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Um Royal Flush da Vasques de Carvalho

Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Mendes

Nunca antes o Poker partilhou um pensamento com vinho do Porto. Pelo menos na minha cabeça. Mas, Royal Flush, foi o que me veio à cabeça quando a Vasques de Carvalho me revelou a sua mão inicial – os seus Tawny Ports de 10, 20, 30 e 40 anos, brilhantemente acondicionados.

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Estilo com substância da Vasques de Carvalho – Foto Cedida por Vasques de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

É uma estreia arrojada, topo de gama, num sector onde são bastante patentes as dificuldades de entrada. Pensem nisto, fundar uma nova Casa de vinho do Porto requer um stock mínimo de 150.000 litros, isto se, como a maior parte das Casas, a produção não for exclusivamente proveniente de vinhas próprias. Além disso, a entitulada Lei do Terço determina que, os produtores de vinho do Porto têm de manter em stock 3 vezes mais do que a quantidade que colocam à venda. Assim, e com esta tensão sobre o capital, pode dizer-se que as Casas de vinho do Porto não nascem da noite para o dia.

Então como é que a Vasques de Carvalho conseguiu? A resposta está na parceria por trás da marca. Em 2012 António Vasques de Carvalho herdou as adegas, os 6 hectares de vinhas muito velhas (mais de 80 anos) em Baixo Corgo e aproximadamente 45.000 litros de Portos velhos da sua família(incluindo um lote raro de Porto Tawny de 1880 que o seu avô, José Vasques de Carvalho, guardou em separado). Luís Vale da Kurtpace SA (uma empresa de construção), um amigo de longa data de António, injectou o capital, permitindo assim à Vasques de Carvalho aumentar o seu stock para o requisito mínimo de 150.000 litros. Além disso, a dupla começou a reconstruir a adega e a cave de barricas na Régua (sobre a qual António dorme, uma vez que a cave está situada por baixo de sua casa). A empresa também adquiriu outra adega em Pinhão que já conta com 75.000 litros a envelhecer em pequenos balseiros e tonéis, e também com 4 tonéis com capacidade para 40.000 litros.

O enólogo Jaime Costa está encarregue do portfólio. Tendo trabalhado durante 16 anos na Burmester, o já galardoado Enólogo de Vinhos Fortificados do Ano em 2005 pela Revista de Vinhos, está bastante entusiasmado por ter mais uma vez à sua disposição tão finos e raros vinhos do Porto envelhecidos. Depois das muitas notícias referentes aos Portos Tawny muito velhos, e caros, significa que os Portos Tawny estão finalmente a ter os seus dias de glória.

Para além dos Portos Tawny – a jóia da coroa da Vasques de Carvalho – o portfólio incluí também um vinho do Porto branco velho, um Vintage Port 2013 e vinhos do Douro (Oxum, X Bardos, Velhos Bardos Reserva). No próximo ano a empresa irá lançar a Late Bottled Vintage Port 2012, 880 garrafas de vinho do Porto Tawny muito velho 1880 e a primeira Aguardente Vínica DOC Douro. Apesar dos tintos do Douro, Oxum e X Bardos (ambos de 2012), não me terem impressionado, os Portos Tawny (os únicos Portos da Vasques de Carvalho que provei) impressionaram, especialmente o de 40 anos. A sua fantástica concentração e complexidade é indubitavelmente atribuída ao toque conferido pela presença da Vintage 1880, da qual a empresa mantém um considerável stock  – 1 tonél de 6.000 litros e duas barricas de 400 litros (estes últimos serão provavelmente para lançamento do Very Old Tawny do próximo ano. Jaime Costa disse-me que os 4 Tawnies são 90% provenientes de stocks velhos da Vasques de Carvalho e 10% de outros vinhos que a empresa comprou entre 2012 e 2014.

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Os Tawnies da Vasques de Carvalho em prova – da esquerda para a direita 10, 20, 30 & 40 anos – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Envelhecido no Douro (contrapondo com os climas mais frios e húmidos de Vila Nova de Gaia), o espectro de sabores dos Tawnies da Vasques de Carvalho é rico e escuro. Mas fiquei intrigada pelo seu requinte – um equilíbrio elegante, persistência (boa acidez) e integração suave e sedosa da aguardente vínica. Perguntei a Jaime Costa se isto seria, talvez, derivado da localizção da principal fonte de fruta (Baixo Corgo é relativamente frio e húmido). Concordou e respondeu “Acho que teve grande influência, porque as temperaturas para o envelhecimento não são tão altas como no alto Douro, e os vinhos ganham muito maior acidez, que será importante durante o envelhecimento e para equilibrar o nível de açúcar nos vinhos. Dessa maneira, obtém-se Tawnies consistentes que não causem enjoo enquanto bebemos vinhos do Porto velhos porque, como sabe, muitas vezes, os Tawnies velhos, por causa do açúcar, podem causar esse efeito.

Aqui estão as minhas notas de prova da gama de Tawnies da Vasques de Carvalho:

Vasques de Carvalho 10 Years Old Tawny Port – tom acastanhado e com ameixa seca e rica, figos, tâmaras secas caramelizadas e notas de frangipane no nariz, que persistem num palato sedoso e brilhantemente equilibrado com uma intensa ressonância nogada. Uma adorável frescura no final – não se sente que seja pesado apesar da riqueza do perfil de sabor. Um 10 anos com classe, concentrado, composto por vinhos entre os 7 e os 14 anos. 136g/l de açúcar residual. 20%

Vasques de Carvalho 20 Years Old Tawny Port – um tom de Tawny carregado mas muito brilhante, bastante vermelho no núcleo, com uma penumbra mais para o amarelo. Com laranja caramelizada no nariz e palato cítrico, é também frutado e elegante com amêndoas tostadas, geléia de pêssego e camadas de baunilha bourbon. Mais uma vez muito sedoso, com casca de cassia e um palato amadeirado intenso. É composto por vinhos entre os 12 e os 25 anos. 138g/l de açúcar residual. 20%

Vasques de Carvalho 30 Years Old Tawny Port – âmbar profundo, muito brilhante, com um nariz mais nogado do que o de 20 anos, não perdendo nada nos frutos secos – pêssego, figo seco, tâmaras, marmelada, bolo de mel, marzipan e notas de cravinho e casca de cassia. Na boca revela-se denso, camadas de um panforte concentrado com figo seco, nozes, especiarias e peles cítricas, bem como laranja de chocolate de leite e marmelada com pedaços. Notas de madeira atractivas (aquele carvalho apurado, aqui menos sabor a amêndoa e mais a noz) que estão bem integradas, tal como a sua aguardente vínica, que proporcionam um final longo, suave, intenso mas bem equilibrado. Composto por vinhos entre os 18 e os 40 anos. 131g/l de açúcar residual. 20%

Vasques de Carvalho 40 Years Old Tawny Port – Composto por vinhos envelhecidos entre 25 a 135 anos, e como isso se nota! O “40 anos” é um âmbar profundo no núcleo com bordas de açafrão que se esbatem para o verde azeitona. Notas de pastelaria de grande classe são abundantes num nariz e palato super complexos, ricos em mel e madalenas amanteigadas ricas em gemas de ovos, financier de amêndoa e panforte mais denso. Iodo subtilmente atenuante e notas de vinagrinho conferem tensão e ritmo – uma energia adorável. Sem qualquer sinal de secar, o final é fantasticamente persistente, muito nogado e muito cítrico com marmelada, pele de laranja cristalizada, e até laranjas caramelizadas (um testamento à sua frescura). Um requintado final a conhaque persiste bastante tempo. Delicioso. 144g/l açúcar residual. 20%

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Vinhos Vasques de Carvalho

Texto João Barbosa

Esquecendo a escala cósmica, um século é um sítio longínquo. Nesse tempo o mundo era a preto e branco… é o que se vê nas fotografias. Fora de brincadeira, atingir essa marca é para celebrar.

Não sendo absolutamente extraordinário, a verdade é que poucos humanos podem ou puderam dizer que chegaram ou ultrapassaram a barreira do século. Ainda há dias partiu o cineasta Manoel de Oliveira, aos 105 anos. Quem o conheceu diz que era uma pessoa de grande jovialidade – tal como estes vinhos.

Assim acontece com as empresas ou data de assentamento duma família num território. É na assinatura desse contrato que a história começa a contar. A companhia é jovem, criada em 2000, mas as raízes são seculares. A família Vasques de Carvalho estabeleceu-se em meados do século XIX no Vale do Rodo, onde hoje tem cinco hectares de vinha velha, plantada nos tradicionais em socalcos. Como a grande maioria dos agricultores do Douro, os Vasques de Carvalho vendiam o vinho às firmas de Gaia. Porém…

Porém, houve um ano em que José Vasques de Carvalho, bisavô do actual administrador, não abriu mão da colheita. O lavrador guardou tudo de 1880. É uma jóia, confirmando a visão desse lavrador oitocentista.

Ponto de ordem à mesa! O que já se pode conhecer? Além de Vinho do Porto, a Vasques de Carvalho apresenta uma gama de vinhos com denominação de origem Douro. Comum a todos eles, um perfil aromático muito elegante. Uma vez que as uvas brancas são compradas fora, penso que o desenho é arte do enólogo, Jaime Costa, de reconhecida competência. Todos eles muito frescos e elegantes.

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Oxum branco 2013 in vasquesdecarvalho.com

O Oxum Branco 2013 fez-se com uvas das castas viosinho, gouveio e rabigato. É bom vinho para tema de conversa entre enófilos apaixonados em debater os temas do nariz e da boca. Jaime Costa, que tem galões de general, refere «muito mineral, com notas frutadas de pêssego e citrinos maduros». Penso diferente e em concordância com o parceiro de prova: delicado sem ser frágil, com ramalhete de suave jasmim, flor de laranjeira e uma pitada de limão. A boca, infelizmente, fica aquém dos aromas. Cada qual escolha a sua, entre estas duas e outras hipóteses. Mas… belo vinho.

Ora, o branco foi onde mantive maior divergência quanto ao enólogo, que foi persistente nos Douro. Sinceramente, acho que escrever descritores é aborrecido e duvido que alguém vá comprar 0,75 litros de frutos vermelhos…

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Oxum tinto 2012 in vasquesdecarvalho.com

Oxum Tinto 2012 mantém o apetite. Elegante e prazenteiro, com o Douro dentro e uma elegância acima da média. Acima fica o X Bardos Tinto 2012, robusto como um cavaleiro e de bom trato, com notável fundura de boca.

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X Bardos branco 2012 in vasquesdecarvalho.com

Os Tawnies provados divergem entre si. Ah! A elegância aromática estende-se a estes vinhos. A divergência é que esperava bem mais do Tawny 10 anos. Penso que pode ser melhorado.

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Vasques de Carvalho 10 anos Tawny in vasquesdecarvalho.com

Dez anos não são 40, comparáveis em exercício intelectual. O Vasques de Carvalho 40 anos é um vinhaço. Um vinhaço! Um vinhaço! Um vinhaço!

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Vasques de Carvalho 40 anos Tawny in vasquesdecarvalho.com

Votos de sucesso, pois que produtores deste nível são sempre benvindos – recuso-me a escrever bem-vindos, por falta de lógica. Pois… já me esquecia… a firma porá à venda 750 garrafas do vinho de 1880. Uns milhares de litros do tesouro vão continuar sossegados nos tonéis. Um vinho com «tudo» dentro. Só vendo com nariz e boca.

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