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“Taste in Adegas”, Os Vinhos do Pico

Texto José Silva

É uma ilha encantadora, uma das nove ilhas que constituem o arquipélago dos Açores. De origem vulcânica, por todo o lado se vêm aquelas pedras castanhas e cinzentas, a revelar a sua origem nas erupções que ali aconteceram há muitas centenas de milhares de anos. Essas pedras são usadas para muitos fins, incluindo a construção de casas, e para aqueles muros baixinhos que moldam uma grande parte da paisagem da ilha. E que se destinam a cultivar a figueira e a vinha. Assim, os pequenos muretes protegem as plantas do vento forte e por vezes salgado e concentram o calor durante o dia, o que à noite mantém uma temperatura constante nas plantas.

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Muretes © Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Estas formações, únicas e de grande beleza paisagística, fruto do trabalho humano, chamadas currais ou curraletas, foram, em 2004, classificadas património da humanidade. E são, a par da observação das baleias, dos vinhos do Pico e da excelente comida local, um conjunto de atractivos que cada vez levam mais gente à ilha. E que tem ainda como cabeça de cartaz o imponente monte do Pico, um antigo vulcão com 2.350 metros de altitude, a serra mais alta de Portugal.

Os vinhos do Pico, esses, estão cada vez melhor, hoje recorrendo também a modernas tecnologias e a melhor trabalho nas vinhas, mas mantendo a sua grande tipicidade, utilizando as várias castas da região. Sobretudo os brancos, cheios de frescura e mineralidade a par duma acidez notável, mas também alguns tintos que já se revelam bem interessantes. E os licorosos, com grande tradição no Pico, hoje mais polidos e modernos, muito bons.

Mas no Pico há uma grande tradição, que agora também se abre ao público em geral e aos turistas em particular, que é a visita às pequenas adegas. Ali, os proprietários têm por costume receber amigos e convidados para provar os vinhos e apreciar petiscos tradicionais, sobretudo o saboroso caldo de peixe, que é na realidade uma caldeirada de peixe, mas sem batata, que é servida cozida, à parte. Alguns tipos de peixe são cozidos com vários temperos, parte do caldo vai ensopar fatias grossa de pão e, à parte, são servidas batatas cozidas e o molho de vilão tradicional.

Depois, em pequenas tigelinhas, é servido o caldo de peixe, bem quente. Na sobremesa aprecia-se queijo da ilha e rosquilha, um tipo de regueifa mas levemente adocicada, ainda na companhia do caldo.

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Molho de Vilão © Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Hoje, muitos desses produtores recebem nas suas pequenas adegas os visitantes, por um preço adequado, mostrando a beleza das construções, a maior parte das quais ainda sem electricidade. E dão a provar os seus vinhos e os seus petiscos. Uma vez por ano, com o apoio do governo regional, tem lugar o “Taste in Adegas”, organizado pela Adeliaçor, em parceria com a Escola de Formação Turística e Hoteleira de S. Miguel, cujo objectivo é esse mesmo, mostrar essas pequenas adegas e deixar que os turistas usufruam duma tradição que não se pode perder.

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“Taste in Adegas” © Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Os vinhos do Pico têm vindo a melhorar de ano para ano, apresentando vinhos brancos de grande nível, em que a frescura e a acidez se destacam, cheios de elegância mas com personalidade e características particulares de cada um. E mesmo marcas menos conhecidas como “Curraleta”, “Buraca” ou “Cancela do Porco” se revelaram magníficos e acima de tudo bastante gastronómicos, fazendo óptima companhia quer aos pratos mais tradicionais da ilha, como as lapas grelhadas, o polvo guisado, a excelência do atum grelhado, o caldo de peixe das adegas, o bife à portuguesa e a costeleta duma carne de vaca irrepreensivel e, claro, o ananás açoreano, único no mundo, mas também a pratos mais elaborados a partir de produtos regionais como um tártaro de veja e sopa de beterraba fria ou lírio em crosta pecan e ragout de cogumelos.

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Curraleta | Buraca | Cancela do Porco © Fotos de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Os licorosos do Pico, “Lajido” e “Csar”, continuam em grande nível, a que agora se junta um belíssimo “Curral Atlantis”, vinhos cheios de elegância, aromas cítricos suaves e bem integrados, notas de mel e aquela acidez vibrante que os torna apetecíveis e que liga muito bem com vários tipos de sobremesa e mesmo com a excelência do ananás açoreano.

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Lajido | Czar | Curral Atlantis © Fotos de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Foi uma visita em que descobrimos a nova realidade da ilha do Pico e dos Açores em geral, com um turismo moderno em busca de locais paradisíacos com paisagens arrebatadoras e um mar fabuloso e rico, num destino com grande qualidade ecológica graças a um belo trabalho de preservação do património e valores culturais. De que a produção de vinho é uma das partes mais importantes, reconhecida internacionalmente.
Para o ano lá esperamos voltar.

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