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Juro que termino aqui o passeio pelo Dão!

Texto João Barbosa

Queria apenas escrever acerca de três vinhos do Dão, mas a corrente deste rio levou-me a enquadrar, porque a região nasceu bem, enfraqueceu e está (ainda) a renascer. Termino onde desejei começar.

A qualidade tem vindo a aumentar e faz justiça à natureza e ao engenho humano, pois o Dão é das melhores regiões vinhateiras portuguesas. No elencar das virtudes e fealdades da região dou três exemplos que traçam o meu boneco. A Dão Sul, a Sogrape e a Casa de Mouraz. Qualquer delas conhece o sucesso e as vitórias nunca acontecem por acaso. Uma retrato a preto e branco e dois a cores.

A cores: Quando em 2004 comecei a fazer o programa «Da Terra Ao Mar» – domingos, às 11h00, na RTP 2 – uma das primeiras reportagens foi sobre a Casa de Mouraz. Um casal jovem mudara-se de Lisboa para lavrar uma vinha em modo biológico, hoje em biodinâmico. Tinham quatro hectares e hoje Sara Dionísio e António Lopes Ribeiro oficiam em mais zonas do país, mantendo o coração no Dão.

A preto e branco: A Dão Sul (Global Wines) foi fundada em 1989 e a ela se deve muito do renascimento da região, recolocando-a nos escaparates. Uma estratégia de qualidade acima da média e preço amigo da algibeira.

A Quinta de Cabriz tornou-se conhecida do grande público. Um sucesso avassalador que ditou a chegada de uvas doutras terras da zona e que a marca passasse a ser apenas Cabriz. A Quinta dos Grilos – supostamente doutro produtor, embora doutro dono, dizem as más-línguas –serviu para criar uma dinâmica de competição. Outro caso de popularidade, embora menos visível. Hoje é só Grilos, pela mesma razão do anterior.

Infelizmente, Cabriz e Grilos decaíram na qualidade. Fazer muito e muito bem é quase a quadratura do ciclo, é muitíssimo difícil. A Casa de Santar, outrora com mais sainete, conhece a mesma sina. Contudo, a contratação do enólogo Osvaldo Amado está a dar melhores resultados. À parte: o vinagre de Cabriz é excelente!

A Global Wines não faz só vinhos de gama baixa. Os Paço dos Cunhas de Santar e o Pedro & Inês – evocativo do grande e trágico amor entre o infante Dom Pedro, mais tarde rei Pedro I de Portugal, com Dona Inês de Castro – fazem parte do melhor da região.

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Quinta dos Carvalhais – Foto Cedida por Sogrape Vinhos, SA | Todos os Direitos Reservados

O pretexto original era o de contar acerca de três vinhos da Quinta dos Carvalhais, propriedade da Sogrape. É a maior empresa portuguesa do sector – uma multinacional familiar – que não brinca em serviço. No Dão faz vinhos de classe mundial e criou três «indivíduos»: personalidade e expressão da origem; terroir.

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Quinta dos Carvalhais – Foto Cedida por Sogrape Vinhos, SA | Todos os Direitos Reservados

A touriga nacional é original do Dão, onde oferece um ramalhete de violetas. Sem caricatura de aroma – exagero que está a acontecer na região – tem o carácter é educado. Quinta dos Carvalhais Touriga Nacional 2012 é pedagógico, expressa a casta e elegância que deu fama ao sítio onde nasceu.

Igual valor tem o amarelo, concretizado com a variedade mais vistosa da zona, muito fresca e mineral . O Quinta dos Carvalhais Encruzado 2013 tem igualmente uma função formativa, do que é a casta e do que de melhor se faz no Dão.

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Quinta dos Carvalhais Encruzado 2013 – Foto Cedida por Sogrape Vinhos, SA | Todos os Direitos Reservados

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Quinta dos Carvalhais Touriga Nacional 2012 – Foto Cedida por Sogrape Vinhos, SA | Todos os Direitos Reservados

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Quinta dos Carvalhais Reserva tinto 2010 – Foto Cedida por Sogrape Vinhos, SA | Todos os Direitos Reservados

Porém, a regra portuguesa dita que os vinhos sejam resultado da junção de várias castas, embora a empresa não forneça, no seu sítio na internet, quais as que o encarnam. O Quinta dos Carvalhais Reserva Tinto 2010 reúne o verdadeiro carácter do Dão.

O melhor de antigamente, a longevidade. Foram feitos para durar, mas podem beber-se já. Com os anos que têm pela frente… compre várias garrafas, beba umas e guarde outras. Tire apontamentos para comparar e recordar.

Os Afectus da Quinta de Curvos

Texto João Pedro de Carvalho

Com mais de quatro séculos de história, remonta a 1600, muitas são as lendas e “estórias” que lhe estão na origem, muitas delas contadas pelos diversos espaços envolventes, desde o antigo palacete às grutas, passando pelo lago, jardins e vinhedos. No total são cerca de 16 hectares, toda murada sobre si a Quinta ganhou uma nova alma em 1976 com a sua aquisição por parte dos actuais donos e ainda hoje é uma empresa 100% familiar que, conta já com a dedicação da segunda geração para dar continuidade ao projeto.

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Quinta de Curvos – Foto de M&A Creative | Todos os Direitos Reservados

As vinhas que se encontram em regime de protecção integrada estendem-se ao longo de 27 hectares distribuídos por quatro propriedades situadas em Forjães, Ponte de Lima e Barcelos. A influência atlântica e os solos graníticos marcam o perfil dos vinhos, algo que se comprovou durante a prova de três exemplares da gama Afectus. Esta gama de vinhos foi buscar inspiração ao afeto e paixão à terra, com rótulos cuja imagem representa as centenárias camélias existentes na Quinta de Curvos.

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Afectus Loureiro 2014 – Foto de M&A Creative | Todos os Direitos Reservados

O Afectus Loureiro 2014 (Vinho Verde) foi o que causou menos impacto dos três vinhos provados, fresco e marcado pela fruta (maçã vermelha com pêssego vermelho) sem mostrar uma grande exuberância, combina aromas de flor de tília, louro com um fundo de pederneira. Acidez bem equilibrada na prova de boca com presença da fruta em final mediano.

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Afectus Alvarinho 2014 – Foto de M&A Creative | Todos os Direitos Reservados

Enquanto os outros dois vinhos são Vinho Verde, o Afectus Alvarinho 2014 apresenta-se como um Regional Minho. Mais austero que o anterior, aromas mais delineados com maior presença e a frescura a impor-se com notas de líchia, pêssego, limão e erva-cidreira. Algo fechado a dar indicações de que mais um tempo em garrafa apenas o irá beneficiar. Na boca tem muito boa presença da fruta com a líchia em destaque ao lado de um pêssego maduro e sumarento, fundo fresco e saboroso com ligeiríssima austeridade mineral.

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Afectus Rosé 2014 – Foto de M&A Creative | Todos os Direitos Reservados

Este Rosé foi uma alegre e refrescante surpresa que me caiu no copo, dele fazem parte as castas tintas características da região, Vinhão e Espadeiro. O vinho conquista pela frescura, pela forma como a fruta (morango, cereja) rechonchuda e sumarenta escorre de sabor ao mesmo tempo que o fundo se mostra seco e mineral. Tudo isto aparece envolto numa fina capa fumada num vinho que tem tudo para brilhar no pico do calor que se avizinha. Já agora, experimentem acompanhar com carne grelhada, o resultado é fantástico.

VZ, uma marca da história do Douro

Texto João Pedro de Carvalho

Foi em 1780 que a Van Zeller’s & Co se estabeleceu oficialmente como empresa de Vinho do Porto, comercializando vinho até ao ano de 1930. Pelo meio a empresa teria sido vendida a outro grupo de Vinho do Porto sendo comprada novamente em 1933 por Luís de Vasconcellos Porto, dono na altura da Quinta do Noval. Esta compra viria a transformar-se numa generosa oferta para os seus netos (filhos da sua única filha Rita de Vasconcellos Porto casada com o bisavô de Cristiano van Zeller). Desta forma várias marcas da Van Zeller’s & Co fundiram com a Quinta do Noval, tais como Van Zellers e VZ.

Em 1980 tomou-se a decisão de reavivar a Van Zeller’s & Co tornando-a independente da Quinta do Noval, com a sua própria quinta e stocks de Vinho do Porto. Uma vontade que iria entrar num período de dormência, numa altura que envolveu a venda da Quinta do Noval à AXA e a respectiva venda da Van Zeller’s & Co para os donos da Quinta de Roriz, primos de Cristiano van Zeller. O tempo passou e só em 2006 é que a Van Zeller’s & Co com todas as suas marcas (que datam do século XIX) chegaria às mãos de Cristiano van Zeller, também por generosa oferta de um familiar.

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VZ Douro branco 2013 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Os novos vinhos não tardaram muito em surgir no mercado, sendo o primeiro de todos um gama alta VZ Douro branco 2006, cujas uvas (Viosinho, Rabigato, Codega e Gouveio) provenientes de duas parcelas com idade média de 50 a 80 anos ficam localizadas no concelho de Murça. O resultado deste VZ Douro 2013 é um belíssimo branco, fermentado e com estágio de 9 meses em barrica com direito a battonage da autoria de uma equipa de enologia de luxo, composta por Cristiano van Zeller, Sandra Tavares da Silva e Joana Pinhão. Dá uma prova cheia de carácter, com o Douro bem vincado num conjunto que entrelaça e envolve com as notas ligeira tosta da barrica e a fruta (pêssego, citrinos, pera), coeso, sério, marcado por um final tenso e mineral. De igual modo toda a passagem pelo palato se enquadra com o já descrito, muito boa presença, amplo e com ligeira austeridade mineral em fundo. Todo o conjunto remete para um consumo que pode ser imediato ou para guardar por mais uns quantos anos na garrafeira.

Contactos
Lemos & van Zeller, Lda.
Rua de Gondarém, 1427 – 2º Dt. Ala Norte
4150-380 Porto
PORTUGAL
Telef. +351 223744320
Fax. +351 223744322
E-mail:

Website: www.quintavaledonamaria.com

 

Grandes Quintas Colheita Tinto 2012

Texto João Barbosa

Conheço a Casa d’Arrochella desde 2010, quando me enviaram para prova o Grandes Quintas Colheita Tinto 2007 e o Grandes Quintas Reserva Tinto 2007. Anualmente, a firma envia-me vinhos para prova – também azeite – e gosto do que me chega.

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Grandes Quintas Colheita Tinto 2007 in Arrochela.com

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Grandes Quintas Reserva Tinto 2007 in Arrochela.com

A regularidade é um bem precioso. É importante não confundir regularidade com padronização. A regularidade dá um traço familiar, com as diferenças dos anos e a persistência do solo. A padronização é anonimato. Pode ser um bom produto, mas será mais do mesmo; pouco vinho e mais bem alimentar.

Estes vinhos são Douro e não se confundem com qualquer outra localização. Dentro das garrafas há o chão de xisto, da terra resultante do trabalho para a fazer, as ervas bravias prestes a secarem-se pelo calor do tempo das vindimas, sobressai a esteva, o aconchego da lenha de azinho e um modo nocturno de chegar aos sentidos. Na boca é fundo, escuro, denso e com persistência.

Nocturno? Sim. Porque vinhos destes, os Douro tradicionais, não devem ser bebidos de dia. São o sangue dos vampiros, para as conversas pausadas, depois do esforço do dia, para a serenidade do jantar, para as conversas sem fim à vista, enquanto música suave – não é música lamechas ou pirosa – participa no momento.

Os vinhos desta casa têm essa raça duriense, força e carácter. Acompanham comidas exigentes fisicamente, mas podem sobrar-lhes, deixando-se ficar na mesa e dispensando um fortificado ou destilado.

A ficha técnica não especifica as percentagens de cada casta do lote: touriga nacional, tinto cão, touriga franca e tinta roriz. Porque é Douro, a touriga franca brilha, deixando que as outras falem.

A touriga franca – sendo um híbrido não pode ser franca – tem essa nobreza de carácter, que é o de consentir que outras uvas tenham uma voz. Talvez todas – palavra perigosa – as grandes castas do mundo se imponham, exibindo-se como pavões ou absorvendo toda a luz. Esta cultivar duriense fica servindo de cenário, mas não de enfeite. É generosa e muito raramente consegue ter a qualidade que atinge no Douro… mais difícil ainda é conseguir dançar bem sozinha. Para o resultado não basta a natureza. Interpretar o que nasce e aproveitar o melhor é trabalho técnico, aqui da responsabilidade de Luís Soares Duarte, um dos melhores enólogos da região.

As uvas vieram da Quinta do Cerval (70%) e da Quinta de Vale de Canivens (30%), ambas situadas na sub-região do Douro Superior. Têm solos xistosos e as vinhas situam-se num intervalo de altitude entre os 200 metros e os 250 metros.

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Quinta do Cerval in Arrochela.com

Conheceu um curto estágio em madeira, com 60% do vinho a estagiar quatro meses em barricas de carvalho francês. Tenho alguma pena que não tenha vivido mais um pouco nesse ambiente, tinha a ganhar.

O produtor recomenda que seja decantado cinco minutos antes de servido. Talvez mais, digo eu. Livre como o abutre que voa no Parque do Douro Internacional, o carácter da touriga franca exige liberdade.

Contactos
Av. Eng. Duarte Pacheco
Amoreiras, Torre 2, 9º Andar, Sala 8
1070 – 102 Lisboa
Tel: (+351) 213 713 240
Fax: (+351) 213 713 246
Email: arrochella@fimove.pt
Website: arrochella.com

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Peixe + Vinho Branco = Portugal

Texto João Pedro de Carvalho

Portugal é actualmente o país da União Europeia com o maior consumo anual por pessoa de pescado, e o terceiro do mundo, só ultrapassado pela Islândia e pelo Japão. A realidade é que Portugal se pode gabar de ter nas suas águas o melhor pescado do Mundo, este facto tem sido amplamente reconhecido por alguns dos melhores Chefes de Cozinha do Mundo. É dito e sabido que das nossas lotas voam diariamente nobres exemplares para os melhores restaurantes do planeta. No aspecto do consumo é necessário o consumidor ter a consciência de que se tem de contribuir para um consumo sustentável das espécies, em que só assim se poderá manter o equilíbrio das cadeias alimentares marinhas.

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Mar de Portugal – Foto de Ciência Viva | Todos os Direitos Reservados

Ciência Viva lançou um catálogo “As espécies mais populares do mar de Portugal” onde são apresentadas as principais espécies de maior interesse económico de pescado do mar de Portugal que chegam à nossa mesa. No total, foram selecionadas vinte espécies de peixes, três espécies de cefalópodes, três espécies de bivalves e três espécies de crustáceos. Para cada uma das espécies apresentadas descrevem-se resumidamente as principais características morfológicas assim como o habitat, etc. Para todos os interessados está disponível de forma gratuita aqui.

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Peixes do Mar de Portugal – Foto de Ciência Viva | Todos os Direitos Reservados

Ora se no pescado damos cartas, é no campo dos vinhos brancos que começamos a ganhar pontos e sem dúvida alguma que nos dias de hoje Portugal dispõe dos melhores brancos, quer em perfil quer em qualidade, para acompanhar na perfeição o pescado que nos chega à mesa. O Homem pensa com o estômago, facto este que associa a cozinha regional ao tipo de vinho ali produzido, basta pensar que as melhores ligações são produzidas entre cozinha + vinho de determinada região. No vinho branco o salto qualitativo que foi dado nas últimas duas décadas em Portugal tornou tudo isto possível e hoje em dia não haverá melhor ligação com o nosso pescado do que o nosso vinho, o Vinho de Portugal.

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Allo 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Um desses exemplos é o Allo 2014, criado na Quinta de Soalheiro (Vinhos Verdes) e que resulta do lote entre Alvarinho e Loureiro. Enquanto a casta Alvarinho lhe dá toda a estrutura e vigor, a casta Loureiro contribui com toda a parte exuberante, o resultado é um branco viciante com apenas 11% Vol que se bebe de forma tão descontraída que quando damos conta a garrafa já acabou. Um verdadeiro vinho de esplanada, que cheira a Verão, a pedir marisco ou como foi o caso uns Pargos assados no forno, combinando toda a frescura dos aromas e sabores com uma acidez revigorante que limpa por completo o palato e pede sempre mais um trago. Se quiser saber mais sobre a Quinta de Solheiro e os seus vinhos, veja aqui.

Contacts
Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica
Parque das Nações, Alameda dos Oceanos Lote 2.10.01, 1990-223 Lisboa, Portugal
Tel: (+351) 21 898 50 20 / 21 891 71 00
Fax: (+351) 21 898 50 55 / 21 891 71 71
Website: www.cienciaviva.pt

Quinta de Soalheiro
Alvaredo . Melgaço
4960-010 Alvaredo
Tel: (+351) 251 416 769
Fax: (+351) 251 416 771
Email: quinta@soalheiro.com
Website: www.soalheiro.com

De Volta aos anos 30 com a Casa dos Tawnies

Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira

Big Fortified Tasting (Grande Prova de Fortificados) é a uma feira exclusivamente dedicada a vinhos fortificados, e a maior do mundo para este propósito. E é também uma das minhas provas favoritas do ano, até porque fortificados envelhecidos em madeira – obras vínicas do tempo – estão entre os mais deliciosos e complexos vinhos à face da Terra. Por isso não hesitei quando tive a oportunidade de participar na Masterclass “House of Tawnies”, da Sogevinus, que me levou de volta aos anos 30. Pode ter sido a era da Depressão mas, no que toca ao vinho do Porto, à medida que provava os Colheitas 1935, 1937 e 1938, havia muitas razões celebrar!

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Carlos Alves, Enólogo do grupo Sogevinus – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Não contabilizando a inegável qualidade destes vinhos do Porto, a auto-intitulada alcunha “House of Tawnies” encaixa-lhe que nem uma luva. Quando a Sogevinus adquiriu, há 10 anos atrás, a Kopke, a Burmester, a Barros e a Cálem, ficou em posse do maior stock de Colheitas em Portugal – segundo o enólogo do grupo, Carlos Alves, a Sogevinus possui 17 milhões de litros de Porto Tawny. Além do mais, já que os Colheitas são engarrafados por encomenda, passam muito mais tempo em madeira do que os 7 anos mínimos legais. Agora que tenho tempo para pensar, foi qualquer coisa de extraordinário provar vinhos que passaram mais de 80 anos em madeira. Os 4 Colheitas que provamos tinham sido engarrafados apenas 15 dias antes.

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Os quatro copos na mesa de prova – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

É uma longevidade que se baseia simultaneamente na mestria de selecção das uvas e o cuidado dispensado nestes raros e finos Portos durante o seu longo estágio em madeira. Alves explica que, as uvas não têm apenas de ter estrutura para envelhecer, devem também enquadrar-se na filosofia da casa. Ele certifica-se disso, nas vinhas, todos os anos, a cada vindima; as uvas para os Colheitas são as primeiras a ser alocadas já que esta categoria é uma imagem de marca da empresa.

Nos Kopke, as uvas para os Colheita têm sido obtidas, desde os anos 20, nas parcelas do meio e superiores da Quinta S. Luiz, perto do Pinhão, em Cima Corgo. A 600m acima do nível médio das águas do mar, proporcionam a acidez para o estilo estruturado e intenso do Kopke. Quando a Barros adquiriu a Kopke em 1952, também pensou nas uvas da Quinta S. Luiz mas, neste caso, uvas com um maior teor de açúcar são obtidas de duas parcelas mais baixas e mais quentes, da vinha junto ao rio. São mais adequadas para os Portos mais ricos desta casa.

Quanto ao cuidado dispensado aos Portos durante o tempo que passam em madeira, Alves tem uma equipa dedicada para isso, consistiando de duas pessoas, isto porque “precisam de conhecer os vinhos para trabalhá-los bem”. Acrescenta ainda que, têm o cuidado de se certificarem que as pipas, os tonéis e as barricas se mantém sempre ligados à mesma casa “já que a madeira – o tamanho e tipo de madeira – confere perfil à casa”. A Cálem, por exemplo, com a maior variedade de barris, tem a tradição de envelhecer os vinhos em madeira tropical/exótica.

Alves e a sua equipa transferem os Colheitas, pelo menos uma vez por ano, das pipas individuais de 550 litros (barril de Porto) em que se encontram, para uma barrica grande, isto para poderem ajustar os níveis de aguardente vínica (que evapora ao longo do tempo) e manter os de requisitos mínimos de percentagem alcoólica (a aguardente vínica integra-se muito melhor quando misturada em quantidades mais elevadas, na barrica). Há dois factores que ajudam a explicar o porquê destes Colheitas dos anos 30 – os mais antigos que a empresa tem para venda – terem conseguido manter uma frescura incrível, sendo que um deles é este modo de exposição ao ar, e o outro é o facto de lavarem as pipas antes de recolocarem lá os Portos. Aqui estão as minhas notas de prova:

Kopke Porto Branco 1935

Fundada em 1638 por Christiano Kopke e pelo seu filho Nicolau, a Kopke é a empresa mais antiga de exportação de vinho do Porto. Em 1953 foi adquirida pela família Barros, nas mãos da qual ficou até 2006, altura em que a própria Barros foi aquirida pela Sogevinus. Com cerca de 45g/l de açúcar residual, este pálido e raro Colheita, feito a partir de uvas brancas, é, em termos de estilo, mais seco do que o Kopke Tawny Colheita de uvas tintas. Tem um nariz mais firme e focado, ainda que mais contido. Palato com notas distintas a maresia/ ozono e nogado, estilo Fino (Sherry Seco) – mais leve e menos doce do que o sabor a nozes que normalmente associo aos tawnies. E, talvez por ter menos extracto e açúcar residual, tem uma frescura particularmente marcada. É de um ano altamente considerado no Douro, e tem uma electrizante intensidade de perfume a casca de laranja, laranja e maça eau-de-vie, com notas de anis e apimentado num final longo e limpo.

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Kopke Porto Branco 1935 & Kopke Porto Colheita 1935 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Kopke Porto Colheita 1935

Âmbar carregado e borda de açafrão. Com as suas notas a casca de laranja e toranja no nariz, tem uma sensação palpável de frescura – um ponto a mais. Mas também há riqueza, o que me faz lembrar dos biscoitos Madeleine. Na boca, tem uma energia fantástica. Uma espinha nogada confere longevidade e tensão, o toque a toranja e a casca de laranja conferem sabor, enquanto que, um toque de vinagrinho de frutas faz um contraste picante com o figo seco, doce e suave. Um final longo, muito vibrante, com um timbre maravilhoso. Fabulosamente complexo e com personalidade.

Burmester Porto Colheita 1937

Henry Burmester e John Nash começaram a enviar vinho do Porto para as Ilhas Britânicas após chegarem a Vila Nova de Gaia, em 1750. A casa de Porto permaneceu na família Burmester até 2005, altura em que foi adquirida pela Sogevinus. Apesar de ter uma cor caramelo queimado, é um Colheita particularmente sedoso, com um paladar (e doçura aparente) muito diferente do Kopke. Parece muito mais jovem, tal é o seu perfeito e harmoniosamente frutado paladar a caramelo salgado. Alves descreve-o como sendo “uma caixa de perfume”, devido aos aromas que apresenta. É possível distinguir tamarindo, canela adocicada e cardamomo no chutney de frutas secas e damasco de Tânger. Rico, mas bem equilibrado, tem uma grande postura e persistência no final, carregado a cigarrilhas de café crème. Melífluo, muito elegante.

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Barros Porto Colheita 1938 & Burmester Porto Colheita 1937 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Barros Porto Colheita 1938

A Barros foi fundada em 1903 por Manoel de Almeida e adquirida pela Sogevinus em 2006. Proveniente de ano quente, este Barros tem tons fulvos, e nas bordas, açafrão e azeitona nas. No nariz sente-se um pouco a aguardente, com uma pitada de noz. E, contrariamente à realidade, sugere ser o mais velho dos Colheitas Tawny. Na boca é mais doce, com tâmaras secas, crème caramel, caramelo salgado e nogado. No entanto, o final demonstra um traço de terra e noz amarga – está a secar um pouco. Não é tão harmonioso como os outros.

O meu preferido? É difícil escolher entre o Kopke e o Burmester – são estilos tão diferentes, tal como devem ser. Fazendo um balanço, o Kopke é o mais etéreo dos dois – adorei a energia, tensão e toque que apresentou. Mas o equilíbrio aveludado do Burmester foi o que colheu mais votos.

Se quiser fazer o seu próprio mano a mano Burmester vs Kopke, porque não juntar-se a mim no Tour da Blend – All About Wine ao Porto, Vinho Verde e Douro no próximo mês?  Vamos fazer um frente a frente de Tawnies 20 anos e Portos brancos da Kopke e da Burmester, seguido de dois Colheitas da Kopke, um 1966, e outro de 1957, um dos meus Portos favoritos que também indiquei no artigo que escrevi para a wine-searcher em Dezembro.  Dias felizes!

Contactos
Sogevinus Fine Wines, S.A.
Avenida Diogo Leite nº 344
4400-111 Vila Nova de Gaia
Tel: +351 22 3746660
Fax: +351 22 3746699
E-mail: comercial@sogevinus.com
Website: www.sogevinus.com

Arrepiado Velho, a paixão dum casal do norte, no Alentejo…

Texto José Silva

Fica perto de Sousel esta propriedade que um dia um casal, que veio do norte, resolveu comprar.

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A Casa Principal – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Depois foi a reconstrução de alguns edifícios, sobretudo a casa principal, dando-lhe o conforto necessário para ali até poderem viver. Vinhas plantadas e foi um saltinho até à produção de vinho, com a ajuda preciosa do enólogo e amigo António Maçanita e a mestria na viticultura do já saudoso David Booth.

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A Adega – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Embora haja vontade de construir uma nova adega, a que existe tem todas as condições e a moderna tecnologia, onde as uvas são trabalhadas e os vinhos preparados e onde vão repousar até à ocasião do engarrafamento.

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Rótulos Muito Fora do Vulgar – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Entretanto o António, filho do casal, e a sua mulher Marta, foram-se dedicando à comercialização dos vinhos, tendo a Marta, que trabalha em design, criado os rótulos, muito fora do vulgar, mesmo únicos e que distinguem as garrafas do Arrepiado Velho de quaisquer outros.

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Marta Neto e António Antunes – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

E de tal maneira se envolveram no projecto, que tomaram a decisão de ir viver para o Alentejo e dedicarem-se a tempo inteiro à produção e comercialização destes vinhos de qualidade, mantendo a Marta uma ligação á actividade de design. Mesmo apesar de terem dois filhos pequenos, mas que ali têm uma grande qualidade de vida a que se adaptaram lindamente.

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Lagoa – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

A herdade tem vindo a evoluir, com uma lagoa que serve para reter a água de que as vinhas necessitam, mas que também é utilizada para lazer e dar um passeio nas simpáticas gaivotas. Os mais de 30 hectares de vinhas estão particularmente bem tratadas, muito cuidadas e o olival produz algum azeite de qualidade. Em breve querem plantar mais alguma vinha, a juntar às castas já existentes: Antão Vaz, Verdelho, Chardonnay, Viognier e Rieseling nas brancas e Touriga Nacional, Syrah, Cabernet Sauvignon and Petit Verdot,nas tintas.

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O Enoturismo é uma Realidade – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Com alguns quartos disponíveis e uma bela piscina, o enoturismo já é possível no Arrepiado Velho, embora ainda queiram fazer melhor. Nos pequenos almoços e nas refeições encomendadas, são utilizados muitos dos produtos que ali se produzem e outros adquiridos na região, numa oferta das tradições alentejanas.

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As Vinhas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Num passeio pela herdade as vinhas estão por todo o lado, entrecortadas aqui e ali pelas oliveiras e algumas azinheiras.

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Laranjeiras – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Os Cães – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Há também laranjeiras tradicionais e, sempre a acompanhar os visitantes, os cães que vão brincando por ali.

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Lareira – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

No jantar que apreciamos, com a lareira a crepitar, que à noite ainda faz frio, tivemos mesa farta.

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Pão Regional – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Azeitonas e Azeite – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

O pão regional, delicioso, a fazer companhia às azeitonas e para molhar no azeitinho.

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Tábua de Enchidos e Queijinho Fatiado – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

E uma tábua de enchidos e queijinhos fatiados a que não se resistiu. Entretanto já rolava pelos copos o branco Antão Vaz 2014, que surpreendeu pela frescura, aroma com alguns frutos tropicais sem ser exuberante, bom corpo e acidez muito equilibrada.

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Os Vinhos – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Logo seguido do Arrepiado Branco 2014,  fresco no nariz, com algum ananás, algo mineral, boa acidez, bastante equilibrado.

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Tomate Recheado – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Seguiu-se um tomate recheado muito saboroso e guloso, e passou-se a um surpreendente Branco Rieseling, com notas muito frescas de citrinos, ananás, toranja, manga. Na boca é muito elegante e persistente, mantendo a frescura, um vinho muito giro.

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Deliciosos Cogumelos Salteados – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

E foi a vez do Arrepiado Velho Rosé, feito a partir de Touriga Nacional e Syrah, com algum floral no nariz, muito fresco, boca intensa e cheia, notas de frutos vermelhos maduros com muita elegância, que fez boa companhia a uns deliciosos cogumelos salteados, carnudos, bem temperados. O primeiro tinto foi o Brett Edition 2011, com aromas evoluídos, tabaco, couro e algumas especiarias, volumoso na boca, redondo, elegante, persistente, um vinho diferente.

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Borrego Assado com Arroz Malandrinho de Grelos e Chouriço- Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Que fez companhia a um borrego assado com arroz malandrinho de grelos e chouriço, óptimo. Terminamos com um soberbo Tinto Arrepiado Velho Collection 2011, cheio de classe e de frutos pretos , notas de tabaco, levemente balsâmico no nariz, volumoso na boca, notas de fumo, chocolate, frutos pretos maduros e final muito longo. E já não houve lugar para a sobremesa.

Naquele sossego, o sono foi profundo e longo…

Contactos
Herdade do Arrepiado Velho
Tel: (+351) 256 392 675
Fax: (+351) 256 392 676
E-mail: amantunes@arrepiadovelho.com | mneto@arrepiadovelho.com
Website: www.arrepiadovelho.com

Quinta do Ortigão, da Bairrada para o Mundo

Texto João Pedro de Carvalho

A Bairrada está diferente, no reino da Baga surgem ventos de mudança com parte dos novos produtores a fugir ao registo mais tradicional que terá por sua vez afastado muito consumidor dos vinhos da região. Na verdade o perfil mais clássico da Bairrada nem sempre fácil não consegue cativar no imediato, é preciso na maioria dos casos tempo de guarda e isso é coisa que nos dias de hoje o consumidor não pretende fazer. Quem compra um vinho quer tirar todo o prazer o mais rapidamente possível, por isso é necessário oferecer vinhos mais prontos a beber cujo perfil seja mais adequado aos tempos modernos sem que a identidade/imagem da região saia beliscada.

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Quinta do Ortigão – Foto de Quinta do Ortigão | Todos os Direitos Reservados

São já poucos os que ainda se orgulham em manter aquele perfil mais clássico e que deu fama à região, enquanto outros enveredam com os seus vinhos por um caminho de diferentes aromas e sabores apostando em castas mais reconhecidas internacionalmente como Sauvignon Blanc, Chardonnay, Merlot, Pinot Noir ou Cabernet Sauvignon, sem por isso deixarem de lado as tradicionais Bical, Arinto, Maria Gomes e Baga.

A marca Quinta do Ortigão surge no início do ano 2001 por decisão familiar, onde aliando o saber acumulado de três gerações se apetrechou com uma moderna e bem dimensionada adega. Tive a oportunidade de provar os dois últimos lançamentos deste produtor cujos vinhos são criados pelo reconhecido enólogo Osvaldo Amado.

Quinta do Ortigão Arinto/Bical 2014 Ortigão Reserva 2010

Quinta do Ortigão Arinto/Bical 2014 & Ortigão Reserva 2010 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Quinta do Ortigão Arinto/Bical 2014 é um vinho que se mostra muito preciso de aromas com especial destaque para a fruta que surge bem madura e muito limpa, citrinos e fruta de polpa branca, perfume floral a juntar-se ao travo mineral que domina todo o segundo plano. Já de si bastante agradável, no palato torna-se ainda mais convincente e prazenteiro, frescura acentuada sempre com uma estrutura bem firme, fazem a ligação perfeita com por exemplo, um spaghetti marinara.

Com a prova do Ortigão Reserva 2010 deixamos de ter um Bairrada e passamos a ter no copo um Regional Beira Atlântico; que estagiou 9 meses em barricas novas de carvalho Português. O resultado é um tinto muito apelativo, convidativo e fácil de se gostar. Com tudo muito bem arrumado nada destoa nem fica fora de contexto, fruta madura e saliente com toque de arredondamento conferido pela madeira. Na bonita complexidade que tem, acrescenta ainda um ligeiro travo vegetal na companhia de especiarias em fundo. Na boca o pendor gastronómico destaca-se ao primeiro sorvo, uma saudável e ligeira ponta de austeridade com fruta a explodir de sabor num final longo com boa dose de especiarias, onde a frescura está bem presente. Agradou a todos os que estavam à mesa fazendo muito boa ligação com uma clássica Shepherds’ pie.

Para mais vinhos da Quinta do Ortigão veja o artigo anterior do Ilkka’s Sírén aqui.

Contactos
Apartado 119, 3780-227 Anadia
Tel: (+351) 231 503 209
E-mail: allemos@quintadoortigao.com
Facebook: facebook.com/Quinta-do-Ortigão
Site: www.quintadoortigao.com

Maçanita – Irmãos e Enólogos

Texto João Pedro de Carvalho

Depois do destaque feito pela Sarah Ahmed acerca do enólogo António Maçanita, ver aqui, destaco agora o seu projecto a meias com a sua irmã também enóloga, Joana Maçanita, em terras do Douro. Joana e António há muito tinham um sonho de criar um vinho em conjunto onde fosse possível mostrar o caráter e personalidade de ambos, um vinho “à Maçanita” onde o carácter frutado é nota predominante. A oportunidade surgiu em 2011 pelas terras do Douro, onde Joana  realiza parte da sua atividade profissional.

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Joana Maçanita e António Maçanita – Foto Cedida por Maçanita Wines | Todos os Direitos Reservados

Por enquanto centramos atenções nos Maçanita, cujas três vinhas que lhes dão origem foram cuidadosamente escolhidas para enquadrarem o perfil de vinhos mais desejado pelos dois irmãos. As vinhas do Henrique e do Sebastião encontram-se no Douro, sub-região do Cima Corgo, perto do Pinhão, de onde saem as uvas da casta Touriga Nacional e Tinta Roriz para elaboração do Maçanita tinto 2013. Um vinho onde 50% do lote, estagia durante 8 meses, em barricas novas de carvalho francês. O resultado é um tinto que combina de forma harmoniosa a frescura com a presença da fruta, bem carnuda e sumarenta, mostrando boa presença. Sem mostrar ter uma grande complexidade, até porque neste vinho é a fruta que domina todo o conjunto, com ligeira sensação em fundo da madeira por onde passou. Na boca é fresco, a marcar presença desde o início com a fruta muito marcada, algum arredondamento que contrapõe com ligeira austeridade a fazer-se notar no final, por entre fruta e especiaria, num perfil gastronómico a pedir para acompanhar carne no forno.

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Maçanita branco e tinto 2013 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Já o branco, direi que foi uma belíssima e refrescante surpresa também da colheita de 2013. Vem de perto da Régua em Poiares, onde se encontra a Vinha da Margarida, situada a 650 metros de altitude, com as castas Viosinho, Gouveio e Malvasia Fina. Com a passagem apenas a ser feita no frio do inox, algo tenso mas muito limpo e definido de aromas centrados nas castas e sem grandes divagações, notas de citrinos em harmonia com aromas florais, um perfume que o torna muito atraente ao mesmo tempo que a frescura o embala. No palato é convincente, cativante, com a acidez a envolver toda a boca numa muito boa harmonia entre fruta/flores e uma mineralidade marcante no final.

Contactos
Quinta da Poça 5085-201 Covas do Douro Pinhão
Tel: (+351) 213 147 297 / 919 247 318
Fax: (+351) 213 643 018
Email: geral@macanita.com
Website: www.macanita.com

Bicentenário do Porto Fonseca

Texto João Barbosa

Os vinhos podem dividir-se em bons e maus; os que têm estórias e os que não têm; e os que têm História e os que a não chegam. A este degrau chegam os bons. A longevidade dá a nascer estórias que contam história. A regularidade cria boa reputação e concede estatuto elevado. Os Portos da Fonseca reúnem «bondade», estórias, história, fiabilidade e reputação.

Os centenários são pretexto para brindes. A firma Fonseca hoje integrada no grupo The Fladgate Partnership, celebra o bicentenário. Logo num ano em que outro – substancialmente mais importante – se evoca.

No século XVI viveu um senhor, de seu nome Michel de Nostredame, que ficou célebre pelas profecias, aparentemente certeiras. Profetizou – leia-se e interprete-se como se quiser – o surgimento de três anticristos. O primeiro seria Napoleão Bonaparte e o segundo Adolf Hitler, cuja grafia apresenta semelhanças com o «Hister» anunciado pelo vidente.

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Vinhos do Porto Fonseca in the-yeatman-hotel.com

Tomo a liberdade de reescrever esta «verdade» acerca de anticristos: Josef Stalin, Fuminaro Konoe, Hideki Tojo, Mao Tse Tung, Pol Pot… e muitos ditadores de menor relevo. Napoleão só aos olhos da época pôde ser demónio. Segurou os lemas da Revolução Francesa e espalhou-os – muito enviesadamente – pela Europa.

Antes da «verdadeira» guerra napoleónica, desenrolou-se a Guerra das Laranjas, em 1801, em que Espanha roubou Olivença. Em 1806, Portugal recusou-se a subjugar-se à ordem de participar no bloqueio naval às ilhas britânicas. Por isso foi invadido por Espanha e França, tendo o Rei Dom João VI, a família, a Corte e os criados fugido para o Brasil.

Houve três invasões francesas, em 1807, 1809 e 1810. Designada por Guerra Peninsular, as entradas foram lideradas por Jean-Andoche Junot, Nicolas Jean de Dieu Soult e André Massena. Em 1811, as tropas anglo-lusas chutaram os invasores franceses e espanhóis.

Napoleão Bonaparte caiu diante das tropas britânicas, comandadas por Arthur Wellesley, e aliados, em 18 de Junho de 1815, na Batalha de Waterloo. Findo o conflito, os soldados regressaram; os patriotas da Leal Legião Lusitana e os traidores da Legião Lusitana, que serviram França. Muitos dos traidores foram poupados e alguns têm até nome de rua. Não entendo o meu país.

Os chineses escrevem crise com dois sinais gráficos conjugados: perigo e oportunidade. O risco é inerente aos negócios e em clima de guerra torna-se mais difícil. A Guerra Peninsular terminou a 10 de Abril de 1814, na Batalha de Toulouse. As notícias chegavam lentas, era quase impossível estar actualizado das movimentações dos exércitos. Ainda que tenha passado um ano, montar um negócio naquele contexto foi muito arriscado, até porque o cliente estava na Grã-Bretanha e no mar ainda havia navios inimigos.

Em 1815, João dos Santos Fonseca comprou, apoiado pela família Monteiro, 32 pipas de Vinho do Porto. Mais tarde chegou, em 1860, a família Guimarães – nome anglicizado para Guimaraens – e posteriormente a Yeatman, na segunda metade do século XX.

Uma firma ainda familiar. Duzentos anos depois, o que se pode dizer? Está tudo escrito nos dois primeiros parágrafos.

Contactos
Quinta do Panascal
5120-496 Valença do Douro
Tel: (+351) 254 732 321
E-mail:marketing@fonseca.pt
Website: www.fonseca.pt