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Quinta dos Plátanos, na rota dos clássicos

Texto João Pedro de Carvalho

A Quinta dos Plátanos insere-se na Região Vitivinícola da Estremadura, com Denominação de Origem de Alenquer. Uma das Quintas mais antigas do concelho de Alenquer, pertence, à freguesia de Aldeia Galega da Merceana.

A principal actividade ao longo dos anos, desde o século XVII, tem sido a vitivinicultura. Sempre mantida no seio da mesma família, seria já no século XX que se dá uma renovação, inicialmente pelas mãos de Artur de Menezes Corrêa de Sá, como posteriormente pelo seu filho mais velho, José de Menezes Corrêa de Sá. Surgem então as primeiras vinhas aramadas e com compassos que permitem a mecanização dos trabalhos, primeiro com alfaias de tracção animal, depois mecânica e utilizando mesmo meios aéreos nos tratamentos sendo então apontada como pioneira nalgumas práticas. Na década de 50 é feita a total renovação da adega que permitiu nos anos 60 o aparecimento dos vinhos com a marca Plátanos. Apenas mais tarde com a criação da Região Demarcada, passam a ser denominados Quinta dos Plátanos. Já nos últimos anos se tem procedido á reestruturação das vinhas, com 16 hectares onde se inclui Touriga Nacional, Touriga Francesa, Tinta Roriz, Syrah e Cabernet Sauvignon. No total são 35 hectares de vinha entre castas brancas com destaque para o Arinto e o Fernão Pires e nas tintas para além das já referidas, Pinot Noir, Castelão e Alicante Bouschet.

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As vinhas – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Hoje em dia é Artur Corrêa de Sá e a sua filha Luísa que gerem os destinos da Quinta dos Plátanos. A enologia está a cargo de Jorge Páscoa embora na prova dos vinhos se note uma clara distinção entre as gamas apresentadas, uma linha que separa a gama Quinta dos Plátanos e a Plátanos. Essa distinção deve-se ao marido de Luísa, o produtor Joaquim Arnaud. Enquanto os primeiros vinhos mostram o lado mais clássico e digamos, mais rústico da região, os vinhos Plátanos mostram-se na faceta mais elegante como é apanágio da linhagem Arundel (Pavia). Um local que transpira história, cheio de recantos fantásticos, que quanto a mim continua à espera de vinhos à sua dimensão, o que pelo provado parecem estar no bom caminho mas ainda com alguma distância a percorrer.

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As vinhas – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Os vinhos – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Os dois Quinta dos Plátanos surgem com DOC Alenquer, o tinto de 2014 e o branco também de 2014. O tinto mostra-se com raça, muita fruta preta madura, frescura bem presente com um travo algo vegetal que lhe dá dureza e rusticidade. Na boca é focado na fruta, carnuda em corpo mediano, saboroso e com boa frescura. O branco vai buscar os encantos às castas Arinto e Fernão Pires, com grande frescura, aromas com alguma acutilância, muito citrino e alguma fruta de pomar, flores e rebuçado de limão no final. Boca a condizer, fresco, convidativo e apelativo para a mesa em tempo quente. Na gama Plátanos dois vinhos, Plátanos Arinto 2014, com a casta bem presente nos aromas de folha de limoeiro, lima e limão, grande frescura, tenso e com ligeiro floral algo tímido em segundo plano, num bom exemplar da casta embora lhe falte maior acutilância na prova de boca. O Plátanos Tou Noir 2010 é fruto das castas Touriga Nacional e Pinot Noir, mostra-se fresco e muito apelativo, com uma bonita capacidade de se ir alterando no copo e ajustando com o tempo. Torna-se guloso, fresco e terrivelmente gastronómico com aqueles nacos de vitela no carvão acompanhados com manteiga de alho. Muita fruta do bosque bem suculenta, madura e gulosa, carnudo e saboroso, cheio de especiarias, muita garra ao mesmo tempo que escorre guloso pelo palato, todo ele embalado por uma bela frescura que em momento algum o deixa esmorecer.

Prova vertical de Bafarela

Texto José Silva

A Casa Brites Aguiar está localizada muito perto duma das aldeias vinhateiras do Douro, Trevões, com as suas vinhas espalhadas pelas encostas do Rio Torto, beneficiando dum terroir fantástico, que é partilhado por olival, cerejal, nogueiral e souto, numa evolvente rural bem típica desta região duriense. Propriedade de uma família desde sempre ligada à terra, a partir de 2002 deixou de entregar as uvas à Adega Cooperativa, passando a trabalhá-las em adega própria. E assim as uvas produzidas nos 45 hectares de vinha, das castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Amarela, Tinta Barroca e Tinta Francisca, passaram a produzir os vinhos desta casa, com marcas próprias, o “Brites Aguiar “e o “Bafarela”.

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António Domingos – Foto Cedida por Brites Aguiar | Todos os Direitos Reservados

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O Douro – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Sendo uma empresa familiar, é o irmão António Domingos (Tomi para os mais chegados) que abandona a ideia de ir para medicina e, há mais de 30 anos, se dedica por inteiro à terra e segue as pisadas do seu avô materno. Entre 1986 e 2004 reconverteu totalmente as vinhas para que pudessem ser tratadas mecanicamente. Fez a primeira vindima em 2003 e a partir de 2004 passou a trabalhar com a 2PR de António Rosas e Pedro Sequeira, o que se revelou acertado, pois têm tido bastante sucesso. Então, em 2004, aparece o primeiro Brites Aguiar e o primeiro vinho com 17%. Mas só a partir de 2008 é que surge o Grande Reserva Bafarela, com uma base de Touriga Franca e Touriga Nacional e uma ajuda de Tinta Roriz. Para o seu estágio são usadas barricas de 500 litros, de que se fazem três utilizações. Recentemente decidiram fazer uma prova vertical dos Grande Reserva Bafarela, que nunca tinha sido feita. E foi no ambiente do Douro que esta prova foi efectuada, com a presença do Tomi e mulher, e dos enólogos António Rosas e Pedro Sequeira.

O local escolhido, o D.O.C., não podia ser mais adequado, literalmente em cima do rio, com aquela paisagem arrebatadora, que enche os olhos, que nunca cansa. Os vinhos abertos atempadamente e à temperatura recomendada, apresentaram todos uma cor vermelha carregada, intensa mas elegante.

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O perfil dos vinhos – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

E têm um perfil comum, são elegantes mas consistentes com deliciosas notas químicas que lhes dão alguma rusticidade.

Iniciou-se a prova com o Grande Reserva Bafarela 2008, que apresenta 14,5% de álcool. Nariz com notas ligeiras de evolução, algumas especiarias e laivos de fruta vermelha. Na boca apresenta uma boa acidez, é elegante e tem estrutura simples mas consistente. Nota-se a idade, mas bebe-se muito bem.

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Grande Reserva Bafarela 2008 – Foto Cedida por Brites Aguiar | Todos os Direitos Reservados

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Grande Reserva Bafarela 2009 – Foto Cedida por Brites Aguiar | Todos os Direitos Reservados

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Grande Reserva Bafarela 2010 – Foto Cedida por Brites Aguiar | Todos os Direitos Reservados

O Grande Reserva Bafarela 2009, também com 14,5%, é aveludado, cheio de elegância, com notas de plantas silvestres, esteva, muito fresco. Na boca tem volume, é fresco e tem óptima acidez, muito persistente. Apresenta notas de especiarias, os taninos bem presentes, secos e uma óptima complexidade. Um vinho sério.

Seguiu-se o Grande Reserva Bafarela 2010, ainda com 14,5%, muito suave, fino, boa fruta madura, muito elegante. Na boca é fresco, intenso, os taninos bem ligados, bela acidez, frutos vermelhos bem presentes, complexo e muito longo, já se bebe muito bem.

O Grande Reserva Bafarela 2011, com 15% de álcool, é muito suave, elegante, tem muita fruta e alguma frescura. Na boca apresenta o mesmo perfil, uma óptima acidez, fruta bastante madura, frescura, algumas especiarias e final muito longo. Não parece do ano que é.

Veio então o Grande Reserva Bafarela 2012, com 14% de ácool, um belo perfil aromático, algum floral, muito fresco. Notas suaves de especiarias, volumoso, boa presença de fruta madura, taninos intensos e belo final. Um ano que continua a surpreender, com belos vinhos como este.

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Grande Reserva Bafarela 2011 – Foto Cedida por Brites Aguiar | Todos os Direitos Reservados

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Grande Reserva Bafarela 2012 – Foto Cedida por Brites Aguiar | Todos os Direitos Reservados

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Grande Reserva Bafarela 2013 – Foto Cedida por Brites Aguiar | Todos os Direitos Reservados

Terminou-se com o Grande Reserva Bafarela 2013, o mais recente, com 14,5% de álcool. Muito elegante, sedoso, fruta bem madura, intenso, fragrâncias de plantas do monte. Na boca apresenta-se bem frutado, fresco, acidez bem ligada com os taninos, óptima estrutura, um vinho ainda jovem, a evoluir, só lhe vai fazer bem mais algum tempo de garrafa.

Seguiu-se o almoço, naquele ambiente tão acolhedor.

Depois dum aperitivo do chefe começou-se pelo excelente ravioli de sapateira com aipo e cogumelos, um prato muito fresco que foi muito bem acompanhado pelo novíssimo Bafarela Rosé 2015, cheio de frescura, seco, muito bom. É pena haver poucas garrafas!

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Ravioli – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Porco Bísaro – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Depois deliciamo-nos com as bochechas de porco bísaro com cevadinha francesa, cremoso, bem ligado, mesmo muito bom. A harmonização foi com o Bafarela Colheita 2014, jovem mas intenso, deu boa réplica à carne de porco.

Passamos então para o cordeiro de leite com tupinambo e jus de trufa, requintado, aromático, a carne muito tenra e saborosa, na companhia do Bafarela Grande Reserva 2013, que já tínhamos provado e que esteve à altura do prato.

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Cordeiro – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Sobremesa – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Com este mesmo vinho fomos para a sobremesa, de queijos e frutos vermelhos.

Que bem que se esteve no Douro, com a família Bafarela…

Vinhos Pouca Roupa 2015

Texto João Barbosa

O Sol já aquece e a minha vontade de me atirar para dentro do mar é tal… bem! Como escrever isto sem parecer que apanhei demasiado calor na cabeça?… Os três vinhos chamam-se Pouca Roupa… a marca mais pop dos vinhos portugueses!

Mal os recebi para prova não consegui controlar o cérebro, que se pôs a cantar «Pop muzik», o sucesso de 1979 de M, a banda britânica de disco sound e pop new wave. Não foi por acaso! Por esse ano passava um anúncio na televisão, animado pelo tema, em que uma moça ia abrindo sucessivamente calças que tinha vestidas, pareciam não acabar… Pouca Roupa!

Para esta associação ser entendida não é preciso chamar Sigmund Freud. Porém, o espírito frenético de liberdade e fruição da disco sound toma conta facilmente do ânimo. Dei por mim como disc jockey mental e a passar para Patrick Hernandez, com o «Born to be alive».

Não vou continuar a enumerar os sucessos que cantei enquanto escrevi este texto. Posso dizer é que é impossível parar um Verão decidido! Exijo noites de dança na praia!

Nem sempre a marca se adequa ao produto, seja por incompetência ou artimanha. Mas não é o caso. Os vinhos Pouca Roupa querem o Verão – já o dissera há cerca de um ano e repito. São três, cada qual com uma cor.

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Pouca Roupa branco 2015 – Foto Cedida por João Portugal Ramos | Todos os Direitos Reservados

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Pouca Roupa rosé 2015 – Foto Cedida por João Portugal Ramos | Todos os Direitos Reservados

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Pouca Roupa tinto 2015 – Foto Cedida por João Portugal Ramos | Todos os Direitos Reservados

O Pouca Roupa Branco 2015 está fresquinho como um pinguim… e vai guloso e amigável, com 12,5 graus de álcool. Fez-se com uvas sauvignon blanc, verdelho e viosinho. É um tiro directo à diversão e vai bem com comida, conversa ou dança.

O Pouca Roupa Rosé 2015 é malandro. O lote de aragonês, cabernet sauvignon e touriga nacional engana a índole. Não fosse ser comedido no álcool, 12,5%, e seria um caso grave. É guloso e boa companhia para a conversa e para a festa.

O Pouca Roupa Tinto 2015 obriga a maior cuidado, pois a graduação alcoólica sobe para os 14 graus. É um lote de alfrocheiro, alicante bouschet e touriga nacional. Este precisa de comida no prato.

Três alentejanos irrequietos. Pop! Pop! Pop muzik! Pop! Pop! Pop muzik!

Vinhos Dona Berta, o perdurar de uma vontade

Texto João Pedro de Carvalho

Num pulo até ao Douro Superior, a Freixo do Numão, onde está sediada a adega dos vinhos Dona Berta. Durante anos a imagem de marca deste vinho foi o seu carismático produtor que recordo com saudade, o Engº Hernâni Verdelho. Foi com ele que conheci pela primeira vez a casta Rabigato, da qual era acérrimo defensor, e fiquei a conhecer os seus vinhos cheios de carácter, quer tintos quer brancos. As conversas duravam horas, sempre bem-disposto e com um carisma que conseguia transmitir como poucos para os seus vinhos. Era interessante notar que a raça e o toque por vezes até mais rústico que por vezes teimavam em mostrar de início, parecia que se vergava, qual vénia, aos pés do Engº Verdelho. Retomando as provas e o contacto com as novas colheitas, os vinhos sentem a falta do seu criador embora as linhas que os definem estejam presentes. Foram os herdeiros que deram continuidade ao projecto, fizeram perdurar o sonho de um homem, que de resto continua a ser alimentado pela fantástica mancha de vinhedo velho de onde nascem as variadas referências da adega. São vinhos que precisam de tempo em garrafa, cujo carácter bem vincado muda consoante o ano de colheita. É essa maneira de ser que procuro e gosto num vinho, que nos transmita a forma de estar durante um ano, que não seja igual ano após ano como se de um produto feito em série se tratasse. Estes que agora falo são vinhos com potencial de envelhecimento, que foram sabiamente educados e preparados para a vida pelo enólogo e professor Virgílio Loureiro. Desta forma não se estranhe que passados dez anos, quer tintos quer brancos, se mostrem com uma invejável saúde.

Uma prova com dois momentos, o primeiro com o vinho Dona Berta Vinhas Velhas Reserva branco 2015 a mostrar um 100% Rabigato cheio de frescura com a raça que lhe é conhecida. O vinho abandonou os aromas intensos e mais frutados que de certa maneira faziam adivinhar a casta no imediato, para agora mostrar-se mais tenso e mineral. Muito boa a frescura com a fruta bem coesa e presente, sem exageros que nunca aqui fizeram a festa. Tenso e com nervo na boca, boa secura no fundo de corpo bem estruturado, tem tudo para evoluir favoravelmente na passada do tempo. Por agora pede pratos de peixe/marisco com bom tempero até porque a estrutura que mostra ter, dá-lhe essa capacidade de embate. Peixe grelhado no carvão fará uma bela companhia.

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Dona Berta Vinhas Velhas Reserva branco 2015 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Dona Berta Reserva tinto 2012 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

O segundo momento coube ao Dona Berta Reserva tinto 2012, onde mais uma vez o tinto leva o seu tempo a entrar para o mercado. Muito carácter num vinho com raça e cheio de energia, muita fruta (bagas e frutos silvestres) mas também uma ligeira austeridade quer a nível de aroma como faz intensão de o confirmar no palato. Tudo muito compacto e bem coeso, apertado de tal forma que só com tempo é que se vão poder descortinar melhor os aromas. Por enquanto é um tinto cheio de vida e energia, capaz de fazer um brilharete com um bife de novilho no carvão com molho alioli.

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Esporão – Monte Velho Tinto 2015 e Quinta dos Murças Reserva 2011

Texto João Barbosa

As regiões do Alentejo e do Douro são duas das mais reconhecidas regiões vitivinícolas portuguesas. Mais do que olhar para os números das vendas, que podem esconder argumentos acerca das preferências, a viva voz diz muito acerca das razões das escolhas.

São duas regiões onde se produzem vinhos fáceis de agradar, não motivando isso qualquer motivo de censura… sim, como em quase tudo, há defensores de que só as coisas difíceis, angulosas, complicadas ou excêntricas é que são boas. Portanto, para mim, a facilidade de agrado não é sinónimo de falta de qualidade nem incompatível do prazer.

Porque as empresas existem para dar lucro, naturalmente várias firmas produzem nestas duas regiões ou, pelo menos, comercializam com marca própria vinho que adquirem numa delas. O Esporão é das companhias que avançou das planícies para as montanhas.

O Esporão é um projecto de antecipação, em que Joaquim Bandeira percebeu o potencial da região, à época, muito centrada na produção cerealífera e corticeira. José Roquette compreendeu a visão e alinhou.

A fundação aconteceu em 1972 e o empreendimento acabaria adiado devido à Reforma Agrária, de inspiração marxista, que decorreu após a Revolução do 25 de Abril de 1974. Passado o período revolucionário e a entrada na então Comunidade Económica Europeia (1986), veio a acalmação que permite à economia decorrer sem sobressaltos.

A Herdade do Esporão, em Reguengos de Monsaraz, foi restituída em 1979. A adega só ficou pronta em 1985, ano em que foi lançado o primeiro vinho, cujo rótulo apresenta uma pintura de João Hogan.

Desde esse primeiro vinho que a firma ilustra cada colheita com obras artísticas. O princípio tem sido seguido desde a primeira edição da Quinta dos Murtas, situada no Douro, em que a fotografia é a arte escolhida.

A arte não é a única excentricidade do Esporão. A firma adoptou uma política de agricultura sustentável, com recuperação de cursos de água, solos, flora e fauna – o que tem permitido também poupar em fitofármacos.

Outra loucura foi a nova adega, construída no sistema tradicional de taipa, que permite a climatização do edifício sem ter de recorrer a exigentes e dispendiosos aparelhos de refrigeração.

Outra bizarria é o respeito pelo património histórico, com a preservação duma torre medieval, um arco e uma ermida renascentistas, e a escavação de uma vasta área arqueológica, com vestígios de até há 3.000 anos Antes de Cristo.

Estas maluquices – sinónimos que quis sem aspas para que vincassem mais – chamam-se respeito e inteligência. Respeito pela natureza e pela sabedoria ancestral e inteligência porque se traduzem em economia de custos.

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Monte Velho Tinto 2015 – Foto Cedida por Esporão | Todos os Direitos Reservados

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Quinta dos Murças Reserva 2011 – Foto Cedida por Esporão | Todos os Direitos Reservados

Apresentada que está a empresa do Esporão, avanço para os dois vinhos que justificam este texto. O Monte Velho Tinto 2015 (Regional Alentejano) e o Quinta dos Murças Reserva 2011 (Douro).

O Monte Velho Tinto 2015 assinala o 25º aniversário da marca e o rótulo está ilustrado com um padrão das mantas tradicionais alentejanas. Este vinho fez-se com uvas de aragonês, trincadeira, touriga nacional e syrah.

É um vinho para ser bebido descontraidamente. Não é um grande vinho, um néctar para ocasiões especiais. Pode classificar-se como aposta segura, pois vindima após vindima mantém-se num patamar de qualidade regular.

O Quinta dos Murças Reserva 2011 é mais exigente. Trata-se de um lote de tinta roriz, tinta amarela, tinta barroca, touriga nacional, touriga franca, sousão e mais algumas, que o produtor não refere especificamente. Uvas de vinhas com mais de 40 anos. A fruta foi esmagada a pé em lagares de granito e numa prensa vertical. Estagiou um ano em barricas de carvalhos francês e americano.

É um néctar que mostra o Douro e quer comida de se comer vagarosamente. É filho de 2011, ano de excelência no país e naquela região. Que se beba antes que venham as noites tremendas de calor de Verão ou que se espere por tempos mais frescos.

Contactos
Herdade do Esporão
Apartado 31,
7200-999
Reguengos de Monsaraz, Évora – Alentejo
Tel: (+351) 266 509 280
Fax: 351 266 519 753
Email: reservas@esporao.com
Website: www.esporao.com

Monte da Ravasqueira apresenta colecção de Verão e também…

Texto João Barbosa

Regressar à Ravasqueira é um prazer. A propriedade é bonita, é imponente e está bem arranjada. Volvi nesta Primavera e vi, pela primeira vez, a colecção de carros de atrelagem, todos em estado impecável, sendo o mais antigo do século XVIII.

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A colecção de carros de atrelagem – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

O vinho foi novamente a razão desta visitação. A oferta é já grande. Desta vez conheci novidades e fui apresentado a novas edições dalgumas referências, como o Monte da Ravasqueira Vinha das Romãs. Uma vez que o Verão está à porta, vem agora o pretexto de contar das sugestões desta firma de Arraiolos.

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Monte da Ravasqueira Vinha das Romãs – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

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Monte da Ravasqueira Syrah + Viognier 2015 – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

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Monte da Ravasqueira Viognier 2013 – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

A casta syrah e o Alentejo têm uma relação de amor longa e feliz. O mesmo acontece com a vignier. O Monte da Ravasqueira Syrah + Vignier 2015 fez-se com as uvas misturadas na fermentação, à moda das Côtes du Rhône. O Monte da Ravasqueira Viognier 2013 está na forma de pecado. Confirmada a paixão mútua entre a terra e estas uvas.

Quanto ao estio, esta casa apresenta dois brancos e um rosado, todos referentes ao ano de 2015. Todos estão a exigir areia e água salgada, sombra e piscina, convívio e grelhados.

O Monte da Ravasqueira Sauvignon Blanc 2015 é fresco e o carácter cítrico tempera a tropicalidade da casta. Está-se bem e é óptimo para as conversas das tardes sem fim.

O Monte da Ravasqueira Branco 2015 é mais complexo e mais interessante. O enólogo Pedro Pereira Gonçalves criou um baile de alvarinho, arinto, semillon e viognier. As castas completam-se, não se atropelam. Bebe-se bem a solo, mas o ideal é dar-lhe comida.

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Monte da Ravasqueira Sauvignon Blanc 2015 – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

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Monte da Ravasqueira branco 2015 – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

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Monte da Ravasqueira Rosé 2015 – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

Mas o que me encantou mais foi o Monte da Ravasqueira Rosé 2015, filho de uvas aragonês e syrah. Este quer festa! Conversa, comida e saltos para a piscina.

Disse descobertas? Sim, disse. São elas touriga franca e sangiovese.

Touriga franca no Alentejo? Sangiovese no Alentejo? É verdade. A adaptabilidade da primeira fora do Douro é uma raridade. Pelo menos, um resultado francamente positivo. A segunda é uma raridade em Portugal. Porém…

Porém, no Monte da Ravasqueira, em Arraiolos, as duas variedades estão cultivadas e já deram uvas para vinho, ambos datados de 2012. À mesa do almoço, Pedro de Mello e Filipe de Mello perguntaram por desejos. Feitos os pedidos, vieram as garrafas.

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Monte da Ravasqueira SG 2012 – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

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Monte da Ravasqueira TF 2012 – Foto Cedida por Monte da Ravasqueira | Todos os Direitos Reservados

O Monte da Ravasqueira SG 2012 está belíssimo. Belo está também o Monte da Ravasqueira TF 2012. Palavra-puxa-palavra, aproveitámos a ausência do enólogo para brincarmos a aprendizes de feiticeiro. A olho se fez um lote com 70% de sangiovese e 30% de touriga franca. Penso que somar 5% à italiana e retirar à portuguesa ficará melhor.

Contudo, o meu negócio não é a enologia… Deixo um apelo pungente: Pedro Pereira Gonçalves pensa nisto! Faz 1.000 garrafas e compro-as todas! Já que referi… nunca é demais ouvir «O Aprendiz de Feiticeiro», poema sinfónico de Paul Dukas inspirado numa obra de Johann von Goethe. E já agora, ver ou rever também «Fantasia», o filme de animação que a Disney fez, em 1940, baseado na obra deste compositor francês do século XIX, em que o Rato Mickey desempenha o papel do jovem desobediente.

Contactos
Monte da Ravasqueira
7040-121 Arraiolos
Tel: (+351) 266 490 200
Fax: (+351) 266 490 219
E-mail: ravasqueira@ravasqueira.com
Website: www.ravasqueira.com

Quinta da Gândara

Texto João Pedro de Carvalho

Da Sociedade Agrícola de Mortágua, sai este branco produzido na Quinta da Gândara, fundada em 1756. Dos solos graníticos por entre as serras do Caramulo e Bussaco nascem as uvas que dão origem aos dois vinhos agora provados, um branco a partir da casta Encruzado e um tinto de Touriga Nacional. À falta de informação mais detalhada e apurada, apenas de registar que ficam inseridos no “plantel” do produtor Caves da Montanha (Bairrada). Vinhos inseridos num perfil que não vira costas à região, notamos, porém, que tudo se faz notar com um cunho mais modernista e à imagem dos nossos dias.

Não que isso seja mau sinal, apenas sinais de que a região tem de sabido evoluir e recolocar-se face às exigências do mercado e nos novos consumidores. Sinal disto são os vinhos de cunho mais moderno, mais prontos a beber e de taninos mais afinados onde o estágio e a vida em garrafa é muitas vezes deixada de lado. Somos por isso mesmo confrontados com o prazer imediato e ficamos a perder aquele potencial de guarda que tanta fama deu a regiões como é o caso do Dão. Resta saber se este é o caminho a seguir ou se foi apenas um atalho que se escolheu na procura do sucesso precoce. Ora num registo mais actual e moderno, mas como já foi dito, onde a região se faz notar no perfil, ambos ostentam a designação Reserva, a passagem por madeira foi em madeira nova de carvalho Francês e teve a duração de sete meses para o Branco e dez meses para o Tinto.

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Quinta da Gândara Touriga Nacional Reserva 2011 & Quinta da Gândara Reserva Encruzado 2013 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Enquanto o Quinta da Gândara Reserva Encruzado 2013 se mostra de aroma rico, amplo com clara presença da madeira embrenhada na fruta madura com algum fruto seco a apontar numa nota de evolução precoce. No restante conjunto mostra-se fresco, médio porte, com fundo de recorte mineral a lembrar pederneira, baunilha, num perfil de peso médio com boa dose de frescura. Na boca conjuga a fruta madura com notas de tarte de limão, amplo e com secura final.

Já o Quinta da Gândara Reserva Touriga Nacional 2011 é o oposto do branco, um vinho cujos aromas remetem no imediato para o Dão. Num conjunto de boa frescura a mostrar uma Touriga Nacional fresca e madura, floral, casca de laranja com ligeira ponta de austeridade e exuberância. Tudo embalado num tom guloso com notas de cacau, especiarias, geleia de frutos do bosque, embrulhado em frescura com boca coesa, muita energia com austeridade de fundo, carnudo e cheio de sabor.

Quinta do Gradil

Texto João Barbosa

As crianças escrevem, em Dezembro, ao Pai Natal a contar como se portaram bem durante o ano e pedem presentes. Já não tenho idade para isso! Hoje escrevo ao Verão para que possa ter uns dias tranquilos com Sol, durante o período da sua governação.

Em vez de brinquedos, peço para ter vinhos que me contentem enquanto me convenço que o Verão será eterno e que ainda consigo atravessar a nado a Baía de Sesimbra. Conto aqui alguns vinhos da Quinta do Gradil que levo na sacola.

Quinta do Gradil situa-se no Cadaval, na região vitivinícola de Lisboa. A propriedade é muito antiga e teve vários proprietários ilustres, como o primeiro Marquês de Pombal. No total são 123 hectares de vinha e hoje é o berço de vários vinhos.

A enologia está a cargo de António Ventura e Vera Moreira. Já várias vezes me manifestei admirador deste enólogo, que talvez seja quem mais litros de vinho faz em Portugal. Aqui impressiona-me a forma como as castas se diferenciam e mantém a identidade… quantas e quantas vezes não encontramos vinhos iguais de castas diferentes? Por isso, aqui acrescem vantagens didácticas, características que ajudam a compreender as variedades das uvas.

António Ventura cumpriu 32 anos de trabalho na Quinta do Gradil. Conta que 2015 foi um bom ano para tintos nesta propriedade.

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Mula Velha Rosé 2015 and Mula Velha Reserva Branco 2015 – Foto Cedida por Quinta do Gradil | Todos os Direitos Reservados

O Mula Velha Rosé 2015 é perigoso! No bom sentido. Fez-se com uvas castelão e tinta roriz e tem uma acidez que o recomenda para pratos leves de Verão. Quanto a mim, penso que resulta melhor a acompanhar as conversas despreocupadas das férias…

O Mula Velha Reserva Branco 2015 fez-se com uvas arinto e fernão pires, com um pouco de chardonnay. Este é bom amigo das comidas estivais.

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Quinta do Gradil Viosinho 2015 – Foto Cedida por Quinta do Gradil | Todos os Direitos Reservados

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Quinta do Gradil Sauvignon Blanc e Arinto 2015 – Foto Cedida por Quinta do Gradil | Todos os Direitos Reservados

O Quinta do Gradil Viosinho 2015 é Verão engarrafado. Muito fresco, junta características minerais e tropicais. Tem a «graça» de ser feito com uma casta improvável. Não há histórico desta cultivar duriense descer tanto no país. É um vinho para conversar e mariscar.

O Quinta do Gradil Sauvignon Blanc e Arinto 2015 é já quase um clássico. Sabe-se que estas duas castas funcionam bem juntas e esta casa produtora cedo acertou na fórmula. Tal como o anterior, é um vinho para conversar e mariscar.

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Quinta do Gradil Chardonnay 2015 – Foto Cedida por Quinta do Gradil | Todos os Direitos Reservados

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Quinta do Gradil Rosé Syrah e Touriga Nacional 2015 – Foto Cedida por Quinta do Gradil | Todos os Direitos Reservados

O Quinta do Gradil Chardonnay 2015… epá! Soube-me mesmo bem. É untuoso e complexo, com estrutura, nada pesado ou enjoativo. Teimo em gostar dos vinhos desta propriedade para ficar à conversa. Este gosta de estar à mesa e irá bem com carne de aves.

O Quinta do Gradil Rosé Syrah e Touriga Nacional 2015 é para… mesa e converseta. Belo.

Contacts
Estrada Nacional 115 Vilar
2550 – 073 Vilar | Cadaval
Portugal
Tel: (+351) 262 770 000
Fax: (+351) 262 777 007
Mobile: +351 917 791 974
E-mail: info@quintadogradil.pt
Website: www.quintadogradil.wine

Covela e Quinta da Boavista – Novos vinhos

Texto José Silva

A compra da Quinta da Boavista, em 2013, foi o segundo grande investimento de Marcelo Lima e Tony Smith no mundo dos vinhos em Portugal. Agora foi tempo de apresentar os seus primeiros vinhos do Douro.

Aconteceu no “Yeatman” e foi uma prova comentada pelos responsáveis da viticultura e da enologia da empresa: o Gonçalo Lopes, o Rui Cunha e o consultor francês Jean Claude Berrouet, com mais de 50 anos de experiência a produzir grandes vinhos no mundo, acompanhado pelo seu filho Jeff Berrouet. Esta junção entre portugueses e franceses revelou-se muito acertada, pois há como que uma complementaridade de opiniões e de experiências. A Quinta da Boavista tem uma história notável ligada ao vinho do Porto e foi local de refúgio do Barão de Forrester, que ali viveu algum tempo.

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Patamares Quinta da Boavista – Foto Cedida por Lima Smith, Lda | Todos os Direitos Reservados

Com patamares muito altos, as vinhas são muito velhas e de acesso muito difícil, sendo ainda trabalhadas com recurso a machos e mulas, como se faz há centenas de anos. Um “terroir” incrível, que dá a tipicidade que tanto apreciamos nos tintos durienses, associado ás castas mais tradicionais da região: touriga nacional, touriga franca, tinta roriz, sousão, tinto cão, tinta barroca e alicante bouschet, a colocar estes vinhos tintos num patamar muito elevado. Berrouet diz que o vinho é um produto mágico, delicado, que transmite a história duma região e que a sua missão é transmitir-nos prazer quando o bebemos. É o que pretendem com os vinhos que ali estão a ser produzidos, transmitir as sensações que nos levem a interpretar aquele região e em particular aquela quinta. Todos os anos vão engarrafar um vinho de uma casta só.

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Boavista Touriga Nacional 2013 – Foto Cedida por Lima Smith, Lda | Todos os Direitos Reservados

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Boavista Reserva 2013 – Foto Cedida por Lima Smith, Lda | Todos os Direitos Reservados

Nesta primeira colheita, foi o Boavista Touriga Nacional 2013, um vinho cheio de elegância, souplesse, com personalidade e uma grande expressão aromática. Ao mesmo tempo é sóbrio, com estrutura, muito fresco e com óptima acidez, vai ser interessante acompanhar a sua evolução. Foram engarrafadas 2.000 garrafas que vão custar em prateleira cerca de 22€.

O vinho de combate vai ser certamente o Boavista Reserva 2013, um Douro típico no copo, um lote cheio de elegância, intenso, bom volume, com tudo no sítio. Bela acidez, levemente seco, guloso, um vinho gastronómico ainda jovem mas que promete, e de que foram engarrafadas 5.000 garrafas que vão custar cerca de 40€. Depois foram feitos dois vinhos extraordinários, de duas vinhas muito velhas, quase filigranas, a Vinha do Oratório e a Vinha do Ujo.

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Quinta da Boavista Vinha do Oratório – Foto Cedida por Lima Smith, Lda | Todos os Direitos Reservados

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Quinta da Boavista Vinha do Ujo 2013 – Foto Cedida por Lima Smith, Lda | Todos os Direitos Reservados

O Quinta da Boavista Vinha do Oratório 2013 é feito de uvas desta vinha que data dos anos 30 do século passado, plantada entre os 70 e os 160 metros de altitude com várias exposições solares. Apresenta muita complexidade, elegância, muita fruta madura, acidez concentrada e frescura, é intenso, ainda a evoluir, de que se engarrafaram menos de 1.000 garrafas, que vão custar cerca de 100€.

Finalmente outro vinho fantástico, o Quinta da Boavista Vinha do Ujo 2013, esta vinha plantada entre os 150 e os 200 metros, a proporcionar um vinho sedoso mas autoritário, sempre elegante e com alguma fruta no nariz. Belo volume de boca, óptima acidez, grande estrutura, sempre com muita elegância, fruta muito madura, longo e com imenso final. Um vinho de meditação, de que também só há cerca de 1.000 garrafas a menos de 100€ cada. Vinhos que nos transmitem o que é o terroir da Quinta da Boavista e que, como disse Jean Claude Berrouet, se resume a quatro palavras: os solos, o clima, as plantas e o homem.

 

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Amuse Bouche – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Espuma – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Para apreciar os vinhos foi servido um jantar no “Yeatman” que teve um amuse bouche composto por quatro petiscos, depois um conjunto de crustáceos e sua espuma com caril e rebentos de cacau.

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John Dory – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Carne Marinhoa – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Seguiu-se o John Dory, um conjunto de sabores do mar, entre os quais percebes e polvo, com salicórnia. E finalmente a carne Marinhoa, grelhada, na companhia de creme de batata e especiarias.

Para sobremesa o creme de ruibarbo, com lima kafir, merengue de ruibarbo e gelado de queijo mascarpone. Um belo combate entre vinhos e pratos bem elaborados.

O dia seguinte…

No dia seguinte fomos convocados para o restaurante/marisqueira “Gaveto”, em Matosinhos. Apresentar as novas colheitas dos vinhos da Covela ao balcão duma marisqueira?! É verdade, foi mesmo assim.

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Rui Cunha – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Gonçalo Lopes and Vítor Mendes – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Foi diferente e foi divertido. E dentro do balcão, quais empregados de luxo, estiveram o Gonçalo Lopes, o Vítor Mendes e o Rui Cunha, liderados pelo Tony Smith, nem mais. Porque os vinhos também devem ser servidos com humor. O primeiro foi o Covela Rosé 2015, feito só de Touriga Nacional, mantém o perfil aromático, a extraordinária acidez, a elegância e o requinte.

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Covela Rosé – Foto Cedida por Lima Smith, Lda | Todos os Direitos Reservados

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Covela Avesso – Foto Cedida por Lima Smith, Lda | Todos os Direitos Reservados

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Covela Arinto – Foto Cedida por Lima Smith, Lda | Todos os Direitos Reservados

É fresco e seco, um rosé gastronómico. O Avesso de 2015 é extraordinariamente fresco, aveludado no nariz, algo exótico. Na boca mantém-se a frescura a que se junta uma acidez vibrante, incrível, o que faz dele um vinho guloso. O Covela Arinto 2015 tem a frescura da casta bem evidente, é persistente, muito elegante, tem alguma mineralidade, intenso, saboroso, com bom volume, um vinho íntegro.

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Barnacles – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Zamburinhas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

As zamburinhas, na chapa, estavam soberbas, cheias de ovas. Veio então o Covela Escolha de 2014, com Avesso e Chardonnay, com requinte e elegância no nariz, sedoso, exótico, complexo.

Grande frescura e muita acidez a dar-lhe equilíbrio, um vinho especial, que fez óptima companhia ao soberbo arroz de lavagante, que é uma tradição deste “Gaveto”. Queijo da serra e pão-de-ló de Ovar fecharam as hostilidades, na companhia dum tinto da Covela de 2007 muito especial, já uma raridade. Com o café, ou com mais queijo e pão-de-ló, vieram duas aguardentes bagaceiras da Covela muito saborosas. Uma, feita a partir só de castas brancas, é mais aromática, mais floral e tem 40% de álcool. A outra, preparada a partir de castas tintas, é mais poderosa, mais encorpada e tem 50% de teor alcoólico. Potentes!!

Ao balcão do “Gaveto”, a conversa continuava animada…

Quinta de Foz de Arouce e Buçaco – Duas batalhas e dois vinhos

Texto João Barbosa

Há bastante tempo que tenho esta crónica prometida a mim mesmo. Por lhe faltar uma data que lhe dê emergência, foi ficando e chegou o momento em que se tornou urgente. O assunto respeita a dois vinhos icónicos, provenientes de locais «improvável» e «impossível».

Um fez-se com uva de um local absolutamente mágico, que não fica em lado nenhum. Foz de Arouce não tem o direito ao uso de qualquer denominação de origem controlada. Coisas parvas dos portugueses, que são capazes de aceitar a unificação de locais numa só região, apesar de nada os aparentarem e de nem ficarem contíguos…

Se fosse em França, referência incontornável no reconhecimento de qualidade e diferenciação, Foz de Arouce teria o estatuto das microrregiões da Borgonha. Seria provavelmente um «monopólio». Porém, o Rio Arouce situa-se em Portugal, tal como o Ceira, que o recebe.

Já o outro vinho remete para um local concreto, mas que não é sítio de vinho. O Bussaco (com dois «S») é lindo e tem um dos hotéis mais bonitos e históricos de Portugal. Contudo, as uvas que fazem os seus vinhos são provenientes da Bairrada e do Dão. Ora, isto faz com que um mais um seja igual a zero – sem direito ao uso de denominação de origem controlada.

Apesar de se fazer com uvas baga, provenientes da Bairrada, e touriga nacional, oriundas do Dão, os Buçaco (com «Ç» para que não conflitue com os ditames burocráticos) são vinhos a que se pode dizer que espelham o seu território, porque as vinhas têm sido as mesmas ao longo dos anos. É como se viessem duma só quinta, dividida por duas regiões demarcadas. Autenticidade e carisma não faltam.

Permitindo-me empurrar o conceito para fora do estabelecido, digo que Bussaco é um terroir de adega e garrafa. Vou assumir como verdadeira a localização geográfica do hotel. Tratam-se pois de dois lugares vínicos que estão numa dimensão de plasma – nem sólida nem líquida.

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Bussaco in wikimedia.org

Olhando para o mapa, Bussaco e Foz de Arouce não ficam longe, a apenas a 36 quilómetros. O caminho é bonito e a estrada exige atenção. O computador estabelece que a viagem entre os dois pontos dura 50 minutos. Contudo, demorei mais de uma hora quando visitei os dois lugares, em 2011.

Referi que os vinhos tintos do Buçaco são feitos com baga e touriga nacional. Pois, essa é a nova formação da vinha de Foz de Arouce. O enólogo e empresário vitivinícola João Portugal Ramos é genro dos Condes de Foz de Arouce e há poucos anos acrescentou a touriga nacional ao encepamento que era só de baga. O Quinta de Foz de Arouce Vinhas Velhas de Santa Maria mantém-se igual, enquanto o Quinta de Foz de Arouce é já resultado da junção das duas castas.

Já tenho aqui elogiado os vinhos de Foz de Arouce. O que hoje apresento é uma edição especial e comemorativa. Trata-se dum vinho de 2007 produzido para celebrar os 200 anos da Batalha de Foz de Arouce, em que se destacou um familiar do actual Conde.

A Batalha de Foz de Arouce não foi um momento de importância transcendente, no âmbito da Guerra Peninsular (III Invasão Francesa). Há mesmo quem a designe apenas por Combate de Foz de Arouce. Aconteceu a 15 de Março de 1811, quando o exército napoleónico se retirava, pressionado pelas forças anglo-portuguesas. À frente dos aliados estava Arthur Wellesley (futuro Duque de Wellington) e dos invasores encontrava-se Michel Ney.

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Arthur Wellesley by George Dawe

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Andrè Massèna by Edme-Adolphe Fontaine

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Monument à 3ª Invasão Francesa in panoramio.com

Bussaco deu também o nome a um confronto da Guerra Peninsular, com maior importância. Aconteceu em 27 de Setembro de 1810 e à frente do lado anglo-luso esteve Arthur Wellesley e do francês o próprio comandante da III Invasão Francesa, Andrè Massèna.

Os aliados saíram vencedores em ambos os confrontos. Quanto aos vinhos, quem tiver oportunidade de os ter que não hesite. Enfrente-os e deixe-se conquistar. Vão vencer e os enófilos vão merece-los.

Noto que estou a evocar um vinho concreto e de um ano concreto e outro que nem referi o ano. Acrescento «todos» os Foz de Arouce e «todos» os Buçaco. E porquê? Porque são vinhos que merecem ser todos conhecidos, que mantém (obviamente que não bebi todas as colheitas, mas conheci muitas) as características identitárias físicas e a diferenciação dos anos. Néctares capazes de evoluir com o tempo e de viver longamente. A generalização é consciente e voluntária.

Sou avesso à enumeração de descritores que, quanto a mim, resumem o vinho a «coisa», porque se torna redutor. Os «pequenos vinhos» não surpreendem nas definições e os «grandes vinhos» ultrapassam essa contagem de características.

O Quinta de Foz de Arouce – Batalha de Foz de Arouce 200 anos (2007) tem o que se reconhece nos irmãos Quinta de Foz de Arouce e Quinta de Foz de Arouce Vinhas Velhas de Santa Maria. É mais do que as uvas, é «aquele lugar». Felizmente não é igual, pois não valeria a pena ter outro nome, seria apenas a diferença de rótulo. Bebi-o e continuaria por mais tempo se a garrafa não tivesse apenas 0,75 litro. Tem muitos anos pela frente.

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Quinta de Foz de Arouce Batalha de Foz de Arouce 200 years

Blend-All-About-Wine-Quinta de Foz de Arouce-Two wines-Buçaco L2004 Reservado

Buçaco L2004 Reservado

O Buçaco L2004 Reservado tem a grandeza que se espera. Grande em todos os aspectos, vivo e elegante e com muitos anos por diante. A garrafa tinha o mesmo problema que a anterior: apenas 0,75 litro.

Já agora explico a referência «L2004 Reservado»: por se tratar de vinho de mesa, a categoria supostamente mais baixa da escala, o Buçaco não podia trazer a indicação do ano. Porém, a designação do lote podia ser a que o produtor entendesse. Assim, os lotes destes néctares têm a mesma numeração do ano da vindima a que correspondem. A burocracia não é uma ciência exacta, muitas vezes é apenas estúpida. A inteligência vence. Porque é vinho de mesa não pode ser «reserva». Mas mais uma vez o burocrata foi fintado, a designação «reservado» não está contemplada nas objecções.

E assim se contou um pouquinho da História de Portugal.