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Quinta da Touriga-Chã, a plenitude do Douro Superior…

Texto José Silva

Jorge Rosas herdou não só esta belíssima quinta, mas também todo um património genético e a história duma família ligada ao Douro e à produção de vinhos de qualidade.

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A Quinta – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

O seu bisavô, Adriano Ramos Pinto, foi o fundador da casa Ramos Pinto em 1880, o seu pai, José António Rosas, foi um visionário no Douro Superior, tendo ficado célebre por comprar os terrenos onde se ergue a quinta da Erva Moira. Mais tarde, em 1990, José António Rosas comprou a Quinta da Touriga, no lugar de Chã, em Foz Côa, também para produzir vinhos. E uma vez mais, como na Erva Moira, ali não havia nada a não ser pedras, xisto.

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Xisto – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Mas a visão daquele homem e a sua sabedoria e conhecimento profundo dos terrenos, das vinhas e do clima desta região, veio, mais uma vez, dar-lhe razão. Nasceram então os vinhos tintos da Quinta da Touriga-Chã, e têm evoluído de tal forma, que estão entre os melhores vinhos tintos do Douro. Agora já pela mão de Jorge Rosas, que se mantém como administrador da casa Ramos Pinto, mas que dedica uma pequena parte do seu tempo e muita paixão, a levar por diante o trabalho iniciado por seu pai.

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A Casa – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

A quinta tem uma casa muito interessante, cuja intervenção foi pouco invasiva, deixando que aquela paisagem extraordinária fale por si.

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A Piscina – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Construções Rústicas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Mesmo a piscina parece que faz já parte da paisagem, a par de algumas construções rústicas que ali se mantêm intactas.

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Algum Arvoredo – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

À volta, além de algum arvoredo, é a vinha que envolve tudo, naquele serpenteado tão característico dos vinhedos de planalto.

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A Vinha envolve tudo – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Serpenteado Característico dos Vinhedos de Planalto – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Se no início fazia o vinho em adega alheia, mas muito distante da Touriga-Chã, em 2000 Jorge Rosas resolveu avançar com a construção de adega própria, hoje uma realidade e uma aposta ganha.

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A Adega – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Fazendo uso de Materiais Tradicionais – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Projectada pelo mesmo arquitecto que tinha feito a casa, é uma adega que utiliza materiais tradicionais, como o xisto, mas que é acima de tudo muito funcional, versátil, como deve ser uma adega. Os mostos e, mais tarde, os vinhos, agradecem. Os vinhos desta quinta têm vindo a evoluir constantemente, dentro do perfil desejado pelo produtor, de tal forma que são reconhecidos e premiados um pouco por todo o lado onde estão presentes. Isto apesar da sua pequena produção, de pouco mais de 6.500 garrafas, divididas por dois níveis de vinho: o Puro e o Quinta da Touriga-Chã, este o mais cotado. E Jorge Rosas afirma categoricamente que quer continuar a fazer vinhos que sejam muito bons quando são lançados, mas que daqui a 5, 10 ou 15 anos sejam excelentes, devido à sua enorme capacidade de envelhecimento.

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Prova Vertical – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Parece que o tempo lhe tem dado razão, o que pudemos confirmar numa simpática prova vertical de algumas das colheitas ainda disponíveis na sua adega.

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Quinta da Touriga-Chã tinto 2010 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

O Quinta da Touriga Chã 2010 apresentou-se duma cor granada escura, muito carregado, com laivos violeta, muito intenso. Nariz ainda fechado, austero mas ao mesmo tempo com aquela elegância característica deste vinho. Frutado, fresco, aromas complexos de chocolate preto, de madeira, fumo e especiarias, vai abrindo, precisa de tempo no copo. Na boca é impressionante a força deste vinho, com os taninos ainda bem evidentes mas a evoluir,  cheio de frutos pretos, amoras, ameixas, mirtilos e algumas flores do monte. Leves notas de fumo, muito fresco e com acidez poderosa a ligar todo o conjunto e a proporcionar um final imenso. Está ali para durar e durar.

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Quinta da Touriga-Chã tinto 2011 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Seguiu-se o Quinta da Touriga Chã 2011, um ano excepcional, tem uma cor granada carregada, muito escuro, brilhante. Revela aromas variados de frutos pretos, cheio de frescura, algum fumo e notas de tabaco. Na boca é poderoso, cheio, intenso, com acidez e frescura a casarem lindamente, notas de chocolate preto, amoras, figos, ameixas, apesar disso um vinho que revela a sua enorme elegância, muito sedutor.

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Quinta da Touriga-Chã tinto2012 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

O ano de 2012 apresenta também grandes vinhos tintos nesta região. O Quinta da Touriga Chã 2012 apresentou a mesma cor granada muito carregada, brilhante. No nariz uma explosão de aromas complexos de flores do campo e frutos silvestres, notas de humus, cheio de elegância, sedoso. Na boca revela toda a sua dimensão, muito intenso, aveludado e ao mesmo tempo poderoso, os frutos pretos bem maduros, notas de chocolate preto e ligeiramente especiado, revelando a sua grande elegância num final muito longo.

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Quinta da Touriga-Chã tinto 2013 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Finalmente veio o Quinta da Touriga Chã 2013 (ainda sem rótulo), o mais jovem da família, e que revelou acima de tudo isso mesmo, a sua juventude. Dum granada muito escuro, opaco, brilhante. Nariz poderoso, cheio de frutos pretos e flores selvagens, muito fresco, até ligeiramente apimentado. Na boca novamente a fruta muito intensa, frescura e muito boa acidez, um vinho saboroso e que promete. Precisa ainda de garrafa e vai certamente dar-nos muitas alegrias.

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Aquela beleza toda no horizonte – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Depois, aproveitando um calor sufocante, mergulhamos tranquilamente na piscina, com aquela beleza toda no horizonte…

Contactos
Quinta da Touriga
Apartado 17
Vila Nova de Foz Côa , 5151-909 Guarda
Tel: (+351) 279 764 196

No Reino do Pêra Manca – Cartuxa

Texto João Pedro de Carvalho

Passados quase 15 anos voltei à Adega da Cartuxa, ali paredes meias com o Mosteiro da Cartuxa onde vivem desde1598 os monges cartuxos. A Adega da Cartuxa, propriedade da Companhia de Jesus, foi nacionalizada após a revolução liberal do século XIX e adquirida em 1869 por José Maria Eugénio de Almeida. Apenas em 1950 a adega viria a ser modernizada por Vasco Maria Eugénio de Almeida, conde de Villalva, tendo entrado para os bens da Fundação em 1975. Foi a partir dessa altura que se começou a encarar a produção vinícola, com plantação de novo vinhedo entre 1982 a 1985, numa perspectiva completamente diferente, com ligação desde o início à Universidade de Évora através da equipa na altura chefiada pelo saudoso Engº Colaço do Rosário, a quem os vinhos do Alentejo muito devem. Foram marcantes as colheitas dos finais dos anos 80 como o Cartuxa branco 1987 estagiado em madeira em destaque ou em 1990 com o surgir do primeiro Pêra Manca tinto.

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Adega da Cartuxa © Blend All About Wine, Lda

Os motivos que me levaram a afastar dos vinhos da Cartuxa prendem-se com as evidentes mudanças de perfil que os vinhos começaram a sofrer com a entrada de uma nova equipa de enologia. Com isto viria um reformular dos rótulos e o meu total afastamento dos vinhos que deixei de encarar com a mesma paixão que então tivera muito por causa do Pêra Manca 1995, aquele que é o vinho mais marcante do meu percurso enquanto enófilo. Passado tanto tempo seria altura de voltar a tomar contacto mais de perto com a realidade vínica que hoje é criada na Adega da Cartuxa. As espectativas não saíram furadas, os vinhos saíram daquela fase confusa após mudanças na enologia, certamente que foram precisos algumas colheitas para assentar o perfil desejado com os necessários retoques.

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Tonéis © Blend All About Wine, Lda

Todos os vinhos provados mostraram um nível muito acima da média, a atenção apesar de tudo o que foi provado ficou centrada apenas nos Cartuxa que terminam em apoteose com os vinhos comemorativos dos 50 Anos, para atingir a apoteose com os Pêra Manca. No que a brancos diz respeito o Cartuxa 2013 resultante de um lote de Arinto e Antão Vaz, destaca-se pela boa frescura e pureza da muita fruta madura (citrinos, pêra, ananás) num conjunto algo tenso com uma passagem de boca muito saborosa e séria, tudo no sítio, com uma acidez cítrica a tomar conta do final. No copo ao lado já estava o Pêra Manca branco 2012 a mostrar uma muito boa exuberância com um certo arredondamento, bonita evolução com tempo de copo que o teve e bastante. Harmonioso e envolvente, enche a boca de sabor e classe, frescura tem a suficiente que abraça todo o conjunto de forma equilibrada de maneira a que não temos por ali pontas soltas. O trabalho de madeira está nesta altura completamente integrado, um novo perfil que me agradou neste belíssimo branco.

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Os brancos © Blend All About Wine, Lda

A grande surpresa estaria guardada para o final da prova com um vinho que em conjunto com outros foi criado para comemorar os 50 anos da criação da Fundação Eugénio de Almeida por Vasco Maria Eugénio de Almeida. O Cartuxa 50 Anos branco 2012 é um branco cujo lote de vinha velha com as castas Arinto, Assario e Roupeiro fermentou com curtimenta completa durante 25 dias. Se tivermos em conta os vinhos que fizeram história nesta casa sempre foram no seu aparecimento autênticas irreverências perante o consumidor menos atento, desta vez a provocação surge logo pela tonalidade com nuances alaranjadas. O vinho tem uma complexidade fantástica, um ramalhete de aromas distinto, muito limpos de fruta madura, laranja, limão, ervas de cheiro, anis, muito cativador e diferente de tudo o resto, pelo meio junta-se a frescura que a tem e em muito boa conta, peso e medida.

Com um nível muito alto colocado na mesa era altura de mudar a tonalidade da prova e os tintos tomaram conta do palco. A conversa inicia com o enólogo Pedro Baptista a apresentar o Cartuxa 2012, que nos mesmos modos da versão branco vê centrar todas as suas atenções na qualidade e pureza da fruta madura, a remeter para aquele perfil mais clássico a que esta zona do Alentejo nos acostumou. Ainda cheio de vigor cheio de especiarias com apontamento vegetal, na boca replica a prova de nariz, amplo e atrevido a espicaçar os sentidos com muita vida e uns taninos marotos ainda por polir no final de boca. O salto que se deu foi em direcção ao Cartuxa Reserva 2012 a mostrar-se mais sério como seria de esperar, embora mantendo a toada clássica, juntando a energia do Alicante Bouschet com a generosidade do Aragonez, alguma gulodice com notas de alcaçuz, fruta madura num conjunto com frescura embora se mostre mais polido e com maior envolvimento. No palato é saboroso mostrando-se num patamar acima do anterior, uma diferença que se sente a todos os níveis.

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Os tintos © Blend All About Wine, Lda

O culminar da prova de tintos seria atingido com a apresentação do Cartuxa 50 Anos tinto 2011 onde a Alicante Bouschet brilha em conjunto com a Syrah. Este vinho em tudo especial mostra-se denso, escuro, misterioso e com uma complexidade que se vai desenrolando no copo de forma fantástica. A fruta carnuda e sumarenta aparece fresca, bem delineada, um deleite para os sentidos, a explodir de sabor no palato em conjunto com algum herbáceo, cacau entre outros. Um verdadeiro colosso com anos de vida pela frente que fez as minhas delícias preenchendo os mais altos requisitos. Fantástico. No copo ao lado estava o expoente máximo da Adega da Cartuxa, nascido pela primeira vez em 1990, o Pêra Manca tinto 2010. Sem comparações possíveis com o vinho anterior, diametralmente oposto pois aqui o que comanda é a finesse e harmonia de componentes, tudo numa toada de pura classe com frescura e fruta de grande gabarito. Diga-se que é dos que se bebem com imenso prazer, sem cansar e apetece sempre mais um copo e outro até que a garrafa fica vazia. É a todos os níveis um grande vinho, que se soube reencontrar no caminho das estrelas e mostra-se ao melhor nível a que a marca me tinha acostumado.

Contactos
Páteo de São Miguel
Apartado 2001
7001-901 Évora
Évora-Portugal
Tel: (+351) 266 748 300
Tel: (+ 351) 266 705 149
E-mail: geral@fea.pt
Website: www.cartuxa.pt

Vinho do Porto: um cão é um cão e um gato é um gato

Texto João Barbosa

Não vou escrever acerca de política! Todavia, cito o actual ministro da Educação para ilustração do assunto deste texto. Nuno Crato, governante muito contestado, é um consagrado cientista e professor no Instituto Superior de Economia e Gestão (

Lisboa), catedrático de Matemática e Estatística. Tem um currículo impressionante, disponível na internet.

Ouvi a Nuno Crato, anos antes de ser ministro, que aprender não tem de ser divertido. Também não tem de ser enfadonho, acrescento. Não tem de ser divertido, porque educar é mais do que, na escola, ensinar números e letras, ou, em casa, a saber comer de faca e garfo e dizer «por favor» e «obrigado». A educação deve preparar a criança/jovem para a vida adulta, onde não vai encontrar mimo dos colegas ou contemplações do director.

Tenho ouvido que o mundo do Vinho do Porto é complicado, demasiado complicado, que o consumidor não entende… que há demasiadas categorias e variantes.

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Vinho do Porto in hipersuper.pt

Afirmo que os sete mil milhões de habitantes da Terra são todos Homo sapiens sapiens e, por isso, dotados de inteligência e capacidade de aprendizagem. Nem todos são capazes de desenvolver a fusão nuclear a frio, mas se preparados para tal teriam essa competência. Obviamente, há quem esteja acima da média e abaixo dela.

Por complicado que possa ser, o mundo do Vinho do Porto é menos complexo do que uma tese de doutoramento acerca do papel da estética e rupturas conceptuais nas sociedades modernas e ocidentais.

A última vez que ouvi alguém escandalizado estavam em causa as «12» variações de Vinho do Porto… Eu conto «28». Portanto, parto em desvantagem para a discussão. Se o argumento for simplificar poderia resumir-se tudo a quatro variantes: branco, rosé, tawny e ruby. Ou mesmo só a três, retirando o rosé, porque na verdade é um ruby.

Ora um gato é doméstico é um Felis catus e um cão é um Canis lupus familiaris. Porém, ambos pertencem ao reino Animalia, filo Chordata, classe Mammalia e ordem Carnivora. Diferenciam-se na família: Canidae e Felidae. Atirando o latim pela janela, uma criança gatinhante distingue um cão de um gato. O cão tem donos e o gato tem assistentes pessoais.

Claro que não se pode exigir a alguém acabado de entrar no mundo dos vinhos que saiba tudo, ou quase, sobre o Vinho do Porto… Nem de Bordéus ou de Borgonha, etc.

Portanto, o Vinho do Porto é complicado, certo?! Certo! Escolho outra grande região vinhateira do mundo:

Em Bordéus existem seis sub-regiões (Blayais et Bourgeais, Entre-Deux-Mers, Graves, Libournais, Médoc e Sauternes), subdivididas em 38 denominações de origem controlada.

Em 1855, o imperador Napoleão III ordenou que fosse criada, a pretexto da Exposição Universal de Paris, uma lista em que eram hierarquizados os vinhos de Bordéus. Assim, estabeleceram-se seis patamares qualitativos: Premier Grands Crus, Deuxièmes Grands Crus, Troisièmes Grand Crus, Quatrièmes Grand Crus e Cinquièmes Grands Crus.

Esta listagem apenas abrangeu a margem esquerda do rio Garona. No topo ficaram: Château Lafite (hoje acrescentado Rothschild), Château La Tour, Château Margaux, Château Haut-Brion, Château Mouton (hoje acrescentado Rothschild). Ou seja, três da denominação de origem de Pauillac, um de Margaux e outro de Graves (único, outros ficaram excluídos).

Por terem ficado de fora da listagem de 1855, foram criadas outras tabelas específicas. Em Sauternes et Barsac: Premier Cru Supérieur, Premiers Crus e Deuxièmes Crus. Em Saint-Émilion: Premiers Grands Crus Classés A, Premiers Grands Crus Classeés B, Grand Crus Classés… Chega? Ainda há a tabela de Graves e do Médoc. Ah! E os genéricos Bordéus.

Ah, pois! Seria mais fácil juntar as peças todas, analisar e criar uma lista unificada para Bordéus… já nem digo para França. Mas não! Sarcasticamente digo: Lamentável! Os apreciadores de Bordéus esclarecidos conhecem e debatem os vinhos de cada lado das margens e suas microrregiões… os anos e a meteorologia, as marcas… Sabe quem sabe e saberá quem quiser saber. Para saber um pouquinho, estudará um pouquinho; Para comprar pelo preço, verá o selo e olhará para a algibeira. Quem quiser comprar pela estética do rótulo, escolhe o mais bonito; quem quiser comprar de ouvido, escolherá o que lhe recomendaram.

Vamos a contas:

Brancos – Lágrima (muito doce), Doce, Meio-Seco, Seco, Extra-Seco, 10 anos, 20 anos, 30 anos e 40 anos.

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Ramos Pinto Lágrima branco in ramospinto.pt

Rosé – Rosé (estilo Ruby – evolução em garrafa).

Ruby – Lágrima, Ruby, Ruby Reserve, Ruby Special Reserve, Late Bottled Vintage, Vintage Single Quinta, Vintage, Garrafeira (evolução em demijohns) e Crusted (lote de vários anos).

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Sandeman Port Vau Vintage 2011 in sandeman.com

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Taylor’s Quinta Terra Feita Vintage Port 1991 taylor.pt

Tawny – Tawny, Tawny Reserve, Tawny Special Reserve, 10 anos, 20 anos, 30 anos, 40 anos, Colheita (indicação do ano) e Muito Velho.

Ah! E o Quinado! Não é bem um Vinho do Porto, mas uma associação com quinino. Criado a pensar na população das colónias ultramarinas, visto o quinino ser usado como anti-malárico.

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Quinado Ferreirinha

Os franceses são tão complicados, mas tão dotados de inteligência que conseguem perceber que um cão é um cão e o gato é um gato. Em Portugal, coitadinhos, não somos incapazes de perceber – ou de tentar conhecer – o Vinho do Porto, tal como qualquer outra pessoa doutro povo. Os franceses sabem que os sete mil milhões de habitantes do planeta são todos Homo sapiens sapiens. Por cá, cão e gato precisam de ser explicados.

Já que é para simplificar, por que não retirar as denominações de origem?… Atrapalha ter de saber regiões… e lá fora ligam tanto a isso como a línguas-de-veado e a tisana de lúcia-lima. E porquê mostrar o ano? Algum consumidor pouco conhecedor ou interessado vai preocupar-se se aquele vinho é de 2009 ou de 2010? Saberá das diferenças naturais entre cada safra?

Com sinceridade pergunto: o consumidor comum, fora dos países mais tradicionalistas e do «Velho Mundo», quer saber além da casta? Gosta de branco ou de tinto, «porque sim», e compra syrah, sauvignon blanc ou tempranillo. Esse consumidor típico, do «Novo Mundo» ou de países europeus onde o vinho é menos notório, quererá saber dos estilos do Vinho do Porto ou das classificações de Bordéus? Quem se apaixonar pelo vinho vai procurar, experimentar, estudar, diversificar… ou outros?…

Fernando Lopes Graça – um dos maiores compositores musicais portugueses do século XX – recusava-se a comer ou a beber com música a tocar. Para ele, a música estava acima de qualquer outra coisa, e precisava de sossego para entender e apreciar cada nota. Compreendo?… Sim, mas parece-me exagerado.

Não é snobeira. É simples constatação. Compreendo os amantes dos automóveis que distinguem as jantes dos Ferraris consoante à época e os seus desenhadores. Eu não distingo uma biela duma caixa-de-velocidades. O assunto não me interessa, não uso tempo com isso. É válido para tudo e para o vinho também.

No século XIX, alguém escreveu que existem tantas variedades de Vinho do Porto como de fitas num retroseiro. É facil?! A descoberta dá prazer e conhecimento.

Beber como um Rei: Moscatel de Setúbal, o Líquido de Ouro da Península de Setúbal

Texto Sarah Ahmed | Translation Bruno Ferreira

Há algum derradeiro teste que comprove melhor o que é delicioso e de grande valor do que o que os membros do trade do vinho compram? Ao abastecerem-se no aeroporto de Lisboa, o grupo de sommeliers que eu levei em excursão pelo Sul de Portugal esbanjou o dinheiro em Moscatel de Setúbal. Espero realmente que o entusiasmo demonstrado se traduza nas suas cartas de vinho quando voltarem a casa. Ao passo que o vinho do Porto se vende a ele próprio, este fortificado, Moscatel, poderia beneficiar se tivesse mais embaixadores de “bem comer e beber” que espalhassem os elogios que bem merece.

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À porta da famosa da José Maria da Fonseca, uma variedade de escolhas – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

No Decanter World Wine Awards, o meu painel é igualmente enamorado pelos seus charmes – não há melhor maneira de terminar um dia de avaliações do que nos perdermos sobre um copo de um irresistível Moscatel de Setúbal. Tal como as medalhas de ouro que regularmente lhe atribuímos demonstram (já para não mencionar a presença assídua na ribalta do Muscat du Monde awards), são puro ouro em todos os sentidos da palavra. E a realeza sabia-o. Aparentemente, o brinde das cortes de Richard II de Inglaterra e de Loius XIV de França foi feito com Moscatel de Setúbal. Suspeito que teria bastante menos valor naquela altura, por isso não somos nós os sortudos? – hoje em dia podemos beber como reis e pagar como plebeus.

Encontrará, mais abaixo, as minhas escolhas relativamente aos vinhos que provei na visita que fiz à Península de Setúbal no mês passado. Mas primeiro vale a pena perder um pouco de tempo a explorar o que faz o Moscatel de Setúbal tão especial. Naturalmente começaremos pela matéria-prima – a casta Moscatel de Setúbal (a.k.a. Muscat de Alexandria), que deve compor pelo menos 67% do vinho (85% se for Moscatel Roxo). Apesar de ser considerada inferior à sua mais famosa parente, a Muscat à Petits Grains, os produtores de Setúbal extraem habilmente o máximo de aroma e sabor da Moscatel de Setúbal, macerando o vinho fermentado e fortificado em peles durante 6 meses. É a melhor maneira para libertar o seu perfume de hortelã, floral, cascas cítricas e gengibre; chá de pêssego no caso da rosada e rara casta Moscatel Roxo.

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De volta ao Torna-Viagem na José Maria da Fonseca – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Para serem uma pura delícia, os vinhos de topo são envelhecidos em barris de modo a permitir a caramelização dos açúcares, e também para concentrar os néctares resultantes da evaporação. No passado, os barris eram amarrados aos conveses de navios altos e enviados pelo equador para optimização do paladar e do carácter. António Soares Franco, CEO da José Maria da Fonseca, disse-nos que, como resultado da brisa do mar, da ondulação e das temperaturas altamente oscilantes no convés, os moscatéis denominados “Torna-Viagem” são altamente equilibrados, suaves e um pouco salgados. Há uns anos atrás tive a sorte de provar um exemplar do séc. XIX e, apesar de não me recordar de salinidade, lembro-me perfeitamente do seu estonteante equilíbrio e do seu paladar polpudo e suave. Parecia extraordinariamente jovem tendo em conta todas as aventuras que passou no mar.

Empolgantemente, desde 2000, que A José Maria da Fonseca vem experimentado a técnica Torna-Viagem com a marinha portuguesa e, como podem ver, esses barris que estiveram no mar parecem ter envelhecido mais rapidamente (as amostras Torna-Viagem à esquerda são mais escuras). Na Bacalhôa Vinhos de Portugal, outra grande produtora de Moscatel de Setúbal da região, a enóloga de fortificados Filipa Tomaz da Costa disse-me que desenvolveram condições especiais de armazenamento “para recriar o ambiente de um navio”. Por outras palavras, “sem qualquer controlo sobre a temperatura, humidade ou secura”. Durante o verão, o vinho que está dentro dos barris pode chegar aos 28ºC! Apesar de a evaporação ser consequentemente alta, Tomaz da Costa não enche os barris, isto porque, mais espaço no topo, em combinação com o calor ajuda a melhorar a complexidade e riqueza dos perfis râncio dos seus vinhos; talvez também um pequeno toque de “vinagrinho” (acidez volátil).

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Bacalhôa Vinhos de Portugal, produtores de Moscatel exótico – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Estes elementos são essenciais para pura delícia do Moscatel de Setúbal, mas os melhores vinhos são distinguidos pelo seu equilíbrio e finesse. E é por isso que são provenientes de solos argilosos e calcários dos morros da região, em especial das encostas mais frias da Serra da Arrábida, viradas a norte (que costumava ser uma ilha há muitos anos atrás). Estes vinhos são marcantemente mais frescos e mais detalhados do que aqueles das planícies arenosas da região.

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Queijo de ovelha, Azeitão, proveniente também da zona montanhosa, uma perfeita harmonição para o Moscatel de Setúbal – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Adega de Pegões Moscatel de Setúbal 2012 – feito a partir de Moscatel 100% proveniente de solos arenosos e envelhecido em barris de carvalho francês e americano durante 3 anos. Este é um estilo mais leve e abordável com buttermint (menta), pouco doce, suave, laranja caramelizada e pêssego. Bom perfume e frescura. 17.5%

Casa Ermelinda Freitas Moscatel de Setúbal 2010 – Tal como o Pegões Moscatel, provém de solos arenosos, mas é bastante mais complexo. É envelhecido pelo menos dois anos, sendo que o normal são 4 a 5 anos, em barris usados num armazém sem qualquer controlo sobre a temperatura. E suspeito que seja isso que faz a diferença, porque é bastante mais concentrado e complexo no nariz e na boca, com deliciosas notas de râncio nogado e um toque de carvalho maltado no seu paladar a laranja caramelizada. Embora generoso, tem uma boa frescura para equilibrar. Digamos apenas que este foi particularmente popular no aeroporto. 17,5%

José Maria da Fonseca Alambre Moscatel de Setúbal 2010 – Este Moscatel de Setúbal de grande valor, de gama de entrada, figurou a maior parte das minhas noites durante as minhas férias na Costa Vincentina há um par de anos atrás. Para facilitar a abordagem, a fruta é proveniente de um local arenoso e argilo-calcário virado para sul. Ao contrário de alguns vinhos de gama de entrada, foi envelhecido em cascos velhos, o que confere um rebordo delicioso e nogado ao seu palato delicioso de laranja caramelizada; bom equilíbrio e longevidade. 127g/l de açúcar residual; 17,5%

José Maria da Fonseca Colecção Privada Moscatel de Setúbal 2004 – este vinho é o resultado directo de ensaios com aguardente. O enólogo Domingos Soares Franco descobriu que gostava mais de utilizar Armagnac e o Colecção Privada tem uma fluidez (boa acidez) e persistência encantadoras na sua fruta madura, cítrica e pêssego mais redondo. Com uma excelente integração da aguardente, o final continua, e continua, lentamente revelando amêndoas tostadas, caramelo, nogado e um toque mais levantado de buttermint. As uvas são provenientes apenas de solos de argila e calcário. 106g/l de açúcar residual; 17,5%

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Os Moscatéis da José da Maria da Fonseca mais velhos guardados a cadeado na Adega dos Teares Velhos da – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

José Maria da Fonseca 20 anos Moscatel de Setúbal – O mais antigo produtor de vinhos de Portugal tem uma enorme carta de trunfo no que toca a produzir complexos e concentrados Mosctéis de Setúbal – muitas colheitas de Moscatel. Estão armazenadas na climatizada Adega dos Teares Velhos, lugar onde os vinhos mais velhos, com mais de 100 anos, estão guardados a cadeado! António Soares Franco diz-nos que os vinhos mais novos deste blend não-colheita de 20 anos têm 21-22 anos, ao passo que o mais velho tem 60 anos. Reconhece que é um blend de “aproximadamente 14 colheitas diferentes”. Isso é perceptível no seu longo, persistente, muito concentrado e complexo palato que revela casca de laranja caramelizada, substância, notas de marmelada picante e um pouco de marmelada amarga acabadinho de se juntar ao bouquet. Muito refinado, com um corte vivo de toranja a equilibrar o final. 182g/l de açucar residual; 18,4%

José Maria da Fonseca Roxo 20 anos Moscatel de Setúbal – feito a partir de uma Moscatel Roxo rosa muito mais rara, tem uma cor bastante mais escura do que o seu antecessor, e, apesar de ter bastante mais açúcar residual, parece mais fresco, seco (menos saboroso) e mais leve. Doce, aguçado mas sabores exóticos de tangerina, toranja rosa e chá de pêssego misturam-se na boca; grande linha e comprimento. A minha escolha dos 4 da JMF (mas devo ressalvar que sou uma grande fã do Roxo). 217.8g/l açúcar residual; 18%

SIVIPA Moscatel de Setúbal 1996 – de solos argilosos/calcários, este vinho foi envelhecido durante 10 anos em barris de carvalho francês. É um vinho complexo e concentrado, com um toque de aguardente no final mas que flui naturalmente e suavemente, xaroposo, pêssego, damasco seco mais concentrado, amêndoas tostadas e caramelo. 180g/l açúcar residual ; 17%

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Horácio Simões Roxo Moscatel de Setúbal 2009 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Casa Agrícola Horácio Simões Roxo Moscatel de Setúbal 2009 – Sou uma grande fã de Horácio Simões, um produtor de boutique de terceira geração. Este longo e duradouro Roxo mostra o porquê. Textura sedosa, concentrado e rico em laranjas caramelizadas, mostra sinais de madeira maltada e deliciosas notas de praline final (foi envelhecido em barricas de carvalho francês). Generosidade espectacular e palato equilibrado.

Bacalhôa Vinhos de Portugal Moscatel Roxo Superior 2002 – o meu painel no Decanter World Wine Awards premiou este incrível Roxo com um medalha de ouro e um troféu regional. Eu teria oferecido o troféu novamente neste alinhamento! As uvas são provenientes de solos argilosos/calcários do norte da Serra da Arrábida. Ainda assim, foi envelhecido durante 10 anos em pequenos barris franceses de 200ml de whisky (do qual beneficia por causa dos poros limpos) e em condições de simulação de embarcação, com grande variação térmica, tem uma frescura e pureza surpreendentes. Referindo-se aos “choques de temperatura, evaporação e concentração do ácido e do açúcar e a libertação de aromas ligados ao açúcar”, o enólogo responsável, Vasco Penha Garcia, diz que “é incrível que quando envelhecemos vinhos nestas condições eles fiquem mais frescos, mais florais”. Sem dúvida que o Bacalhôa Roxo Superior 2002 tem grande intensidade, toque e camada de água de rosas, mentol e aromas de chá de pêssego, que seguem na boca juntamente com pureza bonita de laranjas caramelizadas, tangerina suculenta, casca de toranja rosa e delicadas amêndoas tostadas e notas mais ricas de marzipan. Embora tenho um sabor agradável e rico, é muito persistente (boa acidez) e fino, o final, muito equilibrado. 190.2g/l acúcar residual; 19%

Adega de Borba Garrafeira Tinto 2009

Texto João Barbosa

As adegas cooperativas quando surgiram trouxeram preocupações com a qualidade que, à época, eram inéditas em Portugal. Por outro lado, permitiram aos agricultores obter rendimentos acima dos obtidos com as vendas a empresas de grande dimensão, muitas delas apenas armazéns onde tudo se misturava a eito.

Na década de 80, do século XX, as adegas cooperativas do Alentejo viram além e chamaram técnicos de enologia, o que lhes permitiu ter vinhos de patamar superior. João Portugal Ramos, hoje produtor independente e negócio em várias regiões, foi o primeiro (!) leading wine maker português – detesto estrangeirismos, mas aqui não encontrei melhor.

Porém, na década seguinte foram aparecendo vitivinicultores. Acreditaram na qualidade do seu vinho e que mereciam rendimentos superiores aos permitidos com as vendas a cooperativas e grandes operadores de mercado de vinho a granel, ou quase.

Tiveram a coragem de pôr a cabeça no cepo, arriscando dinheiro, trabalhando furiosamente para o sucesso, que ninguém poderia fazer por si. Alguns ficaram pelo caminho, mas muitos mais sobreviveram e o seu número sendo engordado.

O mercado – essa criatura informe que veste qualquer roupa – deslumbrou-se e castigou as adegas cooperativas. Umas vezes com justiça e outras sem razão. Penso que todas elas sofreram com o rótulo depreciativo que o «mercado» lhe colou.

Não sei toda a história da Adega Cooperativa de Borba, mas não deve ter escapado a dissabores. Não importa aqui o passado, mas o presente. Hoje esse bicho chamado «consumidor» reconhece-lhe a qualidade e marimba-se para a palavra «cooperativa».

O sucesso desta empresa não é alheio à competência de quem toma conta do campo dos associados, de quem faz os lotes na adega e de quem gere de forma moderna e competente. Tudo somado resulta numa enorme ajuda a quem tem de vender o vinho.

Há um mito – que tem muita razão de ser – que os vinhos alentejanos não têm longevidade. Há dois ou três anos provei o vinho Adega de Borba Rótulo de Cortiça 1964 (tinto – não havia branco) e estava esmigalhador.

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Vinhas in adegaborba.pt

A 24 de Abril de 1955 deu-se a fundação da Adega Cooperativa de Borba. Eram 13 os associados e hoje são cerca de 300. A terra toda somada representa cerca 2.000 hectares de vinha, sendo 70% de castas tintas.

O «consumidor» português tem teimosias – que como todas hão-de passar – e exige vinhos fresquinhos a saltar, como o peixe acabado de pescar. Isto cria situações injustas para o vinho, por conseguinte para o produtor, e para o consumidor, que não bebe vinhos que merecem tempo no momento da sua maturidade. Ouve-se, com frequência, a expressão «pedofilia vínica».

A tesouraria dos vitivinicultores e a oportunidade de despachar produto são os pretextos para que juvenis se apresentem nas prateleiras e nas cartas de vinhos. Uma casa grande, como a Adega de Borba, tem aqui uma vantagem, desde que seja bem gerida.

Criar um «garrafeira» e pô-lo à venda cinco anos depois da colheita é quase um luxo.A Adega de Borba lançou o Adega de Borba Garrafeira Tinto 2009, com denominação de origem controlada Alentejo – embora pudesse colocar a sub-região de Borba.

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Adega de Borba Garrafeira red 2009 in adegaborba.pt

Este vinho fez-se com uvas das castas alicante bouschet, aragonês e trincadeira, todas elas com raízes fincadas em solos argilo-calcários. O lote esteve um ano em barricas de carvalhos americano e francês, posteriormente dormiu por 30 meses em garrafa.

Abrir já não é «pedofilia vínica», mas penso que merece ser guardado mais um tempo. Quanto tempo? Isso é já lotaria, pois há sempre surpresas – boas ou más – com vinho arrecadado durante muitos anos. Não me comprometo, cito o conselho do enólogo: «até dez anos».

Quando me perguntam acerca da relação entre a qualidade e o preço dum vinho – ou de qualquer outra coisa – respondo que não sei. É que a importância que se dá ao dinheiro, o nível de exigência para um vinho, a disponibilidade financeira, o momento e a finalidade formam uma equação que só o próprio poderá resolver.

Por mim – esta opinião é apenas minha e de modo nenhum responde à questão da relação entre a qualidade e o preço – os vinhos da Adega de Borba são vendidos a preços cordatos e apresentam qualidade acima e valor abaixo doutros do mesmo patamar.

Os Adega de Borba Branco, Adega de Borba Branco Rosé e Adega de Borba Tinto vendem-se 2,89 euros, valor recomendado pelo produtor. Neste nível é fácil de opinar, pois o preço é mais do que acessível. Quando o visado é Adega de Borba Garrafeira Tinto 2009… é comparar com oficiais da mesma patente e escolher, de preferência com o auxílio dum responsável de garrafeira. O produtor vende-o 15,75 euros.

Contactos
LARGO GAGO COUTINHO E SACADURA CABRAL 25, APARTADO 20
7151-913 BORBA, PORTUGAL
Tel: (+351) 268 891 660
Fax: (+351) 268 891 664
Website: www.adegaborba.pt

Vinhos Palato do Côa – sem pressas e com sonho

Texto João Barbosa

Em 2008, Carlos Magalhães, enólogo com prática no Alentejo e na Bairrada, descobriu a Quinta da Saudade, na aldeia de Muxagata, no concelho de Vila Nova de Foz Côa. Conhecendo as aptidões para a produção de vinho de qualidade, desafiou quatro amigos a comprar a propriedade, vindo mais tarde a juntar-se um quinto elemento.

Os seis sócios (Albano Magalhães, Bernardo Lobo Xavier, Carlos Magalhães, João Anacoreta Correia, João Nuno Magalhães e Manuel Castro e Lemos) propuseram-se atingir um patamar elevado: «criar serenamente os melhores vinhos do Douro».

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Os seis sócios in palatodocoa.pt

Obviamente que os desejos são partilhados por muitos, pelo que só fica bem pretender atingir o topo. Se todos visarem a excelência e daí nascer uma saudável competição, o resultado será um contínuo trabalho para valorização das marcas, da região e do país.

O Douro Superior não é fácil de aturar… É bastante frio no Inverno e no Verão tem as portas abertas para o Inferno. Porém – talvez por as videiras serem masoquistas – esta sub-região dá a nascer vinhos com grande reconhecimento dos consumidores, da crítica nacional e internacional.

Blend All About Wine Palato do Côa The Vines

As vinhas in palatodocoa.pt

Carlos Magalhães afirma-se apaixonado pela Borgonha e que tem o sonho dos seus vinhos terem esse padrão. Não me parece fácil, devido às condições naturais dessa região francesa e as do Douro. Mas ele é que é o enólogo e conhece as suas uvas, os solos da quinta e o clima do local.

A Quinta da Saudade tem 7,5 hectares agricultados com vinha, com umas dezenas de anos. Aos quais se somam 8,5 hectares plantados recentemente. As variedades brancas são as tipicamente durienses rabigato, viosinho e códega de larinho. As tintas são as touriga franca, touriga nacional, tinta roriz e alicante bouschet.

Blend All About Wine Palato do Côa The Grapes

As uvas in palatodocoa.pt

A verdade é que os vinhos Palato do Côa apresentam-se com frescura. Os de entrada de gama mostram-se frescos e são vinhos bem-feitos, sem vaidades injustificadas. Ficam bem numa refeição em família, em que não visitas para qualquer cerimónia, ou para um convívio entre amigos, em que a efervescência da amizade não mata o vinho, nem este causa transtorno para divergir as conversas para críticas enófilas.

O Palato do Côa Reserva Tinto 2011 já exige mais atenção, que o ponham na mesa quando os sogros forem jantar lá a casa.

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Palato do Côa Reserva in palatodocoa.pt

Guardar vinhos para ocasiões especiais torna-se muitas vezes injusto, para o vinho e para o enófilo. Todavia, há vinhos que têm de ser bebidos já, antes que a juventude se consuma e restem apenas cinzas no «tal dia» em que a rolha sai da garrafa.

O Palato do Côa Escolha Tinto 2011 e o Palato do Côa Grande Reserva Tinto 2011 estão num patamar onde é difícil entrar. Tanto um como outro são belíssimas ofertas ao médico que nos operou ou aos sogros, no jantar de apresentação. Neste último caso, é precisa moderação para não os habituar «mal».

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Palato do Côa Escolha in palatodocoa.pt

Blend All About Wine Palato do Côa Grande Reserva

Palato do Côa Grande Reserva in palatodocoa.pt

Em Portugal diz-se – desconheço se noutros países e idiomas – que o Natal é quando um homem (ser humano) quiser. Por isso, que se bebam no Natal, tendo em atenção à temperatura de serviço e ao companheiro que espera no prato.

Fora de brincadeiras, os Palato do Côa Escolha Tinto 2011 e o Palato do Côa Grande Reserva Tinto 2011 devem ser poupados ao tempo quente, nos países com um Verão para escaldões. Pedem comida robusta e ar condicionado… pois que o Natal seja quando um homem quiser, mas não no tempo quente. Tanto um como outro merecem repousar algum tempo, no escuro e com temperatura acertada.

Contactos
Quinta da Saudade
Muxagata, Vila Nova de Fóz Côa

Albano Kendall Magalhães​
Email: akmagalhaes@palatodocoa.pt
Tel: +351 939 363 890

Carlos Magalhães
Email: carlosmagalhaes@palatodocoa.pt
Tel: +351 964 246 161

Website: www.palatodocoa.pt

João Portugal Ramos

Texto João Pedro de Carvalho

João Portugal Ramos licenciou-se em Agronomia pelo Instituto Superior de Agronomia em 1977. Estagiou no Centro de Estudos da Estação Vitivinícola Nacional de Dois Portos, após o que iniciou em 1980 no Alentejo a actividade de enólogo-gerente da Cooperativa da Vidigueira. Sairia passado pouco tempo, passando pela Casa Agrícola Almodôvar onde em 1982 ganha o prémio de Melhor Vinho na Produção com o tinto Paço dos Infantes 1982. Daria o salto para a Adega Cooperativa de Reguengos de Monsaraz onde ajudou a criar a marca Garrafeira dos Sócios. A partir da experiência acumulada, João Portugal Ramos constituiu no final da referida década a sua primeira empresa de nome Consulvinus com o objectivo de dar resposta às inúmeras solicitações de vários produtores, no seu percurso de glória criou alguns dos míticos Tapada do Chaves, Quinta do Carmo ou Cooperativa de Portalegre. A partir de 1989, a Consulvinus alargou a sua actividade para além do Alentejo, chegando ao Ribatejo, Península de Setúbal, Dão, Beiras, Estremadura e Douro.

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A Adega © Blend All About Wine, Lda

 

Em 1990, João Portugal Ramos plantou os primeiros cinco hectares de vinha em Estremoz, onde vive desde 1988, dando início ao seu projecto pessoal. A construção da adega em Estremoz, no Monte da Caldeira, iniciou-se em 1997, tendo sido ampliada em 2000. O sucesso e os prémios acumulados pelos “seus” vinhos ao longo da sua carreira valeram-lhe o reconhecimento nacional e internacional como um dos principais responsáveis pela evolução dos vinhos portugueses. Fruto da sua mestria têm nascido alguns dos grandes vinhos de Portugal, muitos deles ainda feitos em talha, vinhos que fazem parte da história e que têm tido a capacidade única de marcarem tanto percurso enófilo como foi o meu caso. Os exemplos são vários e na sua quase totalidade, incluindo os da década de 80, ainda mostram uma invejável forma na hora da prova.

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A gama de vinhos © Blend All About Wine, Lda

 

Muito recentemente face aos pedidos do mercado investiu nos Vinhos Verdes, já antes tinha no Douro juntamente com o enólogo José Maria Soares Franco criado o projecto Duorum. Passados 13 anos sem lançar uma nova marca de vinho alentejano, tirando os topos de gama, criou a marca Pouca Roupa com um enorme sucesso de vendas. Como tem vindo a ser hábito e não podia ser de outra forma, são os consumidores a ditarem o sucesso deste nome incontornável da enologia.

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Vila Santa Reserva 2012 & Vila Santa Reserva 2009 © Blend All About Wine, Lda

Na mais recente visita à adega e em animada conversa com o Engº João Portugal Ramos, foram colocadas em prova as mais recentes colheitas no mercado com um destaque para os brancos de 2104 que brilham alto fruto de um ano de excepcional qualidade. Foi proposto logo de início provar lado a lado a colheita mais recente com uma colheita anterior onde se começou pelo Vila Santa. O Vila Santa tinto nasceu na colheita de 1991, na altura ainda feito em talha, afirmando-se desde muito cedo como uma das grandes relações preço/satisfação existentes em Portugal. A qualidade assegurada colheita após colheita num perfil que tendo sofrido os necessários ajustes mas onde se tem sabido preservar o “estilo” Vila Santa que tanto prazer dá quando em novo como o 2012 ou mesmo com uns anos em garrafa como tão bem se mostrou o 2009.

De seguida provamos os Quinta da Viçosa, a meu ver os vinhos mais irreverentes do produtor e que nos oferecem a cada colheita o blend das duas melhores castas. Em prova o Quinta da Viçosa 2012 (Aragonês/Petit Verdot) e o 2011 (Touriga Nacional/Cabernet Sauvignon). Nota-se acima de tudo o cunho bem pessoal do enólogo, o espaço de destaque que a fruta ganha, limpa e sempre fresca, desempoeirada e inserida num conjunto sempre com bastante vigor, o tal vigor que permite sem exageros prolongar todos os seus vinhos numa linha de tempo muito acima da média. Quanto aos vinhos, o 2012 ainda muito vigoroso, demasiado novo o que me faz inclinar para o 2011, aquele travo de Cabernet Sauvignon a fazer lembrar Bordéus conquista-me no imediato, embora os dois ainda muito novos e a precisar de tempo em garrafa. Para estes dois tintos a escolha seria óbvia, carne de porco ou novilho com bom tempero, ligações com javali, veado ou caça grossa serão sempre vencedoras.

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Marquês de Borba Reserva 2012, Estremus 2001 & Quinta da Viçosa 2007 © Blend All About Wine, Lda

A fase final da prova contou com a presença daquele que é um dos “novos” clássicos do Alentejo, o Marquês de Borba Reserva que desde que saiu pela primeira vez na colheita 1997 conquistou por direito próprio lugar entre os grandes vinhos da nação. A evolução deste vinho é algo notável, comprova-se provando o 1999 que está num momento de forma magistral e ainda com muita vida pela frente. Terá sido este 1999 o melhor de todos até à data para o seu criador, eu irei juntar ao 1999 o 2012. Embora o 2013se encontre em momento pré-escolar a prova que dá é de um vinho ainda na fase de arrumos, tudo muito espalhado, muita caixa por abrir, precisa de tempo. Enquanto isso o 2012 já se mostra algo mais esclarecido, dá mostras de um conjunto luxuoso ao qual não se consegue ficar indiferente. A envolvência entre fruta/madeira confere um elevado grau de sensualidade e elegância ao vinho, no palato confirma tudo o que tem vindo a ser dito. Por esta altura são os pratos mais nobres e delicados que brilham, uma Perdiz Estufada é o casamento perfeito.

Para o final fica aquele que é de momento o topo de gama do produtor, o Estremus 2011, ainda que se tenha tido um vislumbre do que será a sua nova edição. Mas é no 2011 que as atenções se prendem com razões de sobra para que tal aconteça, o vinho que nem sequer nasce em vinhedo velho é um monumento de classe e raça. Muita finesse com a fruta num patamar de definição e frescura muito acima da média, no fundo sente-se a pujança e nervo de um grande vinho, um gigante adormecido com muitas alegrias para dar nos tempos futuros. A prova que dá esbarra numa saudável austeridade no palato, os tais taninos que ainda não se acomodaram, no nariz a cada rodopio no copo a complexidade vai-se desenrolando. Mais uma vez a enologia de João Portugal Ramos a conseguir lançar um vinho grandioso, como tem sido seu costume ao longo das últimas três décadas. Uau.

Contactos
João Portugal Ramos Vinhos S.A.
Vila Santa
7100-149 Estremoz
Portugal
Tel: (+351) 268 339 910
Fax: (+351) 268 339 918
Website: www.jportugalramos.com

A História do Esporão e os seus vinhos

Texto João Barbosa

Reguengos de Monsaraz está a 170 quilómetros do litoral oceânico. Durante séculos, talvez milénios, um nevoeiro naquela zona alentejana terá sido fenómeno raríssimo. A construção da Barragem de Alqueva, no rio Guadiana, criou o maior lago artificial da Europa – há quem discorde – tornou frequentes as névoas.

Não vou entrar – nem sinteticamente – no elencar de vantagens e desvantagens da construção da represa, em termos económicos, ambientais e sociais. Só refiro que a água tem permitido regar as vinhas, que se multiplicaram por todo o Alentejo. O empreendimento foi falado pela primeira vez em meados da década de 60 e o projecto empresarial da Herdade do Esporão «arrancou» em 1973 – entre aspas, porque levou anos adiado por razões externas à vontade dos empresários.

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Esporão – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

O Esporão começou por ser «uma fantasia» de Joaquim Bandeira, que viu além e quis plantar uma grande vinha no Alentejo. Desafiou José Roquette, que deixou a banca para abraçar a nova empresa.

A ditadura caiu em 1974 e, em 1975, o Governo reforçou a ideia de construir a barragem, ainda que passassem décadas até que fosse erguida. Também nesse ano, a Herdade do Esporão foi ocupada, no âmbito da Reforma Agrária. Em 1978 a propriedade foi devolvida, ainda que com a obrigatoriedade de ter de vender as uvas à cooperativa local.

ADN com mais do que vinho

Antes de entrar na prosa dos vinhos quero referir um aspecto que considero altamente relevante no mundo dos negócios, que é a responsabilidade social, em vasto censo. Seja no apoio directo à arte ou ao património humano, à cultura e ao ambiente, Herdade do Esporão tem no ADN querer ser mais do que uma vinícola.

Em 1985 aconteceu a primeira vindima que daria corpo ao primeiro vinho com marca própria, que sairia em 1987. O primeiro filho foi Reserva Tinto e, desde essa primeira edição, que os rótulos apresentam uma obra de arte. O consagrado João Hogan foi o escolhido para a estreia, mas, infelizmente para a empresa, o quadro não reside na colecção.

No âmbito da cultura, refira-se a preservação da Torre do Esporão, uma pequena fortificação medieval, a preservação do achado arqueológico na Herdade dos Perdigões (comprada em 1995, sendo o achamento do sítio acontecido em 1996), datado de entre os IV e III milénios Antes de Cristo – quantos empresários suportariam militante e financeiramente o que se poderia considerar como contratempo indesejável.

Em 2006, João Roquette assume a chefia da casa, que inicia uma reestruturação e replantio das vinhas e adopta uma política ambiental no sentido da recuperação e recriação de habitats, pondo a natureza a trabalhar e poupando em tratamentos de fitofármacos.

Outra acção de recolocação no «sítio» é a nova adega, recentemente finalizada, construída em taipa – método abandonado e praticamente esquecido. Muitas adegas alentejanas eram construídas desse modo e por alguma razão era: frescura. A terra, cascalho e madeira permitem um continuado arejamento e regulação da temperatura… ou seja, economia em energia.

Os protagonistas

Os vinhos não são o pretexto da empresa. As preocupações é que são resposta ao impacto que actividades agrícolas ou industriais implicam. Vêm agora para a conversa dois tintos – com obras de Alberto Carneiro – e dois brancos.

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Esporão Reserva tinto 2012 – Foto de Esporão | Todos os Direitos Reservados

O Esporão Reserva Tinto 2012 é um tiro de canhão, com os seus 14,5% de álcool. Dito assim poder-se-á pensar que é pesado. Errado! É um vinho com frescura. Aliás, a experiência da empresa e sucesso desta referência mantém-na num patamar de fiabilidade e prestígio. Fez-se com uvas de alicante bouschet, aragonês, cabernet sauvignon, trincadeiras, entre outras. Está equilibrado em fruta e madeira e promete viver durante uns bons anos.

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Esporão Private Selection tinto 2011 – Foto de Esporão | Todos os Direitos Reservados

O Esporão Private Selection 2011 está num patamar acima, incluindo na perspectiva de longevidade. É um vinho com um maior estágio em madeira, sendo ela 70% de carvalho americano. Tem taninos com garra e elegância, fundura de boca, uma agradável relação de frescura e calor, e final longo.

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Esporão Verdelho 2014 – Foto de Esporão | Todos os Direitos Reservados

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Esporão Duas Castas – Foto de Esporão | Todos os Direitos Reservados

O Esporão Verdelho 2014 traz frescura e tem garra. Não duvido que irá ligar muito bem com as comidas mais leves. Se o vinho anterior expressa a casta, o Esporão Duas Castas mostra além das variedades, exemplifica os locais onde as cultivares arinto (60%) e gouveio (40%) têm as raízes enterradas. Mais uma vez, tem frescura e agarra-se ao enófilo.

Contactos
Herdade do Esporão
Apartado 31, 7200-999
Reguengos de Monsaraz
Tel: (+351) 266 509280
Fax: (+351) 266 519753
Email: reservas@esporao.com
Website: esporao.com

Os Vinhos Velhos da Casa de Paços

Texto José Silva

A Casa de Paços é uma casa com grande tradição nos vinhos verdes, cuja produção é dividida entre a propriedade de Barcelos e uma outra em Monção.

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A casa mãe – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

A casa mãe da Casa de Paços, em Barcelos, foi remodelada, mantendo a traça original, com muito rigor, tendo agora condições para eventos, almoços e jantares de grupos e para provas de vinho.

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Prova de Vinhos, Silva Ramos – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Como aquela que recentemente pai e filho Silva Ramos organizaram para alguns felizardos, entre os quais estive incluído.

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Beleza tradicional da casa – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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As novas vinhas que estão a ser plantadas – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Deu-se um passeio pela beleza tradicional da casa e do seu exterior, com uma vista de olhos às novas vinhas que estão a ser plantadas, as grossas paredes de granito, o alpendre e a estrada que ali passa.

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O Alpendre – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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A estrada que ali passa – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Depois sentamo-nos à mesa para iniciar uma deliciosa viagem por todas as classes de vinhos desta casa. Com uma grande diferença para provas normais: ali estavam algumas colheitas com vários anos em garrafa, vinhos antigos, que nos haviam de trazer boas surpresas e muito prazer a bebê-los. A que se juntaram algumas colheitas mais modernas que permitiram fazer a comparação.

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Provaram-se 39 vinhos – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Provaram-se 39 vinhos de sete categorias, numa verdadeira maratona vínica. Houve vinhos que já estavam no fim de vida, houve vinhos que ainda se bebem muito bem e houve alguns que estão ainda cheios de força.

Da linha Casa de Paços Loureiro/Arinto o 2005 apresentou-se muito limpo, nariz elegante, alguma evolução, notas de frutos secos, de melão, acidez fantástica, redondo, bebe-se com muito prazer. E é de 2005!! Mas o Casa de Paços Loureiro/Arinto 2008 foi a grande surpresa. Amarelo torrado, mais evoluído, esteve muito elegante no nariz, sedoso, ainda muito fresco e com alguma fruta. Bom volume de boca, óptima acidez, intenso, notas de mel, cheio de complexidade e final ainda longo. Um grande vinho. A colheita de 2011 apresentou-se com muita mineralidade, boa acidez, consistente e o de 2012 também, seco, com boa acidez e ainda alguma fruta, muito bom.

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Casa de Paços Loureiro&Arinto 2013 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

As duas colheitas mais recentes deste Casa de Paços Loureiro/Arinto estiveram em grande forma: 2013 com nariz muito fresco, extremamente floral, notas tropicais ligeiras, acidez vibrante e óptima mineralidade, o 2014 com fruta muito boa, muito elegante, fresco. Na boca é envolvente, leve, boa acidez, um vinho branco moderno. Na linha Casa de Paços Arinto veio uma das grandes surpresas, o 2004. Amarelo torrado, âmbar. Muito evoluído, elegante, notas de querosene. Na boca está incrivelmente intenso, com uma acidez poderosa, frutos secos, mel, complexo, notável para um vinho verde com 10 anos!! Também o Casa de Paços Arinto 2011, com notas ligeiras de baunilha, alguma frescura, muitíssimo elegante. Cheio de estrutura na boca, seco, óptima acidez, ainda fragrância de baunilha, pêssego, pêra, muito bom.

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Casa de Paços Superior 2013 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Os três vinhos Casa de Paços Superior em prova – 2010, 2011 e 2013 – estiveram muito bem, com destaque para o de 2013 que se apresentou ainda muito jovem, suave, fresco. Muito elegante na boca, excelente acidez, algum tropical, redondo, um vinho moderno e divertido. Seguiram-se os Capitão Mor Alvarinho, com um 2005  surpreendente, dum amarelo citrino muito limpo, alguma evolução, elegante. Ainda com fruta, intenso, muito boa acidez, bebe-se com prazer. O seu irmão mais novo de 2012 estava fresco, redondo, notas adocicadas, fruta branca, alguma compota. Boa acidez e frescura, algum tropical num vinho ainda a evoluir mas que já se bebe muito bem. O benjamim dos Alvarinhos, de 2013, está muito floral, ligeiramente tropical, intenso, fresco. Na boca é seco, bela acidez, notas adocicadas, citrino e levemente mineral. Um vinho moderno muito equilibrado.

Vieram então os Morgado do Perdigão Loureiro/Alvarinho. As colheitas de 2004 e de 2005 estavam de boa saúde, o primeiro dum amarelo torrado muito limpo, ligeiramente evoluído mas elegante e fresco, ainda com fruta, notas de frutos secos, acidez muito equilibrada e final muito longo. O 2005 apresentou-se amarelo citrino, muito limpo, suave, fresco, notas levemente adocicadas e óptima acidez, pleno de equilíbrio. O 2008 está delicioso, intenso, ligeiramente evoluído, notas de frutos secos e com uma boca cheia, volumosa, seco, excelente acidez, muita complexidade, grande vinho. Mais uma curiosidade que também foi uma surpresa, os Reserva Capitão Mor em garrafas magnum.

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Reserva Capitão Mor em garrafas magnum – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Destacou-se a colheita de 2008, suave e fresco no nariz, exótico na boca, elegante, com muito boa acidez, notas de frutos secos mas ainda jovem para um vinho desta idade. Esteve também muito bem o 2013, dum amarelo citrino cristalino, aromas tropicais intensos, fresco e levemente floral. Na boca é muito elegante, mantém a frescura associada a uma boa acidez, persistente, com um final longo.

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Casa de Paços Fernão Pires – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Casa de Paços Fernão Pires 2008 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Finalmente vieram os Casa de Paços Fernão Pires com algumas boas surpresas. A começar pelo mais velho, de 2008, já dum amarelo torrado muito bonito, com notas de evolução no nariz, mas muito requintado, algum mel e compota. Na boca é complexo, com acidez muito equilibrada, notas ligeiras de marmelada, um final longo, um belo vinho. O 2012 também esteve muito bem, ainda muito frutado e com notas florais e de compota, na boca tem volume, notas de alperce e pêra cozida, acidez muito equilibrada, que rico vinho. Finalmente o Casa de Paços Fernão Pires 2014 é um vinho moderno, com nariz intenso de aromas tropicais e flores. Ainda muito jovem, tem bela acidez a contrastar com alguma doçura, elegante, com óptimo final.

No geral todos os vinhos se bebiam bem e nenhum estava estragado, mesmo os que já estavam no fim de vida útil.

Uma prova excelente, muito bem organizada, muito didática.

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Um Verdelho para comemorar o Verão

Texto João Pedro de Carvalho

Comemoro a entrada no Verão com este branco, um puro Verdelho oriundo da ilha da Madeira, produzido pela Paixão do Vinho. Aquando da visita à Adega de São Vicente tive oportunidade de o provar ainda muito jovem mas a mostrar-se bastante promissor, tinha aquela austeridade dos solos de origem vulcânica em conjunto com toda a frescura Atlântica devido à grande proximidade das vinhas. Não foi o primeiro Verdelho que Filipe Santos lançou no mercado, mas depois de algumas colheitas de interregno saiu este novo exemplar com um novo rótulo.

Por aqui o calor chegou em força, da chuva passou-se num ápice para os quase 40ºC e as mudanças naquilo que se come e bebe por estas alturas fazem-se sentir. Os tintos ficam encostados e começa o espectável rodopio dos brancos e rosados, pontualmente algum espumante, mas sempre servidos bem frios com comida leve que a vontade de estar em frente ao fogão/grelha é pouca.

Já tinha colocado o dito vinho a refrescar e antes de decidir começar a cozinhar ainda o provei, apenas para me orientar no que iria preparar para o acompanhar. Na memória guardo um mítico Arroz de Lapas que comi na Madeira, mas limitado à oferta do local onde moro optei por fazer um prato típico da região do Algarve, o Arroz de Lingueirão. Enquanto o lingueirão ia cozendo até abrir as conchas, fui bebericando o copo que tinha servido, gosto de beber enquanto cozinho porque me permite enquanto entendo o vinho poder equilibrar o prato numa procura da melhor harmonia possível.

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Arroz de Lingueirão in oficinadaspapitas.blogs.sapo.pt

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Primeira Paixão Verdelho 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Os passos a seguir são básicos, depois de retirar o lingueirão das conchas, limpar, cortar em dois e reservar. Enquanto isso a cebola, alho, louro e azeite já devem estar a estrugir, quando assim for colocamos o tomate cortado aos pedaços e a polpa, deixamos fervilhar e juntamos a água onde ferveu o lingueirão. O toque do tomate é essencial para dar frescura ao prato em conjunto com a polpa que vai fazer parte do molho, aqui pede-se um vinho com estrutura e acidez suficientes para o acompanhar, depois é juntar o arroz e um momento antes de estar no ponto adicionar o lingueirão e finalizar com os coentros picados.

Este Verdelho que carrega com ele um ligeiro toque salino e uma fruta (citrino, maracujá) muito bem delineada e sem exageros de exuberância. O resultado é um branco com nervo e muito boa frescura a dar a entender que vai ser capaz de evoluir muito bem em garrafa. É notável a ligação que faz com pratos de peixe ou marisco nas mais variadas variantes, onde a acidez revigora o palato a cada gole. Já agora, aquele toque final de coentros é o verdadeiro toque de magia que potencia a ligação entre o vinho e o prato para uma outra dimensão de sensações e prazeres. Até dá gosto começar o Verão desta maneira.

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