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Henriques & Henriques

Texto João Pedro de Carvalho

Durante muitos anos a família Henriques foi a maior proprietária vinícola da ilha da Madeira, com as primeiras vinhas plantadas por ordem do Infante D. Henrique no ano de 1425. Daquela que foi uma tradição familiar passou a empresa fundada em 1850 pelas mãos de João Gonçalves Henriques. Após a sua morte em 1912, foi criada entre os seus dois filhos, Francisco Eduardo e João Joaquim Henriques, uma sociedade que deu origem ao nome Henriques & Henriques.

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Henriques & Henriques Wine Lodge & Shop © Blend All About Wine, Lda.

Em 1968, com a morte do último Henriques, João Joaquim Henriques, conhecido por “João de Belém”, que não tendo descendentes fez com que a empresa fosse herdada pelos seus três amigos e colaboradores: Alberto Nascimento Jardim, Peter Cossart (que fez 53 vindimas na companhia) e Carlos Nunes Pereira. Em Junho de 1992, é feito um avultado investimento na construção de novas instalações em Câmara de Lobos e um novo centro de vinificação na Quinta Grande, onde em 1995 se planta um novo vinhedo, 10 hectares, sendo dos poucos produtores de vinho da Madeira que possui vinhas próprias. Foi o filho de Peter Cossart, John Cossart, que deu seguimento à gestão da empresa mas que acabaria por falecer em 2008. Num passado recente a multinacional francesa La Martiniquaise (dona da Justino’s Madeira) tornou-se sócio maioritário da H&H, passando desta forma a controlar cerca de 70% da produção total do Vinho da Madeira, mantendo-se o Dr. Humberto Jardim como C.E.O.

Alguns dos mais antigos vinhos da Henriques & Henriques, fazem parte do lote dos primeiros grandes Madeira que tive a oportunidade de provar e que me despertaram o interesse pelo Vinho da Madeira, por curiosidade eram todos Boal como por exemplo o Old Wine Boal 1887, Solera Boal 1898 ou o Reserva Velhíssima W.S. Boal que faz parte de um quarteto de sonho cujas diminutas quantidades já não permitem que sejam colocados em prova.

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Barricas de “Canteiro” Henriques & Henriques © Blend All About Wine, Lda.

Após a visita tive oportunidade e provar vários vinhos, destaque rápido para o descomprometido Monte Seco Extra Dry 3 Anos, feito a partir da casta Tinta Negra, cheio de retoques a lembrar um Fino de Jerez sem aquele característico toque da “flor” e que nos sugere um vinho ideal para acompanhar entradas, com uma abordagem simples, directo e bastante seco. Outros vinhos da Henriques & Henriques já foram devidamente abordados no artigo anterior da Olga Cardoso.

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H&H Verdelho 20 Anos © Blend All About Wine, Lda.

H&H Verdelho 20 Anos
Os Madeira 20 Anos são recentes no mercado, têm a particularidade de as quantidades serem reduzidas e o lote ir variando, por isso alguns são mesmo edições exclusivas e irrepetíveis. Neste caso é um Verdelho, casta que tem a particularidade de conseguir manter durante muito tempo os seus aromas e sabores frutados, algo que se destaca e bem neste vinho de muito bom recorte. Frutos tropicais com maracujá bem fresco, ananás em calda, especiarias, madeira velha, laca, melado, complexo a mostrar harmonia entre concentração e frescura. Boca a condizer, acidez bem presente com sabor inicial a fruta, abrindo depois num conjunto untuoso e com boa concentração, algum fruto seco a complementar, final longo e persistente.

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H&H Century Malmsey Solera 1900 © Blend All About Wine, Lda.

H&H Century Malmsey Solera 1900

Um dos vinhos emblemáticos deste produtor, perde-se no tempo a idade da Solera que lhe deu origem, remonta certamente ao séc XIX e o resto são detalhes que apenas enriquecem e aguçam a vontade de o ter no copo e contemplar o precioso líquido. Um vinho que transborda na complexidade, madeira antiga das barricas, frutos secos, passas de figo com nozes, mel, nariz de aconchego pela sensação de untuosidade e ao mesmo tempo de frescura. Caixa de charutos, desdobra-se como que por finas camadas de aromas e sabores, boca de veludo marcada pela frescura, concentração e uma tremenda elegância. Há vinhos que não se esquecem e este é certamente um deles.

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H&H Verdelho Reserva Ribeiro Real N.V. © Blend All About Wine, Lda.

H&H Verdelho Reserva Ribeiro Real N.V.
Este vinho e o momento que envolveu a sua prova, são a essência do que é o mundo do Vinho da Madeira, algo único, arrebatador e direi mesmo impossível de acontecer em qualquer outra parte do mundo. Para tal basta ter em conta que a responsável pela prova em mais de 19 anos a trabalhar na H&H nunca tinha sequer provado o dito cujo tal a sua raridade. Perde-se no tempo o registo capaz de nos dizer com precisão a sua idade, embora tudo aponte para a metade do século 19. Proveniente de vinhas localizadas na zona conhecida pelo Ribeiro Real, os mais de cinquenta anos que passou em Canteiro tornaram-no concentrado, glicérico, deram-lhe um refinadíssimo e profundo bouquet, ao olhar é percetível aquela bonita coroa esverdeada. O resto é um monumento à casta Verdelho, engarrafado em 1957, com aroma da madeira velha onde morou, laca, toques de laranja/toranja cristalizada, iodo, muita frescura e elegância num conjunto profundo e misterioso. Boca em perfeita sintonia, meio seco, saboroso com a concentração a ser compensada pelo arrasto mineral acompanhado por uma acidez que revitaliza o palato, repete o toque de toranja bem no final da boca. Inesquecível.

Contactos
Sítio de Belém 9300-138
Câmara de Lobos
Madeira – Portugal
Tel.: (+351) 291 941 551/2
Fax.: (+351) 291 941 590
E-mail: HeH@henriquesehenriques.pt
Site: www.henriquesehenriques.pt

Justino’s Madeira Wine

Texto João Pedro de Carvalho

A tradição do vinho na Madeira é secular, tudo começou no século XV quando o Infante D. Henrique ali mandou plantar vinhas de Malvazia/Malmsey importada da Grécia. Passados mais de 500 anos o Vinho Madeira tornou-se um dos ícones do Mundo do Vinho, quer pela longevidade quer pela qualidade, marcando presença em acontecimentos tão marcantes como por exemplo a Declaração da Independência dos Estados Unidos a 4 de Julho de 1776.

Na recente viagem à Madeira uma das empresas visitados foi a “Justino´s, Madeira Wines, S.A.” criada em 1953 mas cujo fundador foi Justino Henrique Freitas em 1870 quando ainda era uma companhia familiar conhecida como Vinhos Justino Henriques (V.J.H.). Em 1981 Sigfredo da Costa Campos compra a empresa e amplia o seu valor com a compra do stock da Companhia Vinícola da Madeira. Associa-se em 1993 ao grupo Francês “La Martiniquaise” e em 1994 muda-se das instalações no centro do Funchal para o Parque Industrial de Cancela onde se encontra até hoje. Com a sua morte em 2008 a empresa, passou a ser detida na totalidade pelo grupo Francês.

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Alinhamento dos 10 Anos (Sercial, Verdelho, Boal, Malvazia*) © Blend All About Wine, Lda.

A prova, excelente por sinal, foi realizada nas atuais e modernas instalações onde me deixou alguma saudade aquela atmosfera tão característica das adegas mais antigas por onde a passagem do tempo deixou as suas marcas e histórias. Felizmente essa carga nostálgica passou de imediato com a excelência dos vinhos que me iam sendo servidos.

Antes do destaque daqueles que mais gostei, um pequeno apontamento sobre os Justino’s 10 Anos das castas mais conhecidas (Sercial, Verdelho, Boal, Malvazia), vinhos que nos oferecem uma intensidade e maturidade acima da média. E é muito provavelmente a partir de aqui que se começa a melhor entender o “Mundo Madeira” em vinhos cuja harmonia de conjunto se mistura num bouquet mais adulto e que já nos permite sonhar com os patamares mais altos.

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Justino’s Terrantez Old Reserve © Blend All About Wine, Lda.

Justino’s Terrantez Old Reserve
A Terrantez é uma casta rara e quase extinta, que envolve os vinhos a que dá origem com uma capa de mistério e fascínio. Estamos perante um vinho com mais de quarenta anos, alguns apontamentos tal como os toques esverdeados no rebordo indicam que pode ser bem mais velho que isso. Um vinho concentrado e profundo, notas de iodo, caril, laca, madeira de casco velho, frutos secos com bolo inglês, exótico e misterioso. Boca com entrada que envolve e forra o palato com travo untuoso de nozes e amêndoas, geleia de laranja, enorme elegância com aquela acidez que conquista num final muito longo e persistente.

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Justino’s Sercial 1940 © Blend All About Wine, Lda.

Justino’s Sercial 1940
Pela alta acidez que a casta transporta para os vinhos, é a que mais tempo necessita para se desenvolver e mostrar em garrafa. De todos o meu favorito com muitas notas de maresia, muita amêndoa salgada, laca, complexidade e elegância, mel com casca de laranja cristalizada ao mesmo tempo que debita uma frescura bem afiada a embalar toda a prova. Grande presença no palato com ligeira untuosidade de frutos secos salgados, iodo, raspas de citrinos, muita emoção e sabor, mais uma vez a acidez em destaque num vinho a todos os níveis inesquecível.

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Justino’s Verdelho 1954 © Blend All About Wine, Lda.

Justino’s Verdelho 1954
Um vinho que emana frescura e energia, complexidade a rodos num conjunto denso e até algo cerrado de início com aquele toque de limão muito maduro em geleia, chá verde, ramalhete de flores na companhia de nozes, muita vivacidade em conjunto pujante e seco. Boca em contraste com os aromas, cheio de sabor com notáveis apontamentos onde se destaca a secura que revitaliza o palato e convida a mais um trago, sempre com muito sabor e ligeiro toque de untuosidade num vinho que termina apimentado e com um enorme final.

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Justino’s Malmsey 1933 © Blend All About Wine, Lda.

Justino’s Malmsey 1933

Um grande vinho que mostra a razão pela qual não há vinhos comparáveis com os grandes Madeira, aqui a longevidade coabita com uma complexidade/frescura difícil de encontrar noutro local. Este é dos grandes, daqueles que conquista no imediato, sente-se por natureza da casta que é mais doce e “pesado” que os provados anteriormente. Grande complexidade com notas de caramelo de leite, passas de figo, laca, frutos secos, elegância entre conjunto e aquela acidez necessária que lhe dá enorme vida, café moído, caixa de charutos, especiarias, tudo muito bem pronunciado numa perfeita harmonia entre nariz e boca. Palato com passagem untuosa e fresca, com aquela pontinha doce no final que o torna pecaminoso.

Contactos
Parque Industrial da Cancela
9125-042 Caniço
Madeira
Tel: (+351) 291 934 257
Fax: (+351) 291 934 049
E-mail: justinos@justinosmadeira.com
Site: www.justinosmadeira.com

Casa da Passarella – Uma história escrita com vinho

Texto João Pedro de Carvalho

Nascida em 1908, a Região Demarcada do Dão é a região de vinhos tranquilos mais antiga de Portugal. Historicamente o berço de grandes vinhos, viu nascer duas décadas antes a Casa da Passarella, produtor emblemático por onde passaram nomes lendários da enologia portuguesa, como os saudosos Dr. Mário Pato e Eng. Alberto Vilhena, entre muitos outros. Atualmente a Casa da Passarella tem cerca de 100 hectares, dos quais 45 hectares são de vinha, divididos em sete parcelas distintas com características únicas e diferenciadoras quer pela diversidade de castas quer pelas diferentes exposições e solos. Desses apenas 4,4 hectares correspondem a vinhas velhas, às quais se juntam quatro parcelas centenárias exteriores à propriedade e de reduzida produção.

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Vinhas Velhas Casa da Passarella – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

O primeiro registo data de 1893 com a marca Villa Oliveira, pelo meio contou com períodos de maior e menor saudade, mas todo este novo renascer da Casa da Passarella deu-se recentemente com a colheita 2008. Hoje passados 6 anos já se pode falar de uma notável consistência dos vinhos deste “novo” produtor sendo altura ideal para tomar pulso aos novos lançamentos. Aos grandes nomes da enologia que passaram por esta Casa junta-se agora a assinatura do enólogo Paulo Nunes, grande comunicador tanto pela maneira apaixonada como explica os seus vinhos quer pela forma como guia de forma efetiva a identidade da vinha para dentro da garrafa.

Tendo boa matéria-prima e quem a saiba interpretar, o resultado só pode ser uma gama que assenta numa matriz muito bem delineada em pura simbiose com um traço identificativo dos fiéis exemplares da região do Dão, mais propriamente na sub-região da Serra da Estrela. Assistimos portanto a uma combinação entre modernidade com o procurar manter a tradição, o resultado são vinhos bastante apetecíveis. Na gama Casa da Passarella tudo começa com “A Descoberta”, os vinhos mais diretos onde a fruta ganha destaque pela maneira airosa e fresca com que se mostra, aos quais se junta o “Abanico” em modo tinto Reserva, o mais robusto e tenso da gama, com predomínio da Touriga Nacional num conjunto que mostra alguma austeridade e claramente feito para durar.

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“OEnólogo” | “OEnólogo” Vinhas Velhas tinto – Foto de João Pedro de Carvalho |Todos os Direitos Reservados

De seguida a gama “OEnólogo” onde o branco de 2013 com a juventude à flor da pele mostra a casta Encruzado num perfil ainda tenso e mineral. O tinto “OEnólogo” Vinhas Velhas com um conjunto demasiado tentador pela maneira como a fruta/frescura/madeira se combinam em grande harmonia num conjunto de puro prazer à mesa.
[Veja o nosso artigo sobre o ano anterior desta gama]

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Villa Oliveira Encruzado 2012 | Villa Oliveira Touriga Nacional 2010 – Foto de João Pedro de Carvalho |Todos os Direitos Reservados

É dessas vinhas velhas que saem os dois topos de gama, os Villa Oliveira. O Villa Oliveira Encruzado 2012 tem vindo a acomodar-se na garrafa, mais adulto e mais sério desde a última prova no início deste ano. Algo marcado pela tosta e pela baunilha da madeira onde estagiou, tem a fruta debaixo bem suculenta e fresca, conjunto amplo e complexo, muito prazer durante toda a prova a pedir carnes brancas com molho cremoso. O Villa Oliveira Touriga Nacional 2010 segue o caminho do Reserva, tenso, musculado com austeridade e frescura, muita fruta suculenta em nariz e boca, num conjunto ainda por desprender as amarras, coisas que apenas o tempo irá permitir.

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Casa da Passarela “Enxertia” 2011 – Foto de João Pedro de Carvalho |Todos os Direitos Reservados

Como novidade surge pela primeira vez o Casa da Passarella“Enxertia” 2011, uma nova marca que irá mostrar o melhor varietal de cada colheita cabendo a 2011 o Alfrocheiro. Atrativo de aroma com muita fruta negra (amora, framboesa, bagas), muita vivacidade e harmonia com caruma de pinheiro, ligeiro balsâmico com especiarias em fundo. Conjunto complexo e fresco, num dos melhores exemplares desta casta.

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O Fugitivo Garrafeira branco 2013 – Foto de João Pedro de Carvalho |Todos os Direitos Reservados

Para terminar foram apresentados dois novos vinhos, a lançar para o próximo ano, que se inserem na gama “O Fugitivo”, vinhos que acontecem, visões mais intimistas do enólogo em quantidades muito limitadas como seria de esperar, neste caso o O Fugitivo Garrafeira branco 2013, onde a Encruzado se mistura com vinhedo velho resultando em apenas 2500 garrafas a entrar no mercado daqui por um ano, feito a pensar na guarda e no crescimento em garrafa. Menos marcado pela madeira que o Villa Oliveira, muito tenso, cheio de nervo, coeso e profundo, fruta fresca presente e madura com acidez a marcar a prova, mineralidade acentuada no final de boca. É um branco de respeito que tem tudo para brilhar muito alto.

O Fugitivo Vinhas Centenárias red 2011 nasce de quatro parcelas de vinhedo com mais de 100 anos, castas tintas com algumas castas brancas misturadas. O resultado é um vinho arrebatador, desafiante e que sai claramente fora do atual contexto. Conjunto muito perfumado, frescura na ribalta com balsâmico, bergamota, envolvente e complexo, no fundo suave nota do engaço maduro. Muita energia, boca com austeridade, fruta vermelha suculenta e a harmonia a começar a surgir, pede desde já pratos de forte tempero, num grande vinho à imagem do Dão.

Contactos
Rua Santo Amaro, 3, Passarela
6290-093 Lagarinhos
Tel: (+351) 238 486 312
Fax: (+351) 238 486 218
E-mail: info@casadapassarella.pt
Site: www.casadapassarella.pt

Madeira, uma Paixão

Texto João Pedro de Carvalho

No constante fervilhar de novidades, eis que a Madeira se começa a destacar com os seus vinhos de mesa, onde brilham essencialmente os Verdelho, carregados de frescura e mineralidade com um atrevido toque salino.

Neste caso o destaque vai para a Paixão do Vinho gerida por Filipe Santos cujos vinhos Primeira Paixão se têm destacado nos últimos anos pela qualidade e diferença, sendo o Verdelho o mais conhecido. Foi durante a última passagem pela ilha da Madeira que Filipe Santos deu a conhecer os seus mais recentes vinhos já disponíveis no mercado, o Primeira Paixão Rosé 2013 e o tinto Primeira Paixão Merlot 2012.

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Primeira Paixão Rosé 2013 © Blend All About Wine, Lda.

Primeira Paixão Rosé 2013
Feito à base de Touriga Nacional, Merlot, Syrah, Tinta Roriz e Complexa, com uvas provenientes da zona do Seixal. Enologia a cargo de João Pedro Machado na Adega de São Vicente. Aroma de boa intensidade com destaque para frutos vermelhos bem maduros, leve vegetal a marcar com fundo a lembrar pederneira. Boca cheia de fruta bem viva e sumarenta, estrutura bem composta com boa frescura num conjunto bastante apetecível.

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Primeira Paixão Merlot 2012 © Blend All About Wine, Lda.

Primeira Paixão Merlot 2012
Uvas provenientes de uma encosta perto do mar na zona do Caniçal, Merlot com um toque de Touriga Nacional, enologia de Francisco Albuquerque. Passou cerca de seis meses em barricas, num conjunto marcado pelo vegetal fresco num ligeiro balsâmico com a fruta madura (ameixa, framboesa) de segundo plano, frescura de conjunto, tabaco, pimenta. Perfil fresco com vida pela frente em final longo e persistente.

Contactos
Paixão do Vinho
Via Rápida Cota 200 posto Repsol Norte Jardim Botanico
9060-056 Santa Maria Maior – Funchal
Tel: (+351) 291 010 110
Site: www.paixaodovinho.com

Dona Maria, entre o clássico e o moderno

Texto João Pedro de Carvalho

Na Quinta de Dona Maria em Estremoz mora um misto de classicismo e modernidade que se soube transportar de forma elegante para os vinhos ali produzidos.

A enologia de Sandra Gonçalves é precisa e refinada, resultando em vinhos com alma e cheios de detalhe, sérios com elegância e frescura num misto que se reflete numa muito boa longevidade.

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Quinta Dona Maria – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Nos exemplares mais clássicos assentes no carácter dos solos argilo-calcários da região surge a gama Dona Maria (tinto, branco e rosé) com o apogeu a ser atingido no Dona Maria Reserva, complementam a oferta os varietais de inspiração mais moderna, como por exemplo o Viognier 2013 e o Touriga Nacional/Petit Verdot 2011 aqui colocados em destaque.

Lado a lado constatamos que tanto o Dona Maria tinto e branco são vinhos de traçado clássico, naquele Alentejo que se torna tão especial dentro daqueles portões, vinhos ainda muito novos com apetite voraz para a mesa mais composta, mostrando pelo preço a rondar os 8€ uma enorme relação preço/satisfação.

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Dona Maria Viognier 2103 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Dona Maria branco 2013
Feito com base nas castas Arinto, Antão Vaz e Viosinho, boa frescura de conjunto com fruta de polpa branca, vegetal, fruta tropical e citrinos. Conjunto equilibrado, fruta presente no palato, elegante com final persistente.

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Cheio de flores, com pêra e pêssego maduro, ligeira calda envolta em frescura num conjunto sério, sem ser muito expansivo e que se mostra com algum peso no palato. Frescura a envolver tudo, numa prova refinada e de encontro à casta.

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Dona Maria tinto 2011 | Dona Maria Touriga Nacional/Petit Verdot 2011 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Dona Maria tinto 2011
Passou 6 meses em barrica, bom conjunto com frescura e muita fruta vermelha bem sumarenta com notas fumadas, ligeira especiaria em fundo numa boa complexidade. Firme, boa frescura na boca assente numa estrutura firme que lhe assegura longevidade.

Dona Maria Touriga Nacional/Petit Verdot 2011
As duas castas que em anteriores colheitas moravam sozinhas decidiram juntar-se, surge a versão dueto em 2011. Aroma intenso a combinar o melhor de cada casta, flores e fruto silvestre com algum vegetal/balsâmico num conjunto que combina ligeira austeridade de fundo com uma gulodice da fruta tanto no aroma como na entrada do palato. Amplo, saboroso, equilibrado com a frescura a marcar pontos num final persistente e longo.

Contactos
Quinta do Carmo 7100-055 Estremoz
Tel: (+351) 268 339 150
Fax: (+351) 268 339 155
Email: donamaria@donamaria.pt
Site: donamaria.pt

As talhas do senhor José

Texto João Pedro de Carvalho

O fascínio por estes vinhos vem dos meus tempos de criança, relembro as conversas que se tinham à mesa nos jantares de família, um desses nomes era um tal de Tinto Velho que tanto Natal acompanhou. Ora esse mesmo Tinto Velho é proveniente da Casa Agrícola José de Sousa Rosado Fernandes (Reguengos de Monsaraz), onde o prestígio e a história se aliam a tradicionais técnicas de vinificação, desde os lagares, passando pelos tonéis, às tradicionais talhas de barro.

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Detalhe de data em tonel – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

É nas imponentes talhas que reside toda a magia e encanto destes vinhos, é daquelas porosas paredes que se transmitem anos de saber a todos os vinhos que por lá passam. Pelo meio ficou esquecida toda uma arte de fabrico que dificilmente irá voltar, resta pois venerar e contemplar todo o património que reside na Adega dos Potes e saborear os vinhos que ali são criados. Os rótulos contam que por ali já se faz vinho pelo menos desde 1878, os registos são parcos e apenas a glória dos vinhos que perduraram no tempo nos conta a história de tão gloriosa casa, como o épico o Tinto Velho 1961 ou aquele que é um dos mais emblemáticos do historial vínico de Portugal, o Tinto Velho 1940.

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Old Vineyard of Herdade do Monte da Ribeira – Foto cedida por José Maria da Fonseca | Todos os Direitos Reservados

Tudo começa na Herdade do Monte da Ribeira, onde se encontram os 72 hectares de vinha, em solos de origem granítica, que foi plantada ao longo dos anos tendo o próprio José de Sousa plantado ali vinha no princípio dos anos 50. Castas como Trincadeira, Aragonês, Grand Noir… fazem parte dos encepamentos e são nos dias de hoje a base dos vinhos José de Sousa.

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Adega de Potes – Foto cedida por José Maria da Fonseca | Todos os Direitos Reservados

Estas últimas referências fazem parte do portfolio do produtor José Maria da Fonseca que em 1980 começou a engarrafar os vinhos da Casa Agrícola José de Sousa Rosado Fernandes e após a aquisição em 1986 concretiza o sonho de poder produzir vinho no Alentejo. Foi nessa altura que viria a ser descoberto debaixo de um monte de sacas de carvão um lote de garrafas do Tinto Velho 1940, um vinho cuja qualidade e longevidade iria servir de meta a alcançar na elaboração dos “novos” José de Sousa.

Assim em 1990 a marca ganhou novo rumo, dividiu-se em duas e por um lado ficou-se com um pequeno José de Sousa, por outro com um pura raça Alentejano de nome José de Sousa Mayor (Garrafeira). O mais pequeno é a continuidade com retoques da nova enologia, mais apelativo e satisfaz plateia alargada, o Mayor é a tentativa de ir ao encontro dos grandes vinhos da antiga Casa Agrícola, mais recente surge o J de José de Sousa o novo topo. Os três têm no coração a bondade da Talha, do barro do Alentejo, da tradição e dos tempos que dificilmente vão voltar.

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José de Sousa – Foto cedida por José Maria da Fonseca | Todos os Direitos Reservados

José de Sousa 2011
O “Zé” mudou de camisa, adaptou-se aos tempos modernos e veio morar para a cidade. Este alentejano de gema tem vindo a adaptar-se aos tempos que correm, continua no entanto fiel às origens. Sempre o conheci com um saquinho de figos secos e uma onça de tabaco de enrolar no bolso, botas marcadas pelo barro da Herdade onde nasceu, o “Zé” é um tipo porreiro, sem grandes complexos e sempre bem disposto, grande amigo da petisqueira. Por mais anos que passem por ele, por mais que mude de camisa não perde o sotaque bem vincado, nem vira cara às suas origens (nasceu em Reguengos de Monsaraz). Afinal de contas são estes amigos que gostamos de ter como companheiros de mesa, nunca nos deixam ficar mal vistos e proporcionam bons momentos de convívio. Da última vez que nos encontrámos em 2011, falou-me da Grand Noir, da Trincadeira e da Aragonês, sempre bem disposto a conversa durou toda a refeição. Se o virem por aí não hesitem em dar-lhe uma palavrinha…

José de Sousa Mayor 2011
Continua Mayor o tinto José de Sousa (Reguengos de Monsaraz) de fina estirpe Alentejana e cuja fatiota se tem vindo a adaptar aos tempos modernos. Um tinto mais opulento, cheio de genica e mais pronto a beber, com mais gorduras e sem ser tão tenso ou rijo como me recordo dos tempos da juventude de um 1994 ou 1997. Continua no entanto a ser um belo tinto da planície, onde predomina a casta Grand Noir, num todo que conjuga fruta escura e gulosa com folha de tabaco, café, especiarias (cravinho), barro, tudo embrulhado numa barrica que não chateia. Ainda novo com tudo para se desenvolver, fruta bem presente na prova de boca, alguns taninos em fundo embora todo ele a mostrar elegância, aptidão para guarda prolongada, sendo desde já companheiro de um bom Ensopado de Borrego.

J de José de Sousa 2011
Um dos grandes vinhos do Alentejo, pontifica a Grand Noir com Touriga Nacional e Touriga Francesa. Bastante charmoso e cheio de finesse, a mostrar desde o princípio toda a sua classe num conjunto de alto gabarito. Perfeita a simbiose entre lagares/barro/madeira, que resulta num vinho que mostra o melhor do Alentejo, a frescura da fruta bem carnuda envolta por uma boa estrutura que lhe garante longevidade. Tudo com grande complexidade, chocolate, balsâmico, floral, a fruta muito fresca e bem delineada como todo o conjunto a mostrar muita classe e elegância. Pelo meio o travo terroso e fresco do barro muito subtil, envolve os sentidos com bastante prazer, boca com estrutura firme, amplo e aveludado, profundo num final de boca longo e especiado. Memorável com umas perdizes estufadas.

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José de Sousa Rosado Fernandes 1940 – Foto cedida por José Maria da Fonseca | Todos os Direitos Reservados

José de Sousa Rosado Fernandes 1940
São 74 anos de vida de um verdadeiro ícone da enologia em Portugal, a todos os níveis memorável e a mostrar uma saúde invejável, com bastante frescura que lhe ampara todo o conjunto. Escuro e glicérico, rebordo acastanhado a mostrar que o tempo já passou por ele, muito complexo com terciários luxuosos, notas de ameixa e alguma compota, chocolate de leite, flores, notas de barro. E de repente o tempo para e damos conta que estamos perdidos no meio do copo por entre um mar de aromas. Fantástico.

Contactos
QUINTA DA BASSAQUEIRA – ESTRADA NACIONAL 10,
2925-542 VILA NOGUEIRA DE AZEITÃO, SETUBAL, PORTUGAL
Tel.: (+351) 212 197 500
Email: info@jmf.pt
Site: www.jmf.pt

O Senhor da Adraga

Texto João Pedro de Carvalho

Ali bem perto do Cabo da Roca, onde a terra acaba e o mar começa, situada numa encosta da Serra de Sintra fica a Quinta do Casal de Santa Maria (Adraga). A casa principal foi construída em 1720 tendo sobrevivido ao grande terramoto de Lisboa em 1755, ali a vinha e o vinho faziam parte da tradição da propriedade até 1906, depois veio o declínio e o abandono total do património.

Em 1960 ganhou nova vida sendo adquirida e reconstruida pelo actual proprietário, o Barão Bodo Von Bruemmer. A sua história tem tanto de fascinante como o Casal Sta. Maria e os seus vinhos.

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Vinhas Quinta do Casal Santa Maria © Blend All About Wine, Lda.

Bodo Von Bruemmer nasceu na Prússia em 1911, escapou da revolução bolchevique, viveu em vários países da Europa, formou-se em Direito, foi banqueiro e em 1962 chegou a Portugal onde compra a Quinta do Casal de Santa Maria, ali criou a maior Coudelaria de Cavalos Árabes em Portugal. Aos 95 anos de idade após ter sido submetido a uma delicada cirurgia à vista, assim que acordou da anestesia decidiu que tinha de plantar uma vinha.

Em 2006 nascia a exploração vitivinícola mais ocidental da Europa, com a plantação de 7,5ha de vinha retomando a tradição daquele lugar que ganhou nova vida tal como o Barão Von Bruemmer que aos seus 103 anos abraça uma nova faceta da sua vida, ser produtor de vinho.

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Baron Bodo Von Bruemmer © Blend All About Wine, Lda.

Para melhor entender os vinhos nada melhor do que visitar as vinhas abraçadas por uma paisagem fantástica com o oceano em pano de fundo. Passear no meio das vinhas e jardins cheios de rosas ou ir até à vinha perto da Praia da Adraga e reparar naquele clima muito especial fruto de toda a influência da orla costeira, noites frias, manhãs com nevoeiro e uma quase constante briza marítima, que permite aos vinhos ganharem uma identidade muito própria naquele que é um terroir único.

Os enólogos são Jorge Rosa Santos e António Figueiredo, uma jovem dupla responsável pela qualidade dos vinhos ali produzidos, com alguns tintos de fino recorte como é exemplo o Pinot Noir cheio de notas fumadas, bacon, fruta vermelha com muita frescura ou o Ramisco DOC de recorte mais moderno onde combina todo o vigor característico da casta com as boas madeiras que lhe serenam o espírito. No entanto o meu destaque recai nos brancos:

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Casal Santa Maria Malvasia 2013 © Blend All About Wine, Lda.

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Casal Santa Maria Sauvignon Blanc 2013 © Blend All About Wine, Lda.

Casal Santa Maria Malvasia 2013
Muito mineral e fresco, aroma delicado e preciso com flores a marcar presença, toque de pimenta no final. Muito bem balanceado na boca, grande secura final que será grande companheira de um bom peixe grelhado.

Casal Santa Maria Sauvignon Blanc 2013
Notas de espargos e pimento verde com acentuada mineralidade, num perfil que se mostra muito mais vegetal e seco, com bastante frescura, notas de citrinos e relva fresca. Passagem saborosa na boca, sensação de ligeira untuosidade num perfil fresco, firme e de final prolongado.

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Casal Santa Maria Reserva 2010 © Blend All About Wine, Lda.

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Casal Santa Maria Malvasia DOC Colares 2011 © Blend All About Wine, Lda.

Casal Santa Maria Reserva 2010
Mostra uma muito boa evolução após quatro anos de vida, suave baunilha a envolver fruta madura (pêssego, citrinos) e muitas flores, sensação de untuosidade com frescura de fundo. A acidez toma conta da prova, bom corpo com passagem saborosa e envolvente onde tudo se complementa com a prova de nariz. Um vinho numa fase muito boa de consumo.

Casal Sta. Maria Malvasia DOC Colares 2011
Uma abordagem mais moderna, barrica um pouquinho mais presente, bem integrada, nada que incomode e até aconchega a belíssima acidez e mineralidade reinante. Um vinho elegante, puré de maçã, muito citrino com tisana, resina, lápis de cera e mineralidade. Na boca complementa-se com a prova de nariz, saboroso, secura em pano de fundo, equilibrado e amplo, apontamento de fruto seco e salgado em fundo com uma boa persistência final.

Contactos
Rua Principal Casas Novas, nº 18/20
2705-177 Colares-Portugal
Tel.: (+351) 219 292 117
Email: geral@casalsantamaria.pt
Site: www.casalstamaria.pt

O Tesouro de Colares

Texto João Pedro de Carvalho

Entre a Serra de Sintra e o Oceano Atlântico, a 25km a Noroeste de Lisboa, situa-se uma pequena zona vitícola muito antiga com produção a remontar ao ano de 1255, aquela que é a Região Demarcada (desde 1908) mais ocidental da Europa e a mais pequena região produtora de vinhos tranquilos de Portugal.

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Sala dos Tonéis © Blend All About Wine, Lda.

A história do vinho de Colares é longa e perde-se nas páginas do tempo, os seus vinhos ainda hoje fazem parte das memórias dos seus apreciadores e são alvo de procura pelos mais dedicados e curiosos. Na verdade a região perdeu-se no turbilhão da era moderna, o comboio da novidade, caiu no esquecimento com o respectivo abandono progressivo da actividade por parte das gentes locais contribuindo isso em muito para que a quantidade de vinha que existia fosse desaparecendo.

O mais importante produtor da região, até pelo poder de certificar os vinhos DOC Colares, é a Adega Regional de Colares, que após receber as uvas vê os mostos serem posteriormente vendidos em bruto e trabalhados nas respectivas adegas dos associados como é caso a Adega Viúva Gomes. A Adega Regional de Colares foi fundada em 1931, reúne mais de 50% da produção da região e mais de 90% dos produtores da mesma.

Hoje em dia, passo a passo a região começa a despertar por resultado do esforço e dedicação de alguns produtores, para além da Adega Regional o principal centro de vinificação da região ainda se juntam mais dois novos produtores, a Fundação Oriente e o Casal Sta. Maria.

Parte desse esforço, dessa saudável teimosia de revigorar a imagem e qualidade dos vinhos da região tem um rosto, o enólogo Francisco Figueiredo (Adega Regional de Colares). Mostrando um brilho no olhar quando nos fala da região, dos seus vinhos e em especial da casta Ramisco, aquela que tanto gosto e defende. Foi toda uma manhã que apesar de ter começado chuvosa, se dedicou a explorar a região, os vinhos e as vinhas.

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Francisco Figueiredo © Blend All About Wine, Lda.

Focando apenas nas vinhas de chão de areia, cujas vinhas pré-filoxéricas evidenciam os contornos do tempo, tivemos a sorte e privilégio de assistir à vindima (foto abaixo) sendo bem visível quer as barreiras em cana que protegem as vinhas dos ventos e da maresia, como nas macieiras anãs de Maçã Reineta de Colares, tradicionais companheiras das vinhas de Colares.

A proximidade ao mar tem enorme influência nos vinhos: frescura, mineralidade, toque salgado com algum iodo fazem parte dessa diferenciação tão própria da região. Um património tão rico e único, com uma forte componente tradicional a ele associada.

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As vinhas de Colares © Blend All About Wine, Lda.

Enquanto a Malvasia Fina reina nos brancos de Colares, domina os vinhos pela salinidade, muita frescura num perfil quase sempre tenso enquanto novo, com uma evolução muito positiva que nos envolve com aromas de tisana, lápis de cera e rebuçado, vinhos que são a companhia perfeita para acompanhar pratos de peixe e marisco.

Nos tintos brilha a casta Ramisco, os vinhos a que ali dá origem destacam-se pela tonalidade aberta, pouco concentrados e nos melhores exemplares com longevidade assegurada. Vinhos de enorme elegância, muita harmonia com toque iodado a despertar nos mais longevos, enquanto novos mostram uma frescura muito boa, fruta viva e muito limpa com carga vegetal vincada numa estrutura assente em taninos que lhe garantem boa evolução.

Bastante interessante o poder comparar a evolução após respectiva prova directamente da barrica do Ramisco 2011 (o mais aguerrido com carga vegetal e secura vincada) e 2008 (uma delícia de vinho a mostrar uma grande evolução no copo, fruta muito saborosa e fresca com boa estrutura e taninos ligeiramente domesticados) e o já engarrafado 2006 (mais pronto, no entanto também mais polido e delicado que o anterior).

Arenae Malvasia Fina branco/white 2011
Um branco ainda muito novo, tenso, marcado pela mineralidade, toque salgado, muito citrino, algum lápis de cera com a tisana a surgir em fundo. Boca com muito boa acidez, boa definição num vinho com traço mineral e fim quase salgado, longo e bonito final. Perfeito a acompanhar umas Ameijoas à Bulhão Pato.

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Arenae Ramisco Red 2006 © Blend All About Wine, Lda.

Arenae Ramisco tinto/red 2006
Muito limpo no aroma a fruta vermelha (morango, framboesa, mirtilo), toque vegetal fresco a conferir ligeira austeridade ao conjunto, boa complexidade e profundidade. Especiaria, fundo bem fresco que nos guia durante a prova, palato cheio de sabor com secura no fundo. Fantástico a acompanhar uns bons nacos de novilho no carvão.

Contactos
Adega Regional de Colares
Av. Coronel Linhares de Lima, n.º 32 Colares
2705-351 Sintra,
Tel: +351219291210
Fax: +3519288083
Email: geral@arcolares.com
Site: www.arcolares.com

Quinta do Rol – no coração de Lourignac

Texto João Pedro de Carvalho

A centenária Quinta do Rol desde sempre ligada às tradições e à terra, localizada no coração da região da Lourinhã, vai na terceira geração da família de Carlos Melo Ribeiro, o actual proprietário que a herdou de seu pai.

O nome da Quinta do Rol surge durante o século 19 pelo seu proprietário, um jogador ferrenho que, aquando da falta de dinheiro para pagar as suas dívidas, teria um Rol/lista de Quintas para tal efeito. Desde sempre ligada à produção de Pêra Rocha, também a produção de aguardente na destilaria própria remonta ao século 18, altura em que se produzia em grande quantidade para fornecer os produtores de vinho do Porto.

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Rita Melo Ribeiro at Quinta do Rol © Blend All About Wine, Lda.

Quando Carlos Melo Ribeiro chegou ao comando dos destinos da Quinta do Rol, cedo deu conta da especificidade climática da região; a proximidade com mar, os solos e o relevo, é detentora de um micro clima que a torna uma das três regiões em todo o mundo (à semelhança de Cognac e Armagnac) reconhecida como específica para a produção de aguardentes vínicas de qualidade superior, com denominação de origem. Para tal replantou as vinhas com as castas Ugni Blanc, Malvasia Fina e Alicante Branco para produção da Aguardente e outras castas onde despontam a Sauvignon Blanc, Pinot Gris, Pinot Noir, Chardonnay… com vista à produção de vinho de mesa e espumante de qualidade.

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Quinta do Rol Aguardente Velha XO © Blend All About Wine, Lda.

Acerca da aguardente, a região demarcada da Lourinhã data de 1992 e é a terceira a nível mundial, depois das conhecidas regiões demarcadas de Cognac e Armargnac, ambas em França. A Quinta do Rol conta com uma produção anual de 10 mil litros e esteve mais de dez anos a produzir para não vender, à espera que chegasse o momento certo de colocar no mercado um dos produtos mais exclusivos produzidos em Portugal, a Quinta do Rol Aguardente Velha XO.

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Quinta do Rol Espumante Blanc de Blancs 2008 © Blend All About Wine, Lda.

Quinta do Rol Espumante Blanc de Blancs 2008
Feito de Chardonnay, alia frescura a uma ligeira sensação de mousse, envolve e apetece num misto de fruta tropical e massapão. A fruta em tons citrinos mostra presença na boca, com frescura, saboroso e bem estruturado.

Quinta do Rol Selecção branco 2012
O único vinho de lote (Arinto, Alvarinho e Chardonnay) da Quinta do Rol, a mostrar frescura com conjunto algo fechado, toque mais verde e citrino, alguma untuosidade conferida pela batonnage a que teve direito. Boca com frescura, boa presença, marcado pela boa definição de sabores, pêra verde num conjunto que se sente tenso.

Quinta do Rol Pinot Gris 2011
Apresenta um leve fumado a lembrar pederneira, fruta gordinha envolta em boa frescura, delicado e tenso. Fresco na boca, mineralidade com secura no final.

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Quinta do Rol Sauvignon Blanc 2011 © Blend All About Wine, Lda.

Quinta do Rol Sauvignon Blanc 2011
Gostei da abordagem deste Sauvignon Blanc com descritores da casta pouco ou nada tropical mas muito mais herbáceo, pimento, salgado, fruta de segundo plano com toque fumado. Frescura e boa presença na boca num Sauvignon que apetece beber.

Quinta do Rol Pinot Noir Reserva 2009
Afirma-se durante a prova como um Pinot Noir com músculo, pouco definido, nariz fresco com frutos vermelhos e leve vegetal (musgo), embora se perca na falta de definição por estar ainda demasiado compacto. Boca com fruta madura de bom porte, frescura, boa amplitude, ligeira secura vegetal em final de boca, longo e persistente.

Contactos
Quinta Rol
Ribeira, Palheiros
2530-442 Miragaia
Tel: (+351) 261 437 484
Email: info@quintadorol.com
Site: www.quintadorol.com

Burmester Colheita 2001

Texto João Pedro de Carvalho

Passear nas ruas do Centro Histórico de Gaia é como dar um salto atrás no tempo, imaginar a rolagem das pipas pelas pedras da calçada, as enormes salas de estágio onde moram autênticos sonhos por engarrafar. Visitar cada uma das caves é entrar num mundo aparte, apesar do fio condutor que as une, ali mora um silêncio que perdura na história, talvez apenas o sussurro dos néctares divinos que vão estagiando seja o único som que mereça ser ouvido, autênticos pavilhões do conhecimento que se pudessem falar teriam tanto para nos contar, tal a história e segredos que encerram.

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Burmester Colheita 2001 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

A Burmester pertence ao grupo Sogevinus e é um especialista no que toca à categoria de Porto Tawny. Neste caso o que cai no copo é o Burmester Colheita 2001, um vinho de perfil muito novo com todas as vicissitudes que tal acarreta uma vez que a sua complexidade não se aproxima dos patamares alcançados pelos vinhos de maior idade, mantendo da mesma forma o fio condutor tão característico dos grandes Porto Colheita desta casa. Se colocado ao lado de um 20 Anos teremos por comparação um vinho muito mais complexo que resulta da mestria do blend das variadas colheitas que dele fazem parte.

Por aqui o que se encontra é este bouquet menos rendilhado mas ao mesmo tempo ligeiramente evoluído, profundo e intenso, cheio de vida, com notas de avelã e alperce seco. Já a mostrar aquele toque untuoso no palato acompanhado de grande frescura e elegância, numa passagem que deixa boas recordações. O prazer de beber um Porto Colheita dos mais recentes é algo único, ter lado a lado a magia da oxidação com a força da juventude, capaz de ligações fantásticas como por exemplo uma generosa fatia de Bolo Inglês.

Contactos
Avenida Diogo Leite 344
Vila Nova de Gaia
4400-111
Portugal
Tel: (+351) 22 374 66 60
Fax: (+351) 22 374 66 99
E-mail: comercial@sogevinus.com
Site: www.burmester.pt