas possível realizar nas Caves São João, um local mágico que nos dá este enorme privilégio de poder provar vinhos com mais de 40 anos em perfeito estado de conservação, que não mostram sinais de decadência ou cansaço e que a prova que dão proporciona verdadeiros momentos de glória com alguns dos melhores vinhos que se fizeram em Portugal e no mundo.

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Frei João Reserva 1966 Magnum – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Frei João Branco 1974 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Frei João White 1990 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Frei João Branco 1966: A caminho do meio século de vida com uma complexidade fantástica, muito fechado e a pedir decantação, sério com frescura e profundidade, limpo com rezina, tom melado, vegetal, fruta branca, boa untuosidade com fruto seco a fazer-se notar. Boca com grande frescura a ligar com untuosidade ligeira a envolver o conjunto sempre muito coeso, tenso e com final a mostrar uma surpreendente austeridade mineral.

Frei João Branco 1974: Uma enorme surpresa, arrebatador a todos os níveis e fico com a sensação que terá sido dos melhores da Bairrada provados até à data. Aroma de enorme complexidade, flores amarelas, notas meladas, fósforo, vegetal, aqui o tom de frutos secos menos intenso e mais fino. Boca envolvente com a acidez muito viva, fruto de polpa branca presente e com vivacidade, longo e persistente, amplo, profundo a mostrar garra e a afirmar a sua presença.

Frei João Branco 1990: À primeira impressão o que se pode dizer é que o tempo não passou por ele, tenso, nervoso, cheio de garra com notas de resina e esteva, fruta branca ainda presente. Muita energia, com uma acidez acutilante numa passagem de boca saborosa mas tensa, a mostrar-se ainda austero e com muita vida pela frente.

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Frei João White 1988 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Frei João Reserva 1980 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Frei João Reserva 1966 Magnum: Um vinho que é obrigatório conhecer e provar. Um tinto enorme que exala Bairrada por todos os cantos, dono de grande complexidade onde a fruta (cerejas, framboesas) ainda surge com ligeiro apontamento maduro acompanhada de licor… delicioso, cacau, caixa de charutos, chá preto a dar sensação de secura. Boca de luxo, amplitude, frescura, nervo, grande presença e passagem com frescura e fruta, muita classe em final longo e apimentado.

Frei João Reserva 1980: Um belíssimo tinto cheio de frescura e jovialidade, ampla complexidade marcada pela fruta redondinha e ácida (bagas silvestres) com toques caruma, caramelo, café, esteva, coeso, amplo e muito estruturado, cheio de vigor mas com grande finesse. Boca com sabores vincados, fabulosa acidez, longo final.

Pode ler mais sobre as Caves São João aqui.

Contactos
S. João da Azenha, Ap-1, Anadia
3781-901, Avelãs de Caminho
Frei João
Porta dos Cavaleiros
Tel: (+351) 234 743 118
Fax: (+351) 234 743 000
E-mail: geral@cavessaojoao.com
Website: www.cavessaojoao.com

 

Caves São João – Porta dos Cavaleiros, o perfil de uma região

Texto João Pedro de Carvalho

A história das Caves São João é longa e rica em detalhes, tudo começou com o nome Sociedade dos Vinhos Irmãos Unidos, fundada em 1920 por três irmãos viticultores da Bairrada: José, Manuel e Albano Ferreira da Costa. Durante largos anos prosperou a venda a granel, tendo sido apenas a partir de 1950 quando se juntou Caves São João à denominação da firma. Mas apenas em 1959, já com os descendentes de um dos fundadores, Alberto e Luís Costa nos comandos das Caves, iriam surgir as marcas que lançaram as Caves São João para o estrelato – o Frei João (Bairrada) e o Porta dos Cavaleiros (Dão). Alberto e Luís Costa eram exímios negociantes de vinho, sabiam como poucos escolher e comprar os melhores lotes, direi mesmo que souberam como poucos criar e educar grandes vinhos que ainda hoje perduram e mostram com galhardia toda a potencialidade das duas regiões que abraçaram, o Dão e a Bairrada.

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Caves São João – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Caves São João – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Sem possuírem qualquer vinha no Dão, eram escolhidos e comprados os melhores lotes e na colheita de 1963 surgiram  os primeiros Porta dos Cavaleiros, tanto o Colheita como o Reserva Seleccionada. Uma marca que tal como a sua congénere na Bairrada, teve o dom de quase “criar” um perfil a que hoje associamos de Clássico a cada uma das regiões. De notar que os Reserva Seleccionada mostram mais frescura que os Colheita, devido a que as uvas dos Reserva eram provenientes dos contrafortes da Serra da Estrela num perfil mais fresco a que se poderá apelidar de “Dão Serrano”, enquanto os Colheita as uvas eram provenientes de zonas mais baixas e porventura mais quentes. Sobre os Reserva Seleccionada sabe-se que o vinho passava quatro anos nos enormes depósitos de cimento e posteriormente mais um ano em garrafa. Vinhos sabiamente educados e de traçada clássica, sérios com toque acetinado tão característico que nos mostram aquilo que a região pode e deve fazer.

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Caves São João – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Caves São João – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Visitar as Caves São João e ter o prazer de contemplar mais de um milhão de garrafas que resistiram à passagem do tempo é uma rara oportunidade para os apreciadores. Esta foi uma prova que ficou na memória, em tudo especial até pelo facto de alguns vinhos não se encontrarem já disponíveis para venda face ao reduzido número de garrafas existentes. O primeiro vinho foi o Porta dos Cavaleiros 1964, este branco com 51 anos é arrebatador em todos os sentidos. Notável a evolução no copo, claramente a precisar de decantação. Inicialmente algo preso e contido, a mostrar alguma rezina, desenvolvendo uma complexidade notável com destaque para a fantástica acidez que envolve e segura todo o conjunto. Profundo, floral com nota de cera, untuosidade com fruto seco e ainda alguma fruta madura de caroço. Boca com muita frescura, mostra garra e nervo, grande presença e profundidade, sério, educado, a untuosidade que mostra ter combina em grande com a frescura que refresca o palato terminado longo e persistente.

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Porta dos Cavaleiros 1964 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Porta dos Cavaleiros 1979 branco – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Porta dos Cavaleiros Reserva branco 1984 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Dando entrada nos anos 70 onde curiosamente são poucos os vinhos das Caves São João que me têm ficado na memória, salvo erro o branco Reserva de 1973 em Magnum e o tinto também Reserva 1975. Este Porta dos Cavaleiros branco 1979 não fugiu à regra, cordial a mostrar-se com vida, fruta já em passa, mineralidade com alguma secura de final de boca. Nos brancos da década de 80 o melhor de todos é o Reserva 1985, este Porta dos Cavaleiros Reserva branco 1984 é um grande branco em idade adulta, mas se comparado peca pela falta de garra tanto na boca como no nariz onde mostra menos frescura e acutilância ou limpeza de aromas. De resto goza de uma belíssima harmonia de conjunto, conjugando a sensação de untuosidade com acidez e presença da fruta ainda vivaça e madura.

No campo dos tintos a entrada não poderia ser melhor, o Porta dos Cavaleiros Reserva 1966 é a meu ver o melhor de todos, afirmando-se como um dos melhores vinhos de sempre da região. Pura classe num vinho de compêndio, cheio de caruma e pinhal, muito bosque, frutos silvestres, cerejas, folha de tabaco, eucalipto, couro. Puro veludo num tom que combina austeridade com a gulodice de um vinho cheio de vida e frescura, longo e com final persistente. De passagem pelos anos 70 foi provado o Porta dos Cavaleiros Reserva 1974, novamente o que menos brilhou entre os tintos, com a região bem evidenciada no perfil e a dar uma prova de muito bom nível. Perdeu em poder de afirmação mostrando-se mais delgado e espaçado tanto em complexidade aromática como em presença de boca.

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Porta dos Cavaleiros Reserva 1966 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Porta dos Cavaleiros Reserva 1974 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Porta dos Cavaleiros Reserva 1985 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Termino com o segundo melhor tinto, o Porta dos Cavaleiros Reserva 1985, que é um dos que mais prazer me tem dado nas últimas vezes que o tenho tido no copo. Literalmente é daqueles vinhos que está num momento muito alto da sua vida, conjuga toda a frescura da fruta com a complexidade que apenas o tempo consegue oferecer. Por entre os aromas a pinhal e bosque, cogumelos, terroso ligeiro, abre para fruta madura e suculenta, tudo embalado em enorme frescura, limpo com caixa de charutos, especiarias variadas. Na boca é acetinado e ao mesmo tempo vigoroso, com a fruta a explodir de sabor, muita personalidade com ampla presença, profundo e final persistente. Um grande vinho do Dão e do Mundo.

Contactos
S. João da Azenha, Ap-1, Anadia
3781-901, Avelãs de Caminho
Frei João
Porta dos Cavaleiros
Tel: (+351) 234 743 118
Fax: (+351) 234 743 000
E-mail: geral@cavessaojoao.com
Website: www.cavessaojoao.com

Quinta de Cabriz celebra 25 anos da sua história

Texto João Pedro de Carvalho

Os vinhos Cabriz estão a celebrar os 25 anos da sua história, relembro que a Quinta de Cabriz é o berço da Global Wines/Dão Sul, em Carregal do Sal (Viseu), entre as serras da Estrela e do Caramulo e entre o Dão e o Mondego. A propriedade tem 38 hectares e ali são produzidas uvas tintas e brancas, das quais resulta um portefólio alargado, onde se incluem espumantes e aguardentes, além de vinhos brancos e tintos. A Quinta de Cabriz aposta também no enoturismo e possibilita visitas à sua adega, disponibilizando um restaurante de cozinha regional, winebar, wineshop, provas e cursos de vinhos, e salas para eventos. Até Setembro do próximo ano, a principal marca do grupo Global Wines/Dão Sul põe todo o País a celebrar o lema “Dão é Cabriz”. Nova imagem, novos rótulos, acções nos pontos de venda, publicidade com forte impacto, passatempos e oferta de prémios (tablets de última geração, produtos regionais do Dão, fins-de-semana gastronómicos e turísticos no Dão e viagens ao estrangeiro) aos consumidores vão ajudar a contar a história desta marca do Dão bem conhecida pelos consumidores.

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Wine Cellar in www.daosul.com

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Cabriz Colheita Seleccionada 2013 & Cabriz Colheita Seleccionada 2013 – Photo by João Pedro de Carvalho | All Rights Reserved

A relação qualidade/preço sempre foi um dos trunfos dos vinhos Cabriz e os vinhos que aqui se destacam são disso o maior exemplo. E com a cara lavada, ou direi com uma nova imagem surgem no copo o Cabriz Colheita Seleccionada 2013 bem conhecido dos consumidores. Um vinho muito directo e de fácil abordagem, cantos arredondados e de perfil muito fácil de se gostar com fruta a surgir madura e de apontamento morno e ligeiramente adocicado, com ligeiro cacau, travo vegetal de fundo. A produção total são 2.500.000 garrafas de um vinho redondinho, com ligeira frescura e muito correcto face ao patamar de qualidade em que se situa. O outro vinho mostra um salto na qualidade, o Cabriz Reserva 2012 onde a fruta surge mais fresca, limpa e com maior frescura. Deixa de lado aquele tom morno e doce e mostra um pouco mais de carácter associado à região onde nasce. De resto é um vinho moderno, onde a fruta surge ligeiramente escondida pela barrica, cacau, apontamento balsâmico com toque de especiarias em fundo. Ligeiro vigor no palato, fruta muito presente, boa amplitude com final a mostrar ligeira secura.

Contactos
Dão Sul – Sociedade Vitivinícola S.A.
Apartado 28, 3430-909
Carregal do Sal, Portugal
Tel: (+351) 232 960 140
Fax: (+351) 232 961 203
E-mail: daosul@daosul.com
Website: www.daosul.com

Soalheiro, Oppaco e Terramatter

Texto João Pedro de Carvalho

Nasceu em 1974 pelas mãos de João António Cerdeira a primeira parcela de apenas um hectare de uvas Alvarinho em Melgaço. o O tempo passou e hoje já sobre o olhar dos filhos Luís e Maria João Cerdeira, contam-se dez os hectares de vinha da casta Alvarinho. Durante mais de 25 anos esta marca tem sido presença à mesa, sendo de elogiar tanto a consistência como o potencial de guarda que este Alvarinho apresenta colheita após colheita. E na cavalgada dos anos as novidades foram sendo colocadas à disposição do consumidor, vinhos que quando saem para o mercado são quase sempre encarados com uma dose de experimentalismo/inovação, mas que pouco tempo depois se assumem como exemplos a seguir. Foi assim com o Primeiras Vinhas e também foi com o Reserva, ambos exemplares que elevam a casta Alvarinho para os patamares do que de melhor se faz em Portugal.

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Quinta de Soalheiro – Foto Cedida por Quinta de Soalheiro | Todos os Direitos Reservados

Na realidade são vinhos que precisam e até gostam de um tempinho de espera na garrafa, por exemplo o Alvarinho Soalheiro é exemplar que apenas o gosto de abrir com dois anos de estágio em garrafa mas as garantias a ver por colheitas como 2007 ou mesmo anteriores confirmam que nos podemos esquecer dele que não fica minimamente amuado. Neste caminho vai o Primeiras Vinhas e o Reserva, a mostrarem que há na adega do Soalheiro quem saiba educar os vinhos nesse sentido.

É já nas novas instalações que o processo criativo tem continuidade, as novidades fazem eco por entre os consumidores e acabam de chegar para já, dois novos vinhos ao mercado. O primeiro de nome Terramatter é da colheita 2014, um Alvarinho com uma vindima mais precoce, sem filtração e sujeito a depósito cujo envelhecimento é feito, essencialmente, em barricas de castanho (pipas tradicionais da região do Minho). A tonalidade é ligeiramente mais carregada que o normal na casa, nota-se algo fechado com a espectável precisão aromática que o produtor nos tem acostumado em todos os seus vinhos. Denso, bom volume de boca com muita elegância e frescura, sensação de ligeira untuosidade. Travo mineral vincado em fundo numa passagem plena de sabor e frescura. Está a meu ver ainda muito novo e será bastante interessante acompanhar a sua evolução, haja garrafas que o permitam.

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Terramater Alvarinho 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Oppaco Vinhão e Alvarinho tinto 2013 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

A outra novidade é o primeiro Soalheiro tinto de nome Oppaco, colheita 2013, baseado nas castas Vinhão e Alvarinho. Novamente a palavra inovação em foco, uma vez que se trata do primeiro vinho tinto da região com lote de uvas tintas e uvas brancas. O resultado é um vinho que alia a rusticidade da casta Vinhão, domada pela frescura e elegância que a casta Alvarinho mostra nas mãos de Luís Cerdeira. Grande frescura de conjunto, aromas limpos e definidos, aquela rusticidade que se faz sentir num misto de fruta muito presente mas ao mesmo tempo a mostrar um conjunto muito novo e cheio de energia. Diferente e senhor do seu nariz, identidade própria a pedir comida regional por perto, desde Galo de cabidela a uns Rojões à moda do Minho.

Contactos
Alvaredo . Melgaço
4960-010 Alvaredo
Tel: (+351) 251 416 769
Fax: (+351) 251 416 771
Email: quinta@soalheiro.com
Website: www.soalheiro.com

Azores Wine Company, raridades que nascem no meio do Atlântico

Texto João Pedro de Carvalho

Tenho seguido com a atenção que me é possível o trabalho do jovem enólogo António Maçanita. Não faz muito tempo que tinha ouvido falar que andava pelos Açores e que dali iriam começar a sair os seus primeiros vinhos, um projecto que com o tempo acabou por se transformar numa espécie de salva vidas de algumas das castas que moram no arquipélago que viu em 2004 a Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico ser classificada como Património da Humanidade pela UNESCO. Nascia assim a Azores Wine Company, entre vinha alugada e terrenos comprados contam com 40 hectares de produção no Pico, em São Miguel e na Graciosa. É de enaltecer os esforços desenvolvidos para literalmente salvar do fatal esquecimento castas como o Arinto dos Açores, Verdelho e Terrantez do Pico que segundo o último levantamento apenas existiriam menos de 100 plantas da variedade. Uma exclusividade aliada a uma raridade que se faz sentir em produções diminutas que mal chegam à mesa de todos os interessados em lhes deitar a mão.

Os vinhos produzidos são separados em duas gamas, a Rare Grapes Collection composta por vinho monocasta onde surge o Arinto dos Açores, Verdelho e Terrantez do Pico e a Volcanic Series com o Rosé Vulcânico e o Tinto Vulcânico. Tive a sorte e até poderei dizer o privilégio de provar alguns destes vinhos já que por exemplo do Terrantez do Pico apenas foram engarrafadas 380 garrafas. Comum a todos eles a frescura proveniente da brisa marítima com uma inevitável e porque não o dizer, acidez que se faz sentido algo acentuada quem sabe fruto dos solos de origem vulcânica. Essa mesma acidez que acentua a mineralidade e salinidade comum a todos eles. São vinhos que merecem e devem ser provados e bebidos com alguma atenção, tendo sempre bem presente as condições onde nasceram.

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Azores – Foto Cedida por Azores Wine Company | Todos os Direitos Reservados

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Rosé Vulcânico 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Melhor exemplo do que acabo de escrever é o Rosé Vulcânico 2014, parco na tonalidade e ligeiro na graduação, mostra aromas de fruta vermelha bem limpa com boa presença e de fundo algumas notas de mar com a inevitável nota de iodo e salinidade presente. É este factor que pode causar admiração e mesmo ditar o afastamento de alguns apreciadores, o toque salino que se faz sentir no palato. De resto mostra-se com a intensidade suficiente para fazer um brilharete com comida de inspiração oriental.

Com dois Arinto dos Açores em prova, em nada semelhante ao Arinto continental, colheita de 2014 com um deles a ter fermentado sobre as borras ganhando por isso o nome Arinto dos Açores “Sur Lies” 2014. Na versão mais eléctrica, o Arinto dos Açores 2014 mostra uma invejável finesse, muito menos compacto apesar da acidez que tem acentuar as notas citrinas que se fundem com o travo mineral e novamente o travo salino a marcar aqui ligeiramente o final. No lado quase oposto o “Sur Lies” aposta em tudo aquilo que já foi escrito mas com tudo um pouco mais carregado e cheio, digamos que ganhou um pouquinho mais de músculo. Tudo o que for de concha fará no imediato uma belíssima harmonização com estes dois vinhos.

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Arinto dos Açores “Sur Lies” 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Terrantez do Pico 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Para o final deixo aquele que considero a estrela da companhia, o Terrantez do Pico 2014, que das 380 garrafas produzidas o transforma num vinho não de garagem mas de armário, e se for climatizado melhor porque tem pernas para andar muitos e longos anos. Delicada e refinada complexidade que encerra o conjunto, apresenta notas citrinas bem variadas, das mais maduras às mais amargas, nuances de ligeira tropicalidade. Pouco ou nada exuberante, parece precisar de tempo para se desenvolver, porque de momento está ainda fechado, dominado pela austeridade mineral e o travo de maresia.

Contactos
Rua dos Biscoitos, Nº3
São Mateus
9950-542 Madalena – Pico Açores
Website: www.azoreswinecompany.com

Quinta do Cardo, a frescura dos tintos

Texto João Pedro de Carvalho

Para os mais distraídos mesmo apesar de já aqui ter escrito sobre duas das últimas novidades da Quinta do Cardo, inserida na Companhia das Quintas, um branco e um espumante. Recordo que é um produtor da Beira Interior, nas proximidades da vila de Figueira de Castelo Rodrigo, distrito da Guarda, no Interior Norte de Portugal. As vinhas são em altitude, num total de 180 hectares, dos quais 69 são de vinhas cultivadas numa cota de 750 metros de altitude. Com a recente mudança de enologia mudou-se também a filosofia no que a viticultura diz respeito, hoje em dia os vinhos são apresentados como fruto de uma agricultura biológica/orgânica.

Desempoeirados e cheios de frescura até a nova roupagem parece surtir o efeito desejado, ou seja, os vinhos tornaram-se apelativos e dão a vontade de pegar neles para ver melhor o rótulo e o passo seguinte é levar para casa. A evolução que tem sido feita ao nível da apresentação tem sido notável e mora nos rótulos um certo “je ne sais quoi” que me faz recordar os rótulos do produtor italiano Vietti. Leia-se portanto muito bom gosto no que à escolha foi feita nesse aspecto, tanto é que há um upgrade no visual do vinho Colheita para o Reserva sempre com a flor do cardo presente.

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Quinta do Cardo Tinto 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Quinta do Cardo Touriga Nacional Reserva 2012 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Quanto aos vinhos em si, são dois tintos sobre os quais agora escrevo e que se apresentam como novidades no mercado. O Quinta do Cardo tinto 2014, feito a partir de Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Franca, com estágio de 9 meses em barrica de carvalho francês. O vinho foi para mim uma surpresa pela forma desempoeirada e fresca como se mostrou, a fruta muito solta e bem delineada, saborosa, ligeiro floral num conjunto coeso e bem estruturado. A passagem por barrica complementa o aroma e arredonda-o ligeiramente no palato, sem perder todo o vigor da juventude, num vinho feito a pensar nos bons momentos à mesa e que se mostra ideal mesmo face ao preço para um consumo diário com qualidade bem acima da média.

Dando um claríssimo salto em frente no que à qualidade diz respeito, surge o vinho Quinta do Cardo Touriga Nacional Reserva 2012 com direito a 20 meses em barricas de carvalho francês. Ainda muito jovem, tudo ainda novo apesar de contar já com três anos de vida, bem focado na casta e nos seus principais descritores. Grande frescura e vigor de conjunto, austeridade mineral em fundo com ligeiro terroso, muita fruta misturada num vinho que de momento parece um novelo apertado e coeso a precisar de mais tempo para melhor se desenrolar na garrafa. Aberto nesta altura será companheiro de pratos de forte temperamento como uma feijoada de javali ou uma lebre com feijão branco.

Porto Blackett 30 Anos, marcado pelo poder do tempo

Texto João Pedro de Carvalho

Uma vez mais continuo na incansável procura pela novidade, encaro isto como uma boa desculpa para continuar a fazer algo que adoro, provar vinhos. E muito recentemente no meio de mesas atafulhadas de garrafas alguém me perguntou se conhecia a marca Blackett e os seus respectivos Portos. Esbocei um sorriso e disse que desconhecia, sorriso esse que aumentou quando à minha frente foi colocada uma garrafa de Porto Blackett 30 Anos. E é nestas alturas que nos sentimos qual criança com um brinquedo novo nas mãos, neste caso trata-se de um senhor tawny.

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Porto Blackett 30 anos – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Antes de me alongar a falar sobre o vinho, convém centrar um pouco na pessoa que foi  George Blackett, nasceu em Leeds e estabeleceu-se na cidade do Porto no século XIX como comerciante de Vinhos do Porto. O seu posicionamento dentro do sector permitiu-lhe uma progressão assinalável figurando no Top five dos maiores comerciantes desse século. A actividade seria alargada pelos seus filhos nos primórdios do século XX com a associação ao transporte marítimo dando lugar à companhia Blackett e Magalhães. Com a passada do tempo a empresa que se dedicava ao comércio de Vinho do Porto foi mudando de nome, passou por Blackett e Companhia, mais tarde Blackett Sucessores até ser integrada numa grande companhia após a segunda guerra mundial, mais propriamente em 1949. Um nome perdido na História que foi resgatado pela Alchemy Wines, Port Wines & Vineyards, Lda e mostra neste caso um vinho marcado pelo poder do tempo, capaz de sobreviver e crescer ao longo de sucessivas gerações, tal como o propósito desta nova empresa. Este Blackett 30 Anos é proveniente de vinhas cuja idade varia entre os 40 e 60 anos, localizadas no Douro Superior e resulta de lotação de vinhos de superior qualidade envelhecidos em cascos, cuja idade média é de 30 anos.

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Adega – Foto Cedida por Alchemy Wines | Todos os Direitos Reservados

Nunca em tempo algum irei colocar em causa o majestoso Porto Vintage, mas aquilo que mais me encanta e facilmente me conquista é um copo de Porto Tawny, quanto mais velho melhor. É no estilo Tawny que reside, a meu ver, a alma e essência daquilo que é o Vinho do Porto. O lote é uma arte dominada pela figura do master blender que na sua genialidade trata por tu todas as velhas pipas que repousam nas imensas caves. É essa figura que quase sempre passa despercebida aos olhos do consumidor e que sabendo escolher por entre centenas de barricas as que considera melhores, como quem monta um puzzle, consegue criar verdadeiras obras de arte. Neste caso um Tawny 30 Anos com uma belíssima complexidade, muito fresco com uma limpeza de aromas fantástica, tabaco, noz, alperce cristalizado, caramelo de leite, ligeira laca, sensação de untuosidade num conjunto amplo e profundo, com final de boca guloso. Tudo muito preciso na forma como conjuga a juventude e vigor dos vinhos mais novos com a complexidade e educação dos vinhos com mais idade que lhe complementam o lote. Vinhos destes são a recompensa ideal para nos acompanhar no final de um dia de trabalho.

Contactos
Alchemy Wines
Port Wine & Vineyards
Avenida da Boavista, nº2121 – 4º Sala 405
4100-130 Porto
Portugal
Website: www.alchemywines.pt

Herdade da Malhadinha Nova, no reino da família Soares

Texto João Pedro de Carvalho

A Herdade da Malhadinha Nova é o perfeito exemplo de um sonho que se tornou realidade. Um sonho que pertencia à família Soares: João, Paulo, Rita e Margarete Soares. A Herdade com os seus actuais 400 hectares foi comprada em 1998 e salva da total ruína em que se encontrava. Localizada em Albernoa (Beja), é hoje um exemplo de sucesso dentro e fora de portas. Ali tudo é feito com paixão e muito empenho. O bom gosto e a produção de produto de alta qualidade sempre fez parte da chancela deste projecto que viu em 2001 serem plantados os primeiros 20 hectares de vinha, hoje já são 35. A tudo isto tem-se juntado no passar do tempo, a plantação de olival com a respectiva produção de azeite tal como a criação de animais de raça autóctones com denominação de origem protegida (DOP) e com destaque para o Porco de Raça Alentejana mais conhecido como Porco Preto.

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Monte da Peceguina Branco 2014 – Foto Cedida por Herdade da Malhadinha Nova | Todos os Direitos Reservados

Se a nível da oferta vínica podemos contar com belíssimos vinhos, o projecto de enoturismo cedo se iria fazer notar pela excelência da oferta a todos os níveis, com as mais variadíssimas actividades a serem colocadas à disposição do visitante. Como imagem de marca foram “buscar” a simpática vaquinha Malhadinha desenhada pela filha Matilde. Um desenho entre outros tantos criados pela nova geração da família Soares e que vão acompanhando a cada colheita os vinhos e os novos projectos que vão nascendo à medida que a família aumenta, exemplo disso são vinhos como o Menino António, Pequeno João, Marias da Malhadinha ou em breve o Mateus Maria. Imbuídos neste clima familiar somos embalados sempre por um sorriso, que desde 2003 tem sabido acompanhar as gentes da Malhadinha.

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Monte da Peceguina Rosé 2014 – Foto Cedida por Herdade da Malhadinha Nova | Todos os Direitos Reservados

O meu primeiro contacto com este produtor foi com um Monte da Peceguina rosé 2003, seria naquela altura e naquele momento um rosé diferente, causador de impacto e conquistador de palatos e consumidores. Aquela fruta gorda e gulosa embalada em ligeira frescura com ponta adocicada fazia as delícias de muitos, estava então lançada a marca para o sucesso e logo na colheita seguinte iriam surgir os topos de gama onde simpática vaquinha Malhadinha iria fazer a sua primeira aparição. Até aos dias de hoje, os vinhos têm vindo a afinar o seu perfil. A prova que realizei com algumas novidades mostram vinhos que souberam encontrar o caminho certo e são hoje exemplo de consistência colheita após colheita.

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Antão Vaz da Peceguina 2014 – Foto Cedida por Herdade da Malhadinha Nova | Todos os Direitos Reservados

Decidi escolher apenas seis vinhos, escolhi aqueles cuja prova mais me cativou, cujos aromas e sabores mais me sorriram. Dois de entrada de gama, dois de gama média e dois de gama alta. A gama de entrada, com nome do Monte da Peceguina, aqui em prova na sua versão branco e rosé, ambos da colheita de 2014. O branco com aromas frescos e bem definidos, feito de Antão Vaz, Verdelho, Roupeiro e Arinto, coeso e com notas florais, muita fruta de caroço (pêssego e alperce) e citrinos bem maduros. Boca com boa presença e passagem fresca e saborosa, fruta presente num final com ligeira secura. O Monte da Peceguina Rosé 2014 mostra-se agora completamente diferente do que foi quando conheci a sua primeira edição, o único traço em comum é a fruta bem fresca e sumarenta, framboesas e morangos. De resto mostra tudo num plano de harmonia e finesse, boa passagem de boca sem quebras em final apimentado.

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Aragonez da Peceguina 2013 – Foto Cedida por Herdade da Malhadinha Nova | Todos os Direitos Reservados

Um passo em frente e ficamos a conhecer a gama de monocastas que nos são colocados à disposição conforme o ano em questão. Por entre brancos e tintos escolhi um branco e um tinto que espelham bem um patamar qualitativo bem acima da gama anterior. São eles os Monocastas da Peceguina com a escolha a recair no Antão Vaz 2014. Um branco com boa exuberância carregado de fruta madura bastante fresca, diga-se que todos os vinhos se mostram bastante frescos com a fruta bem delineada, neste caso os tons mais tropicais conjugam-se com os aromas citrinos (tangerina). Enche o palato de sabor, bem encorpado e a pedir pratos de peixe no forno, com a fruta a marcar num final de travo ligeiramente mineral e seco.

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Malhadinha branco 2014 – Foto Cedida por Herdade da Malhadinha Nova | Todos os Direitos Reservados

Fiquei rendido aos encantos deste Aragonês da Peceguina 2013, um belíssimo exemplar da casta com aromas a frutos vermelhos (framboesa, groselhas) maduros, presentes de forma limpa e fresca, aliando elegância com robustez. O estágio de 12 meses em barrica que mal se faz notar, alimentou a sua complexidade com notas de chocolate de leite e alguma especiaria. No seu todo é um vinho com muita energia que dá já bastante prazer à mesa.

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Menino António Alicante Bouschet 2012 – Foto Cedida por Herdade da Malhadinha Nova | Todos os Direitos Reservados

No que aos topos de gama diz respeito, o Malhadinha branco 2014 é um dos grandes exemplares de vinho branco do Alentejo e mostra-se ainda jovem, muito coeso, complexo e fresco, sente-se a envolvência da barrica com notas de citrinos e algum floral, sensação de cremosidade com bastante elegância. Boca com grande presença da fruta bem sumarenta, notas de ligeiro amanteigado que lhe dão sensação de untuosidade mas sempre com bastante firmeza e frescura, em final longo e persistente. A cereja no topo do bolo será o Menino António Alicante Bouschet 2012, um vinho que me encheu as medidas, um verdadeiro colosso ainda cheio de vida pela frente mas que mostra já sinais de elegância. De momento enche o copo com aromas de frutos silvestres com destaque para groselhas e amoras, alguma ameixa embrulhada por um toque ligeiro de chocolate preto e especiarias. A barrica onde passou 18 meses confere ligeira tosta, aquele fumado também se faz notar mas a frescura toma as rédeas do conjunto coeso e cheio de energia. Bastante estruturado na boca, fresco e muito firme com taninos a fazerem-se notar, fruta madura a escorrer de sabor a ser embalada pela madeira e por um conjunto com muita vida pela frente.

Contactos
Herdade da Malhadinha Nova
7800-601 Albernoa. Beja – Portugal
Tel: (+351) 284 965 210 / 211
E-mail: geral@malhadinhanova.pt
Website: www.malhadinhanova.pt

Quinta da Leda Vintage 1990, o primeiro Quinta da Leda

Texto João Pedro de Carvalho

Em 1979 a antiga Casa Ferreirinha ou A. A. Ferreira prosseguindo a tradição da família Ferreira adquiriu um terreno inculto denominado Quinta da Leda na freguesia de Almendra. Foram plantados cerca de 25 ha de vinha com o objectivo de testar as qualidades dos vinhos produzidos na sub-região do Douro Superior. O encepamento consistia em Tinta Roriz 34% Touriga Francesa 33% Tinta Barroca 23% Touriga Nacional 8% e Tinto Cão 2%. Ao décimo ano surgiu o primeiro vinho ali produzido e também o primeiro Vintage obtido no Douro Superior pela Casa Ferreirinha, Quinta da Leda Vintage 1990, tendo direito a uma segunda edição apenas em 1999. Hoje em dia a Quinta da Leda conta com 75 hectares e nela se colhem as melhores uvas da empresa, destinadas a vinhos como Barca Velha e o próprio Quinta da Leda cujo primeiro tinto surge como varietal de Touriga Nacional em 1995.

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Quinta da Leda vista panorâmica – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Quinta da Leda Port Vintage 1990 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Confesso uma e outra vez que não sou grande apreciador de Porto Vintage, nem eu mesmo chego a entender por vezes esta minha rejeição ou incapacidade de ficar em êxtase com o estilo Ruby. Tenho assumidamente uma clara preferência pelos Tawny, sempre fui apreciador de vinhos onde a oxidação é palavra de ordem e os vinhos têm de mostrar argumentos para saberem resistir com galhardia à passagem do tempo. É por isso bem possível que não me consiga recordar de muitos Vintages que me tenham marcado de forma categórica. Mas recentemente tive oportunidade de beber este Quinta da Leda, um Vintage com 25 anos de vida e que a meu ver está naquele ponto óptimo de consumo, nem mais para um lado nem para o outro. No instante do primeiro contacto, do primeiro sorvo, dei por mim a pensar em como teria sido este vinho na sua fase mais jovem, não terá sido certamente um portento de força e taninos rugosos a implorarem por cave e pelo contrário deverá ter sido sempre um vinho que em novo teria alguma ponta de austeridade necessária para desenvolver embora desde cedo mostrasse elegância e equilíbrio entre a opulência da fruta bem madura e sumarenta com a frescura. Uma fórmula que podemos aplicar aos vinhos Quinta da Leda desde que foram saindo para o mercado.

E enquanto beberico o que resta da garrafa em acto de pura gulodice acompanhei com uma mousse de chocolate com azeite e pimenta vermelha. Ligação fantástica que catapultou o vinho para outro patamar a nível sensorial, tendo acidez suficiente para limpar o palato a fruta vermelha bem fresca alia-se em plena harmonia com o chocolate 70% cacau. Muita qualidade a mostra-se bem complexo e rico em detalhe, com frutos do bosque a surgirem já macerados, tabaco, especiarias, chocolate negro, ligeiro terroso no fundo. Na boca replica tudo o aqui descrito, enorme frescura logo de inicio que acompanha toda a passagem pelo palato com um apontamento apimentado e seco no final. Certamente ainda vai durar mais alguns anos em garrafa mas para mim foi um Vintage que me deu muito prazer a beber.

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