Texto Ilkka Síren | Tradução Bruno Ferreira
Antes que começem já com “Não, ele não pode ter feito isso”, pensem nisto por um bocadinho. Não é suposto a harmonização de vinho e comida ser uma coisa impossível. E, se pensarmos demasiado na questão corremos o risco de ficarmos entediados pela nossa própria curiosidade. O que vos quero dizer é: fiquem-se pelo simples. Descobrir uma boa harmonização de comida e vinho é, para mim, algo excitante e as regras são, não há regras! Sim, por vezes é preciso arriscar e experimentar algo que normalmente não associamos a certos vinhos. Neste caso foi um cheeseburger com vinho do Porto.
Quero desde já deixar uma coisa perfeitamente clara. Eu amo vinho do Porto. Estou sempre a provar todo o tipo de vinhos, cervejas, cidras e bebidas espirituosas e tudo o que tenha o seu quê de <oomph>. Mas nada chega aos calcanhares de um bom vinho do Porto. É simplesmente um incrível e delicioso líquido. Existem muitas comidas boas para acompanhar com vinho do Porto. E, apesar de ser maioritariamente associado a sobremesas, acho que é muito mais gastronomicamente versátil do que isso. Confesso que esta harmonização Hamburger-Porto começou por ser apenas uma semi-intencional tentativa de provocação. Já ouvi pessoas a falar de harmonizações como por exemplo, vinho do Porto e bife suculento com pimentos. Então pensei, porque não fazê-lo com algo ainda mais comum, tipo um hambúrguer. Uma voz dentro da minha cabeça dizia-me que não iria funcionar, mas já aprendi a suprimir esse instinto.
Não quis estar a elaborar muito, sabia que para isto funcionar teria que ser com um cheeseburger, ou melhor, um DOUBLE-cheeseburger. Acompanhar queijo com vinho do Porto é bastante comum e algo de que eu gosto muito. Sempre gostei mais da combinação de sabores doces com salgados do que de doce com doce. Fazer hamburgers não é, normalmente, tarefa complicada, mas a escolha dos ingredientes é a chave para que esta harmonização funcione. Um bom bife com uma pitada de pimenta preta, queijo cheddar – nada dessas porcarias pré-cortadas – e ainda fiz a minha própria maionese de chipotle para conferir um bom sabor picante ao conjunto. Cebola vermelha em conserva para a acidez conferir algo especial e essencial ao hamburger. Nunca esquecendo a verdadeira definição de um bom hamburger: tem de ser possível comê-lo com as mãos.
Quanto ao Porto, escolhi um LBV Ferreira 2009. Queria algo acessível mas com uma boa estrutura. Este vinho é incrivelmente saboroso. Adoro a sensação na boca, a textura e a fruta inicial com um final picante. Para que esta harmonização funcione, o vinho não pode ser um vinho tímido, tem que ter presença. Este vinho não só tem isso como tem uma excelente relação qualidade/preço e é um exemplo de um bom Porto.
Agora querem saber, certo? Se estava bom? Sim, estava. Pode não ser a combinação mais elegante mas garanto que foi uma das melhores que tive o prazer de saborear nos últimos tempos. Se gostar de cheeseburgers (quem não gosta, certo?) e de vinho do Porto (duh!) então vai gostar desta combinação. Esqueçam por um bocado o snobismo vínico e desfrutem de uma coisa simples mas com comida muito saborosa. A ideia é baixar a fasquia no que toca à experimentação com comidas diferentes. Dito isto, a fasquia da qualidade deve ser sempre elevada. Experimente, e se não gostar experimente uma coisa diferente. Afinal o importante é divertirmo-nos.
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