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Druida tinto 2012

Texto João Pedro Carvalho

Na minha vida nunca procurei, nem sequer me agradou, tudo o que seja produto produzido em larga escala, salvo as raras e necessárias exceções à regra, em tudo o resto sempre procurei os pequenos produtores nas mais variadas áreas. Durante anos fui praticante de XC (Cross Country) e como tal fazia parte de um mundo onde se procuram produtos/materiais com alta taxa de rendimento/duração aliando o peso reduzido e preço ajustado, o que na última situação raramente acontece. Transportando para o mundo dos vinhos, o que procuro continua dentro dos mesmos parâmetros de qualidade/satisfação onde o preço de produto de pouca tiragem por vezes se paga caro mas onde na quase totalidade dos casos o investimento a longo prazo é positivo.

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Druida tinto 2012 – Foto de João Pedro Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Os pequenos “ateliers” ou direi adegas de autor que têm surgido em Portugal nos últimos anos têm feito a diferença e delícia de um nicho de consumidores ansiosos por vinhos de identidade bem vincada com tiragem reduzida. A sensação de exclusividade em ter na mão uma garrafa de vinho de qualidade cuja tiragem do vinho se limitou a 96 ou 200 garrafas é mais um dos motivos de alegria para muitos. Não é pois de estranhar que em quase todos estes projetos o destaque natural centra-se no terreno, mais propriamente na vinha quase sempre de área reduzida, com os vinhos a expressarem de forma clara a terra/local que os viu nascer.

É este o caso do Druida tinto 2012, a mais recente criação da dupla: Nuno do Ó e João Corrêa, após o sucesso que foi o Druida Reserva branco. Há acasos que vêm em boa altura, e a forma como surge este tinto é um desses exemplos. Aconteceu no dia em que se passava o mosto de Encruzado para barricas e se reparou que tinham sobrado duas barricas. O pensamento imediato do que fazer teve como resposta, um tinto. E foi exatamente da parcela vizinha à da de Encruzado na Quinta da Turquide, composta por Jaén, Touriga Nacional, com algum Alfrocheiro e Tinta Pinheira. O resultado foram 2 barricas de 228 litros que repousaram durante 20 meses na adega, resultando cerca de 500 garrafas de um tinto cheio de garra e frescura. Tal como no branco notamos que precisa de tempo para que tudo se arrume e a prova nos proporcione mais prazer do que já dá, apesar da ligeira austeridade com que ainda se apresenta. Conjunto fresco, novelo de complexidade ainda muito apertado mas de grande qualidade, profundo com bonitas notas de pinheiro, violetas, especiaria, fruta limpa de grande qualidade com destaque para a cereja vermelha bem gorda e sumarenta. E no trio de elegância/frescura/estrutura mostra-se um belíssimo exemplar do Dão, de criação minimalista que não se paga caro, um prazer garantido a consumir agora a acompanhar um borrego/cabrito assado em forno de lenha ou daqui por uma boa dezena de anos.

O Rufo do Vale D. Maria

Texto João Pedro de Carvalho

Quinta Vale Dona Maria é uma antiquíssima propriedade no coração da Região Demarcada do Douro. Embora o tinto tenha nascido com a colheita de 1997 o primeiro branco surgiu recentemente. Tudo começou num jantar após se debater como adequar as práticas agrícolas de modo a obter melhores condições ambientais para o crescimento da população da Alectoris rufa (nome científico da perdiz-vermelha) no Vale D.Maria. Na divagação da conversa entendeu-se que Rufo (vermelho em Latim) seria bom nome para uma marca de vinho tinto do Douro, significando também o toque do tambor, que anuncia e estabelece o ritmo da entrada de gama dos vinhos Vale D.Maria. Mais recentemente esse Rufo teria a sua versão de branco no mercado.

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Rufo do Vale D. Maria 2013 branco- Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

 

Aqui a enologia está a cargo de Cristiano van Zeller, Sandra Tavares da Silva e Joana Pinhão, diga-se que todos os vinhos merecem natural destaque, apetecendo desta vez centrar todas as atenções no único branco, até agora, produzido com a chancela da Quinta Vale D.Maria.

As uvas para este Rufo branco da colheita de 2013 vêm da zona de Sobreda e Candedo (Murça), onde as vinhas se encontram a grande altitude (600 m) para conferir aos vinhos acidez e frescura. A escolha recai num blend de 50% Códega de Larinho e 50% de Rabigato. Enquanto a primeira casta (Códega do Larinho) confere uma certa tropicalidade, a segunda casta (Rabigato) proporciona a acidez natural tão necessária, num conjunto que estagiou cerca de 9 meses em inox até ser lançado para o mercado.

Um branco que nos recebe de braços abertos com bonitos aromas frutados a lembrar citrinos, frutos de polpa branca, algum tropical mas pouco pronunciado num conjunto bastante agradável com toque de mineralidade no fundo. Na boca mostra-se elegante e fresco, com boa intensidade e um toque vegetal aliado à natural doçura da fruta que o embalam para um final de prova com alguma secura, tornando ideal para canapés, saladas, entradas variadas à base de carnes frias ou salmão fumado.

Contactos
Quinta Vale D. Maria
Sarzedinho
5130-113 S. João da Pesqueira
PORTUGAL
Tel: (+351) 223 744 320
Fax: (+351) 223 744 322
E-mail: francisca@vanzellersandco.com , cvanzeller@mail.telepac.pt , joanavanzeller@vanzellersandco.com
Site: www.quintavaledonamaria.com

Escola velha, vinho novo…Ripanço Private Selection 2013

Texto João Pedro de Carvalho

Voltamos à afamada Casa Agrícola José de Sousa (Reguengos de Monsaraz), propriedade da José Maria da Fonseca, de onde nos chega este novo lançamento chamado Ripanço Private Selection 2013. Este vinho é o resultado da união entre a tradição e história com a moderna tecnologia, o resultado é uma mistura entre o antigo e o moderno onde o que faz toda a diferença neste caso é a ter-se utilizado uma técnica (ripanço) que remonta à era dos Romanos. Assim, a chamada técnica do ripanço consiste no desengaçamento das uvas à mão com auxílio de uma mesa de ripanço, que é constituída por várias ripas de madeira. O movimento das mãos dos trabalhadores pressionando ligeiramente os cachos faz com que os bagos de soltem e fiquem separados do engaço, como se pode constatar no vídeo aqui colocado. Esta terá sido a primeira maneira de desengaçar a uva, evitando assim a presença dos taninos duros do engaço que podem originar um excessivo e indesejado amargor no vinho.

Vídeo cedido por José Maria da Fonseca

O vinho foi elaborado a partir do blend das castas Syrah (48%), Aragonês (32%) e Alicante Bouschet (20%) que tiveram direito a estagiar durante 6 meses em barricas de madeira nova de carvalho francês e americano. O que se destaca no imediato é o seu aroma com muita fruta madura, muitas notas de groselha preta e ameixa, com algum tempo no copo evolui e ganha alguma complexidade com ervas de cheiro, café expresso num fundo onde a baunilha derivada da barrica aparece bem instalada. O conjunto é fresco e solto, com ligeiro nervo que lhe dá alguma garra para conseguir acompanhar pratos mais temperados, como por exemplo uma Lasagne Bolognese. De resto nada complicado neste tinto com boa presença de boca, sempre cheio de frescura, fruta que explode de sabor e se prolonga até ao final, onde a compota e a especiaria se despendem de nós.

Contactos
QUINTA DA BASSAQUEIRA – ESTRADA NACIONAL 10,
2925-542 VILA NOGUEIRA DE AZEITÃO, SETUBAL, PORTUGAL
Tel: (+351) 212 197 500
E-mail: INFO@JMF.PT
Site: www.jmf.pt

O Grande Alicante Bouschet da Herdade do Rocim

Texto João Pedro de Carvalho

A Herdade do Rocim tem colheita após colheita, vindo a ganhar uma consistência notável nos seus vinhos, o detalhe e o bom gosto tomaram conta daquela Herdade situada bem perto da Vidigueira. Nota-se que em toda a gama de vinhos há um detalhe e um carinho que os envolve, até na maneira como são dados a conhecer, nada é deixado ao acaso, novamente um mundo de pequenos mimos dirigidos por uma mão feminina, a mão da produtora Catarina Vieira. E nesta caminhada vão sendo afinados e retocados colheita após colheita, aprendendo e mostrando que ali é possível serem criados grandes vinhos.

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Grande Rocim Reserva 2011 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

E por falar em grandes vinhos, o topo de gama da Herdade do Rocim dá pelo nome de Grande Rocim Reserva, com a nova colheita de 2011 sobre a qual escrevo e que foi recentemente colocada no mercado. Um vinho que tem na alma a essência da casta Alicante Bouschet, durante um ano e meio serenou em barrica com direito ainda a mais um ano de garrafa até ser colocado à disposição dos consumidores. É acima de tudo um vinho cheio de carácter, que enverga uma pesada armadura que o envolve e o torna majestoso, arrebatador e feito para perdurar no tempo. Apesar do peso que para alguns pode ser considerado de excessivo, alia o seu lado mais vigoroso com uma invejável elegância de movimentos.

Todo o tempo extra que continuar em garrafa só lhe fará bem, de momento está ainda muito novo, embora com grande frescura de nariz, início com fruta vermelha (bagas, amoras) muito sumarenta, toque herbáceo, cacau, conjunto coeso e profundo, lá no fundo uma ligeira nota de licor. Boca de grande impacto com enorme presença a mostrar um vinho poderoso, amplo, fresco, muito boa estrutura com fruta vermelha a explodir de sabor ao lado de algum bálsamo, quase que se mastiga, terminando longo com travo de especiaria. Tudo com grande detalhe, enorme estrutura num conjunto coeso, limpo e fresco com uma enorme vida pela frente, paga-se por tudo isto coisa de 50€ com a garantia que se leva para casa um dos melhores tintos feitos no Alentejo e em Portugal.

Contactos
Herdade do Rocim
Estrada Nacional 387 | Apartado 64
7940-909 Cuba | Alentejo
Tel: (+351) 284 415 180
Fax: (+351) 284 415 188
E-mail: pedro.ribeiro@herdadedorocim.com
Site: www.herdadedorocim.com

Uma boa escolha para do dia-a-dia

Texto João Pedro de Carvalho

Por vezes com a vontade de escrever sobre as novidades que entram no mercado ou sobre os inúmeros vinhos que fazem as nossas delícias, acabamos por esquecer e deixar de lado aqueles que no dia-a-dia nos fazem companhia à refeição. São os vinhos que bebemos em casa de forma completamente descomprometida, apenas porque nos apetece beber um simples copo à refeição, e que no caso dos brancos temos sempre uma garrafa pronta a abrir colocada no frio. São estes fiéis amigos que raramente têm um lugar de destaque perante tanta novidade e marca na ribalta. Um desses vinhos que me tem acompanhado ao longo da última década, ainda que com altos e baixos entre colheitas, tem sido o Adega de Pegões Colheita Selecionada branco.

Adega de Pegões Colheita Selecionada white Photo by João Pedro de Carvalho | All Rights Reserved

Adega de Pegões Colheita Selecionada branco
Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Comprei este branco de 2013 no supermercado com um preço bem aliciante uma vez que não chega aos 3€, o lote teve ajustes e viu a certa altura a Pinot Blanc ser substituída pela Verdelho, de resto continua o blend de Arinto, Chardonnay e Antão Vaz, dos solos de areia da região de Pegões onde a respectiva Adega Cooperativa está localizada. Fermenta em barrica de carvalho francês onde estagia durante quatro meses com direito a batonage. A relação entre aquilo que custa e a satisfação que proporciona é elevada, ficando por vezes a pensar quantos vinhos de custo muito superior me deixaram renitente ou até defraudado com o tanto que custaram e o tão pouco que mostraram.

Um branco que acompanha bem pratos de carnes brancas ou peixe, mostra notas de fruta bem fresca por entre o tropical e frutos de pomar, ligeiro vegetal também fresco num conjunto a mostrar boa harmonia entre madeira e fruta, muito certinho com toque de ligeira baunilha que o envolve. Estrutura mediana com frescura, bem afinado, sente-se a fruta madura embalada por sensação de alguma cremosidade a meio do palato, final médio.

Contactos
Cooperativa Agrícola Sto. Isidro de Pegões
Rua Pereira Caldas nº 1
2985-158 PEGÕES VELHOS
Tel: (+351) 265 898 860
Fax: (+351) 265 898 865
E-mail: geral@cooppegoes.pt
Site: www.cooppegoes.pt

D’Avillez Garrafeira 1995

Texto João Pedro de Carvalho

Em 1369 a família Avillez radicou-se em Portalegre, instituindo diversos morgadios. A partir de 1980, Jorge D’Avillez reestruturou as vinhas respeitando as castas tradicionais na região, e a vinificação passou a ser feita numa nova adega, na Quinta da Cabaça, de acordo com a moderna tecnologia. Em 1990 com a enologia da empresa José Maria da Fonseca, nascem as marcas D´Avillez e Morgado do Reguengo, os Garrafeira foram durante uma década símbolos do melhor que se produziu na região, tendo por direito próprio lugar entre os grandes vinhos criados em Portugal.

O último exemplar terá sido o Garrafeira 2000, já longe das performances dos seus antecessores, a estocada final foi dada com a venda da Quinta da Cabaça em 2005 para a Adega Cooperativa de Portalegre. A marca ficou no limbo, surgindo agora pelas mãos da Herdade dos Muachos, não tendo qualquer ligação com aquilo que foi no passado.

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D’Avillez Garrafeira 1995 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

 

Este D´Avillez Garrafeira 1995 é um verdadeiro monumento, um daqueles vinhos arrebatadores e que nos mostra de forma clara o motivo pelo qual Portalegre é considerado um região com condições únicas para a produção de grandes vinhos. Nos 1,3 ha de vinha situada em solo xistoso, nasceu de um lote composto por Trincadeira (50%), Aragonês (35%) e Tinta Francesa (15%). Nos primeiros anos após lançamento no mercado, o vinho era compacto e austero, duro, com tudo ainda muito fechado e escondido. O tempo que passou por ele foi sabiamente lapidando este diamante.

O que se destaca é a frescura que abraça todo o conjunto, tudo muito limpo e no mesmo patamar qualitativo, mostrando uma invejável harmonia de aromas e sabores. Fina e delicada complexidade, ervas aromáticas, fruta madura que quase se trinca (cereja, morango), leve ponta de licor com fundo terroso e especiado, Conquista a cada gole, puro deleite, profundo e delicado, um vinho adulto em plena forma, ombreando sem problema com o que de melhor se faz lá por fora.

O branco dos Druidas

Texto João Pedro de Carvalho

A figura do Druida, associada à mitologia Celta, detinha o saber das palavras e da escrita, tal como da cura, especialista nas práticas de magia, sacrifício e augúrio, baseado numa filosofia natural, procurava buscar o equilíbrio, ligando a vida pessoal à fonte espiritual presente na Natureza. Tendo como princípio esse mesmo respeito e ligação com a natureza e acima de tudo uma forte ligação à terra, surge este projeto de dois enólogos, Nuno do Ó e João Corrêa. Escolheram o Dão e a casta Encruzado com a vontade de criar um branco de topo, nascido de uma vinha com 40 anos de idade situada a 500 metros de altitude na Quinta da Turquide, ali bem perto da Serra da Estrela. Um projecto minimalista onde as produções são sempre muito limitadas como no exemplo do Druida tinto cuja produção se limitou a apenas 500 garrafas.

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Druida Encruzado Reserva 2012 branco – Photo by João Pedro de Carvalho | All Rights Reserved

O Druida Reserva branco 2012 seguiu o seu percurso de forma natural, fermentando usando apenas leveduras autóctones e meditou em barricas de carvalho francês durante nove meses. Tal como a casta, o vinho é de caracter bem vincado, teimoso, envergonhado, diga-se de passagem que por vezes assume uma faceta de polimorfo tal e qual o Druida. A Encruzado é uma casta que precisa de tempo para se acomodar e poder então sim mostrar todo o seu esplendor, neste caso o vinho está ainda em crescimento precisando um pouco mais de paciência. A prova que dá neste momento coloca lado a lado uma complexidade ainda em fase de construção suportada por uma belíssima dose de frescura. A austeridade mineral ainda domina a fruta, tudo com uma madeira que surge com grande subtileza, num conjunto qual riacho pleno de frescura, com margens floridas, vai quebrando a pedra, lavando a fruta de pendor citrino, numa prova que nos transporta para o dito local com a Serra da Estrela em pano de fundo.

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A Vinha das Romãs

Texto João Pedro de Carvalho

No Monte da Ravasqueira (Arraiolos) decidiu-se em 2002 arrancar um conjunto de romãzeiras que ocupavam um área de cinco hectares para ali se plantar vinha, mais propriamente Syrah e Touriga Franca. Aquela vinha passou a chamar-se a Vinha das Romãs e cedo ganhou protagonismo pela qualidade destacada dos vinhos a que dá origem, revelando uma concentração e um nível de maturação único em toda a área de vinha do Monte da Ravasqueira.

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Vinha das Romãs 2011 & Carne de Porco à Portuguesa – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

É por isso mesmo um “single vineyard”, “monopole”, “vino de pago”, onde o terroir imprime características diferenciadoras e únicas. Aqui o que se procura é o equilíbrio perfeito entre as duas castas, isolando a cada colheita as melhores zonas de cada casta que melhor transmitem a singularidade do local.

Este 2011 é o melhor Vinha das Romãs até à data, conta com Syrah (70%) e Touriga Franca (30%) num perfil claramente Alentejano em que se conjuga frescura e uma qualidade da fruta bastante acima da média. Limpo, boa complexidade com a barrica onde passou vinte meses muito bem integrada num conjunto harmonioso, baunilha e muita fruta negra bem redonda e gulosa, regaliz, especiarias com uma frescura que tantos dizem não fazer parte dos vinhos do Alentejo, como andam enganados. Um belíssimo vinho do Alentejo, que sabe bem, que dá muito prazer ao ser bebido, corpo mediano com muita fruta a explodir de sabor, taninos a conferir algum nervo ao conjunto que se mostra muito envolvente, longo e prazenteiro.

Contacts
Monte da Ravasqueira
7040-121 ARRAIOLOS
Tel: (+351) 266 490 200
Fax: (+351) 266 490 219
E-mail: ravasqueira@ravasqueira.com
Site: www.ravasqueira.com

J.Faria & Filhos, no reino da Tinta Negra

Texto João Pedro de Carvalho

De forte implementação no mercado regional da Madeira, a J. Faria & Filhos, Lda. apenas começou a comercializar Vinho Madeira em 1993, apesar de ter sido fundada em 1949 onde a principal actividade era o fabrico de licores tradicionais e concentrados de frutos. Com o crescimento do mercado regional a empresa alargou o leque de produtos passando a comercializar licores, Aguardente de Cana-de-açúcar (Rum da Madeira), Brandy, Vinhos da Madeira e Concentrados de frutos.

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J. Faria & Filhos, Lda. © Blend All About Wine, Lda.

A produção de Vinho Madeira na J. Faria & Filhos tem como base a casta Tinta Negra, que dá origem a uma alargada gama de vinhos com destaque para os 5 e 10 anos. Numa visão geral são vinhos feitos para agradar e que se encontram facilmente na grande distribuição. Um produtor que se pode dizer recente e sem toda a carga histórica a que estamos acostumados noutros lados, resta apenas indicar os dois vinhos que mais se destacaram em toda a prova.

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5 anos Meio Doce © Blend All About Wine, Lda.

5 anos Meio Doce
O mais equilibrado da gama dos 5 anos, com ligeiro crescimento no copo, consensual, muitas tâmaras e notas de bolo de mel, ligeira frescura em fundo a aguentar o conjunto. Na boca mantém a mesma prestação, simples e direto, ligeira complexidade num conjunto simples e descomplicado.

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10 anos Seco © Blend All About Wine, Lda.

10 anos Seco
Foi o vinho que mais gostei da prova, novamente os tons da Tinta Negra a marcarem presença embora o conjunto mostre um pouco mais de complexidade e uma maior frescura, com notas de fruto seco, ligeiramente salgado, num final médio.

Contactos
Travessa do Tanque, 85/87
9020-258 Funchal
Tel: +351 291 742 935
Fax: +351 291 742 255
E-mail: info@jfariaefilhos.pt
Site: www.jfariaefilhos.pt

Blandy, uma dinastia ligada ao vinho Madeira

Texto João Pedro de Carvalho

A história deste produtor começa com a chegada de John Blandy à Madeira, são dois séculos de uma dinastia de comerciantes cuja importante ligação ao mundo do Vinho da Madeira começa com o estabelecimento da firma em 1811 começando nesse ano como exportador de vinhos. Compra a propriedade onde hoje se encontra a Antiga Adega no Funchal – Blandy Wine Lodges. Após o declínio das exportações por causa das devastadoras pragas, primeiro o Oidium Tuckeri em 1851 e em segundo a Phylloxera em 1872, surge da união de várias empresas exportadoras a Madeira Wine Association em 1913 com objetivo de alivar os custos que envolviam todo o negócio. Foi nessa altura em que muitas dessas empresas não conseguiram resistir aos tempos menos favoráveis e acabaram por encerrar portas, vendendo os stocks à Blandy’s. Em 1925, a Blandy’s juntou-se à M.W.A. que sobreviveu até 1986, ano em que se torna a Madeira Wine Company SA.

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Blandy Wine Lodges © Blend All About Wine, Lda.

Uma história notável de uma família que teve um papel muito importante no desenvolvimento do vinho Madeira, expandindo os seus negócios para a atividade bancária, seguros, reparação de navios… Duzentos anos depois a Blandy continua uma empresa familiar onde Michael e Chris são a 6ª e 7ª geração a trabalhar no negócio.

Se noutro artigo tinha afirmado que os vinhos da Henriques & Henriques foram os primeiros grandes vinhos da Madeira que tive oportunidade de beber, os Blandy foram sem dúvida alguma aqueles que cimentaram o gosto e todo o meu entusiasmo pelo vinho Madeira ao longo dos anos enquanto enófilo. Foi um daqueles momentos muito especial o que envolveu a visita à Blandy no Funchal, realmente só o poder estar sentado naquela fantástica sala de provas vale uma ida à Madeira. A prova ficou a cargo daquele que é um dos grandes da enologia mundial, Francisco Albuquerque, e foi todo um privilégio poder ter ali uma grande lição sobre o vinho Madeira com prova incluída.

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Francisco Albuquerque © Blend All About Wine, Lda.

Não deixa de ser interessante que o vinho Madeira é um vinho que se alimenta de tempo, precisa de tempo para crescer, não de meses nem dias, mas de anos e quantos mais anos passarem mais complexidade ele ganha, mais mágico se torna. Os destaques como não podia deixar de ser, vão para alguns dos Vintage/Frasqueira provados:

Blandy’s Malmsey 1988
Um dos grandes vinhos que tive oportunidade de provar foi o Malmsey 1988, passou em cascos cerca de 25 anos até serem lançadas em 2013 cerca de 1600 garrafas no mercado. Destaca-se pela frescura e finesse do conjunto, pelo incrível detalhe e precisão com que nos apresenta um conjunto de aromas muito bem definidos. Enorme na complexidade e equilíbrio, no imediato a laranja cristalizada a marcar pontos, figo, tâmaras, tabaco, muita especiaria, flores com fruto seco no fundo, o vinho desdobra-se em camadas. Conquista o palato com muita classe, toque de caril seguido de passas, novamente a passa de figo com nozes em destaque que quase se trinca, numa completa harmonia com o que encontramos no nariz, grande equilíbrio entre acidez/fruta/doçura.

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Sala de provas de vinhos Frasqueira da Blandy’s © Blend All About Wine, Lda.

 

Blandy’s Terrantez 1976
E como já vem sendo hábito o que aqui se destaca novamente é a enorme elegância de todo o conjunto, este trabalho tão preciso de alta relojoaria é a marca da casa. Neste caso um Terrantez de 1976, que se mostrou bem mais elegante que o Terrantez 1977 colocado lado a lado na prova. A complexidade neste vinho é tremenda, tudo muito delicado mas profundo e muito complexo, com notas de caril em conjunto com chocolate e raspas de laranja, tâmaras, ligeiro balsâmico, caramelo torrado, nozes, tudo embrulhado numa grandiosa acidez que se junta ao aroma de móvel velho encerado. Na boca é um monstro muito bem-educado, entra ligeiramente doce para depois ser arrebatador pela frescura que invade todo o palato, renova as sensações do nariz, tem aquele toque agridoce que vai lavrando a língua até final em perfeita harmonia com a fruta e a acidez.

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Blandy’s Verdelho 1973 Garrafa de Amostra © Blend All About Wine, Lda.

Blandy’s Verdelho 1973
O exemplo perfeito de que o vinho da Madeira precisa e pede tempo é o do vinho que se segue, um Verdelho 1973 que apenas vai ser lançado agora no mercado. O vinho é mais um caso sério desta casa, contido de início mas muita complexidade, vem por finas camadas, charuto, maracujá, frescura e vivacidade dos aromas num conjunto com muita harmonia. A vivacidade dos aromas destaca-se, conjunto muito marcante no palato pela secura com um misto de untuosidade/doçura muito ligeira que lhe confere uma outra dimensão, colocando este Verdelho na galeria dos grandes desta casa.

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Blandy’s Bual 1920 © Blend All About Wine, Lda.

Blandy’s Bual 1920
É um vinho arrebatador a todos os níveis, complicado descrever tanta emoção enclausurada numa garrafa sempre que o tenho à minha frente, no copo ou na garrafa. Aqui o campeonato é o mais alto possível, este Bual 1920 tem a capacidade rara de nos conseguir calar. Podemos estar de conversa mas quando chega a vez deste 1920 as pessoas ficam caladas, olham, cheiram o copo… pausa, voltam a rodopiar cheiram novamente com um sorriso e depois começam a divagar. O bouquet é qualquer coisa de fantástico, concentrado, fresco, pecaminoso e novamente de enorme elegância, começa com toque de laca, abre e depois dá lugar à festa, toffee, nozes, caixa de charutos, aromas envoltos numa capa fresca e ligeiramente untuoso repleto de tâmaras, figos, fruta cristalizada. Tudo isto passa para o palato, entra cheio de vontade, untuoso, guloso para depois se mostrar com grande elegância, frescura e um final muito longo e persistente. Inesquecível.

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Blandy’s Verdelho 1887 © Blend All About Wine, Lda.

Blandy’s Verdelho 1887
Em 2011 foi identificado um Verdelho que estava colocado em demijohn de 50 litros, um Verdelho 1887 que acabaria por ser engarrafado em 2013. Destaca-se no imediato pela sua tonalidade, com aqueles lindos rebordos verde-esmeralda a indicarem uma idade de respeito. No aroma a festa é grande, começa por um toque de laca, depois serena e desperta para a sua plenitude, toque de madeira velha com fruta cristalizada, bolo inglês, figo e maçã em tarte, num sem fim de aromas que o envolvem num turbilhão de emoções. Boca arrebatadora, largo, profundo, denso e misterioso. Muito boa presença de fruta ao nível do nariz, ainda limpa e fresca, estamos a falar de um vinho de 1887, complementa-se com notas de caramelo, raspas de casca de laranja, grão de café verde num misto que combina o toque ligeiramente doce e frutado de início para terminar seco e untuoso no final.

Contactos
Blandy’s Wine Lodge
Avenida Arriaga 28,
9000-064 Funchal,
Madeira – Portugal
Tel.: (+351) 291740 110
Fax: (+351) 291 740111
Site: www.blandys.com