Texto José Silva
É num local improvável que descobrimos um restaurante que ficaria bem em qualquer cidade do litoral ou do interior.
Mas está situado no cimo da serra do Suajo, pertencendo ao concelho de Arcos de Valdevez, num local de grande beleza, com uma paisagem soberba, aqueles montes agrestes, com vegetação rasteira e algum arvoredo aqui e ali. A fauna, muito característica, é sobretudo composta pelo gado bovino da raça autóctone cachena, um boi de monte que se alimenta nos pastos abundantes, e dos garranos, cavalos selvagens que vivem em liberdade por aquelas serranias. Também aparecem javalis e alguns veados, e os lobos são por ali bastante abundantes. Pelos céus limpos esvoaçam milhafres e águias, a par das outras aves mais vulgares. Foi este sossego, esta tranquilidade, toda esta beleza, que entusiasmaram o proprietário, um empresário de Barcelos, que resolveu comprar uma ruína – um pouco atrás do local onde se situa o restaurante – que recuperou para ali passar fins-de- semana e férias com a família. Mas, quando resolveu abrir o espaço ao turismo rural, nunca mais lá conseguiu ir com a família, tal foi o sucesso.
Então comprou, mais à frente, várias casas duma minúscula aldeia, que recuperou e equipou, para o mesmo fim, com sucesso semelhante. E foi com naturalidade que, seguindo também os pedidos dos muitos e muitos hóspedes, acabou por recuperar outra ruína e construir o restaurante “Caxena”, a poucos metros das casas de turismo.
Com um ar rústico, em granito, que ali é abundante e também molda a paisagem, é completado com muita madeira, quer no exterior quer no interior.
Lá dentro, no rés do chão, um simpático bar, com balcão e sofás, e um expositor com alguns produtos da região para venda, e que funciona também como wine bar, até às 23 horas.
Num recanto, algumas peças antigas do que teria sido um lagar, e depois, no interior, outra surpresa, a garrafeira do restaurante, muito bem decorada e recheada com muitas referências de bons vinhos de várias regiões.
Este espaço é também a carta de vinhos, pois os clientes são convidados a vir ali e escolher o vinho ou vinhos que vão apreciar à refeição, estando todos eles com o respectivo preço indicado, e refira-se que são preços extraordinariamente acessíveis.
Uma escadaria de madeira leva-nos ao primeiro piso, onde a sala se abre para a paisagem em enormes vidraças, com muita luz a entrar por ali dentro. Mais uma vez decoração muito atraente, aqui com os tectos totalmente em madeira, assim como o soalho, em madeira corrida.
Algumas paredes em granito e outras em tijoleira, numa das quais está encastrado um bonito e útil recuperador de calor, a dar conforto ao espaço, neste tempo de frio intenso.
Mesas de boa madeira muito bem-postas, com utensílios de qualidade. O serviço está a cargo de pessoas competentes, com formação, de bom gosto, atentos, com muita simpatia, impecável. A ementa é reduzida, e utiliza produtos endógenos, da região, fazendo assumidamente a sua correcta divulgação, o que é de aplaudir, para além dos petiscos que se podem apreciar durante o dia, no wine bar, para fazer companhia aos vários tipos de vinho. Na nossa refeição começamos pelo pão regional e a broa dos Arcos de Valdevez, comprada a um fornecedor que respeita a tradição, preparada com farinha de milho e cozida em forno de lenha.
E que acompanharam muito bem presunto delicioso, queijo seco e um requeijão fantástico, também de produção local.
Numa mesinha de apoio está exposto o feijão também produzido por ali, o feijão tarrestre, nos seus tons castanho, beije, branco, vermelho e até preto, que seria utilizado no arroz, e que pode ser comprado ali mesmo.
Veio seguidamente um misto de entradas composto por pimentos padrón, cogumelos salteados e duas confecções tendo por base a carne de vaca cachena: uma espetada grelhada no ponto, com cubos de carne, chouriço, bacon, tomate e pimento verde, e um picadinho ou estufadinho, pedacitos de carne de vaca estufados, com cebola e cenoura, molho apuradinho, muito bom.
Mas também se experimentaram os belouros brancos, feitos de farinha de milho amassada com um pouco de banha, tendida de forma a formar um rolo, de que se cortam rodelas grossas que são fritas em banha e, já no prato, são polvilhadas com cominhos. Um primor de simplicidade e paladar!
E chega a hora do prato principal, em que há duas ou três opções. Optou-se pela posta de carne de vitela cachena, grelhada na brasa só com sal, e que foi acompanhada com o tal arrozinho malandrinho de feijão tarrestre.
Carne muito saborosa, tenra, suculenta e um arroz fantástico, bem temperado, de chorar por mais.
Fechou-se um belo repasto com dois produtos também locais: a laranja, doce e muito sumarenta, e os charutos dos Arcos, massa fininha recheada com doce de ovos.
Acompanhou-se esta refeição deliciosa com um vinho verde tinto da região, o Cerqueiral já de 2014, servido nas malguinhas características, encorpado, espesso, suave no nariz mas concentrado na boca, fresco e com acidez intensa, a ligar muito bem com a comida.
Depois da refeição, um passeio a pé por um dos muitos trilhos que por ali existem recomenda-se vivamente…
Lugar de Oucias,
Telemóvel: (+351) 969 804 619
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