Blend All About Wine

Wine Magazine
Os Novos Vintage da Família Symington

Texto José Silva

Foi o renovado espaço da Casa de Chá da Boa Nova, em Leça da Palmeira, mesmo em cima dos rochedos e do mar, que a família Symington escolheu para apresentar os seus dois mais recentes vinhos do Porto.

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Casa de Chá da Boa Nova – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Os rochedos – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Em frente à famosa construção, projectada pelo arq. Siza Vieira, lá continua a lápide com a quadra de António Nobre, que por ali gostava de ir em busca de inspiração.

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O espaço está fantástico – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

O espaço está fantástico, com aquela luminosidade que vem do mar, o restaurante agora a cargo duma equipa liderada pelo chefe Rui Paula, que não só executou um óptimo serviço de vinhos, sem falhas, como depois nos serviu uma deliciosa refeição, acompanhada por vinhos deste produtor do Douro: os Altanos brancos estão cheios de frescura, elegantes, com óptima acidez, brancos modernos. Os tintos do Vesúvio estão em grande nível, cheios de estrutura, possantes mas com muita elegância, vinhos muito gastronómicos.

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Apresentação Cuidada – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Os primos Charles e Ruper Symington fizeram uma apresentação muito cuidada dos vinhos que íamos provar, pois, para além dos dois vinhos novos, fizemos uma curta mas deliciosa viagem por alguns vinhos do Porto soberbos. Charles Symington ainda fez uma curiosa e interessantíssima apresentação sobre a utilização das novas tecnologias de estudo e controle das vinhas através de técnicas em que se domina completamente a morfologia e composição das terras, da sua humidade, acidez e muitos outros parâmetros. O objectivo? Melhorar sempre a prestação das vinhas, obter cada vez melhores uvas. Os resultados estão á vista.

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Grahams Colheita 1972 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Começamos então por dois Tawnies extarordinários: primeiro foi o Graham’s Colheita 1972 – dum âmbar escuro, laivos dourados e acastanhados, apresentou-se com toque seco no nariz, notas de flor de laranjeira, nozes, avelãs, tabaco, pleno de fragrâncias. Na boca tem complexidade, frutos secos, caramelo, acidez incrível, ainda notas secas, levemente fumado, sempre a evoluir no copo com um final a perder de vista…Já um vinho do Porto clássico.

Seguiu-se o Dow’s Colheita 1974 – dum âmbar médio, límpido, está muito elegante, com notas de laranja, algo citrino, muito delicado, fragrância de amêndoas, com especiarias, um verdadeiro perfume. Grande elegância na boca, acidez poderosa, persistente, casca de laranja, ainda muito fresco, nozes e amêndoas, algum fumo, tabaco, final muito longo para um vinho extraordinário.

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Dow’s Vintage 1975 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Era então a vez dos Vintage, começando pelo Dow’s Vintage 1975, com a curiosidade de ter sido servido a partir duma garrafa modelo Tappit Hen, de 2,1 litros, que a família ainda usa com alguma regularidade. O vinho já está a clarear, dum tom rubi pálido. Extremamente elegante no nariz, ainda com alguma fruta, compota, notas ligeiras de especiarias. Bela acidez, muito envolvente, alguns frutos secos, cereja, muito elegante mas persistente, final muito longo num vintage para evoluir ainda durante muito tempo.

Seguiu-se o Warre’s Vintage 1977 – aspecto atraente, um rubi claro, médio. Nariz austero mas elegante, fumado, ainda fresco, notas de compota, plantas silvestres. Na boca apresentou-se profundo, com uma acidez fantástica, muito complexo, notas de fruta passada, ainda cheio de frescura, final longo e saboroso.

Finalmente apresentou-se um delicioso Graham´s Vintage 1977, um ano em que este produtor fez grandes vinhos do Porto. Ao contrário dos seus primos, apresenta ainda cor incrível, vermelho escuro, quase opaco. Nariz fantástico, profundo, austero mas cheio de elegância, muita fruta preta, chocolate, muito bom. Muito volumoso, acidez muito equilibrada mas potente, deliciosamente complexo, alguns frutos secos e um final fantástico, cheio, envolvente, um grande vinho.

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A provar – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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A provar – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Depois duma ligeira pausa, para respirar fundo e ouvir ligeiras explicações dos dois primos sobre os novos vintage, veio o Dow’s Quinta da Senhora da Ribeira Vintage 2013. Opaco, quase preto, brilhante. No nariz apresentou-se com notas de chocolate preto, frutos pretos muito maduros, amoras, ameixas, uvas passas mas também bastante floral. Poderoso na boca, notas doces, chocolate, figos muito maduros, tabaco, acidez vibrante, muito envolvente, uma bela interpretação dum vintage moderno, excelente.

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Quinta do Vesúvio Vintage 2013 e Dow’s Vintage 2013 Quinta da Senhora da Ribeira © Blend All About Wine, Lda

Finalmente a tradição do Quinta do Vesúvio Vintage 2013. Muito escuro, quase preto, sedoso. Nariz cheio de fruta, muita elegância, floral, fumo, tabaco, cacau e especiarias. Incrível na boca, acidez fantástica, poderosa, frutos pretos bem maduros, ligeiramente especiado, quase picante. Toma conta da boca e nunca mais acaba…A interpretação, perto a perfeição, dum local, dum terreno, dumas vinhas, da Quinta de Vesúvio! E da tradição da pisa a pé em lagares de granito. O regresso às memórias dos primórdios do Douro. Um grande vinho do Porto!

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Cavala Fumada – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Já à mesa do restaurante, depois dum copo de champanhe ao ar livre, começamos por uma entrada de cavala fumada com pimentos, falso tomate com requeijão e merengue de azeitona e azeite, servido numa simpática lata de conserva.

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Enguia Fumada – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Seguiu-se o prato de peixe, enguia fumada com beterraba e tutano.

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Carré de Cordeiro – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Na carne foi o carré de cordeiro com tupinambur em especiarias e funcho.

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Selecção de Queijos Nacionais – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Tiramisu – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Uma seleção de queijos nacionais antecedeu a sobremesa, um desconcertante “take me that” (tiramisu).

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O mar – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Entretanto já tínhamos regressado ao vinho do Porto…O mar, esse, continuava a bater nas rochas…

Contactos
Symington Family Estates
Travessa Barão de Forrester 86
Apartado 26
4431-901 Vila Nova de Gaia
Portugal
Tel:  +351 223 776 300
Fax: +351 223 776 301
Email: symington@symington.com
Website: www.symington.com

Juro que termino aqui o passeio pelo Dão!

Texto João Barbosa

Queria apenas escrever acerca de três vinhos do Dão, mas a corrente deste rio levou-me a enquadrar, porque a região nasceu bem, enfraqueceu e está (ainda) a renascer. Termino onde desejei começar.

A qualidade tem vindo a aumentar e faz justiça à natureza e ao engenho humano, pois o Dão é das melhores regiões vinhateiras portuguesas. No elencar das virtudes e fealdades da região dou três exemplos que traçam o meu boneco. A Dão Sul, a Sogrape e a Casa de Mouraz. Qualquer delas conhece o sucesso e as vitórias nunca acontecem por acaso. Uma retrato a preto e branco e dois a cores.

A cores: Quando em 2004 comecei a fazer o programa «Da Terra Ao Mar» – domingos, às 11h00, na RTP 2 – uma das primeiras reportagens foi sobre a Casa de Mouraz. Um casal jovem mudara-se de Lisboa para lavrar uma vinha em modo biológico, hoje em biodinâmico. Tinham quatro hectares e hoje Sara Dionísio e António Lopes Ribeiro oficiam em mais zonas do país, mantendo o coração no Dão.

A preto e branco: A Dão Sul (Global Wines) foi fundada em 1989 e a ela se deve muito do renascimento da região, recolocando-a nos escaparates. Uma estratégia de qualidade acima da média e preço amigo da algibeira.

A Quinta de Cabriz tornou-se conhecida do grande público. Um sucesso avassalador que ditou a chegada de uvas doutras terras da zona e que a marca passasse a ser apenas Cabriz. A Quinta dos Grilos – supostamente doutro produtor, embora doutro dono, dizem as más-línguas –serviu para criar uma dinâmica de competição. Outro caso de popularidade, embora menos visível. Hoje é só Grilos, pela mesma razão do anterior.

Infelizmente, Cabriz e Grilos decaíram na qualidade. Fazer muito e muito bem é quase a quadratura do ciclo, é muitíssimo difícil. A Casa de Santar, outrora com mais sainete, conhece a mesma sina. Contudo, a contratação do enólogo Osvaldo Amado está a dar melhores resultados. À parte: o vinagre de Cabriz é excelente!

A Global Wines não faz só vinhos de gama baixa. Os Paço dos Cunhas de Santar e o Pedro & Inês – evocativo do grande e trágico amor entre o infante Dom Pedro, mais tarde rei Pedro I de Portugal, com Dona Inês de Castro – fazem parte do melhor da região.

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Quinta dos Carvalhais – Foto Cedida por Sogrape Vinhos, SA | Todos os Direitos Reservados

O pretexto original era o de contar acerca de três vinhos da Quinta dos Carvalhais, propriedade da Sogrape. É a maior empresa portuguesa do sector – uma multinacional familiar – que não brinca em serviço. No Dão faz vinhos de classe mundial e criou três «indivíduos»: personalidade e expressão da origem; terroir.

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Quinta dos Carvalhais – Foto Cedida por Sogrape Vinhos, SA | Todos os Direitos Reservados

A touriga nacional é original do Dão, onde oferece um ramalhete de violetas. Sem caricatura de aroma – exagero que está a acontecer na região – tem o carácter é educado. Quinta dos Carvalhais Touriga Nacional 2012 é pedagógico, expressa a casta e elegância que deu fama ao sítio onde nasceu.

Igual valor tem o amarelo, concretizado com a variedade mais vistosa da zona, muito fresca e mineral . O Quinta dos Carvalhais Encruzado 2013 tem igualmente uma função formativa, do que é a casta e do que de melhor se faz no Dão.

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Quinta dos Carvalhais Encruzado 2013 – Foto Cedida por Sogrape Vinhos, SA | Todos os Direitos Reservados

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Quinta dos Carvalhais Touriga Nacional 2012 – Foto Cedida por Sogrape Vinhos, SA | Todos os Direitos Reservados

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Quinta dos Carvalhais Reserva tinto 2010 – Foto Cedida por Sogrape Vinhos, SA | Todos os Direitos Reservados

Porém, a regra portuguesa dita que os vinhos sejam resultado da junção de várias castas, embora a empresa não forneça, no seu sítio na internet, quais as que o encarnam. O Quinta dos Carvalhais Reserva Tinto 2010 reúne o verdadeiro carácter do Dão.

O melhor de antigamente, a longevidade. Foram feitos para durar, mas podem beber-se já. Com os anos que têm pela frente… compre várias garrafas, beba umas e guarde outras. Tire apontamentos para comparar e recordar.

Os Afectus da Quinta de Curvos

Texto João Pedro de Carvalho

Com mais de quatro séculos de história, remonta a 1600, muitas são as lendas e “estórias” que lhe estão na origem, muitas delas contadas pelos diversos espaços envolventes, desde o antigo palacete às grutas, passando pelo lago, jardins e vinhedos. No total são cerca de 16 hectares, toda murada sobre si a Quinta ganhou uma nova alma em 1976 com a sua aquisição por parte dos actuais donos e ainda hoje é uma empresa 100% familiar que, conta já com a dedicação da segunda geração para dar continuidade ao projeto.

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Quinta de Curvos – Foto de M&A Creative | Todos os Direitos Reservados

As vinhas que se encontram em regime de protecção integrada estendem-se ao longo de 27 hectares distribuídos por quatro propriedades situadas em Forjães, Ponte de Lima e Barcelos. A influência atlântica e os solos graníticos marcam o perfil dos vinhos, algo que se comprovou durante a prova de três exemplares da gama Afectus. Esta gama de vinhos foi buscar inspiração ao afeto e paixão à terra, com rótulos cuja imagem representa as centenárias camélias existentes na Quinta de Curvos.

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Afectus Loureiro 2014 – Foto de M&A Creative | Todos os Direitos Reservados

O Afectus Loureiro 2014 (Vinho Verde) foi o que causou menos impacto dos três vinhos provados, fresco e marcado pela fruta (maçã vermelha com pêssego vermelho) sem mostrar uma grande exuberância, combina aromas de flor de tília, louro com um fundo de pederneira. Acidez bem equilibrada na prova de boca com presença da fruta em final mediano.

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Afectus Alvarinho 2014 – Foto de M&A Creative | Todos os Direitos Reservados

Enquanto os outros dois vinhos são Vinho Verde, o Afectus Alvarinho 2014 apresenta-se como um Regional Minho. Mais austero que o anterior, aromas mais delineados com maior presença e a frescura a impor-se com notas de líchia, pêssego, limão e erva-cidreira. Algo fechado a dar indicações de que mais um tempo em garrafa apenas o irá beneficiar. Na boca tem muito boa presença da fruta com a líchia em destaque ao lado de um pêssego maduro e sumarento, fundo fresco e saboroso com ligeiríssima austeridade mineral.

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Afectus Rosé 2014 – Foto de M&A Creative | Todos os Direitos Reservados

Este Rosé foi uma alegre e refrescante surpresa que me caiu no copo, dele fazem parte as castas tintas características da região, Vinhão e Espadeiro. O vinho conquista pela frescura, pela forma como a fruta (morango, cereja) rechonchuda e sumarenta escorre de sabor ao mesmo tempo que o fundo se mostra seco e mineral. Tudo isto aparece envolto numa fina capa fumada num vinho que tem tudo para brilhar no pico do calor que se avizinha. Já agora, experimentem acompanhar com carne grelhada, o resultado é fantástico.

Ainda não me cansam as pernas de andar pelo Dão

Texto João Barbosa

Comecei a passear pelo Dão, mas como as estradas são compridas acabei por não chegar ao destino, sem fazer uma pausa de uma semana. Contava que a segunda revelação foi uma festa com vários oficiais de alta patente.

Aconteceu em 2010, quando João Tavares de Pina organizou um evento, em que participaram muitos produtores, todos eles de vinhos de grande qualidade. Este lavrador chamou-lhe «Dão – The Next Big Thing». Para quem não domina a língua inglesa, pode ser «traduzido» como «Dão – A Próxima Grande Surpresa».

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Expressões do Dão in cvrdao.pt

Não tenho nada para ensinar aos dirigentes da Comissão Vitivinícola Regional do Dão mas penso que esse momento deveria repetir-se, de modo a criar uma onda para o reconhecimento… talvez com concurso, debates e críticos internacionais.

Foi um encontro e pêras. Um verdadeiro encontrão. Um encontrão pela variedade e pela qualidade apresentada. Se apontei, não me recordo onde guardei a lista com a informação de todos os produtores, mas foram muitos. Como em tudo, há uns que memorizei pelo agrado.

Um foi o vinho do anfitrião e organizador. Os vinhos Terra de Tavares, muito vibrantes, autênticos, com o carácter do «terroir» – palavra em vias de banalização, devido a constante usurpação, não é o caso neste momento.

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Terras de Tavares, João Tavares de Pina – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Outra bela descoberta foram os da Casa de Darei, mais elegantes do que os anteriores, mas também muito especiais e agarrados à origem. Mas o maior espectáculo aconteceu no selecto Clube de Viseu, no seu salão de festa.

O ponto alto aconteceu quando se serviram os vinhos do Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão – situada na Quinta da Cal, no concelho de Nelas. Brancos velhos em plena forma, nomeadamente de 1980 e 1981. Tintos da década de 70 ainda mais joviais.

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Solar do Vinho Dão (CVR Dão) cvrdao.pt

Um grande amigo contou-me de beber uns néctares da UDACA (União das Adegas Cooperativas do Dão) com «séculos», que o fizeram repensar a certeza de só gostar de vinhos novos. Infelizmente, não me passaram pelo estreito.

A minha memória do Dão criou-se do quase nada – como revelei na primeira parte deste passeio de recordações. Até muito tarde, sabia, de vinhos do Dão, apenas marcas antigas, como Porta de Cavaleiros, Dão Pipas, Grão Vasco, Meia Encosta, São Domingos, Messias e Borges… acho que mais nenhum.

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Expressões do Dão in cvrdao.pt

Já na década de 90 encontrei-me com néctares excelentes, ostentando nomes das quintas onde nasciam, o que é natural devido ao declínio das cooperativas da região. De então para cá, a lista tem-se alargado. Sabendo que serei injusto, por omissão involuntária, tenho de citar – além das já referidas – pérolas grená e loiras: Quinta dos Roques, Quinta da Vegia, Quinta da Passarela, Paço dos Cunhas de Santar, Quinta de Carvalhais, Casa de Mouraz, Quinta da Falorca, Duque de Viseu, Pedra Cancela, Pedro & Inês, Quinta da Fata, Quinta de Saes, Quinta da Pellada, Quinta do Perdigão, Quinta de Carvalhais e… saiu pela ordem «inexplicável» da memória, sem hierarquia.

Como em tudo, não há só maravilhas. Ainda assim, o negrume não é absoluto – felizmente. Um dia, embalado pelo prazer do Dão, tropecei num vinho da Adega Cooperativa de Penalva do Castelo. A experiência foi terrível. Sublinho o «foi». Actualmente, o que ali se faz rompe com esse passado.

Tive um mestre no jornalismo que nunca se cansou de elogiar o meu poder de síntese. Nestes artigos não tenho de ser sintético como nas notícias… não consigo dizer tudo o que quero acerca do Dão.

Tenham lá paciência, continua na próxima semana.

À procura do Ouro: O Vinho Português ao Microscópio

Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira

Tem sido um grande privilégio para mim presidir, desde 2011, o painel de Portugal na Decanter World Wine Awards (“DWWA”), que reivindica ser a maior e mais influente competição de vinhos do mundo. Estes ano mais de 16000 vinhos deram entrada na competição, 730 dos quais portugueses (não contabilizando vinho do Porto nem vinho Madeira); poderá consultar os resultados no website da Decanter a 14 de Junho.

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À procura do Ouro: A equipa de elite, Decanter World Wine Awards 2015 – Foto de Sarah Ahmed | All Rights Reserved

Os vinhos são avaliados por especialistas nas suas respectivas áreas. Todos os anos o meu ilustre painel inclui líderes de opinião e colegas campeões do vinho português. Este ano aproveitei a oportunidade para sondar as suas opiniões relativamente à performance do vinho português nos seus respectivos mercados (principalmente no Reino Unido, que é considerado uma janela de vendas para o mundo inteiro). As contribuições são de:

  • Danny Cameron, director da Raymond Reynolds, Reino Unido, uma importadora especializada em vinho português, que trabalha com algumas das mais conhecidas marcas premium do mercado.
  • Nick Oakley, fundador Oakley Wine Agencies, uma importadora especializada em vinho português que conta com quase todos os múltiplos supermercados como clientes.
  • Jo Locke, Master of Wine e responsável pelas compras em Portugal na loja online do Reino Unido – The Wine Society,  que recebeu mais prémios, merecidamente, pela sua lista de vinhos portugueses.
  • Anne Forrest, anterior responsável pelas compras em Portugal na Direct Wines, e que agora é directora na Vinos Sin Fronteras, Lda, sediada no Porto, uma especialista em exportação de vinho e consultadoria de negócios.
  • Cláudio Martins, anterior gestor/sommelier da britânica New Street Wine Shop, e agora director vínico na Montevino Partners Wine Merchants.
  • Madeleine Stenwreth Master of Wine, freelancer sueca de consultadoria vínica, especializada em desenvolvimento de produtos, blending e estratégias de qualidade e estilo.
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Nick Oakley, Claudio Martins, Madeleine Stenwreth Master of Wine, Decanter World Wine Awards 2015 – Foto de Sarah Ahmed | All Rights Reserved

Notou algum crescimento nas vendas, qualidade e gama dos vinhos portugueses e, se sim, quais?

Danny Cameron: No Reino Unido acho que o valor ideal para as vendas em loja ronda entre as £8 e as £15 (€11-€20). Desde que a simpática Lehman Bros fez o que fez (crise financeira mundial), que o mercado para a alta gama portuguesa se tem debatido, mesmo os rótulos mais icónicos. Isto sugere que Portugal não é ainda um mercado totalmente confiável para estes potenciais consumidores que, durante as recessões, tendem a voltar àquilo que consideram ser escolhas seguras.

Nick Oakley: Sim, bastantes. Estamos a prever um crescimento de 20% em volume de negócio e ainda mais em valor. Estamos dentro das expectativas após estes quatro meses que passaram.

Jo Locke MW:  Sim,verificamos um aumento nas vendas, em grande parte devido ao grande foco dedicado à região (actividade de vendas dedicada e maior presença em mailings padrão), mas também pelas, agora, provas habituais de vinhos portugueses.

Anne Forrest: Sem dúvida que verificamos um aumento nas vendas no último ano, em especial com um crescimento acentuado no sector das ‘categorias especiais’ de fortificados, p.ex. não só nos normais Ruby, Tawny, Porto branco. Existe um grande interesse, e mútuo, por parte das pequenas e grandes vendedoras em encontrar algo realmente especial, com aquele factor único, que cause ‘wow’ ao cliente após o primeiro gole. Colheitas envelhecidos, Tawnies e Moscatel de Setúbal têm provado ser populares, superando as expectativas. Também constatamos um crescimento do Vinho Verde e de vinhos rotulados como monovarietais ou que estejam em grande forma na região do rótulo.

Cláudio Martins: Existe uma nova onda de vinhos portugueses no Reino Unido, as cartas de vinho dos restaurantes estão a aumentar a sua oferta de vinhos do Minho, Douro, Alentejo e até mesmo alguns do Dão, com diferentes categorias de preço, o que é óptimo. Hoje em dia o consumidor está mais consciente dos vinhos portugueses.

Madeleine Stenwreth MW: A qualidade está constantemente a melhorar; o mercado sabe-o, mas os consumidores têm de estar ainda mais convencidos da origem antes de se aventurarem. Não é fácil captar a atenção dos consumidores, salvo vinhos de marcas conhecidas/respeitadas ou assinados pelo énologo (João Portugal Ramos como exemplo), para criar essa confiança que Portugal ainda precisa de construir. Os vinhos são constantemente lançados no mercado, mas não existe poder para os manter nas prateleiras. A categoria está demasiado fragmentada e complicada para os consumidores saberem o que esperar das diferentes regiões. Isto significa que os consumidores precisam de uma marca confiável para se agarrarem. Acho que existe um problema por existirem tantos nomes que não dizem nada aos consumidores.

Que categorias de vinho português (por estilo, região, casta) estão a mostrar serem mais populares entre os consumidores?

Danny Cameron: Em termos de marketing, as regiões que investiram mais ou menos na promoção das suas regiões parecem estar a obter resultados.

Nick Oakley: Dão, Douro and Vinho Verde (uma nova onda de monovarietal). O Dão tem sido particularmente bem sucessido em todas as categorias – independentes, supermercados, online e mercado/restaurantes (por intermediários). No que toca ao Vinho Verde, os monovarietais Arinto e Avesso têm obtido sucesso até agora, juntando-se ao Alvarinho. Não vejo nenhuma razão para que os Loureiro não se juntem a eles.

Jo Locke MW: O Vinho Verde é a estrela actual, a todos os preços.

Anne Forrest: Neste momento o Dão está a vender muito bem, e tanto os blends tintos como brancos estão a mostrar serem muito populares. Enquanto região, o Dão parece estar a ganhar mais e mais tracção, já que os estilos são bastante consistentes por entre as várias marcas e os consumidores sentem-se confiantes para repetir a compra porque sabem que vão gostar do que vão encontrar na garrafa. Também têm um bom preço/qualidade e complexidade suficiente para manter os consumidores intrigados e a querer mais.

Cláudio Martins: Sem dúvida os vinhos do Minho, e os tintos do Douro ainda são a escolha normal da clientela numa wine shop ou num restaurante.

Madeleine Stenwreth MW: Tintos de qualidade comercial com notória concentração de fruta, mas com taninos suaves, redondos e fáceis de beber, acompanhados ou não por comida.

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Beatriz Machado, Nick Oakley, Claudio Martins, Decanter World Wine Awards 2015 – Foto de Sarah Ahmed | All Rights Reserved

Que categorias (por estilo, região, casta) o/a impressiona mais; onde prevê ver ainda mais crescimento?

Nick Oakley: Para mim o Dão é a maior história e a minha região favorita. Um extra é que desenvolvemos um tinto à imagem californiana, com 14g de açucar, ao estilo Apothik. Chama-se Wolf & Falcon e foi desenvolvido pela Laithwaites. Aqui penso que foram o estilo e o branding que se sobrepuseram à origem.

Jo Locke MW: O Vinho Verde tem potencial para crescer; o Dão parece estar sub-representado e pode, e deve, fazer mais.

Anne Forrest: O Alentejo foi a região que mais me impressionou este ano. É desta a região que os portugueses adoram beber e parece apelar ao sentimento dos consumidores portugueses que escolhem beber em casa ou nos restaurantes. Existe uma grande competição dentro do mercado nacional com muitas marcas/adegas a surgir e que estão a lutar para se estabelecerem, o que está a impulsionar a qualidade. O Alentejo está a começar a ganhar reputação fora de portas e, penso que, eventualmente, com um pequeno número de produtores de topo a mostrarem o caminho, virá a ser uma ‘escolha segura’ para os consumidores no Reino Unido e em todo o lado.

Claudio Martins: Os vinhos do Dão têm muito para oferecer e a Touriga Nacional tem, naquela região, aquilo que os consumidores britânicos procuram. Prevejo observar um crescimento nos vinhos de Lisboa – se for feita uma boa campanha de marketing, direccionada ao mercado britânico, acredito que as pessoas irão começar a reconhecer os vinhos.

Madeleine Stenwreth MW: Tintos bem feitos, com um pequeno toque comercial, mantendo a pureza e honestidade da fruta. O Douro conseguiu isso. O Alentejo já se atreveu a distanciar-se do, demasiado maduro, tosco e over-oaked devido aos problemas de morrer ainda jovem na garrafa. No topo, poucos perceberam que se pode ir longe na elegância mesmo sendo encorpado. Quanto aos brancos, os pontos altos no DWWA foram sem dúvida os brancos [estejam atentos aos resultados do DWWA]. Vinhos de classe mundial!

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Anne Forrest, Matthieu Longuere Master Sommelier, Jo Locke Master of Wine, Decanter World Wine Awards 2015 – Photo by Sarah Ahmed | All Rights Reserved

Onde acha que à espaço para melhorar?

Danny Cameron: Acho que a qualidade do todo dos vinhos portugueses é, no geral, 100% melhor do que há alguns anos atrás. Mas o país ainda tem poucas potenciais grandes marcas que possam singrar no mercado britânico.

Nick Oakley: Gestão de taninos no sul. Rotulagem por denominação em vez da marca (como em França). Isto está a funcionar para o Dão. De momento há milhares de marcas a tentar alcançar visibilidade e nenhuma a consegui-la. Vamos rotular o Dão como Dão, o Douro como Douro. Esqueçam o branding, ou pelo menos diminuam a sua importância. Só desta maneira é que os compradores ficarão a conhecer os vinhos.

Jo Locke MW: As rolhas são o maior problema neste momento. Como é possível que Portugal produza tanto e fique com o pior para si próprio? O número de vinhos de topo com rolhas pobres é chocante e não abona a favor da sua reputação. O rosé não é levado a sério mas não vejo razão para Portugal não produzir muitos e bons exemplares. Para nós, o mercado, bom, de rosé seco ainda é dominado pelo sul de França e não precisa de ser. Ah, e o pequeno problema de auto-confiança!!

Anne Forrest: Acho que um pouco mais de auto-confiança faria maravilhas! Os produtores que se mostram, que não ficam nos bastidores, que se informam dos mercados e que promovem activamente os seus vinhos estão a encontrar caminhos de entrar no mercado. Acho que Portugal está no caminho certo, portanto mantenham a receita, se faz favor!!

Claudio Martins: Intervenções ao nível de marketing, provas para consumidores, é a única maneira de colocar Portugal no mapa dos consumidores britânicos. O mercado já conhece o potencial e qualidade dos vinhos mas o consumidor precisa de o requisitar.

Madeleine Stenwreth MW: O design é muito importante e, juntamente com bom vinho e esforços para uma continuada educação genérica irão ajudar Portugal a mover-se na direcção certa. João Portugal Ramos é um exemplo do esforço constante para melhorar a qualidade e estilo, em constante evolução do todo para manter o consumidor feliz, e nunca desaponta. A consistência é a chave para uma vida longa nas prateleiras.

Para terminar, a escritora Jane MacQuitty juntou-se ao meu painel este ano, durante um dia; tem sido a correspondente de vinho e bebidas do The Times desde os anos 80. O que disse foi isto, “Como sabe, sou uma grande fã do vinho português, mas sinto que o país é o cavalo negro da Europa, com muito potencial com uma enorme quantidade de castas autóctones, muitos estilos de vinhos regionais e de outro tipo. Acho que o Vinho Verde está no topo da montanha mas também acho que o Dão, seja branco ou tinto, irá produzir muitos vinhos wow no futuro. Resumindo, o que Portugal precisa mesmo é de acelerar e de se juntar ao século XXI.”

Um passeio incompleto pelo Dão

Texto João Barbosa

Uma conversa recorrente cá em casa é acerca da memória. Um tema teimoso, discussão bizantina… é quase um cerimonial para sorrisos, pois já todos disseram e explicaram o que pensam. O meu partido é o de que não são necessárias fotografias para se construírem memórias.

Já colocaram um livro, estrategicamente posto para nele tropeçar com os olhos, em que o autor garante a necessidade das fotografias ou imagens para se fazerem memórias. Ora, em milhares de anos de evolução, o ser humano sempre teve memórias e a fotografia data do século XIX, à década de 20. Mesmo os retratos pintados têm «alguns» séculos, mas são segundos na escala da vivência do Homo sapiens sapiens. Além de que quer a fotografia, quer a pintura – sobretudo esta – não estavam acessíveis à grande maioria da população. Além de que a memória também se falseia e reinventa, até se inventa.

Isto tudo para falar sobre o Dão, de três dos seus vinhos. A minha recordação da zona do Dão limita-se a uma fotografia em que eu e os miúdos de Campo de Besteiros fizemos um comboio com as cadeiras lá de casa. Porém, a recordação mais clara é a da centopeia – que coisa estranha – que se afogara na bacia do lavatório.

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Arco dos Cavaleiros (old) in visoeu.blogspot.pt

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Arco dos Cavaleiros Nowadays in Panoramio.com – Photo by filipe_ | All Rights Reserved

Para mim o Dão – Viseu – tem uma má memória, uma chatice num «restaurante» em que o bife veio com cabelos. Ainda hoje não gosto de Viseu, com todo o respeito pelos seus habitantes, nascidos e apreciadores.

O Dão diz-me quase nada. Porém, o vinho está numa prateleira à parte. O meu pai comprava, muitas vezes, tinto dessa região. Tenho 45 anos e na minha infância o Douro «não existia», o Alentejo «não existia»… da Bairrada não me lembra… havia Vinho Verde e umas marcas de vinhos provenientes de videiras superprodutivas, provavelmente da Estremadura e do Ribatejo.

Como o meu pai bebia quase sempre tinto, o vinho do Dão é encarnado. Ainda hoje! O Doutor Freud explicaria. Porém, é muito mais do que isso. É uma região com néctares maravilhosos, com um bom número de produtores com esmero. O problema do Dão é a dimensão da propriedade e uma característica típica portuguesa – ali talvez sublimada – que é a desunião.

Há dois momentos especiais quando descobri o Dão. Uma garrafa e um evento. O primeiro episódio causou-me o espanto da descoberta do que é um Chuck Norris de salão e outro foi conhecer um grupo de oficiais de alta patente, envergando uniformes de gala.

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Porta dos Cavaleiros Colheita de 1983 in garrafeiranacional.com

Chuck Norris pela sua força e capacidade de resistência, mas com elegância… poderá pensar que James Bond seria «adjectivo» mais correcto, só que o 007 é urbano. Passo a contar: na casa dos meus pais havia uma garrafa de Porta de Cavaleiros, referente à colheita de 1983. Não sei como não foi abatida ao efectivo, mas, como sobreviveu, o meu pai deu-ma, em Fevereiro de 1994, quando passei a ter casa própria e vida de solteiro. Todavia, a garrafa ainda viveu mais de uma década. Um dia, em 2007, resolvi que tinha de ir para dentro. Que espanto! Espanto! Uma jovialidade, elegância… o que tem a ver com Chuck Norris? É que a garrafa (o vinho) apanhou calores, viveu com luz, não se deitou e movimentou-se algumas vezes. Colossal em todos os aspectos!

Não perca o próximo episódio.

O Douro Superior e o seu Festival Anual de Vinhos

Texto José Silva

O Douro Superior é uma região ainda maioritariamente inóspita, montanhosa, com o rio Douro a proporcionar paisagens verdadeiramente arrebatadoras, duma beleza quase sufocante, de cortar a respiração.

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Douro – Foto Cedida Por Revista de Vinhos | Todos os Direitos Reservados

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“…por vezes um excesso de natureza!” – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Como dizia Miguel Torga, “…por vezes um excesso de natureza!”

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Os solos são pobres – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Os solos são pobres, onde o xisto é predominante e um clima de extremos, com verões muito quentes, com as temperaturas a ultrapassarem muitas vezes os 45º celsius e muitos meses dum inverno muito frio, mas com muito pouca pluviosidade, a possibilidade de regar as vinhas veio trazer o complemento necessário para ali se fazerem vinhos de excepção.

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Vinhas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Oliveira – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Nos últimos anos a plantação de novas vinhas disparou completamente, com a vinha a conquistar terreno a uma paisagem onde as oliveiras e as amendoeiras eram predominantes. Aqui e ali ainda se continuam a ver os tradicionais pombais em forma de ferradura, tão característicos. E é daquela sub-região que têm saído alguns dos melhores vinhos portugueses dos tempos modernos. Isto tudo não foi certamente alheio à organização, há quatro anos atrás, do primeiro Festival de Vinhos do Douro Superior, este ano na sua quarta edição.

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Festival de Vinhos do Douro Superior Quarta Edição – Foto Cedida Por Revista de Vinhos | Todos os Direitos Reservados

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E tem estado muito bem a Revista de Vinhos – Foto Cedida Por Revista de Vinhos | Todos os Direitos Reservados

E tem estado muito bem a Revista de Vinhos que, com a sua enorme experiência, soube interpretar aquilo que se pretende dum festival deste tipo, mas que tem lugar na longínqua Vila Nova de Foz Côa, e tem sabido ali chamar apreciadores de vinhos um pouco de todo o país, para além de gente de toda a região, que ali têm oportunidade de provar as novidades e os grandes clássicos, muitos deles já premiados um pouco por todo o mundo.

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A Revista de Vinhos tem sabido também organizar um programa aliciador para a comunicação social – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Tem sabido também organizar um programa aliciador para a comunicação social e para muitos profissionais do comércio de vinhos, a que se juntam muitos blogers da área, com visitas guiadas que incluem almoços e jantares em algumas das mais bonitas quintas da zona. Estes profissionais sentam-se à mesa para provar os vinhos a concurso, numa prova cega impecavelmente organizada, de onde vão saír os prémios para os vinhos que mais se destacam, na opinião dum painel independente e heterogéneo.

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O Festival – Foto Cedida Por Revista de Vinhos | Todos os Direitos Reservados

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O Festival – Foto Cedida Por Revista de Vinhos | Todos os Direitos Reservados

Depois é passear pela feira a provar vinhos e alguns produtos regionais – pão, queijos, enchidos, compotas, frutos secos, azeite, etc. – ou assistir a alguns colóquios bem interessantes conduzidos por alguns dos jornalistas da Revista de Vinhos.

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Caminho de Ferro – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Hoje, embora o caminho de ferro continue a ser uma boa opção, os acessos a Foz Côa são muito diferentes, melhores e mais rápidos, o que também facilita dar um salto até lá, para passar um dia interessante, regressando pela noitinha, ou mesmo passar dois ou três dias e aproveitar para conhecer melhor uma região com tantos atractivos, sobretudo a nível paisagístico, onde a ecologia é algo natural que está por todo o lado.

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Uma Região com Tantos Atractivos – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Sobretudo a Nível Paisagístico – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Neste caso há que ter alguma atenção aos alojamentos, onde não há grande oferta e que durante o festival estão por vezes completamente cheios.

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Gastronomia Local – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Terrincho tem destaque natural – Foto Cedida Por Revista de Vinhos | Todos os Direitos Reservados

Apreciar a gastronomia local é outro dos atractivos e que passa pelos peixes do rio fritos ou de escabeche, azeitonas, enchidos e queijos, de que o Terrincho tem destaque natural, e a carne de vaca, com alguma predominância da raça Mirandesa, sejam umas costeletas, um rodião ou a tradicional posta Mirandesa, preparadas de maneira simples: brasa de lenha, sal grosso, cozinhada no ponto. No prato junta-se o molho à base de azeite, alho, salsa e vinagre de vinho…e come-se de olhos fechados.

 

O grupo de jornalistas e blogers aproveita sempre para conviver e trocar experiências, num ambiente de franca camaradagem que é também proporcionado pela organização.

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Ambiente de Franca Camaradagem – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

No regresso aos vários pontos de origem, já pensamos no ano que vem, para mais uma visita ao Douro Superior, as suas paisagens, a sua comida e os seus vinhos. E às pessoas que fazem tudo isso.

Até para o ano!

Santos da Casa

Texto João Pedro de Carvalho

Quando falamos do enólogo Hélder Cunha no imediato associamos o seu nome ao projeto Monte Cascas (Veja aqui o artigo de Sarah Ahmed para mais informação), onde um enólogo que sem terra nem adega consegue criar autênticos vinhos de terroir desde o Douro ao Alentejo. Desta forma os fundadores da Santos & Seixo lançaram um desafio ao enólogo com base na mesma filosofia, a mesma marca com diferentes regiões (Verdes, Douro e Alentejo) segmentados em “Colheita”, “Reserva” e “Grande Reserva”.

Uma gama que se espera moderna e atractiva por fora, mas original e apurada por dentro com vinhos cheios de virtudes, que apetece provar e beber. Neste caso o Colheita 2012 oriundo do Douro, o primeiro vinho que provei e que se destaca pela bonita expressividade da fruta ao mesmo tempo que não nos esconde as terras onde nasceu.

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Santos da Casa Douro 2012 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Associando o vinho em questão às festas dos Santos Populares que se começam a instalar por esta altura do ano de Norte a Sul de Portugal, o vinho em causa é daqueles exemplares que aconselho para a mesa. Digo isto porque como já foi escrito, é bom de beber e qual Santo casamenteiro como o é Santo António de Lisboa, este é vinho cujo perfil casa lindamente com uma alargada panóplia de petiscos tão característicos desta temporada. E não se tenha pejo em refrescar o dito cujo para que acompanhe uma boa Sardinha Assada com broa em pleno arraial doe São João no Porto.

Com uma imagem apelativa, destaca-se no rótulo a palavra Macio, que se confirma depois ao beber e que mais uma vez vem ao encontro de uma saudável e direi mesmo inteligente forma de chegar até ao consumidor. A palavra Macio descomplica as dúvidas em redor de um vinho que se desconhece, o preço também é macio uma vez que ronda os 5€ num vinho que se encontra com relativa facilidade em grandes superfícies.

O Santos da Casa Douro 2012 é composto por Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz, provenientes de três parcelas, cujo lote passou por madeira durante 9 meses. Destaca-se no imediato a expressão da fruta madura envolta em frescura, ligeira tosta de fundo com apontamentos de cacau, pimenta e vegetal, naquele ligeiro toque de austeridade característico da região. Na boca é macio, cheio de frescura e fruta a estalar de sabor, coeso num perfil onde o prazer está assegurado.

Contactos
Santos & Seixo – Wine Exports, Lda.
Av. Dom João II, Lote 1.02.2.1-D, Piso 1 – Escritório 6 – 7
1990 – 091 Parque das Nações
Tel: (+351) 21 82 223 08
Fax: (+351) 21 80 578 91
Email: geral@santoseseixo.pt
Website: www.santoseseixo.pt

Rosé de Verão

Texto Ilkka Sirén | Tradução Bruno Ferreira

O Verão aproxima-se a passos largos. Pelo menos é o que dizem. Aqui na Finlândia temos um início de Verão muito frio. Na verdade, da última vez que esteve assim tanto frio durante o mês de Junho o muro de Berlim ainda estava de pé. Não é que o mau tempo seja uma surpresa mas, depois de um Inverno tão longo, aqui na Finlândia já estamos mais do que prontos para algum calor. Com uma boa imaginação e um copo de rosé na mão, é fácil entrar no espírito de Verão. A única coisa que falta são os meus Speedos… e o protector solar factor 30… e as havaianas.

A Glass of Rosé

Um Copo de Rosé – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

O Verão impulsiona as vendas de rosé em todo o mundo. Na Finlândia, os vinhos rosé são virtualmente inexistentes durante o ano mas, durante o Verão as prateleiras ficam inundadas de rosés provenientes de todas as partes do globo, desde a China até à Califórnia. Bombas intensas de fruta de diferentes origens que voam das lojas a uma velocidade recorde. Para ser honesto, a maior parte dos rosés que nos chegam não são lá muito bons. Entendo o conceito easy-going, mas a maior parte assemelha-se a Sprite cor-de-rosa. Simplesmente desinteressante. O rosé pode não ser o vinho intelectualmente mais desafiante, mas um bom rosé consegue “levar-me às nuvens” tal como os outros vinhos. Para mim, um bom rosé tem de ser equilibrado, fresco e cheio de sabor. Nada daqueles líquidos insípidos, sem força, com sabores que quase parecem artificiais. Hoje em dia parece que toda a gente faz rosé simplesmente porque o pode fazer. Trabalhos sem esforço, para matar a sede ou para lavar barris. Mas quando um rosé é realmente bom, cuidado…

Crayfish sandwich

Pão preto com Lagostim – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Cheguei a casa, vindo de viagem, e tinha que comer lagostim. Não sei porquê mas, por vezes, dá-me vontade de comer coisas muito específicas e, quando meto alguma coisa na cabeça, mais nada serve. Neste case foi lagostim com endro e limão barrado em pão preto. Mas não era um pão preto qualquer, era um pão preto ligeiramente mais doce, do arquipélago finlandês. Simples e delicioso, comida caseira no seu melhor. O lagostim gritava por vinho e, sinceramente, eu também. Como todos sabemos, um bom rosé é extremamente food-friendly (harmonizável com comida). Tem a acidez de dar água na boca e facilidade de beber dos vinhos brancos, mas é ligeiramente mais estruturado e tem um perfil mais vinoso. Por sorte tinha um JP Azeitão Rosé da Bacalhôa no frigorífico, que tenho justamente para estas emergências saborosas de lagostim.

JP-Azeitao-Rose

JP Azeitão Rosé – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

O JP Azeitão é um rosé simples, com notas sedutoras de framboesa e cereja. Tem alguma Syrah que lhe confere um toque especiado. Não é complexo de forma alguma, é simplesmente um delicioso pequeno vinho. Um preço acessível e uma harmonização fantástica com alguns snacks de marisco.

Rose Screwcap

Rolha de Rosca – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Enquanto continuo à espera do Verão, são estes pequenos mimos que fazem a espera valer a pena. E assim nem é preciso protector solar, podemos simplesmente fechar os olhos e sentir o sol português por entre o vinho.

Contactos
Bacalhôa Vinhos de Portugal
Estrada Nacional 10
Vila Nogueira de Azeitão
2925-901 Azeitão
Portugal
Tel: (+351) 21 219 80 60
Fax: (+351) 21 219 80 66
Email: info@bacalhoa.pt
Website: www.bacalhoa.com

Quinta da Pacheca Colheita Branco 2014

Texto João Barbosa

Acontece-me – acontece com toda a malta que escreve sobre vinho – telefonarem-me, por vezes em momentos inconvenientes, para me perguntarem que vinho devem levar para um jantar. Suspiro e por amizade debito uns tantos.

Acontece sempre que estão num supermercado e têm pressa… o tempo esgotou-se em insignificâncias e o vinho é comprado a correr, na primeira porta aberta do caminho. Pergunto-lhes:

– Quando queres comprar um livro também vais a um supermercado?… Ou vais a uma livraria?

Nada a fazer. Vou dizendo marcas – é mais fácil de compreender – e é comum não existirem na loja. Invertem-se os papéis e o amigo debita o conteúdo das prateleiras. Daí escolho um, que nunca é bem aquilo e…

– Epá! Tens esse, aquele e aqueloutro. Apostas seguras, escolhe o que entenderes, estou a meio de (qualquer coisa) e tenho de me despachar.

Nas escolhas cabe frequentemente os vinhos da Quinta da Pacheca. Encontram-se na distribuição moderna, têm qualidade e apresentam preços acessíveis.

Quinta da Pacheca

Quinta da Pacheca – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Gosto de vinho há bastante tempo e sou militante assíduo. Hoje é mais fácil encontrar-se um bom vinho do que há 20 anos. Nesse tempo, as marcas eram poucas, os rótulos eram maus e nem só a fronha era má.

Ainda assim, já havia mais do que duas mãos cheias de vinhos de qualidade. Uns feneceram e outros sobreviveram. A Quinta da Pacheca engarrafa já há bués e tantas vezes comprei vinhos desta firma.

Tenho este produtor na memória – no lado bom – por várias razões: por o ter conhecido durante a minha primeira relação afectiva adulta e duradoura, por eu ter o apelido Pacheco e por causa do riesling.

Antes do tempo – comprovou-se – a Quinta da Pacheca produziu monovarietais, nomeadamente da casta riesling. Uma agitação feliz para quem não tinha bolsos para vinhos estrangeiros e queria, como uma esponja (!), absorver conhecimento.

Sou defensor das castas portuguesas, mas nada me choca que se cultivem variedades estrangeiras, desde que não sejam admitidas na certificação de Denominação de Origem Controlada. O riesling da Quinta da Pacheca vem-me à lembrança com regularidade.

Já se percebeu que as castas estrangeiras não produziram mais-valias. Ficam vinhos do Douro com a identidade das castas autóctones. Neste caso, cerceal, malvasia fina, gouveio e moscatel galego.

Quinta da Pacheca Harvest white 2014

Quinta da Pacheca Colheia branco 2014 in quintadapacheca.com

Não me recordo da gama da Quinta da Pacheca na década de 90, hoje tem largura. Este Quinta da Pacheca Colheita Branco 2014 é fácil, descomplexado, bem feito. Tem o sotaque do Douro e a aragem de Lamego; é fresco e apresenta-se com uns saudáveis 12,5 graus de álcool.

Penso que tem tudo para agradar a muita gente, nomeadamente o preço – recomendam cinco euros, menos um cêntimo. Não sou toda a gente.

Compreendo a inclusão, no lote, da casta moscatel galego. Dá gulodice e cria facilidade (não é defeito). Porque se costumam beber os brancos demasiado frescos, este açúcar dá «existência» ao que podia desaparecer.

Para mim, que não tenho nem meio litro para vender, a moscatel galego está a mais. Não faz falta para ter a identidade do Douro; não sou fã desta cultivar. Tenho o meu gosto, mas escrevo para o mundo e obrigo-me a sair dos pratos da balança. É um vinho que merece ser comprado e que, certamente, criará hábito.

(Pode também ler a peça que José Silva escreveu anteriormente sobre a Quinta da Pacheca aqui.)

Contactos
Quinta da Pacheca
Cambres – 5100-424 Lamego
Portugal
Tel: (+351) 254 331 229
Fax: (+351) 254 318 380
E-mail: comercial@quintadapacheca.com | enologia@quintadapacheca.com
Website: www.quintadapacheca.com