O Senhor da Adraga Quinta do Convento Nª Sª Visitação – Vinhas com Vista para o Mar

Vale da Capucha: Vinhos Orgânicos com um Excitante Goût de Terroir

Texto Sarah Ahmed | Tradução Teresa Calisto

A história de Pedro Marques é conhecida entre os jovens enólogos portugueses. Apesar de ser a quinta geração da sua família a fazer vinho, o jovem de 34 anos é o primeiro a ter estudado enologia. É também o primeiro a quebrar com a tradição da região, de focar mais na quantidade do que na qualidade. Nos dias de hoje, os vinhos que vêm exclusivamente da propriedade de 13 hectares da sua família, Quinta de S. José em Carvalhal, Torres Vedras, Lisboa, são rotulados Vale da Capucha. Marques fez os seus primeiros vinhos Vale da Capucha em 2009.

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Pedro Marques do Vale da Capucha, na cave de vinhos com o seu pai, Afonso Fernandes Marques – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Então, como fez ele a mudança da quantidade para a qualidade? Este cândido enólogo será o primeiro a dizer que este é um trabalho em evolução, no qual ele “cortou com o passado e começou de novo”, plantando novas castas, que vai conhecendo cada vez melhor com cada colheita. Mas, com razão, ele está claramente agradado com a sua decisão de se focar mais nos vinhos brancos, mais adequados ao clima húmido e marítimo da quinta, do que os tintos. Vinhos feitos maioritariamente de vinhas não locais de alta qualidade: o Viosinho e Gouveio do Douro, Antão Vaz do Alentejo, Alvarinho do Vinho Verde e até Viognier da França (apesar de ele admitir que esta última foi um erro).

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As encostas com as vinhas na Quinta de S. José – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Mas muito mais importante que as uvas (que ele descreve como “bastante neutras”) é o terroir. Marques está determinado em expressar um sentido de lugar nos seus vinhos: transmitir a frescura e salinidade, que vem do elevado conteúdo calcário das encostas cobertas de fosseis das vinhas da família, localizadas apenas a 8 km da costa Atlântica. Isto instruiu a sua decisão de cultivar a vinha de forma orgânica (foi certificada orgânica em 2012) apesar de ter dificultado a colheita neste ano fresco e molhado, com 30 a 35% da apanha – de acordo com a sua estimativa – a ser perdida devido à pressão da doença.

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Fosseis das vinhas na Quinta de S. José – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Instruiu também a sua decisão de fazer os seus vinhos naturalmente, sem adição de fermentos ou enzimas. Pelo contrário, o sumo das uvas colhidas à mão para o Vale da Capucha, repousa e fermenta naturalmente (com fermentos selvagens) nas borras a temperaturas relativamente quentes (cerca de 18 graus centígrados). Porquê? Porque Marques valoriza a textura e o corpo acima dos aromas, especialmente os caracteres liderados pelo éster, derivados do próprio processo de fermentação. É, acredita ele, uma forma “de distinguir os vinhos”. Além disso, ele pode permitir-se construir corpo e textura porque, como indica, ele tem o problema oposto à maioria em Portugal: a elevada acidez que mantém os vinhos Vale da Capucha tão animados.

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As caves velhas na Quinta de S. José – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Apesar de feitos a partir de vinhas relativamente novas, plantadas de castas que são novas à região, os vinhos de Marques mostram grande carácter e promessa. Se gosta de vinhos brancos texturados, liderados pelo terroir, a quinta deste produtor pensativo é uma a ter em atenção.

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Um enólogo pensativo, Pedro Marques do Vale da Capucha – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Vale da Capucha Pynga Viosinho 2010 (VR Lisboa)
Um pouco oleoso ou terpénico no nariz e no palato, o que irá dividir os provadores. É um pouco como o Retsina com esteróides, mas no bom sentido: cheio de carácter, com bom corpo/sensação de boca, combinado com a típica frescura no final: marca da quinta.

Vale da Capucha Pynga Selection 2010 (VR Lisboa)
Eu gosto deste blend salgado e apimentado de Gouveio, Arinto e Antão Vaz. Ligeiramente “alimonado”, com um carácter subtil vegetal de arbusto salgado ou funcho, tem uma boa e ácida espinha dorsal, para comprimento e estrutura.

Vale da Capucha Alvarinho 2012 (VR Lisboa)
Marques mostrou-nos três colheitas do seu Alvarinho. Foi interessante contrastar a firme estrutura ácida deste vinho, com a acidez mais sumarenta do Alvarinho dos solos graníticos do Vinho Verde. Nesta colheita, um pouco mais de idade das vinhas (que foram plantadas em 2007), dá um pouco mais de concentração à sua cúspide de ananás maduro, o que ajuda a equilibrar melhor a acidez. É um Alvarinho enérgico, fresco, com uma acidez mineral e calcária.

Vale da Capucha Gouveio 2013 (VR Lisboa)
Marques gosta particularmente desta uva pelo seu carácter subtil, quase neutro, mesmo durante a fermentação, diz ele. E eu consigo ver a atracção: coloca a ênfase na mineralidade de salmoura salgada da quinta, fazendo-me lembrar de comer perceves. Mais uma vez, o ácido é firme. Está longe de ser frutado, mas tem um toque de groselha e pêssego ao finalizar.

Vale da Capucha Arinto 2013 (VR Lisboa)
O Arinto é célebre pela sua alta acidez natural, por isso conseguem imaginar que, nesta quinta, vai estar no extremo elevado do contínuo. Na realidade, Marques planeia deixá-lo na garrafa durante pelo menos, um ano. Eu tenho que admitir que sou um pouco fanática por ácido, por isso sim, é novo, mas eu gostei imenso do look deste vinho firme, austero, calcário, mineral e cítrico. Mais uma vez, parece muito genuíno da quinta.

Vale da Capucha White 2012 (VR Lisboa)
Este blend 85/15 de Viosinho e Arinto lembra-me um pouco a uva austríaca Gruner Veltliner com o seu palato delineado, levemente especiado, de aromas vegetais. Um hábil corte de acidez cítrica, torna-o num vinho persistente. Muito bom.

Vale da Capucha Pygna Selection White 2012 (VR Lisboa)
Um blend 70/20/10 de Viognier, Arinto e Fernão Pires. Como seria de esperar, o Viognier domina o palato, com gengibre fresco e damasco. As especiarias são ampliadas pelo Fernão Pires. O único problema é ser um pouco curto: talvez seja preciso mais Arinto para persistência?

Vale da Capucha Fossil 2012 (VR Lisboa)
Eu e os meus colegas jornalistas do Reino Unido, temos imenso tempo para este vinho de nível de entrada. Abundantes caracteres trazem imenso retorno pelo investimento. Um palato carnudo e cremoso, deslindado pela acidez cítrica, revela pêssego branco e, uma vez que o provei o ano passado, espargo branco mais evoluído (atraente). Uma mineralidade implícita no final, leva-nos de volta à vinha. Muito bom: no ponto.

Vale da Capucha Reserva 2011 (VR Lisboa)
De forma semelhante, este blend de 53% Viosinho, 31% Arinto e 16% Antão Vaz está a evoluir bem, com bom peso e camadas para o palato e insinuações de espargo branco, num final longo e persistente. Grita por peixe ou frango e um molho cremoso. Adorável.

Vale da Capucha Tinto 2011 (VR Lisboa)
Este blend 55/45 de Touriga Nacional e Tinta Roriz foi pisado a pé, em lagares e envelhecido usando barricas. A Touriga dá uma elevação floral – violetas – ao nariz, que se mantêm num palato “ameixoado”, bem emoldurado por taninos maduros mas presentes e acidez fresca. Carvalho apetitoso dá uma nota fumada, de charcutaria, ao final. Para um vinho que se sente não forçado e tão definido, surpreendeu-me descobrir que pesa 15.3%! Marques explicou que teve que esperar que os taninos amadurecessem, daí o elevado nível de álcool, que ele habilmente mantém sob controlo, ao servi-lo a cerca de 14 graus centígrados.

Vale da Capucha Late Harvest 2013 (VR Lisboa)
Marques mostrou-nos três colheitas deste docinho, das quais eu gostei deste, a colheita mais tardia, a melhor. Ao contrário dos outros, tem um toque de Viognier na sua fruta de Viosinho e Arinto, o que parece completar o vinho: mais carnudo e mais longo, com acidez bem integrada, na sua saborosa fruta de maçã assada amanteigada.

Contactos
Vale da Capucha
Agricultura e Turismo Rural, Lda
Largo Eng.António Batalha Reis, 2
Carvalhal | 2565-781 Turcifal
Torres Vedras | Portugal
Telemóvel: (+351) 912 302 289/87  | (+351) 912 302 291
Site: www.valedacapucha.com

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