Posts By : Sarah Ahmed

Poças: Uma nova era de vinhos do Douro com um pouco de “je sais quoi”

Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira

O vinho do Porto é tão representativo de Portugal, que é difícil de acreditar que a Poças Junior é uma das poucas casas de vinho do Porto que se manteve sempre na posse da mesma família (e já agora, de portugueses) desde que foi fundada, há cerca de 100 anos atrás por Manuel Domingues Poças Junior. Quando me encontrei com a viticultora chefe Maria Manuel Poças Maia, fiquei com a certeza de que a sua geração, a quarta, está completamente determinada em mantê-la assim.

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A nova era desarrolhada pela viticultora chefe de vinho do Porto Maria Manuel Poças Maia de Poças Junior – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Mas isso não é sinónimo de conservadorismo, de falta de imaginação ou entusiasmo. Muito longe disso! Ainda não me tinha apercebido que a Poças Wines foi uma das primeiras produtoras a lançar-se nos vinhos de mesa do Douro, no início da era moderna em 1990. O clique? O primo de Maria, o enólogo chefe Jorge Manuel Pintão, que tinha acabado de entrar no negócio, logo após terminar o curso de enologia em Bordéus e um estágio na Château Giscours, também nesta famosa região francesa. Maria Maia disse-me, “o Jorge queria fazer aqui, aquilo que tinha aprendido em Bordéus, e sabia que o Douro tinha potencial para bons vinhos secos.”

Claro que Jorge não foi o primeiro enólogo a inspirar-se em Bordéus. Fernando Nicolau de Almeida, o criador da Barca Velha, é quem pode ostentar esse “título”. Mas, graças à ligação contínua que Jorge manteve com a prestigiada região francesa (Maria Maia diz que “ele nunca perdeu o contacto com Bordéus”), a Poças deu um passo mais além. No ano passado a empresa garantiu os serviços do enólogo e consultor bordalense Hubert de Boüard de Laforest, dono da famosa Château Angélus, em Saint-Emilion. Juntamente com Philippe Nunes (de descendência portuguesa), da consultora Hubert de Boüard, este duo bordalense ajudou na criação dos vinhos do Douro 2014 da Poças.

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Tempo de reflexão na Poças – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

25 anos a produzir vinhos do Douro fazem da Poças uma das empresas produtoras destes vinhos com mais experiência. Perguntei a Maria Maia porque é que a família sentiu a necessidade de contratar um consultor. A reposta foi franca e sem rodeios – “hoje em dia o mercado está complicado e queríamos expandir os nossos mercados de vinho de mesa. Estamos a crescer a nível de vinho do Porto mas queremos ver o mesmo tipo de crescimento nos vinhos do Douro, que está a começar a ser muito conhecido mas não o suficiente, precisa de ter ainda maior visibilidade.” Por outras palavras, não se tratou apenas de “ter alguém de fora a dar-nos novas ideias para evoluirmos”, mas também pelo perfil que a consultora Hubert Boüard lhes conferiu. E admite sem qualquer problema, “sendo de França, o estatuto é algo importante… Claro que trabalhar com Bordéus está a acrescentar valor à garrafa, mas também está a acrescentar valor à percepção.”

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Maria Manuel Poças Maia of Poças Junior contra um cartaz da Quinta Santa Barbara – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

No entanto, Maria Maia é peremptória a colocar ênfase num aspecto importante, “eles (a consultora Hubert Boüard) estão a ajudar a nossa imagem de vinhos e de estilos a crescer, mas sem nunca esquecer que queremos utilizar castas portuguesas e manter a herança das nossas uvas e do nosso terroir.” Dada a enorme experiência da consultora em vinhos de todo o mundo, a família ficou muito contente por ver o “grande respeito que demonstraram pelo que encontraram aqui no Douro.” Se Maria Maia receava que Boüard tivesse algumas reticências em relação às vinhas velhas, esse receio foi dissipado quando Boüard visitou pela primeira vez Santa Bárbara (as vinhas da Poças em Caêdo, Cima Corgo) e se deparou com as vinhas velhas e o xisto. A brilhar de orgulho, a viticultora que nos seus tenros 23 anos de idade assumiu a responsabilidade pelas três quintas da família em 2005, aponta, “Boüard disse-nos, ‘isto sim, é terroir’, e que estava realmente convencido que poderia fazer um vinho muito bom.”

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O novo e melhorado branco do Douro Poças Coroa d’Ouro 2014 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Antes de provar as amostras dos novos, e melhorados vinhos de 2014 (ainda nenhum foi lançado no mercado, e os tintos ainda não estão acabados), falamos sobre as mudanças que foram efectuadas com a entrada da consultora Hubert Boüard. Descrevendo essas mudanças como “ligeiros aperfeiçoamentos”, Maria Maia explicou que o objectivo, no geral, consistia em, “alcançar um estilo mais internacional – uma percepção mais suave dos vinhos do Douro, porque são vistos como sendo muito tânicos, fortes e difíceis de beber.” Nas vinhas, esta procura de elegância,  e em especial de taninos mais refinados, comportou ligeiras mudanças na selecção da fruta. Agora as uvas provêm de parcelas mais maduras, e Boüard introduziu uma nova componente – uma vinha mais nova (15 anos) – à field blend do tinto que comanda as hostes – Símbolo – e que é composta predominantemente por vinhas velhas.

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Que venha o novo, para substituir o antigo – Poças Vale de Cavalos 2014 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Na adega, as alterações passaram por diferentes configurações de prensa (para o branco unoaked) e diferentes escolhas de fermentação e carvalho. Os tintos deixaram de ser envelhecidos na combinação de carvalho francês e americano. Desde 2014 que são envelhecidos em barricas 100% de carvalho francês, utilizando diferentes tanoeiros ou o mesmo mas com diferentes madeiras. Os bordaleses são famosos pelos seus skills em blending, pelo que os vinhos premium são agora produzidos num novo espaço, mais amplo, “para poderem tentar diferentes opções [de blending].”

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Grande potencial do tinto que comanda as hostes Poças Simbolo 2014 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Obviamente é ainda muito cedo para se chegar a qualquer conclusão definitiva relativamente a esta relação Douro/Bordéus, ou aos vinhos de 2014. No entanto, tendo comparado o branco Poças Coroa d’Ouro e as amostras (de barril) dos ainda não terminados Vale de Cavalos e Símbolo, com colheitas anteriores (2013, 2011 e 2007 respectivamente), acho que a Poças não só irá celebrar o seu centenário em 2018 como irá obter um grande retorno do seu investimento. Apesar da juventude, os três vinhos apresentaram um grande requinte no seu final; a longevidade melhorada do branco, e a qualidade dos taninos dos tintos, foram particularmente marcantes. O Símbolo 2007 estava em pleno estado de maturidade e mais desenvolvido do que estava à espera; pelo contrário, os taninos secos já estavam a começar a ofuscar a fruta. Por outro lado, o Símbolo 2014 impressionou-me com os seus requintados e fluentes taninos. A amostra que provei era vibrante, perfumada e mineral, com um longo e elegante final. A mostrar grande potencial, e reconheço que vai proporcionar mais prazer e durante mais tempo do que o 2007. É um testemunho à vinificação, já que o ano de 2007 foi um ano muito aclamado (declarado ano Vintage no vinho do Porto) e o ano de 2014 foi muito mais complicado, com chuvas intermitentes durante a colheita. Espero ansiosamente para provar o produto acabado.

Com o toque je sais quoi [da consultora Hubert Boüard] os vinhos do Douro da gama de 2014 da Poças podem ser novos, melhorados e com um perfil mais conotado, mas há coisas que não mudam. Foi-me dito que a Poças pretende manter a tradição da família no que toca à boa relação preço/qualidade (o preço do actual Simbolo é de €43-50/garrafa). Como diz Maria Maia, “preferimos a qualidade, não a quantidade, mas sem nunca atingir preços inalcançáveis.” Bebo a isso!

Contactos
Manoel D. Poças Junior – Vinhos, S.A
Rua Visconde das Devesas 186
4401 – 337 Vila Nova de Gaia
Portugal
Tel.: (+ 351) 223 771 070
Website: www.pocas.pt

De Volta aos anos 30 com a Casa dos Tawnies

Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira

Big Fortified Tasting (Grande Prova de Fortificados) é a uma feira exclusivamente dedicada a vinhos fortificados, e a maior do mundo para este propósito. E é também uma das minhas provas favoritas do ano, até porque fortificados envelhecidos em madeira – obras vínicas do tempo – estão entre os mais deliciosos e complexos vinhos à face da Terra. Por isso não hesitei quando tive a oportunidade de participar na Masterclass “House of Tawnies”, da Sogevinus, que me levou de volta aos anos 30. Pode ter sido a era da Depressão mas, no que toca ao vinho do Porto, à medida que provava os Colheitas 1935, 1937 e 1938, havia muitas razões celebrar!

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Carlos Alves, Enólogo do grupo Sogevinus – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Não contabilizando a inegável qualidade destes vinhos do Porto, a auto-intitulada alcunha “House of Tawnies” encaixa-lhe que nem uma luva. Quando a Sogevinus adquiriu, há 10 anos atrás, a Kopke, a Burmester, a Barros e a Cálem, ficou em posse do maior stock de Colheitas em Portugal – segundo o enólogo do grupo, Carlos Alves, a Sogevinus possui 17 milhões de litros de Porto Tawny. Além do mais, já que os Colheitas são engarrafados por encomenda, passam muito mais tempo em madeira do que os 7 anos mínimos legais. Agora que tenho tempo para pensar, foi qualquer coisa de extraordinário provar vinhos que passaram mais de 80 anos em madeira. Os 4 Colheitas que provamos tinham sido engarrafados apenas 15 dias antes.

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Os quatro copos na mesa de prova – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

É uma longevidade que se baseia simultaneamente na mestria de selecção das uvas e o cuidado dispensado nestes raros e finos Portos durante o seu longo estágio em madeira. Alves explica que, as uvas não têm apenas de ter estrutura para envelhecer, devem também enquadrar-se na filosofia da casa. Ele certifica-se disso, nas vinhas, todos os anos, a cada vindima; as uvas para os Colheitas são as primeiras a ser alocadas já que esta categoria é uma imagem de marca da empresa.

Nos Kopke, as uvas para os Colheita têm sido obtidas, desde os anos 20, nas parcelas do meio e superiores da Quinta S. Luiz, perto do Pinhão, em Cima Corgo. A 600m acima do nível médio das águas do mar, proporcionam a acidez para o estilo estruturado e intenso do Kopke. Quando a Barros adquiriu a Kopke em 1952, também pensou nas uvas da Quinta S. Luiz mas, neste caso, uvas com um maior teor de açúcar são obtidas de duas parcelas mais baixas e mais quentes, da vinha junto ao rio. São mais adequadas para os Portos mais ricos desta casa.

Quanto ao cuidado dispensado aos Portos durante o tempo que passam em madeira, Alves tem uma equipa dedicada para isso, consistiando de duas pessoas, isto porque “precisam de conhecer os vinhos para trabalhá-los bem”. Acrescenta ainda que, têm o cuidado de se certificarem que as pipas, os tonéis e as barricas se mantém sempre ligados à mesma casa “já que a madeira – o tamanho e tipo de madeira – confere perfil à casa”. A Cálem, por exemplo, com a maior variedade de barris, tem a tradição de envelhecer os vinhos em madeira tropical/exótica.

Alves e a sua equipa transferem os Colheitas, pelo menos uma vez por ano, das pipas individuais de 550 litros (barril de Porto) em que se encontram, para uma barrica grande, isto para poderem ajustar os níveis de aguardente vínica (que evapora ao longo do tempo) e manter os de requisitos mínimos de percentagem alcoólica (a aguardente vínica integra-se muito melhor quando misturada em quantidades mais elevadas, na barrica). Há dois factores que ajudam a explicar o porquê destes Colheitas dos anos 30 – os mais antigos que a empresa tem para venda – terem conseguido manter uma frescura incrível, sendo que um deles é este modo de exposição ao ar, e o outro é o facto de lavarem as pipas antes de recolocarem lá os Portos. Aqui estão as minhas notas de prova:

Kopke Porto Branco 1935

Fundada em 1638 por Christiano Kopke e pelo seu filho Nicolau, a Kopke é a empresa mais antiga de exportação de vinho do Porto. Em 1953 foi adquirida pela família Barros, nas mãos da qual ficou até 2006, altura em que a própria Barros foi aquirida pela Sogevinus. Com cerca de 45g/l de açúcar residual, este pálido e raro Colheita, feito a partir de uvas brancas, é, em termos de estilo, mais seco do que o Kopke Tawny Colheita de uvas tintas. Tem um nariz mais firme e focado, ainda que mais contido. Palato com notas distintas a maresia/ ozono e nogado, estilo Fino (Sherry Seco) – mais leve e menos doce do que o sabor a nozes que normalmente associo aos tawnies. E, talvez por ter menos extracto e açúcar residual, tem uma frescura particularmente marcada. É de um ano altamente considerado no Douro, e tem uma electrizante intensidade de perfume a casca de laranja, laranja e maça eau-de-vie, com notas de anis e apimentado num final longo e limpo.

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Kopke Porto Branco 1935 & Kopke Porto Colheita 1935 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Kopke Porto Colheita 1935

Âmbar carregado e borda de açafrão. Com as suas notas a casca de laranja e toranja no nariz, tem uma sensação palpável de frescura – um ponto a mais. Mas também há riqueza, o que me faz lembrar dos biscoitos Madeleine. Na boca, tem uma energia fantástica. Uma espinha nogada confere longevidade e tensão, o toque a toranja e a casca de laranja conferem sabor, enquanto que, um toque de vinagrinho de frutas faz um contraste picante com o figo seco, doce e suave. Um final longo, muito vibrante, com um timbre maravilhoso. Fabulosamente complexo e com personalidade.

Burmester Porto Colheita 1937

Henry Burmester e John Nash começaram a enviar vinho do Porto para as Ilhas Britânicas após chegarem a Vila Nova de Gaia, em 1750. A casa de Porto permaneceu na família Burmester até 2005, altura em que foi adquirida pela Sogevinus. Apesar de ter uma cor caramelo queimado, é um Colheita particularmente sedoso, com um paladar (e doçura aparente) muito diferente do Kopke. Parece muito mais jovem, tal é o seu perfeito e harmoniosamente frutado paladar a caramelo salgado. Alves descreve-o como sendo “uma caixa de perfume”, devido aos aromas que apresenta. É possível distinguir tamarindo, canela adocicada e cardamomo no chutney de frutas secas e damasco de Tânger. Rico, mas bem equilibrado, tem uma grande postura e persistência no final, carregado a cigarrilhas de café crème. Melífluo, muito elegante.

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Barros Porto Colheita 1938 & Burmester Porto Colheita 1937 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Barros Porto Colheita 1938

A Barros foi fundada em 1903 por Manoel de Almeida e adquirida pela Sogevinus em 2006. Proveniente de ano quente, este Barros tem tons fulvos, e nas bordas, açafrão e azeitona nas. No nariz sente-se um pouco a aguardente, com uma pitada de noz. E, contrariamente à realidade, sugere ser o mais velho dos Colheitas Tawny. Na boca é mais doce, com tâmaras secas, crème caramel, caramelo salgado e nogado. No entanto, o final demonstra um traço de terra e noz amarga – está a secar um pouco. Não é tão harmonioso como os outros.

O meu preferido? É difícil escolher entre o Kopke e o Burmester – são estilos tão diferentes, tal como devem ser. Fazendo um balanço, o Kopke é o mais etéreo dos dois – adorei a energia, tensão e toque que apresentou. Mas o equilíbrio aveludado do Burmester foi o que colheu mais votos.

Se quiser fazer o seu próprio mano a mano Burmester vs Kopke, porque não juntar-se a mim no Tour da Blend – All About Wine ao Porto, Vinho Verde e Douro no próximo mês?  Vamos fazer um frente a frente de Tawnies 20 anos e Portos brancos da Kopke e da Burmester, seguido de dois Colheitas da Kopke, um 1966, e outro de 1957, um dos meus Portos favoritos que também indiquei no artigo que escrevi para a wine-searcher em Dezembro.  Dias felizes!

Contactos
Sogevinus Fine Wines, S.A.
Avenida Diogo Leite nº 344
4400-111 Vila Nova de Gaia
Tel: +351 22 3746660
Fax: +351 22 3746699
E-mail: comercial@sogevinus.com
Website: www.sogevinus.com

Olho no Pé: A coragem de ir onde nunca outro homem foi

Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira

No meu último artigo sobre o Douro disse “procurai e achareis”, porque nenhuma outra região portuguesa pode certamente gabar-se de ter uma tão rica diversidade de terroirs? Na realidade,  se procurarmos bem podemos até descobrir vinhos doces no Douro. É claro que não estou a falar de vinho do Porto. Estou a falar de vinhos de sobremesa influenciados por colheita tardia e por botrytis, isto é, sem ser necessária a adição de aguardente vínica.

A adição de aguardente vínica interrompe o processo de fermentação que transforma os açúcares da uva em álcool, o que explica o porquê de os vinhos fortificados, como o vinho do Porto e o  Moscatel do Douro, serem doces. Por outro lado, os vinhos doces não fortificados, confiam simplesmente em ter níveis de açúcar altíssimos. Deixem as uvas na vinha por tempo suficiente e, se o tempo estiver seco e ensolarado, o Douro irá presentear-vos com enormes quantidades de açúcar. Então porque é que não vemos mais vinhos doces, não fortificados, no Douro?

A resposta reside no facto de que, um grande énologo de vinhos de sobremesa tem de ser um equilibrista perfeito entre o açúcar e a acidez.

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Equilibrista in unbornmind.com

À medida que os açúcares da uva sobem, a acidez diminui. Se a acidez for muito baixa, o vinho vai ser demasiado doce, ou pior, flácido. Os grandes vinhos de sobremesa precisam tanto de altos níveis de açúcar como de acidez. Não é uma combinação fácil num clima quente e seco.

É por isso que o punhado de vinhos doces do Douro que encontrei advêm de vinhas a grande altitude. E podem ser realmente impressionantes. Por exemplo, o Rozès Noble Late Harvest 2009, ao qual o meu painel atribuiu a Medalha de Ouro e o Troféu de Vinho Doce no Decanter World Wine Awards 2011, ou o Quinta do Portal Late Harvest 2007, um dos meus 50 Grandes Vinhos Portugueses 2010.Quanto mais elevadas estiverem as vinhas, mais elevada será a acidez, porque, em altitude, as temperaturas caem drasticamente, especialmente durante a noite. Junte-se a este facto o nevoeiro matinal e a humidade, e estão reunidas as condições perfeitas para a botrytis se firmar. E ao contrário do que seria de se esperar, este fungo dá lugar aos mais mágicos vinhos doces, não só porque concentra a doçura e a acidez, mas também porque dá lugar a uma complexidade melada, muitas vezes floral (camomila ou açafrão). Não é de admirar que também seja apelidada de podridão nobre!

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Tiago Sampaio da Olho no Pé no Simplesmente Vinho – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

A minha última descoberta no que toca a vinhos de sobremesa, são os vinhos produzidos por Tiago Sampaio da Olho no Pé. Descrevendo-se como “a one man show”, o despertar do interesse de Sampaio pelo vinho foi desencadeado pelo seu avô que o apresentou, quando ainda jovem, às vinhas do Douro e ao mundo do vinho. Mas tenho as minhas suspeitas de que o foco na frescura que Sampaio apresenta nos seus vinhos é resultado dos 5 anos que passou no Oregon (onde tirou um doutoramento em Viticultura e Enologia). O que explica os pálidos mas prometedores Pinot Noirs que tem no seu portfólio – a delicada casta da Borgonha beneficia das noites frescas do Oregon. Sampaio fundou a Olho no Pé quando regressou ao Douro, em 2007, depois da sua estadia nos Estados Unidos. Os vinhos de sobremesa que me mostrou no Simplesmente Vinho, realizado no início deste ano (finais de Fevereiro), são ambos produto de um field blend de vinhas velhas (com mais de 70 anos) maioritarimente composto por Gouveio, em Alijó e a 600 metros acima do nível médio das águas do mar. Devido à sua altitude, tal como Favaios, o município é tradicionalmente famoso pelo seu delicado e fresco Moscatel do Douro, bem como pelos brancos secos que agora começam a ganhar destaque. Aqui estão as minhas notas relativamente aos deliciosos vinhos doces de Sampaio:

Olho no Pé Colheita Tardia

 2011 (Douro)

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Olho no Pé Colheita Tardia 2011 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Sampaio tem um toque muito delicado. Uvas escolhidas a dedo, repletas de açúcar (este vinho tem à volta de 200 g/l de açúcar residual), são colhidas em vindimas sucessivas e altamente selectivas. Foi fermentado de forma natural e muito lentamente. À medida que o sumo da uva se transformava, lentamente, em vinho, foram surgindo aromas e sabores complexos – açafrão, gengibre cristalizado, camomila e peras cozidas. Textura aveludada, muito fresco e puro, o vinho foi envelhecido em borras finas, em barricas de carvalho já usadas, o que permite que a fruta se mostre. Super-agradável com uma qualidade sedutora e não-trabalhada. 11%

Olho no Pé 2011 (Vinho, Portugal)

Se exagerar, será apenas um pouco (no que diz respeito ao Douro), mas reconheço que este cuvée que ainda não tem nome, ousa ir nenhum foi antes. É o produto das mais concentradas uvas atacadas por Botrytis, de 2011 (que é o mesmo que dizer todas as colheitas em que Sampaio já trabalhou). Apenas dois barris foram feitos, que, com o dobro da quantidade de açúcar residual (400 g/l) levaram muito, muito mais tempo para fermentar – dois anos! Com apenas 7% de teor alcoólico está abaixo do nível mínimo para a DOC Douro ou para a classificação VR Duriense. Ainda assim revela a mesma assinatura a açafrão de botrytis que o vinho Colheita Tardia – toque adorável e pureza. Um palato acetinado que revela açúcar caramelizado, algodão doce e uma maçã mais fresca, focada, brilhante e apertada junto do núcleo, conferindo-lhe um traço bem-vindo que equilibra a amargura e a acidez. Saboroso mas fresco, concentrado mas com leveza, esta doce sensação de uvas perdura muito tempo na boca e na memória. Uma experiência!

Contactos
Tiago Sampaio
Rua António Cândido, 7
5070-029 Alijó, Portugal
Mobile: (+351) 960 487 850
E-mail: info@foliasdebaco.com
Website: www.foliasdebaco.com

Blend, Tudo Sobre Vinho: Teoria do Caos & O Simpósio “New Douro”

Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira

Uma das minhas piadas varietais favoritas diz respeito à Cabarnet Sauvignon, sobre a qual o enólogo californiano Sean Thackrey entoou memoravelmente, “Defenitivamente não quereria sentar-me ao seu lado num jantar; é demasiado educada!”. Sem dúvida que esta icónica casta de Bordéus é para as uvas o que as riscas-de-giz são para os fatos – emana postura, sofisticação, poder e controle.

Caso se esteja a perguntar o que é que isto tem a ver com o Douro, fique comigo. Aliás, recue um pouco até ao meu artigo de Fevereiro sobre a vertical de Chryseia com Bruno Prats em que descrevi como este reconhecido enólogo bordalense, nado e criado um homem de Cabarnet, controla soberbamente a sua matéria-prima. Prats confessou que na sua óptica apenas a Touriga Nacional e a Touriga Franca são “interessantes”, ao mesmo tempo que demonstrou uma clara preferência pelas plantações de bloco (monovarietais) em deterimento das tradicionais plantações multivarietais field blend do Douro. Porquê? Para “ter a certeza de as estar a colher na altura certa”.

Cristiano Van Zeller in didu.com.br

A ‘altura certa’ é um tema por si próprio (o colega escritor Andrew Jefford aborda-o aqui) mas, discursando na prova anual de Londres “New Douro”, Cristiano van Zeller da Quinta Vale D. Maria discordou sobre até que ponto é necessário manter o controlo dos recursos naturais do Douro. Ao reflectir sobre o carácter português – um carácter que, “gostou do caos durante muito, muito tempo” – afirmou “temos que fazer uso do nosso carácter – um pouco de caos. Não temos de controlar tudo. Uma pequena surpresa todos os anos, é isso temos estado a tentar fazer no Douro”. Em relação às castas sublinhou que, “as plantações são muito diferentes de qualquer outro lugar no mundo… é muito difícil para qualquer uva expressar realmente o que o Douro é e o que tem a dizer, e por isso os viticultores tentam encontrar o perfil do Douro ao juntarem umas às outras”.

Também existe um segredo local. Van Zeller revelou, “se plantarmos por bloco, claro que as uvas têm diferentes períodos de amadurecimento, mas quando estão todas aleatoriamente e razoavelmente misturadas num único talhão, verificamos que a diferença temporal entre a que amadurece primeiro e a que amadurece por último, é muito mais reduzida – apenas 3 a 4 dias.”. A cereja no topo do bolo é que as field blends envolvem necessariamente uma co-fermentação de diferentes castas, um processo que David Guimaraens da The Fladgate Partnership verificou “conferir uma maior dimensão de sabor e equilíbrio”. E é por isso que agora prefere micro-talhões monovarietais (apenas algumas linhas), que podem ser colhidas alternadamente com micro-talhões de diferentes variedades e ser co-fermentadas (pode ler o que David Guimaraens tem a dizer sobre a evolução do afastamento e retoma a uma abordagem mais multi-varietal aqui).

Esta nova abordagem pode ser descrita como um caos organizado mas, quando Van Zeller revelou que a composição varietal das field blends de vinhas velhas é adaptada para os diferentes terroirs, fez parecer que sempre houve método no meio da aparente loucura. Por exemplo, disse que o Vale do Torto tem à volta de 7-8% Rufete, enquanto que o Vale do Pinhão tem mais Sousão; a Tinta Francisca sempre foi mais importante na Quinta do Roriz.

Para David Baverstock, da Quinta das Murças, que fez a abertura do Simpósio “New Douro” e que teve lugar no mês passado, o caos organizado resume bem a vida no Douro. Explicou que os desafios da região são “o que nos move como enólogos – tentar controlar as coisas ao máximo mas sabendo que no final de contas temos de ‘ir com a corrente’. Para além das field blends e da topografia montanhosa, as condições meteorológicas também desempenham um papel importante em qualquer colheita”.

David Baverstock in blog.esporao.com

A diversidade de terroir no Douro foi o tópico do simpósio e, dos quatro oradores, Baverstock era o que estava numa posição mais priveligiada para falar do progresso que foi feito, remontando a 1990 quando deixou a região pela Esporão no Alentjo. Disse-me que “Mudou radicalmente. Era muito fácil no início dos anos 90, não exisitia grande competição na altura. O Barca Velha era reconhecido como um grande vinho mas raramente era lançado para o mercado. O Dirk e o Cristiano estavam apenas começar, a Duas Quintas também, era muito fácil avançar com projectos como a La Rosa e a Crasto. Mas agora, o nível de vinificação, a qualidade dos vinhos e o conhecimento do potencial do Douro, com os seus diferentes meso e micro climas, estão num patamar altíssimo.”.

Aprofundando o tema e passando para os tipos de solo, Baverstock falou do importante papel do xisto no Douro. Aparentemente, o Douro é uma das poucas regiões que tem o xisto alinhado verticalmente, o que permite às raízes da vinha entrarem no solo por entre as placas de rocha. O facto de as chuvas serem escassas no Douro combinado com a friabilidade do xisto permite que as vinhas se enraízem “muito fundo”. Os melhores lugares permitem mesmo que as raízes cheguem a cerca de 10 metros de profundidade, o que ajuda as vinhas a ultrapassar a difícil (quente e seca) época de crescimento. Por outro lado, o xisto (especialmente em encostas íngremes) é bem drenado, o que significa que as vinhas nunca chegam a ficar impregnadas de água. O xisto também é vantajoso porque, estando num constante estado de decomposição, proporciona às vinhas os oligoelementos que precisam para sobreviver.

As raízes das vinhas do Douro podem ser profundas mas, no que toca aos produtores, Paul Symington da Symington Family Estates confessou, “estamos apenas a começar a apalpar a superfície do que é a verdadeira história do Douro.” Contrastando-o com o terroir razoavelmente homogêneo de Bordéus, descreveu o Douro como “a região vitivinícola mais diversa das grandes regiões vitivinícolas do mundo.” As razões desta diversidade? Symington debitou uma longa lista de factores que têm impacto sobre os estilos de vinhos, incluindo a surpreendente variação de precipitação e temperatura, dependendo da localização, altitude e aspecto. Nos sítios em que as vinhas estejam viradas para pontos diferentes, e mesmo dentro da própria vinha, os Symington colhem as uvas em caixas codificadas por cores de acordo com o aspecto. O pH do solo também é muito diferente ao longo Douro, algo que tem impacto na capacidade para vinha absorver os minerais (fica comprometida se os solos forem muito ácidos).

Paul Symington in symington.com

O discurso de Van Zeller centrou-se na grande diversidade de castas do Douro e na tendência de retoma às plantações multivarietais de grande densidade, sejam os micro-talhões de Guimaraens ou a sua nova versão das plantações antigas na Quinta Vale D. Maria. “Estou a misturar tudo”, disse, pois percebeu que a qualidade e perfil não derivam da idade da vinha em si, mas sim da mistura de castas nas vinhas e da co-fermetação das uvas (isto apesar de Dirk Niepoort ter afirmado a sua crença de que as vinhas velhas “falam muito mais alto” sobre o terroir do que a casta). Trabalhar com uma ampla diversidade de castas é, também aqui, um ponto vantajoso, ao dizer “nem todas as castas são afectadas pelas mesmas doenças ao mesmo tempo ou têm a mesma produção, portanto, de uma maneira ou de outra podemos garantir uma certa capacidade de produzir excelênica a maior parte das vezes.

Dirk Niepoort da Niepoort concluiu o simpósio a enfatizar que, o “novo” em “New Douro” se refere ao facto de que até recentemente os produtores apenas pensavam em vinho do Porto – “todos nós sabemos quais são as melhores vinhas e locais para Porto, mas algo novo aconteceu, uma prioridade diferente e portanto temos de olhar para o Douro com uma prespectiva completamente diferente.”

Dirk Niepoort in adfwines.com

Na opinião firme de Niepoort, as melhores vinhas para Porto não são necessariamente as melhores para vinhos DOC Douro, isto porque, “o Porto gosta de condições extremas – vinhas viradas a sul e particularmente secas e quentes. Mas para os tintos e especialmente para os brancos precisamos de algo menos extremo – vinhas viradas a norte são muito mais interessantes e, de repente, por causa do frio da noite que influencia a acidez, a altitude já interessa”. Acredita que os melhores locais para brancos estão agora a ser identificados.

No entanto, os vinhos DOC Douro já representam um terço (em termos de valor) da produção e Niepoort acredita que a procura por mais vinho de qualidade superior vai aumentar muito em breve. Embora Symington não tenha dúvidas na capacidade dos melhores vinhos do Douro competirem com os melhores das outras regiões ou sobre a perspectiva de produzir muito mais, perguntou, “estará uma pessoa normal que vemos passar na rua na disposição de pagar £20 por uma garrafa de vinho do Douro?”. Para ele, a resposta é “Ainda não chegamos lá.”.

Quer esteja na disposição de pagar £20, ou substancialmente mais ou menos, descobri muitos vinhos excitantes no meio dos últimos lançamentos mostrados na prova “New Douro”. Os brancos 2013 representam uma das melhores colheitas que já provei, enquanto que os melhores tintos de 2012 já são abordáveis, com um charme elegante. Procurem e encontrarão!

Quinta de Soalheiro – Alvarinho em todas as Direcções

Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira

‘Scales fall from the eyes’ (“Tirar as palas dos olhos”). É uma frase dramática. Uma frase que utilizo por duas vezes nesta peça e que portanto, caro leitor, me senti na responsabilidade de investigar a sua origem. Provavelmente já sabe que vem da Bíblia, do conto de Saulo, um perseguidor de cristãos, que após ter sua visão restaurada por um Cristão, vê a luz e converte-se ao Cristianismo.

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Dá-me a luz do sol; A Quinta de Soalheiro é um hotspot para o Alvarinho – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

A minha conversão ao Vinho Verde, ou mais propriamente ao Alvarinho, esteve longe de ser uma experiência religiosa. Mas confesso que tenho sido um pouco evangélica em relação ao Alvarinho desde que o descobri, há cerca de 12 anos atrás, na Prova Anual de Vinhos de Portugal. Estava um dia invulgarmente quente e ensolarado em Londres – e qual sítio melhor para saciar a minha sede do que a mesa de Vinho Verde?

À medida que dava o meu primeiro gole do Alvarinho Palacio da Brejoeira, experienciei o meu primeiro momento “scales fall from eyes” (abrir os olhos). Percebi que o Vinho Verde não era apenas um agradável produto comercial, gaseificado, e meio-seco. O Brejoeira era tão elegante e requintado como a sua delicada garrafa flute. E ganhava aos pontos ao Rias Baixas Albariño que eu na altura vendia em Oddbins.

O meu segundo momento “scales fall from eyes” (abrir os olhos)? Foi uma prova vertical na Quinta de Soalheiro com o enólogo Luis Cerdeira. Provamos este, a primeira marca de Alvarinho em Melgaço, da colheita de 1995. Outro mito desmentido. Nem todo o Vinho Verde é, como dizemos na Hugh Johnson Pocket Wine, “DYA” (drink the youngest available – beber o mais jovem dísponível). O 1995 (unoaked) estava glorioso.

Plante a casta certa (Alvarinho) no lugar certo (Monção e Melgaço) e este prospera, mesmo depois de 14 anos em garrafa! Daqui para a frente, valerá a pena procurar nos rótulos de Vinho Verde por essa sub-região de alta importância, Monção e Melgaço, já que estão em andamento planos para permitir que que todos os produtores de Vinho Verde, e não apenas aqueles localizados em Monção e Melgaço, coloquem Alvarinho no rótulo frontal.

O que faz o Alvarinho de Monção e Melgaço tão especial? A pista está no nome da quinta dos Cerdeira. Soalheiro significa ensolarado, localizado no interior e abrigado da influência do Atlântico. Monção e Melgaço é a região do Vinho Verde mais seca e ensolarada. As percentagens hl/ha também são mais baixas, o que explica o porquê dos Alvarinhos desta Sub-Região terem a concentração necessária para envelhecer tão brilhantemente, isto já para não falar da sua grande complexidade e requinte.

Estou ansiosa por partilhar estas experiências de ‘abrir os olhos’ em Junho numa prova mini-vertical na Quinta de Soalheiro (e uma visita ao Palácio da Brejoeira), quando eu estiver a conduzir o Premium Tour da Blend – All About Wine, de produtores de excelência do Douro e Vinho Verde. Espero que se possam juntar a mim.

Aqui estão as minhas notas sobre os últimos lançamentos da Quinta de Soalheiro:

Quinta de Soalheiro Alvarinho Bruto 2013 (Vinho Espumante IG Minho)

Amarelo pálido com bolhas de tamanho considerável. Manga verde no nariz, seguido de um palato cremoso a salada de frutas, muito focado na fruta. É, de facto, muito vínico – mais parecido com um vinho de mesa do que um espumante. Também porque as bolhas não são muito persistentes, embora a fruta seja. E também tenho a certeza que o intuito de Cerdeira não era um espumante tipo champanhe. Pelo contrário, a intenção é destacar fruta ensolarada da Soalheiro. Sim, pensa que apenas a Austrália transporta o sol para copo, acontece que este também. Muito agradável, divertido e irresistível, trouxe-me memórias da minha primeira prova com Cerdeira num longo almoço de convívio no restaurante Panorama. Foi a companhia perfeita a caranguejo barrado em pão rústico e saboroso. Isto é para beber! 12.5%

Quinta de Soalheiro Dócil 2014 (IG Minho)

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Quinta de Soalheiro Dócil 2014 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Este Alvarinho meio-seco, equilibrado e com textura, mostra uma cascata de sabores à medida que se abre, desde doce de pêra cozida, casca de pêra e lichia a maracujá. Uma lenta e muito suave pulsação de acidez desperta os sabores. Muito diferente dos estilos mais secos – um Alvarinho em câmara lenta. 9% , 48g/l de açucar residual.

Quinta de Soalheiro Alvarinho 2014 (Monçao e Melgaço)

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Quinta de Soalheiro Alvarinho 2014 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Esta foi uma colheita complicada devido às chuvas no fim de Setembro e Outubro. No entanto a Soalheiro já tinha colhido a sua fruta. A amplitude da concentração e complexidade deste vinho fica demonstrada pelo quão bem sabe no segundo dia, quando do copo saltam madressilva, maracujá e lúpulo. Muito expressivo, e no palato mostra maracujá suculento, lichia e pêssego branco. Uma acidez persistente e agradável no final, atractivo para os apaixonados pelos poderosos Sauvignon Blancs da Nova Zelândia. 12.5%

Quinta de Soalheiro Primeiras Vinhas Alvarinho 2013 (DOC Monçao e Melgaço)

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Quinta de Soalheiro Primeiras Vinhas Alvarinho 2013 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

O nome ‘Primeiras Vinhas’ – um dos meus Alvarinhos favoritos – pressupõe que este seja proveniente das vinhas mais velhas da Soalheiro (mais de 30 anos de idade). De um ano excelente e de amadurecimento lento (com mais chuva de Inverno do que o que é costume, e com Julho e Agosto muito secos e quentes mas com noites frias), é um vinho adorável, com várias camadas, sendo porém, de expressão muito suave e elegante. Basta dizer que não salta do copo em direcção a nós como o seu irmão mais novo, mas procure e encontrará! No nariz, damasco ceroso e, no palato revela camadas de laranja vigorosa (um apelativo toque amargo), madressilva, pêssego cremoso amarelo e branco, borras agradáveis e notas de frutos secos nogados (15% deste cuvée foi fermentado em barril). Uma acidez dançante e minerais cintilantes levam a um final muito longo e suave, com uma fantástica ressonância de back palate. Lindo. 13%

Quinta de Soalheiro Reserva Alvarinho 2013 (DOC Monçao e Melgaço)

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Quinta de Soalheiro Reserva Alvarinho 2013 – Photo by Sarah Ahmed | All Rights Reserved

O Reserva foi fermentado e envelhecido em barricas de carvalho francês (em novas e em já utilizadas), em “batonnage” com borras finas, até ao final de Junho de 2014. Por vezes achei este vinho demasiado amadeirado para o meu gosto mas, o 2013 mostra uma fantástica transparência a alperce, pêssego, lichia e ananás. Um pingo de sabor a baunilha e ervas secas acrescentam interesse. Grande postura e equilíbrio; muito bom. 13%

A propósito, a gama de Alvarinhos da Soalheiro extende-se a uma aguardente Alvarinho e a ‘allo’ uma mistura minhota das castas Alvarinho e Loureiro. Tal como tinha dito, em todas as direcções!

Contactos
Quinta de Soalheiro
Alvaredo . Melgaço
4960-010 Alvaredo
Tel: (+351) 251 416 769
Fax: (+351) 251 416 771
E-mail: quinta@soalheiro.com
Website: www.soalheiro.com

De Paradoxo e Património: Uma Entrevista com Marta Soares, Casal Figueira

Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira

“O Vital é a minha cara”, diz Marta Soares do Casal Figueira.  Juntamente com o seu falecido marido, António Carvalho, Soares não só resgatou esta humilde e autóctone casta branca de Lisboa da escuridão como a fez reluzir.

Então como é que Soares descreve a Vital? As palavras surgem em catadupa. Afinal de contas, esta grande pensadora conhece-se bem. “Produtiva, forte, dinâmica. Uma amante do tempo e do espaço. Selvagem como a vinha. Fresca e austera, mas também complexa. Quando a começamos a conhecer, entramos no seu mundo.”. Através de garrafa luminescente de Casal Figueira António Vital 2013, Soares proporcionou-me um vislumbre privilegiado do seu mundo de paradoxo e património.

De paradoxo

Por ser “nascida em cimento”, Soares não tinha como objectivo produzir vinho como tinha Carvalho, cuja família era viticultora há gerações, em Vermelha, perto de Torres Vedras, na região vitivinícola de Lisboa. Pelo contrário, a antiga aluna da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa encontrou a sua identidade na arte. Quando conheceu Carvalho em 1999, Soares estava na iminência de partir para Nova Iorque para dar seguimento à sua carreira, inicialmente com o apoio da Fundação Luso-Americana e, a longo termo através do Programa Fullbright que tinha aprovado o seu portfólio; só precisava de finalizar a documentação.

Apesar de ter tido sucesso com as suas exposições, atira em reflexão, “Acho que era muito nova e depressa apareceu a pressão sobre mim própria; sabia que algo precisava de mudar”. Soares perguntou aos amigos se conheciam algum sítio onde ela pudesse estar em paz para pensar antes de partir para os Estados Unidos. Falaram-lhe de “um amigo louco com uma quinta”, perto de Torres Vedras, que provavelmente teria espaço para ela montar um estúdio.

Este ‘amigo louco’ era Carvalho, que, tendo estudado com viticultores franceses na Escola de Práticas Agrícolas de Montpellier, estava a arar um solitário sulco, produzindo vinho com qualidade e terroir-driven num terreno de propriedade familiar (Casal Figueira) com 50 hectares, 15 dos quais ele plantou com vinha em 1990. Como se isto não fosse suficientemente diferente da tradição lisboeta focada na quantidade, os seus vinhos eram cultivados biodinamicamente e incluíam as castas francesas Marsanne, Roussanne, Petit Manseng e Semillon, além das castas locais Fernão Pires e Arinto.

Soares recorda vivamente, “quando lá cheguei, deparei-me com este sujeito obstinado, com um chapéu, a podar as vinhas, uma por uma, de maneira repetitiva, todos os dias, de manhã até ao fim do dia. Ela olhava e tratava cada vinha como de uma escultura individual se tratasse; quase como o trabalho de um artista – é preciso moldá-la (a escultura) todos os dias, todos os anos, e aí será aquilo que queres que seja.”

Quando Soares e Carvalho partilhavam os frutos do seu trabalho no final daqueles longos dias, Soares encontrou a resposta à questão pertinente que tinha “O que é que motivava este homem?”. Descrevendo o objectivo dele, o vinho, como “muito forte”, diz, “era possível apreciar todo o trabalho”. Soares também se apercebeu que a “ladainha” de poda de Carvalho, com o objectivo de produzir vinho, paradoxalmente também lhe apelava pois “parecia relaxante”, contrastando com a vida de um artista em que “apenas construímos coisas, dia após dia, sem saber exactamente o que estamos a fazer”. Acrescenta ainda, para um viticultor, “nunca se está no comando porque a natureza dita o tempo que se gasta todos os dias, ao passo que um artista deve decidir se vai pintar ou não… tudo é nossa responsabilidade”.

Por outro lado, observa, quando se trabalha com a natureza e materiais orgânicos (o oposto de um artista que trabalha com materiais artificiais “para que possam controlar tudo”), temos de estar preparados para tudo o que acontecer. Através de Carvalho ela veio a perceber que, “se formos destemidos, podemos ver [trabalhar com a natureza] que é uma aventura e redescobrir a paixão diariamente”.

Estes paradoxos e pontos divergentes do seu próprio trabalho fizeram com que Soares se interessasse. Apaixonando-se por Carvalho e, com “tanto para aprender… especialmente em relação à vertente prática”, desistiu dos seus planos em Nova Iorque para ficar com Carvalho e, quando pudesse, o ajudar nas vinhas e na adega.

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“o primeiro rótulo na língua Casal Figueira” – Foto cedida por Marta Soares | Todos os Direitos Reservados

Por outro lado, diz que a sua boa vontade e energia em relação ao trabalho dele, conferiram força a Carvalho para continuar, mesmo as pessoas não acreditando no seu estilo de vinho. Foi Soares que surgiu com o que descreve ser “o primeiro rótulo na língua Casal Figueira”. O rótulo do branco ostenta o nome da propriedade, descrição “vinho branco”, contando ainda com o esboço da figueira que está ao lado da adega que a própria desenhou. Explica que “foi tudo por causa da simplicidade – atraindo a atenção para o conteúdo e não para o aspecto exterior”.

Ainda assim, também por estarem à frente do seu tempo, Carvalho e Soares foram incapazes de obter sucesso no negócio e entraram em falência em 2003. A família de Carvalho recuperou a quinta, período durante o qual o casal trabalhou para o enólogo espanhol Telmo Rodrigues num projecto de recuperação das vinhas velhas Godello, na Galiza. Quando, no ano seguinte, o pai de Carvalho faleceu, voltaram de Espanha e trabalharam uma vez mais na quinta Casal Figueira até a venderem em 2007 para pagar as dívidas da família.

Soares diz que esta foi uma altura difícil porque sabiam que a quinta teria eventualmente que ser vendida, mas “foi o nascimento de um ‘novo’ Casal Figueira: destemido, mais forte que nunca”. Porquê? Porque Carvalho reconheceu que “só é possível fazer grandes vinhos se nos cingirmos às vinhas e ficarmos lá com elas. É preciso estar em casa. Só dessa forma é que as conseguimos perceber e tirar o máximo delas. Isso é a essência da biodinâmica: ficar lá e percebê-la”.

De Património

Foi então, por isto, que o casal decidiu ficar em Lisboa e procurar as suas castas autóctones. Contrastando com o ano que passaram em Espanha, Soares diz, “Era onde podíamos estar os dois, todos os dias. A amar-nos um ao outro, a amar as vinhas, a amar os nossos filhos. Amar algo requer um cuidado diário”. Além disso, “A nossa região era também o sítio em que já tínhamos algum conhecimento do clima, solo, comportamento das plantas, insectos e falibilidades naturais”.

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O ritual local e anual de pintura dos B R M (Bons Reis Magos), uma fonte de inspiração para os rótulos do António Vital Casal Figueira – Foto cedida por Marta Soares | Todos os Direitos Reservados

A procura levou Carvalho atrás no tempo, de volta às viagens difíceis, Serra de Montejunto acima, a norte, com a ama que ia visitar os parentes, agricultores. E foi então que o casal encontrou a fonte do aclamado vinho Vital Casal Figueira – quatro talhões de vinhas velhas em calcário com 50-100 anos, 250-400m acima do nível médio das águas do mar, algo incomum em Lisboa. Estas parcelas eram propriedade (e o seu nome em homenagem) dos primos da ama de Carvalho – Acácio, Cremilde, Humberto e Pedra – que, para além de venderem as uvas à cooperativa local, também sempre fizeram o seu vinho daquelas uvas. Descrevendo-o como “muito oxidativo, muito estranho”, Soares sorri interiormente com orgulho quando se regala com o facto “António teve a visão para perceber o potencial da casta”.

The Pedra vineyard plateau at 350 m altitude heading North  80 year old vines in limestone gobelet of Vital

O vinhedo da Pedra a 350 m de altitude;  vinhas Vital com 80 anos, em calcário, Serra Montejunto, Lisboa – Foto cedida por Marta Soares | Todos os Direitos Reservadosd

Foi, acrescenta Soares, o projeto perfeito, porque, vivendo nas proximidades e com a adega a poucos passos de distância, poderiam alcançar o objectivo que tinham, de obter “uma expressão muito clara das uvas”. Aponta, “a proximidade é a palavra principal. Se existir uma grande distância entre a vinha, a adega e o local onde vivemos, há uma falta de qualidade na vida e na frescura das uvas. Se se demorar horas para chegar à vinha, não se vai lá ficar muito tempo, e então é preciso contratar pessoas”.

No entanto, as angústias do casal estavam longe de estar terminadas. Em 2009, Carvalho desmaiou e morreu de ataque cardíaco enquanto pisava as uvas. Tinha apenas 43 anos. A meio da colheita e com dois filhos pequenos para sustentar, Soares diz-me que apenas teve direito a 3 segundos de hesitação sobre se iria continuar com o projecto ou não. Uma hesitação, acrescenta, que resultou única e exclusivamente de se questionar se conseguiria fazer jus ao homem que descreve como sendo “um enólogo incrível…o melhor em todo o Portugal”.

Pergunto se, continuar com o Casal Figueira foi uma maneira de homenagear a visão de António e ficar perto dele? Para Soares o propósito foi muito maior. Ela descreve a situação como “uma epifania da vida, não sobre a arte mas sim sobre a prática…sobre nos relacionarmos directamente com as coisas que fazemos, descartando a teoria e deitando mãos ao trabalho.” – uma abordagem diferente à vida, que aprendeu com Carvalho. Apesar de tudo, consegue olhar para trás, para a morte de Carvalho, e descrevê-la como “uma coisa feliz porque ele deu a vida por algo em que acreditava e foi o seu coração que o falhou e não a vinificação ou a terra”.

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As novas vinhas Vital são propagadas utilizando a técnica mergulhia, o que Soares aponta “é incrível, porque os meus quadros são feitos de um processo de estratificação ao qual chamei “matrizes””. A cana de uma vinha existente é enterrada junto da vinha “mãe” de modo a criar uma nova vinha; a ligação entre as duas é quebrada quando a nova vinha desenvolve o seu próprio sistema de raiz – Foto cedida por Marta Soares | Todos os Direitos Reservados

De igual motivação, outro objectivo ainda maior, que é o de preservar o património cultural português de vinhas. Para Soares, este transcende mesmo o vinho, que descreve meramente como “um passo necessário para ter uma expressão de vinhas”. “Imagine”, diz, “quando se tem uma exploração agrícola com vinhas velhas de 100 anos, quantas pessoas morreram e a vinha ainda lá está. As vinhas são um registo do tempo e tempo é cultura – devemos cuidar e ter isto bem presente”.

Embora Soares reconheça que “este patrimônio cultural tem um valor incrível em Portugal”, também está ciente de que ao contrário de França, “onde a arte, os vinhos e a literatura estão juntos”, a alta cultura e a agricultura são campos completamente distintos aqui. Acredita apaixonadamente que deve haver uma conexão entre “o que é básico na vida – a produção agrícola – e o que acontece na arte”. Em vez disso, lamenta, “Estamos a procurar noutro lugar, lá fora, nunca olhando para dentro, nunca olhando para aqui”.

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Casal Figueira António Vital 2013 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Eu consigo relacionar-me com os seus comentários à recente história de vinificação de Portugal, onde poderia ser perdoado pensar que apenas um punhado de uvas nativas, não necessariamente locais, merecem atenção. No entanto, tenho o prazer de ver uma nova geração de produtores como Carvalho e Soares fechando o círculo e abraçando o melhor da tradição. Não apenas castas autóctones, mas também técnicas de viticultura e enologia. Vejam os Baga Friends, ou Rita Marques’ Conceito Bastardo, André Manz’s Jampal e o trabalho de António Maçinta nos Açores ao ressuscitar as castas locais Arinto dos Açores e Terrazntez do Pico.

Voltando ao Vital, um vinho que Soares classifica como um vinho monovarietal, que representa não só a sua cara, mas também “uma riqueza de autenticidade…algo tão simples que não tem preço”. Conclui “é isso que adoro em Portugal e para mim é isso que o Vital representa”.

Bruno Prats na Fruta Mágica do Douro e Uma Vertical de Chryseia

Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira

Ultimamente, o negócio tem sido rápido a atrair talentos bordaleses para o Douro. Poças Júnior anunciou recentemente que Hubert de Boüard e Philipe Nunes da Château Angélus têm estado a trabalhar com eles desde a vindima de 2014. No ano anterior, Lima & Smith causou uma agitação quando contratou Jean-Claude Berrouet, ex-enólogo na Château Pétrus, para ser consultor na Quinta da Boavista.

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Bruno Prats com uma Vertical of Chryseia – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Enquanto os resultados destas recentes colaborações ainda estão para ser vistos, outra parceria Bordéus/Douro faz as manchetes, Prats & Symington com o décimo lançamento “Grand Vin”, Prats & Symington Chryseia 2011. Este que é até à presente data a minha colheita favorita do Prats & Symington Chryseia, figurou no Top 100 de vinhos do ano 2014 cobiçados pela Wine Spectator.

No início deste mês participei numa prova vertical de Chryseia, apresentado pela metade bordalesa deste casamento franco-português, Bruno Prats, antigo dono do Château Cos d’Estournel. A família Symington foi representada pela quinta geração, Charlotte Symington, a primeira mulher desta bem conhecida família de Porto a figurar na folha de pagamento (é embaixadora da marca Porto na importadora britânica Fells, que é também propriedade da Symington).

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Quinta de Roriz – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Prats ainda há pouco tempo tinha vendido Cos d’Estournel e já se aventurava na parceria 50/50 com os Symingtons. Diz-me que o projecto arrancou mais rápido que estava à espera. Depois de apenas de um ano de experiências, foi feito o primeiro Chryseia, colheita de 2000. Desde então, a selecção das uvas mudou dramaticamente, primeiro a parceria adquiriu a Quinta de Perdiz em 2004, seguindo-se em 2009 a compra da Quinta Roriz, a qual tem uma adega apenas para a Prats & Symington. (Aliás, outra mudança dramática desde 2000 é o preço dos melhores Bordeaux, o que, diz Prats sorrindo, significa que os melhores tintos do Douro se comparam muito favoravelmente aos Bourdeax da mesma gama de preços).

Prats pode até denominar o Chryseia de “Grand Vin”, mas disse-nos “o nosso objectivo sempre foi produzir vinhos elegantes, gastronómicos e equilibrados, focados no requinte e não na potência”. Os seus comentários relembraram-me uma conversa de há dez anos com o bordelense Baron Eric de Rothschild. Em resposta à minha observação de que os vinhos de Domaine Baron de Rothschild (Lafite) da Argentina, Chile, Portugal, Estados Unidos e Sul de França partilhavam uma incomum restrição, disparou “podem tirar um homem de Bordéus, mas não podem tirar Bordéus de um homem”.

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Luis Coelho, Enólogo Assistente da Prats & Symington com vinhas Touriga Nacional na Quinta De Roriz -Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Ainda assim, tenho a certeza que é apenas coincidência o facto de Prats apenas se ter focado em duas castas do Douro. Enquanto Bordéus tem a sua dicotomia Cabarnet Sauvignon/Merlot, Prats afirma que apenas acha “interessantes” as castas Touriga Nacional e Touriga Franca. Este foco varietal draconiano é uma das razões pelas quais ele dá primazia às parcelas (de casta única) de vinha recentemente plantadas em vez das tradicionais parcelas de multiplicidade varietal do Douro. Como é que sabemos quando colher as vinhas velhas, pergunta retoricamente, para mais tarde afirmar “Estou convencido que devemos trabalhar com parcelas de plantação em que teremos a certeza de estar a colhê-las na altura certa”. O que parece estranho, já que a maior parte dos melhores produtores da região lidam bem com isso, e utilizam até parcelas de vinhas velhas multivarietais de maneira fabulosa – Niepoort e Quinta do Crasto vêm-me à mente. Além do mais, o foco da Niepoort na elegância e digestibilidade confirma que estas duas qualidades não são exclusivas de vinhas monovarietais (ainda menos de duas castas).

Dito isto, penso que Prats tem razão quando diz “é fácil obter potência no Douro, e é por isso que é importante concentrarmo-nos na elegância”. Embora tenhamos de discordar que as parcelas de plantação e as duas castas (reconhecidamente de classe mundial) sejam a chave para a elegância, há poucas dúvidas em relação ao impacto positivo de longas mas gentis macerações e de um relativamente curto período em carvalho quando comparado com outros topos-de-gama do Douro (e até de Bordéus). Como seria de esperar de um reconhecido enólogo bordalês, a gestão de taninos na Prats & Symington tem sido sempre exemplar.

Segundo Prats, ao contrário da Cabarnet Sauvignon, nem a Touriga Nacional nem a Touriga Franca “podem receber um nível elevado de carvalho”. Também explica o porquê da preferência de barris de 400 litros ao invés das barricas de 225 litros de Bordéus. Para Prats “o que é mágico no vinho do Douro é a fruta; temos de preservar a fruta”.

Sou completamente a favor da fruta, especialmente quando exprimida tão brilhantemente quanto no 2011 e 2012, mas o que mais me cativa nestas colheitas do Chryseia é a sua mineralidade patente. A qualidade, posso adiantar que está presente em ambos, embora Prats descreva um (o 2011) como “um estilo mais duriense” e o outro (2012) como “um estilo mais bordalês”.

A mim parece-me que esta mineralidade é um cunho da Quinta de Roriz (e da sua vizinha, a Quinta da Gricha de Churchill). Prats faz uma observação, o xisto na Roriz é particularmente mineralmente rico (muito friável em comparação com o xisto mais duro e espesso da Perdiz). Aparentemente, existia, há quarenta anos, uma mina de estanho na propriedade, mas quanto à razão pela qual isso se transmite no copo, Prats diz “estou contente por isso ainda ser um mistério” – podemos dizer que é mais da magia do Douro.

Abaixo irão encontrar as minhas notas sobre os últimos lançamentos bem como da prova vertical do Chryseia. O Chryseia tem sido produzido todos os anos salvo 2002 e 2010. Desde 2002, e adoptando um discurso bordalês, um “segundo vinho”, o Post Scriptum, tem sido produzido anualmente. É feito dos barris que não atingem a qualidade “Grand Vin”. (Pode ler mais sobre a história e evolução da Prats & Symington na minha reportagem duma visita à Quinta de Roriz.)

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Uma Vertical de Chryseia, colheitas mais jovens – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Prats & Symington Prazo de Roriz 2011 (Douro)

Provenientes da Quinta de Roriz (70%)  e da Perdiz (30%), Prats diz que as uvas de classe A vão para o Post Scriptum e para o Chryseia. O equilíbrio deste vinho que incorpora uma gama muito mais ampla de castas do Douro. Como era de esperar neste colheita de topo, o Prazo de Roriz 2011 tem uma boa concentração de ameixas e suculentas cerejas pretas/frutos silvestres. A Tinta Barroca, a casta com mais peso (39%) é facilmente identificável com o seu palato mais suave e doce. Porém, e em linha com a filosofia de elegância, partilha do final fresco e limpo e dos taninos finos do Post Scriptum e do Chryseia 2011. É um tinto iniciático conseguido. 14.3%

Prats & Symington Post Scriptum 2011 (Douro)

Um lote com 56% de Touriga Nacional, 30% de Touriga Franca, 7% Tinta Barroca, 7% Tinta Roriz que estagiou durante 13 meses em barris de 400 litros de carvalho francês com um ano. Tonalidade profunda e muito mais estruturado que o Prazo de Roriz, com amoras e cerejas mais reluzentes e mais bem definidas. Taninos finos, minerais, enfumaçados e de tacto gentil. O final é preciso e muito persistente. Muito bom. 13.9%

Prats & Symington Post Scriptum 2012 (Douro)

Este lote com 53% de Touriga Franca, 45% Touriga Nacional e 2% de outras variedades estagiou por 13 meses em barris de 400 litros de carvalho francês com um ano. Um Verão mais ameno (com baixa produção, devido à seca) produziu um vinho mais delicado, com fruta vermelha em vez de negra, taninos furtivos e acidez fresca e persistente. Uma palato marcadamente de meio-peso revela ameixa e ameixa-de-damasco doce e abaunilhada, grafite e especiaria de fruta (não de carvalho). Embora não tão carismático como o 2011, 0 2012 tem um elegante e já visível charme. 13.3%

Prats & Symington Chryseia 2012 (Douro)

Colheita: O aspecto mais notável do ano vinícola de 2011/2012 foi a falta de água. Um Inverno frio incomum, o mais frio da última década, foi seguido por Primavera errática, que com condições meteorológicas imprevisíveis levou a um fraco conjunto de fruta, e uma colheita muito mais pequena. Temperaturas mais baixas do que o normal durante o Verão mitigaram os efeitos da seca, e porque haviam menos cachos nas videiras, o processo de amadurecimento das uvas decorreu de maneira muito satisfatória, permitindo-nos produzir alguns bons vinhos. As uvas para o Chryseia foram colhidas na Quinta de Roriz entre 12 de Setembro e 8 de Outubro e na Quinta da Perdiz entre 27 de Setembro e 9 de Outubro.

Um lote com 72% de Touriga Nacional e 28% de Touriga Franca, provenientes da Quinta de Roriz, Quinta da Perdiz e da Quinta da Vila Velha. Estagiou por 15 meses em barris de 400 litros de carvalho francês 100% novos (Tonnellerie du Sud-Ouest, Boutes, François Frères). Outra vez ênfase nas frutas vermelhas, aqui mais concentradas e com um muito sedutor brilho de carvalho perfumado (chocolate, canela e cedro). Bergamota e notas leves de tabaco de cachimbo conferem uma adicional camada e toque a este vinho com um núcleo doce de framboesa, cereja preta e frutos silvestres. Acidez fresca a proporcionar um final muito equilibrado, persistente e brotar xisto; a sua fluidez é sublinhada pelos seus taninos ultra-finos. Muito elegante. 13.7%

Prats & Symington Chryseia 2011 (Douro)

Colheita:O ano de 2011 foi muito seco, tendo sido de extremo valor, a precipitação caída entre Outubro e Dezembro de 2010. O Douro e os seus solos apresentam uma aptidão enorme para armazenarem água. A videira, pela sua perfeita adaptação a climas agrestes, consegue ir buscar água a vários metros de profundidade, graças ao seu sistema radicular bem adaptado, daí a importância crucial das reservas constituídas pela água da chuva caída na estação fria. O fantástico terroir de Roriz sempre prevalece, este ano com a ajuda acrescida das chuvas de Agosto e início de Setembro. A colheita das uvas para o Chryseia 2011 teve inicio a 16 de Setembro com a Touriga Nacional da Quinta de Roriz, tendo a Touriga Franca dado entrada na adega no dia 30 de Setembro. Toda a vindima decorreu com condições metereológicas perfeitas, o que contribuiu para que 2011 seja, sem qualquer dúvida, uma das melhores colheitas de Chryseia.

Um lote com 65% de Touriga Nacional e 35% de Touriga Franca, estagiou por 15 meses em barris de 400 litros de carvalho francês 100% novos (Tonnellerie du Sud-Ouest, Taransaud, Boutes, François Frères). Este, um dos meus Top 10 Novos Douro de 2011 provados em Dezembro de 2013, tem desfrutado de um sucesso de vendas, um pouco também por ter figurado no Top 100 da Wine Spectator. É uma colheita fabulosa do Chryseia, o primeiro a realmente deixar uma marca em mim. Penso que é porque, como Prats diz, é mais um Douro que um Bordeaux. Porquê? Porque tem bem patente a mineralidade xistosa, salgada e enfumaçada do seu terroir – um cunho da Quinta de Roriz, e também da vizinha Quinta da Gricha de Churchill. E esta mineralidade está muito mais à superfície no 2011 apesar das suas imponentes mas muito equilibradas frutas pretas. Muito vivo, muito longo e focado, o seu enquadramento desmente a concentração e intensidade deste vinho; um exercício excelente em potência e contenção. 14%

Prats & Symington Chryseia 2009 (Douro)

Colheita: A magnífica vinha de Roriz, uma das mais belas quintas do vale do Douro, com uma longa e rica história como produtor independente de grandes vinhos, foi adquirida pela Prats & Symington na Primavera de 2009. O Chryseia de 2009 foi assim o primeiro a ser vinificado na moderna adega de vinhos tranquilos da propriedade. Trabalhar as vinhas de montanha do Douro apresenta muitos e variados desafios, todos os anos quase sem excepção e 2009 não foi diferente. Foi o terceiro ano consecutivamente seco e para agravar a situação de seca, o calor intenso que se fez sentir, particularmente em Agosto e Setembro, aportou uma significativa redução no tamanho da colheita (uma das mais pequenas dos últimos 15 anos no Douro). Apesar das condições adversas, o terroir de Roriz fez-se valer; a exposição norte atenuou a ferocidade do calor e as duas castas que compõem o Chryseia (a Touriga Nacional e a Touriga Franca) são das melhores que resistem ao calor, um facot que jogou a nosso favor. Aliás a Touriga Franca é de maturação tardia, e beneficiou das condições quentes e secas registadas durante o mês de Setembro. Quer a Touriga Nacional, quer a Touriga Franca completaram de modo muito satisfatório os seus ciclos de maturação, assegurando elevada qualidade.

Um lote de 70% de Touriga Nacional e 30% de Touriga Franca, estagiou por 13 meses em barris de 400 litros de carvalho francês 100% novos (Tonnellerie du Sud-Ouest, Taransaud, Boutes, Radoux, François Frères, Saury). Esta foi a primeira colheita proveniente de e vinificada na Quinta de Roriz. Não é a minha colheita favorita do Douro – a seca e o calor deram origem a vinhos bastante corpulentos. Ainda assim, para aqueles que procuram elegância de expressão, este é um vinho bem construído; foi interessante ouvir Prats a especular que provavelmente poderiam ter feito um vinho melhor se conhecessem melhor as vinhas. Musculado e opulento com taninos maduros e aveludados, o Chryseia 2009 tem uma borda púrpura no seu interior rico de framboesa e ameixa. O achocolatado carvalho novo incrementa ainda mais a doçura, portanto, tudo somado, o 2009 carece da contenção e finesse dos vinhos anteriores. O que não quer dizer que não seja bom; se gostar vinhos largos e encorpados, isto será mais a sua praia. 14.4%

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Uma Vertical de Chryseia, colheitas mais velhas – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Prats & Symington Chryseia 2004 (Douro)

Colheita: A um outono chuvoso em 2003, seguiu-se um inverno muito seco, com uma notória ausência de chuva durante uma fase crucial. O tempo ameno e seco em Maio de 2004, encorajou um desenvolvimento rápido e um vingamento ligeiramente abaixo da média. No final de Julho as vinhas estavam em excelentes condições, mas a persistente falta de chuva suscitou alguma preocupação devido à possibilidade de ‘stress’ hídrico. Depois aconteceu o inesperado: fortes chuvadas em Agosto – os 77mm registados entre os dias 9 e 17 foram os valores mais elevados no Douro em 104 anos. Seguiram-se 25 dias ininterruptos de sol em Setembro que conduziram a um amadurecimento perfeito do fruto e propiciaram condições de vindima ideais. A vindima teve início mais tarde do que é habitual, no dia 23 de Setembro e ficou concluída mesmo antes do regresso da chuva em 9 de Outubro. O que poderia ter sido um ano muito difícil, revelou-se afinal um ano muito bom, com uma conjugação favorável de produções baixas, excelente teor de açúcar nas uvas, originando um vinho com uma estrutura possante e cor profunda.

Os detalhes das percentagens varietais e tempo de estágio não foram disponibilizados, mas a fruta proveio das Quintas Vesuvio, Bomfim, Vila Velha e, pela primeira vez, da então recentemente adquirida Quinta da Perdiz da Symington. Sou uma grande fã da colheita de 2004 e foi interessante voltar a provar esta colheita do stock de Londres da Fells. O vinho pareceu mais reluzente e fresco do que a garrafa que provei no Porto em Dezembro de 2013 quando avaliei alguns tintos Douro 2004. Tal como a garrafa que provei na altura, o Chryseia 2004 é particularmente picante e perfumado com notas de alcaçuz, esteva e caruma, e também um toque de bergamota. Que, juntamente com os seus concentrados e ainda vivos frutos silvestres, conferem a este vinho uma fantástica energia – um perfil mais “selvagem” do Douro (apesar dos seus taninos ultra-requintados). Um final envolvente com uma pitada salgada, e uma mineralidade xistosa a persistir bastante tempo; este é um vinho com muita potência e muito carácter. 14.2%

Prats & Symington Chryseia 2003 (Douro)

Colheita: O Outono foi bastante chuvoso bem como o mês de Janeiro. O mês de Março caracterizou-se por temperaturas acima da média. As condições climatéricas do mês de Maio forma bastante favoráveis para a floração e o vingamento, podendo desde logo adivinhar-se uma colheita abundante. O Verão foi quente e seco mas a qualidade da fruta foi substancialmente melhorada pela chuva dos dias 27 e 28 de Agosto. As uvas foram colhidas manualmente entre 18 de Setembro e 9 de Outubro e chegaram à adega com baumés ideais, tendo-se obtido um mosto com cor formidável.
Um lote de 60% Touriga Franca, 35% Touriga Nacional e 5% Tinta Cão, provenientes das Quintas Vesuvio, Bomfime Vila Velha. Estagiou por 12 meses em barris de 350 e 400 litros de carvalho francês 100% novos (Tonnellerie du Sud-Ouest, Taransaud). Este foi o vinho preferido de Prats de entre as colheitas mais antigas, que, observou, são caracterizadas por notas aportuadas. É um vinho muito polido, escuro, achocolatado com taninos suaves e fruta muito suave and brilhante. Sim, conseguido (menos aportuado do que outros 2003 que já provei) e muito bom de beber, mas, para mim, faltava-lhe algum sentido de lugar – o detalhe, interesse e energia que tanto gostei no 2004. 14%

Prats & Symington Chryseia 2001 (Douro)

Colheita: O Inverno de 2001 foi extremamente chuvoso e de temperaturas bastante amenas. A ocorrência de boas condições climatéricas durante o período da floração, permitiu prever à data um ano de grande produção no Douro. Contudo, um Verão muito quente e seco originou uma redução da produção geral, tornando 2001 num ano médio em termos de quantidade produzida. As uvas foram colhidas manualmente a partir de 13 de Setembro e terminou no dia 27 de Setembro.

Um lote de Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinta Cão das Quintas Vesuvio, Vila Velha e Vale de Malhadas. Prats diz que foi um erro incluir a Tinta Roriz. Estagiou por 10 meses em barris de 350 e 400 litros de carvalho francês 100% novos (Tonnellerie du Sud-Ouest, Taransaud). Evoluiu com notas rústicas, bravas e de Bovril no seu nariz e palato aportuados e acidez desengonçada (volátil?). Desapontante. 13.8%

Contatctos
Prats & Symington
Quinta de Roriz
São João da Pesqueira
5130-113 ERVEDOSA DO DOURO
Portugal
Tel: +351-22-3776300
Fax: +351-22-3776301
E-mail: info@chryseia.com
Site: www.chryseia.com

Cru: Os Vinhos de Luis Seabra

Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira

Em 2012, Luís Seabra abandonou o seu prestigiado cargo de enólogo na Niepoort para se lançar a solo. Explica, “depois de tantos a fazer para outros aquilo que adoro, acho que chega uma altura em que pensamos, porque não fazermos para nós próprios”.

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Luis Seabra – Foto Cedida por Luis Seabra Vinhos | Todos os Direitos Reservados

A filosofia da Luis Seabra Vinhos está inserida no nome de marca Cru. O objectivo de Seabra é fazer vinhos “que realmente digam de onde vêm, vinhos de vinhas específicas, com intervenção mínima, vinhos verdadeiros e honestos, crus e puros…Regresso ao essencial.”.

“Regresso ao essencial” tem um tem um significado muito específico para nós britânicos. Foi o slogan de campanha que voltou para assombrar o ex-Primeiro Ministro Britânico John Major durante a década de 90 numa série de escândalos que abalaram o partido Tory. O que significará exactamente para Seabra?

Diz-me que “a única coisa utilizada nos vinhos é o enxofre (um agente antioxidante e antimicrobiano) ” e, mesmo assim, em quantidades baixas “apenas para manter os vinhos debaixo de olho.”. Acrescenta ainda “também prefiro ter mais oxigénio no sumo e nos vinhos jovens de modo a que se conseguiam estabilizar de todas as maneiras e possam envelhecer melhor na garrafa.”. O impacto desta abordagem de intervenção mínima é facilmente perceptível nos vinhos texturais, não forçados de Seabra e, em particular, nos seus vinhos brancos, que ao invés de um sabor frutado mostram um perfil mais terroso.

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Luis Seabra Cru Xisto Tinto 2013 old vineyard – Foto Cedida por Luis Seabra Vinhos | Todos os Direitos Reservados

Em França, Cru também denota uma vinha especial ou área de vinhas. Embora de momento Seabra esteja a comprar parcelas de vinhas velhas a alguns viticultores que conhece há muito tempo ele diz, “no momento em que seja proprietário das vinhas poderei fazer CRU de um talhão específico”.

Sem dúvida que também vai adpotar uma abordagem de intervenção mínima no cultivo da uva. Por agora, admite, honestamente, “Tenho alguns conhecimentos sobre gestão de vinhas, mas estou a enganar-me a mim próprio. O que faço está lentamente a mudar a mentalidade dos viticultores… Se conseguir que um viticultor específico não utilize herbicidas num ano já será um grande feito para mim.

Além disso, na calha estão mais dois tintos da vindima de 2014 – um tinto do Douro e outro de “um projecto louco”, diz, com um produtor espanhol de Navarra, Laderas de Montejurra.

Abaixo estão as minhas notas dos seus primeiros lançamentos Cru 2013. Cada um carrega o nome do seu solo de origem – Xisto e Granito – cuja influência Seabra procura transmitir a nu para o copo. Poderão prova-los com Seabra no Simplesmente Vinho 2015 que será realizado na cidade Porto no fim deste mês.

Luis Seabra Vinhos Granito Cru Alvarinho 2013 (Monção-Melgaço,Vinho Verde)

Caption Luis Seabra Cru Xisto & Granito whites 2013 023

Luis Seabra Cru Xisto Branco 2013 & Granito Alvarinho 2013 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Proveniente de quarto talhões em Melgaço. As uvas foram fermentadas e depois estagiaram 9 meses em borras, em tonéis de carvalho da Europa de Leste (um tonel novo de 2000 litros, e o outro, um experiente tonel de carvalho de 1000 litros). O vinho passou por uma fermentação maloláctica parcial. Citrinos picantes e frutas de caroço no nariz, seguido de um palato textural e terroso com borras suaves e almofadadas e um final melado. Um Alvarinho bem-feito e muito textural com uma subjacente acidez mineral, suave mas persistente. 12,5%

Luis Seabra Vinhos Xisto Cru Branco 2013 (Douro)

As uvas deste lote orientado a Rabigato são provenientes de três vinhas velhas em Meda (+80 anos), no Douro Superior, elevadas, entre 650 a 700m acima do nível médio das águas do mar. As outras castas (30% do lote) são Códega, Gouveio, Viosinho e Dozelinho Branco. Um vinho muito sugestivo com acidez dançante e mineral, que depois de algum tempo no copo, revela subtilmente camadas de fumo e noz no seu palato muito textural e vegetal a espargos brancos. Tal como o Alavarinho, demonstra borras muito distintas e almofadadas. 12%

Luis Seabra Vinhos Xisto Cru Tinto 2013 (Douro)

Luis Seabra Xisto Tinto 2013

Luis Seabra Cru Xisto Tinto 2013 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Este exemplar de barrica, um lote de Rufete, Touriga Franca, Tinta Carvalha, Alicante Bouchet, Donzelinho Tinto e Malvasia Negra entre outras, é proveniente de duas vinhas de Cima Côrgo com mais de oitenta anos, uma a 400m em Vale Covas, a outra a 570m em Ervedosa (o que é bastante alto para tintos). Ambas foram plantadas em solos de ardósia com predominância de xisto azul. As uvas foram fermentadas, sendo que 50% engaçadas, em barris de madeira abertos, de 3500 litros. O vinho estagiou depois em borras em barris de carvalho francês. É marcadamente um tinto fresco do Douro. Um mundo à parte de alguns dos estilos encorpados, ricos e robustos da região, mostra cereja vermelha crocante, cereja preta sumarenta e groselha e frutos silvestres e leve carvalho, permitindo que os seus taninos finos mas de carga firme e a mineralidade xistosa e enfumaçada tragam textura e interesse ao conjunto. Uma adorável intensidade de vinha, com caruma profundamente incorporada, e um perfume floral tintado que me traz à mente o Dão. Promissor e diferente, no bom sentido.

Contactos
Luís Seabra Vinhos Lda
Rua da Reboleira, Nº 19, 3º Traseiras
4050-492 Porto
E-Mail: lseabrawine@gmail.com

Vins de Soif: Os Super-Sofisticados Vinhos Quotidianos de Portugal na Moda

Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira

Os vinhos de Tiago Teles não poderiam encontrar maior contraste do que o EXPLICIT tinto, the subject of my last post.  Não foi surpresa nenhuma para mim que Teles tivesse sido influenciado pelas suas últimas viagens a Beaujolais e à Borgonha. Os vinhos tintos de 2013, Gilda e Maria da Graça, são tão perfumados e femininos quanto os EXPLICT tintos são musculados e masculinos. Os níveis de álcool são pólos opostos! O EXPLICIT 2012 com 15.5%, o Maria da Graça 2013 com 11%.

Qual dos estilos gosto mais? Na verdade, gosto dos dois. Como Dave Powell, fundador da Torbreck Wines (produtor de ousada alta octanagem, mas sempre equilibrada, belezas de Barossa) uma vez memoravelmente me disse. “não significa que queira comer bife todas as noites”.

Para mim, um dos aspectos mais excitantes do vinho é a diversidade de estilos. Com um número vertiginoso de variáveis associadas ao terroir, castas, vindimas e vinificação, apreciar o vinho é excitante, uma aventura interminável. Na verdade, agora que penso nisso, reconheço que os tintos de Teles são ambos estreias para mim. Acho que nunca tinha provado nem um lote de Merlot, Tinta Barroca e Tinta Cão, nem um lote de Alfrocheiro e Alicante Bouschet.

Contudo, como Teles realçou na entrevista do ano passado, as castas são menos importantes do que a origem e, sem dúvida, ambos os tintos, como ele diz “transmitem exactamente o perfil calcário e frio da Bairrada”. Quase se pode sentir o frio dos ventos do Noroeste Atlântico desta região costeira e o barro húmido sob os seus solos calcários.

Em Londres, a intervenção mínima de Teles, o estilo “vin de soif” (leve, fresco, de matar a sede, baixo teor alcoólico) é actualmente moda nos bares de vinhos e lojas independentes que surgiram na minha freguesia, em Hackney. Se este estilo lhe for apelativo, da próxima vez que for a Londres faça um percurso por estes sítios, Trangallán, Brawn, Sager & Wilde, Rawduck, Primeur, VerdenNoble Fine Liquor, Bottle Apostle e Borough Wines.

Aqui estão as minhas notas sobre os tintos 2013 de Teles:

Tiago Teles Gilda 2013 (Bairrada)

Este lote de Merlot, Tinta Barroca e Tinta Cão vem de solos argilosos e calcários. As uvas foram colhidas na segunda semana de Setembro. O tom pálido de carmesim/rubi revela o delicado estilo vin de soif. Nariz fresco e vivo, o palato revela jorros suculentos e brilhantes de ameixas e framboesas acabadas de apanhar – adorável pureza de frutas e animação. Ao abrir, notas de tabaco e especiarias aumentam o interesse. Taninos gentilmente agitados conferem textura e prolongam um equilibrado e sereno final. 12.5%

Tiago Teles Maria da Graça (Vinho do Portugal 2013)

A Alicante Bouschet tem polpa roxo escuro (a maior parte das uvas tintas tem polpa vermelha). Os seus pigmentos mancham as folhas das vinhas e conferem uma tremenda profundidade, escura como tinta, aos vinhos, e no entanto este lote de Alicante Bouschet e Alfrocheiro ainda é mais pálido do que o Gilda. Sem madeira, também é mais delicado, ao estilo Beaujolais com os seus suaves taninos sedosos (para acompanhar peixe), perfume floral de peónia e frutos silvestres e suculentos. Delicado e fresco é delicosamente digerível e tem apenas 11%.

Aqui estão os três mais vivos “vin de soif” tintos Portugueses que eu recomendaria:

Campolargo Alvarelhão 2012 (Bairrada)

Feito por Raquel Carvalho, que também fez os vinhos de Teles, esta rara uva tinta produz um tinto muito perfumado, frutado, fresco com pimenta branca, violetas e a caruma levam-no aos seus tons de cereja amarga subtilmente carnuda e salgada. Uma massagem de taninos de fruta empresta uma aderência muito suave e atractiva. 12.5% abv

Filipa Pato & William Wouters Post Quercus Baga 2013 (Bairrada)

Este pálido vinho rubi é feito a partir das mesmas uvas Baga de vinha velha que o Pato’s Nossa Calcario. Contudo, ao contrário do Nossa, que é envelhecido em carvalho (quercus), este vinho foi envelhecido subterraneamente em duas ânforas de 300 litros. Ânforas porque, primeiro são feitas de barro – o solo da região (que de facto dá o nome à região). Em segundo porque o barro permite uma micro-oxigenação suave que, juntamente com uma abordagem não interventiva, de extração vis a vis (simplesmente passa por uma longa fermentação com as películas), é responsável pelos seus taninos suavemente finos. A fruta sempre bonita e pura – cereja vermelha, caroço de cereja e ameixa suculenta e, embora delicada, brilha intensamente, perdurando no palato. Adorável – um tinto para um dia alegre de verão num piquenique. 11.5% abv

Anselmo Mendes Pardusco 2012 (Vinho Verde)

Após o desengace e esmagamento, este lote de 40% Alvarelhão, 30% Borraçal, 25% Pedral e 5% Vinhão foi fermentado a frio durante 12 horas e prensado após apenas 12 de fermentação com as películas. É fresco, viçoso, seco e persistente com baga vermelha e cereja e um toque floral no final. Muito arredondado nos taninos, acidez e fruta, bebe-se extremamente bem para um Vinho Verde tinto. 12.5%

Contacts
1350-316 LisboaS. Condestável
Portugal
Email: tiagoteles@outlook.pt
Site: www.tiago-teles.pt

Esotérico Não Erótico: Os vinhos Explicit da Jorge Rosa Santos e Filhos

Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira

Já lá vai o tempo em que tive aulas de Latim. E não tenho memória de alguma vez ter feito um enólogo corar, mas Jorge Rosa Santos (júnior) corou enquanto explicava que a marca da sua família, “Explicit”, deriva da expressão latina explicare.

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EXPLICIT tinto, à base de solos xistosos – Foto cedida por EXPLICIT | Todos os Direitos Reservados

Significa “revelar-se” e, portanto, também tornar visível. Neste caso, o terroir muito particular das vinhas íngremes e cobertas de xisto da sua família, nas encostas da Serra d’Ossa perto de Estremoz, no Alentejo. Portanto e desde já, vamos deixar isso claro, não é uma referência erótica, antes esotérica. E é uma alcunha adequada para os vinhos da Jorge Rosa Santos e Filhos, extremamente sérios e impulsionados pelo terroir.

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Irmãos e enólogos – Foto cedida por EXPLICIT | Todos os Direitos Reservados

Quando comprou um retiro de fim-de-semana no Alentejo, o cirurgião Jorge Rosa Santos não partiu com a intenção de fazer vinho. Foi antes uma consequência inevitável, já que a casa tem oito hectares e três dos seus filhos são enólogos – Frederico (Terras d’Alter), Vasco (Monte da Ravasqueira) e Jorge júnior (Casal Santa Maria). O quarto, Ricardo, é arquitecto, tal como a sua mãe.

Quando me encontrei com Jorge júnior, disse-me que o ponto forte deste projecto de família é que “fazemos aquilo que queremos e aquilo em que acreditamos…não estaríamos a fazer vinho desta maneira se estivéssemos a trabalhar para outra pessoa”. Por exemplo, em 2004, a família ignorou os avisos de que eram “loucos” por estarem a cultivar os seus primeiros dois hectares de Syrah em solos virgens e, no ano seguinte, mais dois hectares de Alicante Bouschet e Aragnoes (Tinta da Pais, clone pequeno e de pele fina da Ribero del Duero). Loucura, como apelidaram, porque em solos rochosos de xisto (20-30cm de profundidade) e com um gradiente de 30%, as vinhas nunca seriam economicamente viáveis.

A vinificação também é pouco convencional. O “Explicit” tinto é deixado em volume livre, sem sulfuração, durante 3 meses. Permitir o oxigénio infiltrar-se nesse volume livre explica a sua rusticidade, e às vezes o toque de acidez volátil típica dos Portos (demasiada em 2008). Aos olhos de Jorge, estas qualidades (juntamente com a concentração intensa, elevado grau de álcool e a formidável estrutura naturalmente conferida pelas vinhas) “dão-nos a nossa própria identidade”. Altamente necessária, reconhece, já que o Alentejo tem muitos projectos a produzir vinho de qualidade mas projectos específicos, como o “Explicit” estavam a faltar, projectos que “capturam a essência da vinha dentro da garrafa”.

Dez anos após terem sido apelidados de loucos, o projecto da família Rosa Santos está a prosperar. Uma prova vertical do “Explicit” tinto destacou a poderosa assinatura salgada de taninos “ósseos” deste tinto impulsionado pelo terroir, qualidades minerais de grande efeito; a progressiva redução de Syrah, melhores condições na adega e a adição da Aragones parece ter dado frutos, originando um vinho mais brilhante e compacto (menos parecido com o Porto). Além disso, o “Explicit” tinto tem desde aí a companhia do “Explicit” branco e do mais acessível “Implicit” (tinto e branco), todos produzidos com uvas compradas.

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A provar a gama – Foto de Sarah Ahemd | Todos os Direitos Reservados

Aqui estão as minhas notas sobre as últimas novidades da gama da família e as minhas escolhas da prova vertical Explicit Red (2008-2012):

IMPLICIT branco 2013 (Vinho Regional Alentejano)

Um lote não envelhecido em carvalho com 50% Alvarinho, 25% Viognier, 12,5% Rousanne e 12.5% Moscatel. As uvas foram obtidas de vinhas relativamente elevadas (+ 300 metros acima do nível médio das águas do mar) ao longo do norte do Alentejo. Um branco aromático, picante, frutado (mas em nada tutti-frutti), com boa profundidade e equilíbrio, e um salgado e atractivo gosto picante. 13%

EXPLICIT branco 2012 (Vinho Regional Alentejano)

Proveniente de um hectare de mistura de vinhas velhas, em Portalegre, 540 metros acima do nível médio das águas do mar. Em relação ao estilo, é completamente diferente do Implicit – como Jorge diz, muito mais ao estilo do Mundo Velho porque a fruta, embora presente, não é evidente. Ao invés, a impressão mais notória é de minerais salgados e borras cremosas e finas com sabor a noz. Fermentado e envelhecido em barris de carvalho até ao início da Primavera, apresenta o carvalho muito suavemente. Apesar de lhe faltar um pouco de acidez, este vinho vasto e texturado é bastante interessante. Gostei muito da sua particularidade não forçada. 14%

IMPLICIT tinto 2012 (Vinho Regional Alentejano)

Um lote com 50% de Touriga Nacional, 40% de Syrah e 10% Alicante Bouschet. As uvas foram obtidas de vinhas xistosas, relativamente elevadas (+ 300 metros acima do nível médio das águas do mar) ao longo do norte do Alentejo. A Touriga confere um bom toque floral – rosa damascena – ao nariz e palato, e a cereja preta também – fresca e cozida. Taninos texturados e maduros mas também salgados, uma mineralidade enferrujada e uma acidez fresca emprestam estrutura e equilíbrio. Muito bom – um rótulo jovem e sério do qual 6546 garrafas foram produzidas.

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Vertical de EXPLICIT tinto – Foto de Sarah Ahemd | Todos os Direitos Reservados

EXPLICIT tinto 2010 (Vinho Regional Alentejano)

Um lote de Syrah e Alicante Bouschet das vinhas da família, em Serra d’Ossa, 352 metros acima do nível médio das águas do mar, e que foi envelhecido 17 meses em barris de carvalho franceses e americanos. Tal como os que o precederam, o 2010 é um vinho escuro e salgado, com a ameixa ponteada a chocolate amargo a despontar a sua essência firme de taninos calcários e “ósseos”. Notas de garrigue (erva mediterrânea) e minerais esfumaçados conferem uma rusticidade selvagem e muito atraente a este tinto encorpado, que é ainda mais imponente pelo seu chassis extraordinariamente longo de taninos maduros mas muito presentes (este vinho foi submetido a 15 dias de contacto com pele pós-fermentação). Esta estrutura de taninos, juntamente com uma acidez (própria) muito equilibrada, permite a este vinho ter 15.5% sem qualquer esforço. Pode-se abrir mas ainda está em desenvolvimento; recomenda-se guardar por mais 5 anos. 5962 garrafas/20 barricas produzidas.

EXPLICIT tinto 2012 (Vinho Regional Alentejano)

Um lote de Syrah, Alicante Bouschet e Aragones das vinhas da família, em Serra d’Ossa, 352 metros acima do nível médio das águas do mar, e que foi envelhecido durante 24 meses em barris de carvalho franceses e americanos. Embora o carvalho e o álcool sobressaiam no primeiro dia, no segundo dia este vinho é inundado por uma excelente mineralidade poeirenta. Amora doce e carnuda controlada pela sua abundante película e essência de taninos (também esta vinho foi submetido a 15 dias de contacto com pele pós-fermentação). Um vinho muito visceral, quase cru, com o seu esqueleto, não a carne, em primeiro plano. Eu guardaria este vinho pelo menos durante 2/3 anos antes de o abrir e é conservável por mais alguns anos. 11247 garrafas/40 barricas produzidas.