Texto José Silva
Domingos Soares Franco dispensa apresentações no mundo do vinho. Pertence à família proprietária da empresa José Maria da Fonseca , onde é também o responsável da enologia, mas é acima de tudo um apaixonado do vinho e um pesquisador, sempre insatisfeito, sempre a tentar fazer melhor e a tentar fazer coisas diferentes.
O seu trabalho é certamente uma das grandes razões do sucesso dum dos maiores produtores de vinho portugueses. Mas é também uma pessoa divertida que gosta de se relacionar com muita gente, e de apreciar as coisas boas da vida. Todos os anos, em Junho, Domingo Soares Franco convida um pequeno grupo de jornalistas que também são seus amigos para um almoço absolutamente informal na sua casa de Camarate, onde a primeira regra é que cada um leve uma garrafa de vinho, às quais Domingos Soares Franco junta meia dúzia de garrafas da casa.
A segunda regra é que não há regras: provam-se os vinhos (que entretanto foram colocados em várias champanheiras com gelo para estarem à temperatura adequada), trocam-se opiniões, fazem-se comparações, recordam-se outras provas, outros vinhos, outros estilos. Com todos os convidados já presentes, a que se juntaram a mulher e o filho de Domingos Soares Franco e o seu sobrinho António, sentamo-nos à mesa, para uma refeição simples mas completa.
Antes já se tinham petiscado uns frutos secos, umas tostas, pão e um queijo de Azeitão, curado, seco, que a mulher de Domingos Soares Franco não queria que ele colocasse na mesa, tal era o mau aspecto!
Mas Domingos, conhecedor quer do produto quer do gosto dos seus convidados, nem hesitou em colocá-lo na mesa. E o queijo lá desapareceu num ápice! Já se tinham provado os espumantes Terras do Demo Malvasia Fina e Terras do Demo Touriga Nacional, o alvarinho Nostalgia de 2013 e o II Terroirs do mesmo ano, e um branco do Dão da Quinta dos Carvalhais, que estiveram muito bem, cheios de vivacidade e frescura, a desaparecerem rapidamente.
E veio a primeira surpresa de Domingos Soares Franco, uma comparação entre dois brancos da casa, com alguns anos de garrafa, que é assim que o enólogo os quer: o Pasmados Branco 2009 que está cheio de estrutura e complexidade, com uma bela acidez e a madeira muito bem integrada, que foi comparado com o seu “avô” Pasmados de…1963, uma coisa muito séria, evoluído, sedoso, seco, brilhante! A dar muito boas indicações para a possibilidade de envelhecimento destes vinhos.
Ainda passaram pela mesa o Casal Santa Maria Pinot Noir 2011, o Mapa 2010, o Casa da Pasarela O Enólogo 2010 e o Painel 2001, todos em muito boas condições, a dar-nos muito prazer a beber.
Voltando à mesa de almoço, foram servidos uns camarões grandes com maionese, alface e espargos, muito saborosos. E continuamos a nossa prova de vinhos, agora na companhia de óptima comida. Até havia um Ribeira del Duero 2003, um Mythos 2005 e um Batuta 2005, ainda em muito bom nível, com aquele toque dos tintos já com alguns anos e ainda a subir.
Aos camarões seguiu-se um prato com grande tradição na casa, uma sopa suculenta de ervilhas com chouriço e ovo escalfado, que fomos repetindo enquanto aguentamos, sempre na companhia daqueles vinhos fantásticos. Embora todos eles já tivessem sido provados nesta altura da refeição, voltaram aos copos os Romeira 1987, Bairrada Vinus Vitae 1987 e Quinta das Cerejeiras 1995, cheios de saúde, equilibrados, elegantes.
E veio então a segunda surpresa de Domingos Soares Franco, um tinto Colares de 1969, um clássico, aquela elegância no nariz, sedoso na boca, a dar prazer até à última gota. E uma relíquia dos vinhos portugueses, o José de Sousa Rosado Fernandes de 1940, um vinho absolutamente extraordinário, de que Domingos Soares Franco teve a ousadia de abrir duas garrafinhas! Difícil de descrever, absolutamente fantástico! Já não o provava há alguns anos, meu Deus, como continua exuberante, perfeito!!!
Chegada a ocasião das sobremesas, que foram colocadas no balcão – e das quais fazia parte obrigatória a verdadeira torta de Azeitão – vieram os licorosos, que em Azeitão são os moscatéis e também um vintage de 2000 da Ramos Pinto.
Passaram pelos copos o Alambre 20 anos (veja aqui um artigo Blend sobre este vinho), sempre seguro, muito agradável, e um delicioso Bastardinho 30 anos, cheio de elegância, uma acidez incrível, fresco, sedoso mas com uma bela estrutura, um grande vinho. E cantaram-se os parabéns, pois o filho de Domingos fazia anos.
Mas Domingos Soares Franco preparava a última surpresa da tarde: uma garrafa de Trilogia, um vinho exotérico, incrível, soberbo. Um vinho de contemplação! Depois disto, ficamos arrumados, a vociferar impropérios a Domingos e a lembrarmo-nos do patinho feio dos desenhos animados quando dizia: “It’s an injustice, it is!!!”
O sorriso aberto e franco de Domingos Soares Franco acompanhou-nos até casa, com satisfação.
Até para o ano Domingos, em Camarate…
Contactos
José Maria da Fonseca, S.A.
Quinta da Bassaqueira, Estrada Nacional 10
2925-542, Vila Nogueira de Azeitão, Setúbal, Portugal
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