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João Portugal Ramos – Vila Santa Reserva Tinto 2013 e Marquês de Borba Branco 2015

Texto João Barbosa

Estremoz é uma das minhas vilas favoritas – que me perdoem os seus habitantes, mas não me conformo com o facto de ter sido promovida a cidade. É que a palavra «vila» tem um encanto e um charme que cidade não tem.

Bem… Estremoz merece uma visita. Para mim, o Alentejo é a região portuguesa… o Douro dos socalcos iguala, mas quanto à paisagem das povoações tenho bastantes tristezas. O Além Tejo é completo e a melhor preservada região portuguesa, do Guadiana ao Atlântico, da fronteira com o Reino do Algarve até ao grande rio ibérico. Vale bem a pena tirar uns dias para conhecer este Sul.

A fundação deu-se durante o período da ocupação romana. O seu mais imponente monumento, o castelo, tem data incerta. A Direcção-Geral do Património Cultural aponta, sem certeza, para o período da crise dinástica, que levou ao trono Dom Afonso III, em 1248, filho segundo do Rei Dom Afonso II e Dona Urraca, filha de Dom Afonso VIII de Castela. É por via de Dom Afonso III que entraram os castelos no escudo heráldico de Portugal, derivado do brasão de seu avô materno.

Dom Afonso III foi quem completou a conquista do território continental português, em 1249, com a tomada de Faro. Foi o segundo monarca português a usar o título de Rei do Algarve, feudo meramente honorífico. Este soberano procedeu igualmente a uma importante reforma legislativa, as chamadas Ordenações Afonsinas.

Porém, a figura histórica mais apaixonante que se liga a este monumento é a de Dona Isabel de Aragão, Rainha consorte, casada com Dom Dinis, filho de Dom Afonso III. A Dom Dinis se deve a salvação dos Cavaleiros Templários, através da transformação da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo Salomão na Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo, que iria levar, já na segunda dinastia, à criação do império português. Este monarca foi apelidado de «O Lavrador», pelo impulso que deu à agricultura.

À Rainha Isabel se atribuíram muitos milagres, tendo sido canonizada pelo Papa Leão X, em 1516. O seu mais famoso milagre foi o de transformar pão em rosas. Conta-se que distribuía secretamente pão pelos pobres e que o Rei intrigado com os rumores, que não lhe agradavam, a terá surpreendido quando levava o alimento aos desfavorecidos. Ao ser questionada acerca do que levava escondido no vestido, respondeu: «São Rosas, senho». Então, do seu regaço se deixaram cair bonitas flores. Maravilhas idênticas são atribuídas a Santa Isabel da Hungria, sua tia materna, a Santa Cecília e a Santa Zita.

O castelo de Estremoz foi uma das residências de Dom Dinis, tendo nele vindo a falecer a Rainha Santa Isabel. Hoje, o monumento é uma pousada, pelo que o visitante pode privar intimamente com um pouco da História de Portugal.

Vamos ao vinho, razão desta visitita escrita a Estremoz. Vem um branco e um tinto de João Portugal Ramos, enólogo e produtor que várias vezes tem sido sujeito de textos aqui na Blend – All About Wine.

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Vila Santa Reserva Tinto 2013 – Foto Cedida por João Portugal Ramos | Todos os Direitos Reservados

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Marquês de Borba Branco 2015 – Foto Cedida por João Portugal Ramos | Todos os Direitos Reservados

Vila Santa – Estremoz é terra de mármore e esta referência vínica bem a essa rocha pode ser comparada: beleza e solidez. Vila Santa Reserva Tinto 2013 é um dado seguro do Alentejo vinícola.

Digo seguro porque quem o compra sabe que leva um vinho que não o irá defraudar na qualidade. Tem aquilo que admiro no vinho: consistência de qualidade e de tradução do ano. Se existe uma fórmula, ela é a de escolher com critério as uvas, deixando à natureza contar a sua versão da vida. Elegante, fácil de nos perdermos nele e com uma acidez que nos desmente os 14% de álcool.

O Vila Santa Reserva Tinto 2013 resulta de um lote de aragonês, touriga nacional, syrah, cabernet sauvignon e alicante bouschet. A ficha técnica não indica a percentagem de cada casta. Deduzo que, por não estar em ordem alfabética, isso traduz o maior peso que cada cultivar tem no conjunto.

Uma parte das uvas foi pisada em lagares de mármore e outra em balseiros de madeira, seguida de maceração pós-fermentativa. O vinho estagiou nove meses em pipas de carvalhos americano e francês.

O segundo vinho é também um clássico que se renova. A marca Marquês de Borba é também uma garantia. Não oscila, é fiável. Pode gostar-se mais ou menos, mas o padrão não resvala. Agora escrevo sobre o branco, referente à vindima de 2015.

Ora, o vinho… É um lote das castas arinto, antão vaz e viognier. É um vinho que está mesmo a pedir que o Verão chegue depressa. Tem a virtude duma graduação alcoólica que, infelizmente, nem sempre existe: 12,5%. Assim, tem uma leveza que desafia as comidas mais frágeis e estivais, mas igualmente convívio de conversa e preguiça.

O baixo grau de álcool e a casta arinto fazem maravilhas. Penso que, tal como nas vindimas anteriores, se mostra ao gosto dos enófilos. Não é o «meu» vinho – reporto-me apenas ao factor «gosto», não critico a qualidade do néctar. A justificação é a «maldita».

Tenho um problema com a variedade antão vaz… pouco haverá a fazer. Não é um problema do vinho nem da cultivar, é a minha boca que não simpatiza com estas uvas. O meu elogio à arinto deve-se a senti-la como um antídoto à minha casta branca de embirração.

Três vinhos Tiago Cabaço

Text João Barbosa | Translation Bruno Ferreira

Regresso aos vinhos de Tiago Cabaço, depois da visita que lhe fiz no Verão passado. É um regresso também a Estremoz, onde além do património edificado se pode retemperar forças no restaurante da mãe do produtor, o acolhedor São Rosas.

Três vinhos para serem bebidos à mesa e sem pressas. Não sou dos que pensam que tintos pujantes têm de se guardar para os meses mais frios, quando o peso da carne exige alicerces anti-sismo. É verdade que aconchega de modo diferente, mas não passo o Verão a comer saladas e viandas de aves. Se digo do encarnado, o mesmo saliento nos amarelos.

Por partes, para que não se entornem as palavras confusamente. Dos brancos para o tinto. A enóloga Susana Esteban continua a pontuar bem.

O .Com Premium Branco 2015 é um lote das castas antão vaz, verdelho e viognier. A fermentação decorreu em cubas de inox e não foi feito estágio em madeira. É um branco para os apreciadores dos néctares alentejanos, nomeadamente os amantes da fruta antão vaz. É um vinho com nervo e não o tomaria sem comida, mas o marisco poderá levar uma traulitada. Que conheça algo mais substancial.

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.Com Premium Branco 2015 – Foto Cedida por Tiago Cabaço | Todos os Direitos Reservados

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Tiago Cabaço Vinhas Velhas Branco 2014 – Foto Cedida por Tiago Cabaço | Todos os Direitos Reservados

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Tiago Cabaço Alicante Bouschet 2012 – Foto Cedida por Tiago Cabaço | Todos os Direitos Reservados

Tiago Cabaço Vinhas Velhas Branco 2014 é filho de uvas de videiras com mais de 35 anos. É um lote de roupeiro, arinto e antão vaz. A ficha técnica dá conta de que viveu estágio em madeira, mas não dá especificações. Seja como for, a madeira não derruba as características naturais. Este é mais robusto do que o .Com Premium Branco 2015 e tem a mineralidade que caracteriza vários vinhos de Estremoz. Tem um balanço interessante entre o calor e a frescura.

Por fim, o «suspeito». Digo suspeito porque antes de o abrir já desconfiava do que viria da garrafa. Tiago Cabaço Alicante Bouschet 2012 tem uma sina ingrata. Não é demérito, mas culpa do ano precedente ter sido muito generoso para os vinhateiros portugueses.

As uvas foram pisadas em lagares de inox. O vinho estagiou um ano em barricas de carvalho francês. A madeira acrescenta e não tira. Aprecio a conjugação das cerejas maduras, notas terrosas e de madeira. É alentejano e moderno. Directo ao goto!

Digo também suspeito porque nos faz cair sem dar quase conta – é um elogio. Ora, e o suspeito é perigoso. É que a graduação alcoólica é de 14,5% e a acidez dá-lhe «disfarce». Tem igualmente o temperamento quente e fresco. Jantem-no tardiamente, sentem-se às 23h00 – preferencialmente em local arejado e onde se possam escutar grilos, cigarras e o piar das rapinas nocturnas. Deixem-se ficar à conversa até…

Como remate, alerto o leitor destas minhas apreciações mais favoráveis ao tinto reportam-se ao factor gosto. Não sou apreciador da casta antão vaz, pelo que, mesmo realçando a qualidade intrínseca do vinho, as palavras não me ocorrem tão alegres. Por outro lado, gosto bastante da alicante bouschet. Acresce que esta variedade tinta é particularmente feliz na propriedade de Tiago Cabaço.

Contactos
Fonte do Alqueive – Mártires
Apartado 123, 7100-148 Estremoz
Tel: (+351) 268 323 233
Email: geral@tiagocabacowine.com
Website: www.tiagocabacowines.com

A Adega do Cartaxo e o renascer do Ribatejo

Texto João Pedro de Carvalho

Fundada em 1954, por um grupo de 22 associados, a Adega Cooperativa do Cartaxo tem raízes numa região com uma forte tradição vitivinícola onde existem referências históricas a esta actividade, anteriores ao seculo X. A Adega funcionou até 1974 nas instalações da antiga Junta Nacional do Vinho (actual IVV), desde então labora nas actuais instalações, sempre investindo no reforço dos seus recursos humanos e tecnológicos ao serviço de uma melhor produção vinícola. Na actualidade a Adega do Cartaxo possui 216 associados com uma área de vinha de 616 hectares dos quais 244 são DOC e 370 IGP, sendo sem sombra de dúvidas mais um dos bons exemplos em que uma Adega Cooperativa se soube remodelar e actualizar face às necessidades do mercado e as exigências do consumidor. A remodelação da imagem dos seus principais vinhos criando rótulos apelativos e distintos fazem parte dessa nova imagem, a qualidade dos vinhos com enologia a cargo do Engº Pedro Gil tem valido inúmeros reconhecimentos dentro e fora de portas.

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Adega do Cartaxo – Foto Cedida por Adega Cooperativa do Cartaxo | Todos os Direitos Reservados

Num portfólio recheado de inúmeras referências, decidi focar a atenção naqueles que para mim são as estrelas da companhia, cabendo ao Bridão Private Collection 2013 ser o primeiro de um conjunto de três vinhos escolhidos. Neste vinho o lote é a meias entre a Touriga Nacional e Alicante Bouschet, com estágio de 10 meses em barricas de carvalho Português. Um vinho maduro, concentrado e opulento, carregado de fruta madura com toque de especiarias. Boa a frescura que o rodeia, macio e guloso, e com uma boa complexidade e a facilidade com que cativa, diga-se que é daqueles vinhos que facilmente agrada sem ter muito que pensar, porque quem bebe vinhos não tem de perder tempo a pensar, bebe porque sabe bem e este vinho sabe bem, sabe muito bem.

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The three wines – Photo by João Pedro de Carvalho | All Rights Reserved

Dando o salto até ao Bridão Reserva branco 2014 onde despontam as castas Fernão Pires e Arinto, com fermentação e estágio em barrica de carvalho Francês durante 3 meses. O resultado é um branco que alia o peso da fruta com uma boa frescura e sensação de aconchego conferida pela madeira. O conjunto de aromas é convidativo de tal forma que literalmente sugere uma tarte de limão merengada tanto em aroma como no sabor onde a acidez se mostra vincada mas com o espectável arredondamento/cremosidade conferida pela passagem na madeira. Bom a acompanhar peixes no forno ou grelhados com molho de manteiga e limão. Para terminar o Bridão Reserva tinto 2013 que junta Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Tinta Roriz e Syrah, com estágio de 6 meses em barricas de carvalho Francês. Tudo muito bem embrulhado com notas vegetais bem frescas, frutos do bosque em tons negros muito maduros, a madeira envolve o conjunto e nota mais para o bom trabalho realizado com as barricas. Boa complexidade num perfil sério de que se é fácil de gostar, apelativo apesar da ligeira austeridade que aparenta ter, algum tabaco, pimenta, ligeiro balsâmico a mostrar-se em pano de fundo. São três vinhos bastante apelativos com preço abaixo dos 10€ que facilmente conquistam o consumidor à mesa, haja pois boa comida por perto.

Contactos
Adega Cooperativa do Cartaxo
EN 365-2 2070-220
Cartaxo, Portugal
Tel: (+351) 243 770 987
Fax: (+351) 243 770 107
E-mail: geral@adegacartaxo.pt
Website: www.adegacartaxo.pt

Adega de Vidigueira, a Inspiração e a Bonança

Texto João Pedro de Carvalho

Era uma vez, lá muito longe, uma região de vinhos chamada Alentejo onde a seu tempo foram convocadas algumas “fadas madrinhas “que tiveram o condão de criar cada uma delas uma Adega Cooperativa. Surgiram assim as Cooperativas de Borba, Portalegre, Redondo, Reguengos de Monsaraz, Granja/Amareleja e Vidigueira. Durante décadas estas Adegas foram o expoente máximo das sub-regiões onde ficaram inseridas, os vinhos diferenciavam-se entre si e mostravam com brio as características dessas regiões e das castas que então eram quase exclusivas de umas e de outras. Depois vieram os tempos sombrios, a magia que envolvia as Adegas Cooperativas foi-se perdendo muito por causa da paragem do tempo que literalmente engoliu a grande maioria. A juntar a tudo isso, uma nova vaga de produtores sedentos pelo reconhecimento deu origem a uma vaga de novos rótulos a surgirem nas prateleiras a uma velocidade estonteante. Com tanta oferta o consumidor ficou confuso e sem saber bem para onde se virar, se por um lado tinha ali à mão os vinhos que sempre se acostumou a ter à mesa, por outro lado tinha também muitos “brinquedos” novos que lhe chamavam a atenção. Foi a necessária aposta na expansão e renovação do portfólio das Adegas Cooperativas, com a introdução de novos produtos mas essencialmente com a reformulação de toda a imagem, que se veio dar uma lufada de ar fresco que fez renascer algumas delas.

A Adega de Vidigueira é um destes casos com “final” feliz, onde a posta na renovação se fez e cujos frutos se começam agora a colher, lembro que foi considerada recentemente a “Cooperativa do Ano 2015” pela Revista de Vinhos. Numa viagem que aproxima a Adega e a sua vila, Vidigueira, a conquistas de outros tempos, à ligação com Vasco da Gama − o Conde da Vidigueira, pretende-se cumprir a promessa de descoberta e afirmação de uma região tão profundamente marcada pela cultura do vinho. O portfólio foi assim dividido em sete actos (O Prenúncio | A Partida | A Saudade | A Inspiração | A Decisão …) que os interligam numa viagem pela região, cultura e história, sempre numa descoberta.

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Vidigueira Alicante Bouschet 2014 – Photo by João Pedro de Carvalho | All Rights Reserved

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Vidigueira Reserva 2014 – Photo by João Pedro de Carvalho | All Rights Reserved

No Acto IV A Inspiração surge este Vidigueira Alicante Bouschet 2014 a mostrar todo o temperamento da casta, austeridade a fazer-se sentir com muita fruta madura juntamente com compota, cacau, a precisar de algum tempo no copo porque tudo vem inicialmente muito enrolado num manto bem fresco. Um vinho que tem tanto de intenso como de guloso, jovem e pronto para durar em garrafa, numa prova de boca cheia de energia que o remete para acompanhar pratos de bom tempero. No Acto VI A Bonança surge o Vidigueira Reserva 2014, um 100% Syrah com estágio de 12 meses em barricas novas de carvalho francês. Um belo vinho com tudo para agradar e conquistar no imediato, cheio e carnudo, muito sumarento e guloso com a fruta a explodir de sabor na boca, toque morno e sedoso num vinho de bela estrutura e firmeza. A frescura embala o conjunto sem deixar a fruta cair em tentações menos próprias, suculento, complexo e perigosamente atractivo, um Syrah opulento e lascivo. Abrir em ocasião onde a bonança mereça ser festejada.

Contactos
Bairro Indústrial
7960-305 Vidigueira
Tel: (+351) 284 437 240
Fax. (+351) 284 437 249
Email: geral@adegavidigueira.pt
Website: www.adegavidigueira.com.pt

Coração d’Ouro, da televisão para a mesa

Texto João Pedro de Carvalho

A novela de nome Coração d’Ouro emitida em horário nobre na SIC passou do ecrã para a mesa, mais propriamente para o copo. São dois vinhos, branco e tinto, com Denominação de Origem Controlada (DOC) Douro que resultam de uma aposta conjunta da SIC e da Real Companhia Velha. Uma proposta que permite aproximar um pouco mais o espectador/ consumidor ao pano de fundo da novela em causa, relembro que o cenário é a Quinta das Carvalhas, pertencente à Real Companhia Velha.

São dois vinhos onde o papel principal é dado à fruta, num conjunto com aromas a surgirem bem frescos e convidativos, num conjunto onde tudo se mostra muito limpo e apetecível. O Coração d’Ouro branco 2014 é um blend das castas Viosinho, Gouveio, Moscatel, Arinto, Fernão Pires, Rabigato e Verdelho, a mostrar muita fruta com citrinos e pêra madura com ligeira calda. De perfil jovial onde comanda a frescura com aroma floral, é um branco bastante apelativo e que é fácil de se gostar. Por tudo aquilo que mostra torna-se polivalente à mesa, podendo acompanhar desde uma boa conversa com uma variedade alargada de entradas, mariscos ou saladas. Se optar por peixe que seja de carne mais delicada e sem muita gordura, de preferência grelhado com uma pincelada de molho de manteiga/salsa/limão.

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Coração d’Ouro branco 2014 – Foto de Cedida por Real Companhia Velha | Todos os Direitos Reservados

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Coração d’Ouro tinto 2014 – Foto de Cedida por Real Companhia Velha | Todos os Direitos Reservados

No que ao tinto diz respeito, surgem as castas típicas da região: Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinta Roriz e Tinta Barroca. O vinho é um misto de frutos silvestres bem ácidos com muitas bagas, morangos bem maduros e cheirosos, portanto tudo coisinhas boas de se cheirar e gostar. No segundo plano o sempre presente toque vegetal, como que a servir de linha que cose todo o conjunto que cheira e sabe a Douro. Muito equilibrado e cheio de energia, mostrando-se capaz de acompanhar pratos de bom tempero mas será a meu ver com a grelha a funcionar que irá brilhar mais alto. Escolha-se um corte de novilho adequado à grelha, marinado previamente para que a carne ganhe aquele caramelizado que irá combinar lindamente com este vinho.

Contactos
Real Companhia Velha
Rua Azevedo Magalhães 314
4430-022 Vila Nova de Gaia
Tel: (+351) 223 775 100
Fax: (+351) 223 775 190
E-mail: rcvelha@realcompanhiavelha.pt
Website: www.realcompanhiavelha.pt

Vinhos da Casa Cadaval – Padre Pedro, Padre Pedro Reserva, Casa Cadaval e Marquesa de Cadaval 2012

Texto João Barbosa

Contar do vinho da Casa Cadaval necessita de algumas informações prévias. Repito: a história e as estórias são mais-valias. Tudo tem uma origem e explicação e o vinho ganha em ser mais do que apenas vinho ou simples produto alimentar. Este produtor pode encher livros.

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Casa Cadaval – Foto Cedida por Casa Cadaval | Todos os Direitos Reservados

Um país com quase 900 anos de existência tem muito para conhecer. Ao longo dos séculos, famílias ascenderam e outras decaíram. Nas crises e nas guerras, umas casas passaram para o lado do inimigo e outras mantiveram-se fiéis o país.

Em dois dos três períodos em que foi preciso lutar pela independência, o sangue Cadaval verteu pelo lado português. Os dois primeiros momentos estão relacionados com os vizinhos e o terceiro com os franceses de Napoleão. Neste último momento, acompanharam o Rei e a restante Corte na viagem para o Brasil.

Na crise dinástica e guerra contra Castela, entre 1383 e 1385, o condestável Dom Nuno Álvares Pereira foi o grande estratega e comandante das tropas portuguesas. O conflito terminou com a Batalha de Aljubarrota, em que os invasores eram superiores em número – cuja proporção varia conforme os cronistas e historiadores.

Dona Beatriz Pereira de Alvim, filha única do condestável, casou-se com Dom Afonso, filho do Rei Dom João I, fora do casamento, e que viria a ser o primeiro duque de Bragança. O primeiro Cadaval, embora sem título, foi Dom Álvaro, quarto filho do segundo duque de Bragança – Dom Fernando.

A partir do primogénito, Dom Rodrigo de Melo, a família foi somando títulos: conde de Olivença (1476 – apenas um titular), conde de Tentúgal (1504), marquês de Ferreira (1533) e duque de Cadaval (1648), marquês de Cadaval (segundo filho do oitavo duque e único titular), além de «honras de parente» da casa real.

O primeiro duque de Cadaval foi Dom Nuno Álvares Pereira de Melo, terceiro marquês de Ferreira, cujo título, atribuído pelo Rei Dom João IV, foi mercê pelo papel desempenhado na Guerra da Restauração, contra Filipe III de Portugal – Filipe IV de Espanha, bisneto do Imperador do Sacro-Império Romano-Germânico Carlos V, casa de Habsburgo.

Portanto, daqui se vê o peso que Cadaval tem na História de Portugal. Olga Maria Nicolis di Robilant Álvares Pereira de Melo, marquesa de Cadaval por via do casamento e descendente da Imperatriz Catarina da Rússia, é uma figura importantíssima da cultura, benemérita e patrocinadora das artes, especificamente da música. Falecida em 1996, foi homenageada pela Câmara Municipal de Sintra, que lhe dedicou o Centro Cultural Olga Cadaval.

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Tasting Room – Photo Provided by Casa Cadaval | All Rights Reserved

A aristocrata cultivou amizade desde o Papa Pio XII a importantes compositores e escritores, não olhando a valores de doutrina política, mas aos de talento e cultura: Cole Porter, Maurice Ravel, Igor Stravinski, Mstislav Rostropovitch, José Vianna da Motta, Luís de Freitas Branco, Fernando Lopes Graça… só para citar alguns vultos da música.

Em Muge, na margem esquerda do Tejo e a 80 quilómetros a Norte de Lisboa, situa-se a propriedade de onde saem os vinhos que aqui se narram. É um domínio com cerca de 5.000 hectares, onde convivem bovinos, cavalos, floresta e vinho.

A propriedade é gerida por Teresa Schönborn, neta de Olga Cadaval. O apelido indica o caminho para a Alemanha. Sua mãe, Graziela Álvares Pereira de Melo, foi casada com Karl Anton von Schönborn, oitavo conde de Schönborn-Wiesentheid. O vinho é também cultivado nos domínios alemães: Schloss Schönborn (Rheingau – Reno) e Schloss Hallburg (Franken – Francónia).

Regressando ao Tejo, em 1994 a Casa Cadaval abandonou o negócio da venda do vinho a granel e assumiu-se como produtor e engarrafador, sendo uma das primeiras empresas, da região, a apostar na qualidade e numa marca.

A base da gama é formada pela marca Padre Pedro, nome que homenageia um antigo prelado amigo da família. As mais recentes colheitas: Padre Pedro Branco 2014 (arinto, fernão  pires, verdelho e viognier), Padre Pedro Tinto 2012 (aragonês, cabernet sauvignon, merlot e trincadeira – seis meses de estágio em barricas de carvalho francês) e Padre Pedro Rosé 2013 (aragonês, merlot e touriga nacional).

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Padre Pedro branco – Foto Cedida por Casa Cadaval | Todos os Direitos Reservados

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Padre Pedro tinto – Foto Cedida por Casa Cadaval | Todos os Direitos Reservados

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Padre Pedro rosé – Foto Cedida por Casa Cadaval | Todos os Direitos Reservados

 

O branco e o rosado apresentam-se com uns felizes 12,5% de álcool, o que os torna bem indicados para o Verão, tanto para a conversa, aperitivos ou comidas leves. O tinto tem um ponto acima e pede carnes não pesadas. Vinhos fáceis, no que de melhor se pode querer da palavra – descontraídos e acessíveis (penso) à maioria das bolsas e fáceis de encontrar.

Num patamar acima estão os Padre Pedro Branco Reserva 2013 (viognier e arinto – seis meses de estágio em barricas de carvalho francês) e Padre Pedro Tinto Reserva 2012 (alicante bouschet, merlot, touriga nacional e trincadeira – oito meses de estágio em barricas de carvalho francês e seis em garrafa). O claro acompanha desde pratos de peixe condimentados até alguns estufados de carnes não muito gordas. O escuro alinha com carnes mais fortes, da vitela ao porco bem condimentadas.

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Padre Pedro Reserva branco – Foto Cedida por Casa Cadaval | Todos os Direitos Reservados

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Padre Pedro Reserva tinto – Foto Cedida por Casa Cadaval | Todos os Direitos Reservados

Os vinhos que se apresentam com o nome do domínio são monovarietais, produzidos a partir de castas com bom desempenho. Os mais recentes são Casa Cadaval Trincadeira Preta 2011 (estágio de um ano em barricas novas de carvalho francês e mais de um ano em garrafa), Casa Cadaval Pinot Noir 2012 (estágio de seis meses em barricas de carvalho francês e de mais meio ano em garrafa) e Casa Cadaval Cabernet Sauvignon 2012 (estágio de oito meses em barricas novas de carvalho francês e seis meses em garrafa).

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Casa Cadaval Trincadeira Preta – Foto Cedida por Casa Cadaval | Todos os Direitos Reservados

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Casa Cadaval Pinot Noir – Foto Cedida por Casa Cadaval | Todos os Direitos Reservados

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Casa Cadaval Cabernet Sauvignon – Foto Cedida por Casa Cadaval | Todos os Direitos Reservados

No píncaro está um vinho que faz justa homenagem a Olga Cadaval. Um excelente vinho do Tejo, com complexidade aromática e de paladar, com força e elegância – vai longo e duradouramente na boca. Se bem que está prazenteiro, penso que guardá-lo por três anos ou quatro anos o beneficiará. O produtor oferece uma «garantia» de dez anos – metáfora.

O Marquesa de Cadaval 2012 é um tinto aprovado como reserva. É um lote de alicante bouschet, touriga nacional e trincadeira – estagiou um ano em barricas novas de carvalho francês e outro ano em garrafa. Merece ser servido na mesa natalícia… ou como assegurou o poeta José Carlos Ary dos Santos: o Natal é quando um homem quiser.

Contactos
Casa Cadaval
Rua Vasco da Gama
2125-317 Muge – Portugal
Tel: (+351) 243 588 040
Fax: (+351) 243 581 105
E-mail: geral@casacadaval.pt
Website: www.casacadaval.pt

Soalheiro, a excelência de 2015

Texto João Pedro de Carvalho

Desta vez vou falar da marca de Alvarinho que mais tenho em casa e que vai para longos anos tem um canto reservado no escuro da minha garrafeira. Muitos podem pensar, mas guardar os Alvarinho na garrafeira? Sim é verdade, guardo estes e outros porque a capacidade de guarda está mais que comprovada ano após ano, colheita após colheita. Para quem olha de soslaio ou fica na dúvida, então que tenha a sorte de provar um destes belos exemplares dos anos 90 ou para não recuar muito no tempo que se beba um “simples” 2007 e se for em Magnum ainda melhor.

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Soalheiro – Foto Cedida por Quinta de Soalheiro | Todos os Direitos Reservados

A evolução ou direi mesmo, a perfeição tem vindo a aumentar a olhos vistos e os vinhos a cada década que passa têm sabido espelhar isso mesmo. Hoje mais do que nunca a limpeza aromática aliada a uma energia própria dos vinhos da região (Vinhos Verdes) faz com que os Soalheiro, entre outros, ganhem outra dimensão na hora de irem à mesa. O génio da lâmpada neste caso da adega, chama-se António Luís Cerdeira e é quem tem tido a capacidade de deliciar com os seus vinhos uma legião de fans na qual eu me incluo.

Depois das recentes novidades que aqui já tive oportunidade de relatar, estará para breve o lançamento do Soalheiro Granit, chegam agora os novos 2015 de uma colheita considerada de excelência pelo próprio produtor. Neste caso são os mais jovens do alinhamento, começando pelo Soalheiro ALLO 2015 que resulta de um lote 50/50 de Alvarinho e Loureiro. Desta junção nasce um branco cheio de aromas que invocam fruta e flores frescas, vibrante, muito perfumado e ao mesmo tempo leve e divertido, num vinho que mal damos conta e a garrafa já acabou. É daqueles brancos que apetece ter à mesa num final de tarde em pleno Verão a acompanhar uns canapés ou mariscos de concha ao natural.

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Soalheiro ALLO 2015 & Soalheiro Alvarinho 2015 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

O segundo vinho é o incontornável Soalheiro Alvarinho 2015, que quanto a mim se mostra muito melhor nesta colheita que por exemplo na anterior, noto aqui mais frescura com a fruta menos exposta e com a mesma a surgir menos madura e mais airosa. Quanto ao resto é o perfil Soalheiro a funcionar onde os descritores da casta aparecem num conjunto que conquista no imediato pelos aromas limpos e bem definidos, boa intensidade de conjunto a mostrar-se tenso, muito fresco e com austeridade mineral em pano de fundo. A fruta (maracujá, líchia, citrinos) funde-se com notas florais, uma muito ligeira e fina colherada de mel a fazer toda a ligação e que se equilibra muito bem com a acidez do vinho. Beba-se desde já com uns camarões tigre grelhados ou então que se guarde por dois anos para se ter uma agradável surpresa.

Contactos
Quinta de Soalheiro
4960-010 Alvaredo, Melgaço
Tel: (+351) 251 416 769
Fax: (+351) 251 416 771
Email: quinta@soalheiro.com
Website: www.soalheiro.com

Quinta da Alameda Tinto Reserva Especial 2012 e Quinta da Alameda Tinto Jaen 2013

Texto João Barbosa

O Dão está em fase ascendente. A região acordou e está a mexer-se. Como seria de esperar, haverá erros, nada é perfeito, mas só o facto de reagir já é um dado a aplaudir. Está a acordar e a marcar pontos, caminhando para o estatuto que teve outrora. Mérito da Comissão Vitivinícola Regional, mas só possível por haver produtores determinados em fazer bem e a conseguir retorno financeiro.

Carlos Lucas é um dos homens que encabeçaram a ascensão, com a sua passagem pela Dão Sul, hoje Global Wines, empresa hoje presente também no Alentejo, Bairrada, Douro, Lisboa e Vinho Verde, além do Brasil (Vale do São Francisco).

A Dão Sul surgiu em 1990. As marcas Quinta de Cabriz e a Quinta dos Grilos apresentaram-se com preços convidativos e com características de fácil agrado do consumidor. O sucesso levou a que extravasassem o berço.

Os vinhos da Quinta de Ribeiro Santo, situada em Carregal do Sal, confirmaram o acerto de mão de Carlos Lucas. O Dão de hoje seria diferente, talvez muito diferente, sem o trabalho deste enólogo.

A Quinta da Alameda é uma parceria entre Carlos Lucas e o empresário Luís Abrantes, com actividade na indústria de mobiliário (Movecho). A parte de viticultura está a cargo de Amândio Cruz. Situa-se em Santar, no concelho de Nelas. A área é pequena para os padrões europeus, mas acima da média da região. O domínio tem 50 hectares, dos quais 15 são de vinha.

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As vinhas – Foto Cedida por Quinta da Alameda | Todos os Direitos Reservados

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As vinhas – Foto Cedida por Quinta da Alameda | Todos os Direitos Reservados

Para os mais curiosos por números, em 2009, do total de 305.266 empresas agrícolas, 283.071 tinham menos de 20 hectares – número que tem vindo a diminuir desde 1979 (é 2,6 vezes inferior). A superfície agrícola utilizada também tem decrescido, embora em menor ritmo (1,4 vezes inferior). A região Centro, onde se situa o Dão, é das que têm dimensão mais reduzida.

Passo dos números para o que mais interessa. Os dois sócios mantiveram uma parte de vinha velha, onde estão várias castas misturadas, como era a tradição, e reconverteram outra parte, plantando alfrocheiro, baga, jaen, tinta roriz, tinto cão e touriga nacional.

Está situada numa zona onde a altitude vai dos 400 aos 700 metros, nas imediações da Serra da Estrela e do rio Dão. Traduzindo numa só palavra: frescura. A escolha das novas castas teve em conta a produção de espumantes.

A valorização da vinha velha, pela constatação da qualidade dos vinhos obtidos, criou uma moda. Quem tem vinhas com 30 anos diz que são velhas… para mim, vale o que vale, não são. Na Quinta da Alameda, a idade dessas plantas é de mais de 80 anos.

Carlos Lucas confessou não ser fã da casta jaen. Porém, na Quinta da Alameda mudou de opinião, em 2012. No ano seguinte vinificou-a separadamente. Estreou-se agora e já conto dele mais adiante.

A região do Dão tem uma categoria de classificação especial, que pode ser comparada com a de Vintage, no Vinho do Porto. Carlos Lucas diz desconhecer se alguma vez foi atribuída a «Dão Nobre» e prevê que dificilmente o poderá ser… mistérios que os vinhateiros guardam.

O Quinta da Alameda Tinto Reserva Especial 2012 foi apresentado a exame e não mereceu a distinção, como o leitor deve ter depreendido do parágrafo anterior. Ficou como Reserva Especial, o que, de alguma maneira, vai dar ao mesmo. Se o topo é inacessível, o patamar imediatamente abaixo ocupa-lhe o lugar.

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Carlos Lucas – Foto Cedida por Quinta da Alameda | Todos os Direitos Reservados

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Quinta da Alameda Tinto Reserva Especial 2012 – Foto Cedida por Quinta da Alameda | Todos os Direitos Reservados

A classificação recebida é justa! É um grande vinho e tem o que se espera do Dão. A região vive nestas garrafas, onde se guarda a memória vinda das vinhas velhas e a categoria reconhecida desde sempre.

O Quinta da Alameda Tinto Reserva Especial 2012 fez-se com uvas de alfrocheiro, tinta roriz, tinto cão e touriga nacional… uma pitada de baga, casta proscrita, pese a sua antiga presença no passado por aqueles lados. O vinho conviveu um ano com a madeira de carvalho francês e estagiou outros 12 meses em garrafa. É um vinho de enorme frescura, suavidade e elegância. Uma frescura que encobre os 14 graus de álcool – nem se dá por isso.

O Quinta da Alameda Tinto Jaen 2013 é uma boa expressão da casta. É um vinho didáctico em dois níveis: o que é a casta jaen e o que é um vinho do Dão – apesar de a tradição ser a de vinhos de mistura de castas. O estágio em barricas de carvalho francês durou um ano. É igualmente um tinto com frescura e que dá bom prazer, com a elegância pela qual a região era/é conhecida.

Como é de esperar, não mando nada na região do Dão, tal como acontece com as outras todas. Porém, penso que ao não validar vinhos como Dão Nobre, o painel de provadores não está a beneficiar ninguém. Seria uma boa ajuda para os consumidores mais antigos se reencontrarem e os novos apreciadores se aventurarem nas maravilhas que, de facto, existem na região.

Outras regiões poderão chegar primeiro a uma nova designação de superior classificação, beneficiando da primazia. Cada um sabe de si e dos seus negócios. Fica a minha opinião, que vale o que o leitor quiser que valha.

Lembremo-nos que em Bordéus, Borgonha ou Champanhe «nunca» há anos maus… ou são excelentes ou clássicos. As classificações de topo são usadas e França é o que é.

Alambre Moscatel Roxo 2010, I’m sexy and I know it

Texto João Pedro de Carvalho

A casta Moscatel Roxo de Setúbal é uma uva rara que chegou a correr riscos de extinção no século passado. A diferença para a sua homónima branca, a Moscatel de Setúbal, começa na sua tonalidade roxa mas também nas refinadas diferenças a nível de aroma e paladar que originam vinhos exclusivos e de fino recorte. E é quando falamos na sua salvação que entra em cena o nome do mais antigo produtor de Moscatel de Setúbal, a José Maria da Fonseca.

Foi pelas mãos de Fernando Soares Franco, quinta geração da família, que se salvou o último hectare de Moscatel Roxo da região, na altura localizado na Quinta de Camarate. Hoje em dia a casta espalha-se por cerca de 40 hectares em toda a região sendo 10 hectares pertencentes ao produtor José Maria da Fonseca. A casta hoje em dia mostra a sua versatilidade nas mãos da experiente equipa de enologia, podendo o consumidor variar entre os vinhos generosos até ao rosé e terminar num espumante.

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Alambre Moscatel Roxo 2010 in jmf.pt

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Alambre Moscatel Roxo 2010 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

A última novidade a ser lançada foi este Alambre Moscatel Roxo 2010, um Moscatel Roxo de entrada de gama a permitir o acesso a um público mais alargado uma vez que os generosos feitos a partir desta casa são por regra mais caros que os restantes. Assim resolveu-se apresentar um Moscatel Roxo mais jovem e moderno, fresco, directo e sem toda a complexidade e mesmo densidade que por exemplo um Roxo 20 Anos nos apresenta. É um vinho com a qualidade que o produtor em causa já nos acostumou, mas que se bebe de forma descontraída em fim de tarde no terraço com os amigos. E esta abordagem mais directa faz falta porque nem tudo na vida tem de ser encarado de fato e gravata, em tom formal porque o vinho que nos deitam no copo assim o exige. Por aqui e neste caso com o Alambre Moscatel Roxo 2010 vive-se um clima festivo, num conjunto que da maneira como se mostra convida a isso mesmo, fresco, apelativo, conjuga o trio doçura/acidez/concentração de tal forma que se torna um sucesso imediato à mesa.

Contactos
Quinta da Bassaqueira – Estrada Nacional 10,
2925-542 Vila Nogueira de Azeitão, Setúbal, Portugal
Tel: (+351) 212 197 500
Email: info@jmf.pt
Website: www.jmf.pt

Roquevale, uma vertical do Tinto da Talha Grande Escolha

Texto João Pedro de Carvalho

Desta vez rumo à vila de Redondo, mais propriamente à Roquevale que fica na estrada para Estremoz entre Redondo e a Serra D´Ossa. A empresa possui duas herdades num total de 185 hectares, a Herdade da Madeira Nova de Cima vocacionada para a produção de tintos onde despontam os solos de xisto e a Herdade do Monte Branco com solos de origem granítica mais vocacionada para a produção de brancos, onde está sediada a adega. A empresa que hoje se assume como a segunda maior empresa privada do Alentejo, a produção ronda os 3 milhões de litros por ano e é liderada pela enóloga Joana Roque do Vale.

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A adega e os vinhos – Foto Cedida por Roquevale | Todos os Direitos Reservados

O mundo do vinho e Joana Roque do Vale sempre andaram de mão dada, desde a infância em Torres Vedras onde os seus bisavôs eram produtores. Após a revolução de Abril o pai de Joana, Carlos Roque do Vale decide mudar-se para a vila de Redondo para tomar conta das duas herdades do sogro (que em 1970 já tinha iniciado a plantação de vinha na zona de Redondo). A Roquevale iria nascer em 1983 de uma sociedade entre Carlos Roque do Vale e o seu sogro. O caminho de Joana estava traçado, o mundo do vinho era a sua segunda casa, daí até fazer o seu estágio curricular na Herdade do Esporão foi um ápice. Aprendeu com os melhores, como coordenador de estágio teve o engenheiro Francisco Colaço do Rosário e o enólogo Luís Duarte que já na altura era também consultor da Roquevale. Terminado o curso começou a trabalhar na empresa da família onde iria assumir pouco tempo depois a enologia da empresa.

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Talhas – Foto Cedida por Roquevale | Todos os Direitos Reservados

Um produtor com marcas bem conhecidas dos consumidores onde se destacam nomes como Terras de Xisto, Tinto da Talha ou Redondo. O vinho agora em destaque foi durante largos anos considerado como o topo de gama da empresa, o Tinto da Talha Grande Escolha que nos mostra as duas melhores castas de cada colheita. A prova em formato vertical começou com o 2003 e foi até ao 2010, mostrando em todas as colheitas um vinho que encarou com naturalidade a passagem do tempo, sem sinais de desgaste ou velhice acentuada. Sempre com direito a passagem por barricas novas, durante as primeiras colheitas destaca-se a assídua presença da Touriga Nacional que ia intercalando com Aragones ou Syrah, daria lugar depois à Alicante Bouschet que combina com Syrah ou Aragones sendo 2009 o único que junta Touriga Nacional com Alicante Bouschet.

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A vertical – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

O que mais gostei foi o 2010 Aragonês/Touriga Nacional que mostra uma dupla em perfeita harmonia num conjunto cheio de vida com muita fruta madura, algum vegetal presente, tudo em perfeita harmonia. Amplo, guloso, exuberante com ponta de rusticidade, num bom registo fiel à região e a pedir comida por perto. Muito bom está o Aragonês/Alicante Bouschet 2008 que mostra um conjunto cheio e guloso, cacau, fruta sumarenta com pingo de doçura, tudo balanceado e fresco, bálsamo de segundo plano com muito sabor no palato, equilibrado e com taninos a marcarem ligeiramente o final. Seguido bem de perto pelo 2003 junta Touriga Nacional/Aragonês que sendo a primeira colheita mostrou-se em muito boa forma a juntar a uma fruta vermelha ainda madura uma bonita frescura de conjunto com bálsamo fino, couro, especiarias, tudo em corpo médio ainda com energia e final longo. O Tinto da Talha Grande Escolha 2009 junta Touriga Nacional/Alicante Bouschet, inicio com vegetal fresco e fruta madura e de apontamento mais doce, de início algum químico, tudo muito novo cheio de garra e bastante sabor, boa frescura mas final um pouco mais curto do que se esperava.

O Aragonês/Syrah 2007 é de todos aquele que menos conversa, cerrado com aroma químico de início, cacau, pimenta, fruta envolta em geleia, frescura a envolver tudo com boca saborosa, rebuçado de morango em fundo com balsâmico num conjunto bem estruturado com bom suporte e persistência. Um vinho com muito ainda para dar e que certamente está em fase de arrumações. Da colheita 2004 Syrah com Touriga Nacional saiu um tinto com fruta vigorosa, muita pimenta com chocolate de leite, arredondado e coeso, ligeiro vegetal de fundo. Mostra a fruta bem limpa e saborosa, cereja ácida, amora, bom de se gostar. Para o fim ficaram as colheitas 2005 Touriga Nacional/Aragonês que se mostrou de todos o vinho mais aberto e espaçado, tímido mas a mostrar o cunho Roquevale bem patente. Muito melhor na prova de boca, que se fosse de igual gabarito no nariz, seria um caso muito sério. Por fim o que menos gostei, o Syrah/Touriga Nacional 2006 que despejou no copo aromas químicos com vegetal acentuado, num conjunto agreste, muita nota fumada, rusticidade a fazer-se sentir. Ligeira frescura na boca com alguma fruta em corpo mediano e sem ter a mesma prestação que os outros irmãos de armas.

Contactos
Roquevale, S.A.
Herdade do Monte Branco, Apartado 87
7170-999 Redondo
E-mail : geral@roquevale.pt
Website: www.roquevale.pt