O famoso Master Sommelier João Pires partilha alguns segredos, mas não o maior! “Taste in Adegas”, Os Vinhos do Pico

Dominó de Vítor Claro

Texto Ilkka Sirén | Tradução Teresa Calisto

Quando as pessoas falam de vinhos “food friendly”, sempre achei que se trata de uma das mais incorrectas descrições de vinho que por aí andam, da mesma forma que terroir ou mineralidade. “Este é sem dúvida um vinho food friendly”. Ai sim? Que tipo de comida? É um bocado vago, não acha? Há vinhos que não sejam food friendly? Vinhos que, pura e simplesmente, não vão com nada? Eu sei que há vinhos que não precisam de ser acompanhados por comida para serem bastante agradáveis, mas nunca provei um vinho que não combine com nenhum tipo de comida. Também nunca conheci um produtor de vinhos que não faça vinhos food friendly, na sua opinião. Ainda assim, a expressão food friendly é muitas vezes usada pelos escritores de vinho e outros profissionais da área para descrever um determinado estilo de vinho. A razão pela qual sei isto, é que também eu o faço imensas vezes. É uma maneira preguiçosa de dizer que o vinho é bom.

Há com certeza vinhos, que precisam mesmo de comida para mostrar o seu melhor. Alguns vinhos conseguem ser bastante ásperos e de abordagem difícil, se não tivermos alguma comida que os acompanhe. As pessoas estão habituadas a vinhos que podem ser abertos um minuto depois de serem comprados, mas tradicionalmente, os vinhos que devem envelhecer, especialmente os tintos, têm uma estrutura que pode ser desagradável para a maioria daqueles que os prova. Não são necessariamente vinhos grandes e encorpados, mas antes bastante tânicos, com elevada acidez e são estas duas qualidades que as pessoas normalmente associam a vinhos que vão bem com comida.

Dito isto, há algo de mágico, algo que é impossível de medir, quando combinamos comida excelente com vinho excelente e eles se complementam perfeitamente.

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Copo de Vinho – Foto de Ilkka Sirén | Todos os direitos reservados

Entra aqui Vitor Claro, restauranteur, Chef, produtor de vinhos. Este gastronauta Português gere o seu próprio restaurante “Claro!” em Paço de Arcos, perto de Lisboa. Trabalhou em restaurantes por todo o Portugal e Londres, mas em 2012 abriu o seu próprio espaço. Pelos vistos, apanhou o bichinho do vinho de Dirk Niepoort que é algo que acontece frequentemente com o Dirk. Passaram-se alguns anos a visitar produções de vinhos e a provar imenso vinho.

Começou então a surgir a ideia de fazer o seu próprio vinho. Encontrou duas parcelas de vinhas na região de Portalegre, Alentejo. Agora quando digo Alentejo, esqueçam. Porque estes não são os típicos vinhos Alentejanos. Este projecto relativamente novo é pequeno, apenas 800 garrafas de cada vez. É tão pequeno na realidade, que haverá quem se pergunte para quê o trabalho. No fim muito poucos serão os que terão a oportunidade de provar estes vinhos. Não por serem demasiado caros, mas por ser uma quantidade muito limitada. Tenho a certeza que a ideia não terá sido criar vinhos de sucesso massificado, mas fazer algo diferente que mostre a tipicidade da região, que não é muito bem conhecida, mesmo dentro de Portugal. Não obstante é uma prova. Uma prova da inegável qualidade a nível mundial dos vinhos Portugueses.

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Vítor Claro – Foto de Ilkka Sirén | Todos os direitos reservados

Dominó Monte das Pratas 2011
Este vinho é feito de castas como Alicante Branco, Moscatel Nunes, Fernão Pires, Dorinto, Tamarez, Síria, Pérola e um monte de outras. Vinhas velhas com uma média de idades de 70 anos, localizadas 800 metros acima do nível do mar. 10 meses em barris de carvalho usados.

Um nariz muito único. Aromas de funcho e maçã verde com um agradável toque floral, provavelmente do Moscatel. Não tão aromático no paladar mas muita estrutura. Acidez igual a lamber uma vedação eléctrica. Muito bom. 

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Dominó – Foto de Ilkka Sirén | Todos os direitos reservados

Dominó Salão do Frio 2011
Blend tinto das castas Alicante Bouschet, Tinta Francesa, Moreto, Castelão, Trincadeira e outras. A idade média da vinha é de 50 anos, também localizada 800 metros acima do nível do mar. 20% sem desengace. 15 meses em barris usados.

Início forte em especiarias: imagine snifar uma linha de pimenta preta. Um fim aveludado de alcaçuz. Austero, aperto dos taninos, um exterior rude mas ainda delicado com alguma boa fruta de fundo. Desde o início que é óbvio que este vinho é demasiado jovem. Devia ter um sinal no gargalo da garrafa a dizer “beba-me mais tarde!” Este vinho não tenta agradar a todos. Em vez disso, detém uma surpresa para aqueles que tenham a paciência para esperar. Um dos vinhos tintos mais excitantes em Portugal no momento. Estelar.

Contactos
Av. Marginal, Curva dos Pinheiros, Hotel Solar Palmeiras
2780-749 Paço de Arcos
Telefone: 214 414 231
Site: www.restauranteclaro.com

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