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Poças: Uma nova era de vinhos do Douro com um pouco de “je sais quoi”

Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira

O vinho do Porto é tão representativo de Portugal, que é difícil de acreditar que a Poças Junior é uma das poucas casas de vinho do Porto que se manteve sempre na posse da mesma família (e já agora, de portugueses) desde que foi fundada, há cerca de 100 anos atrás por Manuel Domingues Poças Junior. Quando me encontrei com a viticultora chefe Maria Manuel Poças Maia, fiquei com a certeza de que a sua geração, a quarta, está completamente determinada em mantê-la assim.

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A nova era desarrolhada pela viticultora chefe de vinho do Porto Maria Manuel Poças Maia de Poças Junior – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Mas isso não é sinónimo de conservadorismo, de falta de imaginação ou entusiasmo. Muito longe disso! Ainda não me tinha apercebido que a Poças Wines foi uma das primeiras produtoras a lançar-se nos vinhos de mesa do Douro, no início da era moderna em 1990. O clique? O primo de Maria, o enólogo chefe Jorge Manuel Pintão, que tinha acabado de entrar no negócio, logo após terminar o curso de enologia em Bordéus e um estágio na Château Giscours, também nesta famosa região francesa. Maria Maia disse-me, “o Jorge queria fazer aqui, aquilo que tinha aprendido em Bordéus, e sabia que o Douro tinha potencial para bons vinhos secos.”

Claro que Jorge não foi o primeiro enólogo a inspirar-se em Bordéus. Fernando Nicolau de Almeida, o criador da Barca Velha, é quem pode ostentar esse “título”. Mas, graças à ligação contínua que Jorge manteve com a prestigiada região francesa (Maria Maia diz que “ele nunca perdeu o contacto com Bordéus”), a Poças deu um passo mais além. No ano passado a empresa garantiu os serviços do enólogo e consultor bordalense Hubert de Boüard de Laforest, dono da famosa Château Angélus, em Saint-Emilion. Juntamente com Philippe Nunes (de descendência portuguesa), da consultora Hubert de Boüard, este duo bordalense ajudou na criação dos vinhos do Douro 2014 da Poças.

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Tempo de reflexão na Poças – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

25 anos a produzir vinhos do Douro fazem da Poças uma das empresas produtoras destes vinhos com mais experiência. Perguntei a Maria Maia porque é que a família sentiu a necessidade de contratar um consultor. A reposta foi franca e sem rodeios – “hoje em dia o mercado está complicado e queríamos expandir os nossos mercados de vinho de mesa. Estamos a crescer a nível de vinho do Porto mas queremos ver o mesmo tipo de crescimento nos vinhos do Douro, que está a começar a ser muito conhecido mas não o suficiente, precisa de ter ainda maior visibilidade.” Por outras palavras, não se tratou apenas de “ter alguém de fora a dar-nos novas ideias para evoluirmos”, mas também pelo perfil que a consultora Hubert Boüard lhes conferiu. E admite sem qualquer problema, “sendo de França, o estatuto é algo importante… Claro que trabalhar com Bordéus está a acrescentar valor à garrafa, mas também está a acrescentar valor à percepção.”

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Maria Manuel Poças Maia of Poças Junior contra um cartaz da Quinta Santa Barbara – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

No entanto, Maria Maia é peremptória a colocar ênfase num aspecto importante, “eles (a consultora Hubert Boüard) estão a ajudar a nossa imagem de vinhos e de estilos a crescer, mas sem nunca esquecer que queremos utilizar castas portuguesas e manter a herança das nossas uvas e do nosso terroir.” Dada a enorme experiência da consultora em vinhos de todo o mundo, a família ficou muito contente por ver o “grande respeito que demonstraram pelo que encontraram aqui no Douro.” Se Maria Maia receava que Boüard tivesse algumas reticências em relação às vinhas velhas, esse receio foi dissipado quando Boüard visitou pela primeira vez Santa Bárbara (as vinhas da Poças em Caêdo, Cima Corgo) e se deparou com as vinhas velhas e o xisto. A brilhar de orgulho, a viticultora que nos seus tenros 23 anos de idade assumiu a responsabilidade pelas três quintas da família em 2005, aponta, “Boüard disse-nos, ‘isto sim, é terroir’, e que estava realmente convencido que poderia fazer um vinho muito bom.”

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O novo e melhorado branco do Douro Poças Coroa d’Ouro 2014 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Antes de provar as amostras dos novos, e melhorados vinhos de 2014 (ainda nenhum foi lançado no mercado, e os tintos ainda não estão acabados), falamos sobre as mudanças que foram efectuadas com a entrada da consultora Hubert Boüard. Descrevendo essas mudanças como “ligeiros aperfeiçoamentos”, Maria Maia explicou que o objectivo, no geral, consistia em, “alcançar um estilo mais internacional – uma percepção mais suave dos vinhos do Douro, porque são vistos como sendo muito tânicos, fortes e difíceis de beber.” Nas vinhas, esta procura de elegância,  e em especial de taninos mais refinados, comportou ligeiras mudanças na selecção da fruta. Agora as uvas provêm de parcelas mais maduras, e Boüard introduziu uma nova componente – uma vinha mais nova (15 anos) – à field blend do tinto que comanda as hostes – Símbolo – e que é composta predominantemente por vinhas velhas.

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Que venha o novo, para substituir o antigo – Poças Vale de Cavalos 2014 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Na adega, as alterações passaram por diferentes configurações de prensa (para o branco unoaked) e diferentes escolhas de fermentação e carvalho. Os tintos deixaram de ser envelhecidos na combinação de carvalho francês e americano. Desde 2014 que são envelhecidos em barricas 100% de carvalho francês, utilizando diferentes tanoeiros ou o mesmo mas com diferentes madeiras. Os bordaleses são famosos pelos seus skills em blending, pelo que os vinhos premium são agora produzidos num novo espaço, mais amplo, “para poderem tentar diferentes opções [de blending].”

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Grande potencial do tinto que comanda as hostes Poças Simbolo 2014 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Obviamente é ainda muito cedo para se chegar a qualquer conclusão definitiva relativamente a esta relação Douro/Bordéus, ou aos vinhos de 2014. No entanto, tendo comparado o branco Poças Coroa d’Ouro e as amostras (de barril) dos ainda não terminados Vale de Cavalos e Símbolo, com colheitas anteriores (2013, 2011 e 2007 respectivamente), acho que a Poças não só irá celebrar o seu centenário em 2018 como irá obter um grande retorno do seu investimento. Apesar da juventude, os três vinhos apresentaram um grande requinte no seu final; a longevidade melhorada do branco, e a qualidade dos taninos dos tintos, foram particularmente marcantes. O Símbolo 2007 estava em pleno estado de maturidade e mais desenvolvido do que estava à espera; pelo contrário, os taninos secos já estavam a começar a ofuscar a fruta. Por outro lado, o Símbolo 2014 impressionou-me com os seus requintados e fluentes taninos. A amostra que provei era vibrante, perfumada e mineral, com um longo e elegante final. A mostrar grande potencial, e reconheço que vai proporcionar mais prazer e durante mais tempo do que o 2007. É um testemunho à vinificação, já que o ano de 2007 foi um ano muito aclamado (declarado ano Vintage no vinho do Porto) e o ano de 2014 foi muito mais complicado, com chuvas intermitentes durante a colheita. Espero ansiosamente para provar o produto acabado.

Com o toque je sais quoi [da consultora Hubert Boüard] os vinhos do Douro da gama de 2014 da Poças podem ser novos, melhorados e com um perfil mais conotado, mas há coisas que não mudam. Foi-me dito que a Poças pretende manter a tradição da família no que toca à boa relação preço/qualidade (o preço do actual Simbolo é de €43-50/garrafa). Como diz Maria Maia, “preferimos a qualidade, não a quantidade, mas sem nunca atingir preços inalcançáveis.” Bebo a isso!

Contactos
Manoel D. Poças Junior – Vinhos, S.A
Rua Visconde das Devesas 186
4401 – 337 Vila Nova de Gaia
Portugal
Tel.: (+ 351) 223 771 070
Website: www.pocas.pt

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