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Wine Magazine
Tipos e Categorias de Vinhos

Texto Patrícia Leite 

Podemos encontrar no mercado vinhos de tipos diferentes, que podem ter a mesma marca e até apresentação semelhante: Vinhos com DO, Vinhos com IG e Vinhos sem proveniência geográfica definida. Em cada um destes tipos de vinhos, podemos ainda encontrar categorias diferentes: Licorosos, Frisantes, Espumantes e Tranquilos. Para compreender a linguagem vínica e poder escolher de forma informada, é fundamental conhecer os tipos e as categorias de vinhos e as diferenças entre elas.

Legenda
DO: Denominação de Origem;
IG: Indicação Geográfica;
Região Demarcada: uma área vitícola que produz produtos vitivinícolas com características qualitativas especiais e cujo nome é utilizado para designar uma DO;
Bar: unidade de medida de pressão utilizada nos vinhos para medir a sobrepressão devida ao dióxido de carbono.
Classificação legal dos vinhos

Quanto à tipologia, a lei comunitária classifica desde 2009 os vinhos em “Vinhos com Denominação de Origem (DO)”, “Vinhos com Indicação Geográfica (IG)” e “Vinhos sem DO e sem IG”.

Os “Vinhos com DO” provêm de uma Região Demarcada e cumprem os requisitos da respectiva DO, quanto ao teor alcoólico, às castas utilizadas, aos métodos de vinificação, às práticas enológicas, às características organolépticas (cor, limpidez, aroma e sabor), entre outros requisitos.

Antes de 2009 os “Vinhos com DO” eram classificados como “VQPRD” (Vinhos de Qualidade Produzidos em Região Determinada), “VEQPRD” (Vinhos Espumantes de Qualidade Produzidos em Região Determinada), “VFQPRD” (Vinhos Frisantes de Qualidade Produzidos em Região Determinada) e “VLQPRD” (Vinhos Licorosos de Qualidade Produzidos em Região Determinada).

Os “Vinhos com IG”, habitualmente designados em Portugal como “Vinhos Regionais”, provêm de uma determinada área de produção e cumprem os requisitos da respectiva IG.
Antes de 2009 os “Vinhos com IG” eram classificados como “Vinho de Mesa com IG”.

Por fim, os “Vinhos sem DO e sem IG”, também designados apenas “Vinhos”, não têm uma origem geográfica específica e, antes de 2009, eram classificados como “Vinhos de Mesa”.

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A legislação comunitária define ainda as categorias de vinhos. Estas categorias estão também definidas na primeira parte do “Código Internacional de Práticas Enológicas” elaborado pela OIV – Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), uma organização intergovernamental de natureza científica e técnica que actua como uma entidade de referência no sector vitivinícola. Este código é uma referência técnica e legal que visa a normalização dos produtos do sector vitivinícola e que deve ser usado como base na definição das normas nacionais e supranacionais, bem como deverá ser respeitado no comércio internacional.

As principais categorias de vinhos são as seguintes: Vinho Tranquilo, Vinho Espumante, Vinho Frisante e Vinho Licoroso. Estas categorias podem existir em “Vinhos com DO”, em “Vinhos com IG” e também em “Vinhos sem DO e sem IG”. Em cada um destes tipos e categorias, o vinho pode ser Branco, Tinto ou Rosado/Rosé.

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Para além destas menções, podemos também encontrar nos rótulos portugueses as seguintes menções, entre outras:
– a menção “Vinho branco de uvas tintas”, quando se trate de vinhos tranquilos e vinhos espumantes obtidos exclusivamente de uvas tintas;
– a menção “Clarete”, se estivermos perante um vinho tinto pouco colorido com um teor alcoólico não superior em 2,5 % vol. ao limite mínimo legalmente fixado para a categoria ou para a DO/IG;
– a menção “Palhete” ou “Palheto”, quando se trate de um vinho tinto, obtido da curtimenta parcial de uvas tintas ou da curtimenta conjunta de uvas tintas e brancas, não podendo as uvas brancas ultrapassar 15% do total.

E existem ainda na rotulagem dos vinhos portugueses com DO ou IG outras menções, designadas menções tradicionais, tais como “Colheita Seleccionada”, “Escolha”, “Superior”, “Reserva”, “Garrafeira”, “Colheita Tardia”. Abordaremos estes designativos num artigo posterior.

Definição de cada categoria

As categorias atrás referidas são definidas na lei comunitária de acordo com características técnicas que as distinguem entre si.

O Vinho Tranquilo é obtido exclusivamente por fermentação alcoólica; tem um teor alcoólico de 8,5% vol. ou 9% vol., dependendo da zona vitícola, a 15% vol.; se se tratar de um “Vinho com DO” ou “Vinho com IG”, o teor alcoólico situa-se entre os 4,5% vol. e os 15% vol.; o limite máximo de teor alcoólico pode atingir 20% vol. para vinhos produzidos sem qualquer enriquecimento provenientes de determinadas zonas vitícolas especificamente definidas e pode exceder 15% vol. para “Vinhos com DO” produzidos sem enriquecimento; tem uma sobrepressão devida ao dióxido de carbono até 1 bar.

Em linguagem corrente, pode dizer-se que são tranquilos os vinhos «sem gás» e também os vinhos «com algum gás», como os vinhos com a DO Vinho Verde.

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Imagem cortesia de Carlos Porto – in FreeDigitalPhotos.net

O Vinho Espumante é obtido por primeira ou segunda fermentação alcoólica e preparado a partir de vinho de base com teor alcoólico mínimo de 8,5% vol.; tem uma sobrepressão devida ao dióxido de carbono igual ou superior a 3 bar e liberta dióxido de carbono proveniente exclusivamente da fermentação.
Por seu lado, o Vinho Espumante de Qualidade difere da categoria Vinho Espumante no que se refere ao teor alcoólico mínimo, que é de 9% vol., e à sobrepressão devida ao dióxido de carbono, que é igual ou superior a 3,5 bar.

Em linguagem corrente, podemos dizer que um Vinho Espumante/Vinho Espumante de Qualidade é um vinho «com muito gás».

Como exemplo de Vinhos Espumantes com DO, temos os espumantes “Champagne” (França), os “Cava” (Espanha), os “Bairrada” ou os “Dão” (Portugal). Desta forma, apenas devemos designar um Vinho Espumante como “Champagne” quando efectivamente estamos perante um vinho espumante dessa Região Demarcada ou DO.

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Imagem cortesia de Paul  – in FreeDigitalPhotos.net

Existem ainda mais duas categorias de Espumantes – o Vinho Espumante Gaseificado e o Vinho Espumante de Qualidade Aromático:
– O primeiro é obtido a partir de “Vinho sem DO e sem IG”, tem uma sobrepressão devida ao dióxido de carbono igual ou superior a 3 bar e liberta dióxido de carbono proveniente total ou parcialmente de uma adição desse gás;
– O segundo é um vinho espumante de qualidade, obtido a partir de castas específicas, tem uma sobrepressão devida ao dióxido de carbono igual ou superior a 3 bar e cujo teor alcoólico não pode ser inferior a 6 % vol..

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Imagem cortesia de Gualberto107 – in FreeDigitalPhotos.net

O Vinho Frisante é, em termos gerais, obtido a partir de vinho, tem um teor alcoólico mínimo de 7% vol. e uma sobrepressão devida ao dióxido de carbono endógeno entre 1 bar e 2,5 bar.
Em linguagem corrente, pode dizer-se que um Vinho Frisante tem «mais gás» do que o Vinho Tranquilo e «menos gás» do que o Vinho Espumante/Vinho Espumante de Qualidade.
Existe ainda o Vinho Frisante Gaseificado, o qual difere do primeiro no que toca à sobrepressão que é devida ao dióxido de carbono acrescentado total ou parcialmente.

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Por fim, o Vinho Licoroso é, em termos gerais, obtido a partir de mosto de uvas parcialmente fermentado, vinho ou uma mistura desses produtos e tem um teor alcoólico de 15% vol. a 22 % vol.; é objecto da adição, isolada ou em mistura, de álcool neutro de origem vitícola e destilado de vinho ou de uvas secas; no caso de “Vinho com DO” ou “Vinho com IG”, os produtos adicionados podem ser, em alternativa aos atrás referidos, álcool de vinho ou de uvas secas, aguardente de vinho ou de bagaço e/ou aguardente de uvas secas.

Como exemplo de vinhos licorosos com DO portugueses, temos o “Porto” e o “Madeira”.

De notar que, por vezes, os Vinhos Tranquilos, Espumantes e Frisantes são genericamente chamados “Vinhos de Mesa” no comércio internacional, em oposição aos Vinhos Licorosos, também chamados genericamente “Vinhos Fortificados”.

Os Vinhos Enosexuais da Quinta das Bágeiras

Texto Ilkka Sirén | Tradução Patrícia Leite

A Bairrada poderá ser uma das regiões vitivinícolas menos conhecidas em Portugal. Para muitos é apenas um ponto preto no mapa. As pessoas de facto não parecem saber o que esperam quando bebem um vinho da Bairrada. O que dificulta ainda mais as coisas é o facto de não ser muito fácil chegar aos bons vinhos.

A casta tinta rainha da região é a Baga, que é na minha opinião uma das castas mais bonitas no planeta Terra. Quando um Baga é bem feito e um pouco envelhecido, pode enganar qualquer um numa prova cega, passando por um vinho top Nebbiolo de Piemonte. As castas brancas incluem Bical e Maria Gomes (Fernão Pires). A Bairrada também é conhecida por produzir um vinho espumante agradável. Mas se está à procura de carácter e não quer ficar entediado em provas estéreis, há um produtor na Bairrada de visita obrigatória, a Quinta das Bágeiras.

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Mário Sérgio Alves Nuno – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Mário Sérgio Alves Nuno é o proprietário e o enólogo “extraordinaire” desta quinta única. Na primeira vez que o conheci, ele fatiou e cortou um leitão inteiro com aquelas tesouras grandes mesmo à minha frente e serviu-mo como almoço. Foi amor à primeira vista. A propósito, o leitão da Bairrada é extremamente saboroso. Só isso já é um bom motivo para visitar a região.
Mário Sérgio produz tudo, desde vinho espumante até aos tintos. Também faz um vinagre espectacular, do qual me ofereceu uma garrafa na minha última visita. Há pouco tempo acabei-a e quase chorei. Preciso de mais desse vinagre o mais rápido possível.
Os vinhos são conhecidos por serem muito bons e têm uma personalidade distinta. Se procura vinhos frutados fáceis de beber, deve fugir a correr e a gritar numa outra direcção.
A adega está cheia daquelas colunas de garrafas inclinadas que desafiam a gravidade. Mas o braço direito de Mário, o senhor do chapéu engraçado, diz que elas nunca caiem. Felizmente os terramotos são raros na região.
A Quinta das Bágeiras faz também parte de um grupo de produtores chamado Baga Friends, que reúne Buçaco, Niepoort, Filipa Pato e alguns outros. Se estiver interessado em aprender mais sobre os vinhos da Bairrada e especialmente sobre a casta Baga, deve provar os vinhos deste gangue de enólogos talentosos.

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Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Quinta das Bágeiras Garrafeira Branco 2012
O vinho é bastante fechado no início, o que não me surpreendeu nada. Aprendi a esperar estes aromas de libertação lenta de praticamente todos os vinhos Bágeiras. Depois de 20 minutos no copo, o vinho abriu e ficou com muito charme. Na boca, o vinho é muito bem estruturado. Acidez soberba e sabores de pêra e citrinos. É definitivamente um vinho digno de envelhecimento que podemos esquecer na adega por um tempo. Notável.

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Quinta das Bágeiras Garrafeira Branco 2012 | Quinta das Bágeiras Pai Abel Branco 2010 – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Quinta das Bágeiras Pai Abel Branco 2010
No momento em que abri a garrafa, gritei “merengue!”. Este vinho tem aquele aroma inconfundível, forte e voluptuoso, que quase me faz lembrar de alguns vinhos Meursault. No aroma parece um pouco como se alguém deixasse cair um palheiro na nossa cabeça e nos cobrisse de maçãs doces. Humm, parece uma cena do CSI. Talvez eu não tenha aproveitado a minha vocação como redactor da TV Hollywood? Outra vez, uma acidez de fazer crescer água na boca e alguns sabores a nozes. O vinho é bastante rico em textura, mas no final muito fresco. Já tem alguma idade e parece estar a evoluir muito bem, mas ainda pode continuar a evoluir por cerca de uma década.

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Photo by Ilkka Sirén | All Rights Reserved

Contacts
Mário Sérgio Alves Nuno
Fogueira – 3780-523 Sangalhos
Bairrada – Portugal
Tel: +351 234 742 102
Fax: +351 234 738 117
Site: www.quintadasbageiras.pt/
Email: quintadasbageiras@mail.telepac.pt

Ideal Drinks – Belcanto

Texto José Silva

A Ideal Drinks é uma empresa que já nos habituou a um nível de qualidade superior, com uma imagem cuidada, uma comunicação moderna e eficaz, que gosta de juntar a tudo isto o factor surpresa, que é também uma prova da dinâmica que põe em tudo o que faz. E o que faz acima de tudo são vinhos extraordinários!

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Vinhos – Foto de Blend All About Wine | Todos os Direitos Reservados

Foi assim que rumamos a Lisboa, mais propriamente ao Chiado, onde a equipa chefiada pelo Engº. Carlos Lucas apresentou algumas novidades, desta vez no mais recente espaço do chefe José Avilez, a que chamou “Mini Bar”, ali mesmo na rua António Maria Cardoso, bem no centro do Chiado. É um bar em estilo inglês onde se apreciam bebidas muito variadas e se comem petiscos com a marca do chefe José Avilez.

Foi ali mesmo que foram apresentados os três novos vinhos da Ideal Drinks: o branco Colinas 2009, um bairradino cheio de elegância, com um nariz fantástico, sedoso, cheio e sedutor, e uma boca cremosa, com belo volume, quase fumada, muito boa acidez, aveludada e fina.

O primeiro tinto foi o Principal Reserva de 2010, um tinto internacional sempre muito bem feito, com Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon e Merlot, nariz intenso e ao mesmo tempo elegante, com boa fruta madura, boca cheia de estrutura, com alguma intensidade, acidez equilibrada, taninos finos e bem integrados e um final longo e persistente.

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Vinhos – Foto de Blend All About Wine | Todos os Direitos Reservados

Finalmente a novidade da noite, uma estreia mundial, o Quinta da Curia de 2010, um tinto extraordinário feito com uvas de uma única vinha situada na Curia, com Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon e Syrah. Um tinto com aromas de frutos vermelhos bem maduros, algum floral, ligeiramente mentolado, muito fino e elegante, e uma boca cheia de intensidade, sedoso, notas de fumo, de frutos vermelhos, óptima acidez e muita frescura num vinho com volume, gordo, um tinto com raça.

São vinhos relativamente caros mas cujo publico alvo está em países com maior poder de compra e com clientelas apreciadoras de coisas diferentes. Ao mesmo tempo que o Engº. Lucas fazia a apresentação destes novos vinhos, o chefe José Avilez foi servindo pequenos petiscos com a sua assinatura: caipirinha em forma de uma esfera gelada que rebenta na boca e espalha os paladares da caipirinha, as azeitonas explosivas que se esmagam contra o céu da boca e a invadem com paladares de azeitona, e o Ferrero Rocher, que parece isso mesmo mas na verdade é uma esfera de foie gras divinal, ou umas gambas do Algarve quase cruas em ceviche, servidas em cima duma lima cortada a meio, seguindo-se um corneto temaki de tártaro de atum com soja picante e umas vieiras salteadas com sabores Thai.

Mas era tempo do jantar, e saímos deste bar para fazer, a pé, o pequeno trajecto que o separa do restaurante Belcanto, onde foi servida a refeição completa. Uma casa de bem comer que está muito bem decorada, onde a madeira é a nota omnipresente, com duas salas separadas por pequeno corredor que nos obriga a apreciar a cozinha aberta, onde a equipa do chefe Avilez se aprimora para que nada falhe. E nunca falha!

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Colinas Bruto Rosé 2009 – Foto de Blend All About Wine | Todos os Direitos Reservados

Mesas muito bem aparelhadas, com requinte, e serviço profissional, impecável, bem dirigido, simpático, sempre presente, como deve ser. Depois das boas vindas do chefe, a refeição começou, com o espumante Colinas Bruto Rosé 2009 a ser servido na temperatura certa, cheio de elegância e requinte, ao mesmo tempo que era servido um pão de azeitona delicioso e três manteigas em esfera, óptimas: manteiga tradicional dos Açores, manteiga fumada e manteiga de nozes.

O Principal Rosé 2010 já estava servido quando veio o torricado de cavala fumada em escabeche, numa mescla de aromas e paladares deliciosa, o fumado do peixe a ligar muito bem com o avinagrado do escabeche, e a ligar na perfeição com o vinho, uma boa escolha.

E já estava no copo o branco Eminência Loureiro 2010, um vinho desta casa já bem conhecido, quando veio para a mesa o cozido à portuguesa, uma “provocação” do chefe, um falso cozido preparado com legumes bébé, onde se destacava o paladar do nabo e um pouco de toucinho gordo, a dar textura e paladar intenso ao conjunto.

Começaram aqui a ser servidos os tintos, em primeiro o Principal Reserva de 2010, que já tínhamos provado e que esteve muito bem com o prato. Seguiu-se outro prato, pataniscas de bacalhau, tomatada e samos de coentrada, um conjunto complexo mas muito bem conseguido, as pataniscas a revelarem ser uns deliciosos filetes de bacalhau, fofos e apaladados, a tomatada a ligar bem com a estrutura gelatinosa dos samos, muitíssimo bom. O Quinta da Curia 2010 foi um óptimo companheiro do leitão, com a sua estrutura, mas acima de tudo a sua acidez, perfeito.

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Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

O leitão revisitado estava delicioso, na companhia dum puré fino de laranja, um taco de folhas de alface e um pequeno saquinho que parecia de plástico mas era para comer, com sabores citrinos e umas pequenas batatas fritas às rodelas, saborosas e crocantes. O naco de leitão, baixinho, de pele estaladiça, estava muito bem temperado, lembrava bem a sua versão bairradina tradicional.

Terminou-se com uma sobremesa ao jeito do chefe Avilez, um conjunto elegante de citrinos e doce de ovos, numa paleta de cores deliciosa, que se manifestava intensamente na boca. Muito bom! Que acompanhou com o último vinho da noite, o espumante Colinas Brut Reserva de 2010, sedoso, intenso, cremoso na boca, com óptima acidez, seco e muito elegante.

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Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Grande refeição, em muito boa companhia, num restaurante de eleição. Não admira que possua uma estrela do prestigiado “Guia Michelin”.

Lá fora, a noite estava amena, a convidar a um passeio pela cidade de Lisboa.

Contactos:
Ideal Drinks, S.A.
Quinta do Seminário, Casais
P-3045-161 Coimbra
Phone: +351 231 528 312
Email: geral@idealdrinks.com
Site: www.idealdrinks.com

Belcanto
Largo de São Carlos, 10
1200-410 Lisboa
Phone: +351 213 420 607
Site: belcanto.pt

 

Independent Winegrowers’s Association, uma década ao sabor da excelência

Texto João Pedro de Carvalho

O grupo de amigos, composto por Luís Lourenço (Quinta dos Roques – Dão), Luis Pato (Luis Pato Wines – Bairrada), Pedro Araújo (Quinta do Ameal – Vinhos Verdes), João Pedro Araújo (Casa de Cello – Vinhos Verdes/Dão) and Domingos Alves de Sousa (Alves de Sousa – Douro) decidiu criar um grupo (IWA) com o objectivo de fazer uma promoção conjunta em mercados externos. Todos eles são bons exemplos de produtores de excelência, com carácter vincado e cujos vinhos são fiéis às regiões que representam.

A IWA comemorou no passado dia 10 de Maio o seu 10º Aniversário. A reunião anual teve lugar em Lisboa, tendo sido apresentadas as últimas novidades a lançar para o mercado. Foi um grande privilégio poder provar numa só tarde o que de melhor Portugal (ou parte dele) tem para oferecer.

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White Wine Commemorative Edition of 10 years IWA – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Uma viagem em formato de prova que começou na região dos Vinhos Verdes, desde a mineralidade vincada dos SanJoanne da Casa de Cello aos perfumes e encantos dos Loureiro da Quinta do Ameal. Descendo um pouco entramos nas terras do Douro com os Alves de Sousa, vinhos terrosos e vincados pelo terroir, como o Quinta da Gaivosa ou o Abandonado, perdidos no tempo como o fabuloso Porto Tawny 20 Anos.

É da região do Dão que nos chegam os Quinta dos Roques que nos acariciam o palato com a seda vermelha do Roques Garrafeira ou com a suculenta frescura da fruta vermelha do Roques Reserva. Ainda no Dão e sem ficar esquecido, o Superior da Quinta da Vegia mostra toda a beleza da região no copo e ao seu lado o Vegia Reserva, mais austero e pronto para as curvas do tempo. A jornada termina na Bairrada, onde Luís Pato nos brinda com uma Baga de referência, proveniente da Vinha Barrosa ou com a delicadeza e os encantos que o branco da Vinha Formal promete revelar com o tempo.

No fim, ao olhar para o trajecto percorrido e para o que foi provado, ficamos com a convicção de que provámos vinhos de grande qualidade que merecem ser conhecidos, capazes de brilhar muito alto em qualquer parte do mundo.

Quinta de Sanjoanne Alvarinho 2013 (Regional Minho)

É uma novidade do produtor, um Alvarinho tenso e mineral, fruta limpa sem fruta tropical em excesso, tenso e com muito boa frescura. Na boca muito sabor na passagem pelo palato, mineral em fundo com sumo de fruta pelo meio, secura limonada em final de boa persistência. Cheio de detalhe e bonito rendilhado, um Alvarinho cuidado e refinado que fará as delícias a acompanhar umas amêijoas ou mexilhões ao natural.

Quinta da Vegia Superior 2007 (DOC Dão)

Um tinto de respeito que andou “esquecido” mas bem guardado pelo produtor. Chegada a hora de o lançar no mercado o vinho é pura elegância e charme, complexidade numa fruta fresca e viva, leve toque de geleia com todo o ambiente característico dos grandes vinhos do Dão.

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Quinta Sanjoanne Alvarinho 2013 | Luis Pato Vinha Formal Branco 2013 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Abandonado 2009 (DOC Douro)

De uma vinha abandonada nasceu o Abandonado, um topo de gama da região que conquista pelo seu perfume de violetas, menta e fruta suculenta com toque doce , tabaco, muita frescura e uma estrutura de luxo. Amplo e muito saboroso, cativa pela elegância e por uma passagem no palato rica e cheia de sabores de enorme presença. Final longo e apimentado.

Quinta da Gaivosa Porto 20 Anos Tawny (Vinho do Porto)

O lote tem uma média de idade de vinte anos mas sente-se no imediato que ali moram vinhos muito velhos e de grande qualidade. Complexidade e elegância que nos dão vontade de repetir sempre mais um pouco. O resto são os aromas e sabores clássicos associados a este tipo de vinhos de grande qualidade. Macio na boca, revela um final longo e especiado.

Luís Pato Vinha Formal branco 2013 (Regional Beiras)

Ano após ano afirma-se como uma referência da região e do produtor. Um branco que gosta de envelhecer e que a prova no imediato está plena de energia. Amplo de fruta rechonchuda, flores amarelas, pólen, tudo junto e num plano complexo e delicado. A boca complementa o nariz, sempre naquele travo mais seco e com um final com a fruta amarela bem madura acompanhada de flores.

Luís Pato Vinha Barrosa 2011 (Regional Beiras)

A casta Baga ao mais alto nível. Mais sério e com mais austeridade que o Vinha Pan, o Barrosa consegue no imediato conquistar pela sua complexidade e riqueza aromática. Todo ele é um luxo, pela pureza de aromas e pela forma como o balsâmico e a rama de tomate se junta à fruta escura e suculenta (cereja, mirtilos pretos). Revela ainda um toque de pimenta num conjunto ainda muito novo, mas que dá no imediato uma prova de extraordinária a acompanhar um estufado de javali.

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Luis Pato Vinha Pan 2010 | Luis Pato Vinha Barrosa 2011 | Luis Pato 2009 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Quinta do Ameal Clássico 2013 (Vinho Verde)

Um vinho de compêndio daquilo que é um grande Loureiro. Fresco, charmoso e conquistador, o que lhe advém da qualidade e definição dos seus aromas e sabores. Tudo em HD, conquista pela frescura e mineralidade que marca o palato, associados à fruta envolta em calda que faz as delícias na sua prova de boca.

Quinta do Ameal Escolha 2012 (Vinho Verde)

O topo de gama da casa, o mais sério e que menos tem a dizer enquanto novo. Sente-se austeridade no trato, folha de louro ainda verde, fruta limpa e madura, grande estrutura suportada pela madeira por onde passou. Fundo mineral num vinho com muito tempo de vida pela frente.

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Quinta do Ameal Escolha 2004 | Quinta do Ameal Loureiro 2004 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Quinta dos Roques Bical 2013 (DOC Dão)

Branco de apenas 1200 garrafas, uma aposta muito especial do produtor, num vinho delicado e muito fresco, aromas de flores, fruta branca, limpeza de aroma com tudo a parecer um perfume de menina. Na boca convence pela acidez e pela presença da fruta delicada em final persistente.

Quinta dos Roques Reserva 2011 (DOC Dão)

Tenho o Roques Reserva 2005 como dos vinhos que mais prazer me tem dado nos últimos tempos. Agora saiu o 2011 e o encanto continua ao mais alto nível, o vinho é suculento, apetecível, com uma fruta vermelha que apetece trincar de tão madura e limpa que está. Amparado por uma madeira muito bem integrada, apresenta um belo corpo num vinho que mostra aquela secura de fundo em conjunto com a frescura, toque de alecrim e pinheiros da região.

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Quinta dos Roques Encruzado 2013 | Quinta dos Roques Malvasia-Fina 2013 | Quinta dos Bical 2013 | Maias 2013 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Vinho Branco Edição Comemorativa dos 10 anos IWA (Vinho)

Branco comemorativo no qual foram utilizadas castas brancas, uma por cada produtor. Dessa forma o lote de nome LARBE (Loureiro, Alvarinho, Rabigato, Bical e Encruzado) que deu origem a 1200 garrafas. Vinho delicado, com frescura e boa complexidade, onde se sente uma vontade de crescer em garrafa. Boa mineralidade na boca com presença de frescura e cocktail de fruta.

Contactos
IWA
Av. da Boavista, 1607 – 5º Dto.
4100-132 Porto, PORTUGAL
Tel: (+351) 226 095 877
Website: www.iwa.pt

Festa do Vinho na Quinta da Boeira

Texto José Silva

Embora com um atraso considerável, pois já deveria estar pronta há cerca de um ano, foi finalmente inaugurada aquela que é considerada a maior garrafa de vinho do mundo. Foi construída em fibra de vidro, nos jardins da Quinta da Boeira, em Vila Nova de Gaia, tem 32 metros de comprimento e 9,5 metros de diâmetro e uma capacidade para albergar cerca de 150 pessoas. Está inserida num evento a que se chamou “Portugal In A Bottle”, que vai decorrer até 27 de Setembro de 2014.

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“Portugal in a bottle” – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Dentro desta garrafa, que pretende ser um museu vivo de homenagem ao vinho português, percorre-se o país vinícola através dum filme 3D e da promoção e comercialização de vinhos, gastronomia e artesanato que vai atrair um público interessado, entre nacionais e estrangeiros. E mesmo dentro da garrafa gigante vão decorrer provas de vinhos das várias regiões.

O “Parque Natural da Quinta a Boeira-Arte e Cultura” é o resultado da recuperação duma antiga quinta de que fazia parte um velho armazém de vinho do Porto, agora adaptado a outras funções. O espaço é dominado pela enorme mansão senhorial, erguida no meio dum jardim fantástico, rodeado de enorme muro, a dar-lhe uma privacidade muito própria. Um local tranquilo de rara beleza, com um pequeno lago e arvoredo luxuriante, para passar momentos de lazer, com um restaurante a funcionar todos os dias e uma zona para serviços maiores, usufruindo sempre de todo o complexo turístico, que inclui um parque de estacionamento.

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Quinta da Boeira – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Pois foi neste espaço fantástico que decorreu, entre os dias 30 de Maio e 1 de Junho, o “Portugal Wine Trophy – Portugal Grand Gold”, uma organização da Deutche Wein Market. É um concurso mundial que tem em Berlim, na Alemanha, duas edições anuais e que passa também por Seul, na Coreia do Sul, onde se realiza o “Asia Wine Trophy”.

Agora veio a Portugal, trazido pela mão da administração da Quinta da Boeira. Este prestigiado concurso tem o patrocínio do OIV e do UIOE, conhecidas pelo rigor que colocam no contrôle deste tipo de eventos. Neste primeiro “Portugal Wine Trophy” estiveram 60 jurados, 40% dos quais portugueses, que provaram 1.012 vinhos de todo o mundo e cujos resultados serão conhecidos mais tarde.

Os júris estrangeiros foram recebidos em Vila Nova de Gaia com a habitual hospitalidade portuguesa, visitaram as caves de vinho do Porto e alguns produtores de vinho. E puderam apreciar o enorme movimento de turistas nas cidades do Porto e Gaia, em divertidos momentos de lazer, em que não faltou a gastronomia tradicional do norte do país.

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Armazém Quinta da Boeira – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

As provas decorreram no velho armazém de vinho do Porto da Quinta da Boeira, que oferece condições fantásticas de tranquilidade e temperatura para este tipo de provas, apoiado por profissionais competentes que estiveram à altura, quer na abertura e tratamento das garrafas – as temperaturas adequadas são fundamentais – quer no serviço dos vinhos aos júris, onde o timing é precioso. Provaram-se vinhos de todo o mundo, incluindo Portugal e foram atribuídas muitas medalhas de prata e de ouro e algumas na qualidade de grande ouro, o que revelou o nível dos vinhos em concurso.

O balanço, a julgar pelas opiniões gerais dos convidados estrangeiros e dos responsáveis alemães da organização, foi muito positivo, e tudo indica que para o próximo ano a Quinta da Boeira poderá receber novamente este prestigiado concurso, provavelmente ainda com maior número de vinhos em prova.

A maior garrafa de vinho do mundo ali continuará, entretanto, a divulgar a qualidade dos produtos portugueses.

 

Contactos
Rua Conselheiro Veloso da Cruz, nº. 608
Rua Teixeira Lopes, nº. 114
440-320 Vila Nova de Gaia
Tel: (+351) 223 751 338
Telemóvel: (+351) 961 360 897
Email: quintaboeira@sapo.pt
Site: www.quintadaboeira.pt

Os vinhos Atlânticos da Ilha do Pico (Açores)

Texto João Pedro de Carvalho

De todas as regiões demarcadas em Portugal os vinhos oriundos dos Açores são com toda a certeza os mais esquecidos, os menos discutidos, os menos divulgados e os que menos vezes chegam à mesa dos consumidores. No entanto a situação está a mudar e assiste-se a um esforço das entidades locais, entre produtores/CVR para que estes vinhos sejam encarados/consumidos de forma mais habitual.

Focando apenas na Ilha do Pico, são vinhos que nascem sensivelmente a meio do Atlântico, em solos de lava que marcam a paisagem da ilha e que a população local diferencia entre “lajidos” e “terras de biscoito” (Ilha Terceira). É uma região peculiar, moldada pelo ser humano nos famosos “currais”, Património Mundial da Humanidade pela Unesco, que isolada de tudo se tornou depósito natural de castas únicas e diferenciadoras (cheiros e sabores) levadas pelos colonos.

Copo de vinho em “Vinhos do Pico” – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Destacam-se três castas, o Arinto dos Açores que é diferente do Arinto de Bucelas, o Verdelho que foi a primeira casta implantada na ilha e idêntico ao da Madeira mas diferente do encontrado em Portugal Continental e o Terrantez do Pico, distinto do Terrantez da Madeira e do que se encontra no Dão.

Durante anos o mais famoso vinho da Ilha do Pico foi o licoroso, cuja principal característica é a não adição de aguardente, hoje em dia a oferta é mais vasta e estende-se por brancos frescos, de travo salino/mineral em conjunto com licorosos que oscilam entre o perfil mais seco ou mais doce, capazes de surpreender pela diferença.

Alguns dos Vinhos Provados – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Uma prova de contrastes, surpresas e comparativos onde a forte ligação à mesa com peixe e marisco se tornou mais que evidente. Contou com as presenças dos produtores Maria Álvares (Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico), Marco e Rui Faria (Curral de Atlântis), Paulo Machado (Insula Vinhos) e Fortunato Garcia (Vinho Czar), foi conduzida pelo enólogo António Maçanita (Fita Preta).

Curral Atlântis Arinto dos Açores Colheita Selecionada 2013 (IG Açores)
Muita frescura, toranja, lima, folha de limoeiro, salino, menos expressivo que o Verdelho. Muita energia no palato, frescura, sumo de citrinos maduros, mineralidade em conjunto com bom final de boca.

Curral Atlântis Verdelho Colheita Selecionada 2013 (IG Açores)
Marcado pelo toque mais tropical da fruta, cheio e maduro, fresco e salino, envolvente com nota de pederneira. Boca com frescura, vegetal fresco com fruta tropical, seco no final mediano.

Curral Atlântis Verdelho/Arinto dos Açores Colheita Selecionada 2013 (IG Açores)
Aroma de fruta tropical com citrinos maduros, boa frescura, muito limpo, notas de um Verdelho mais gordo e redondo que abraça o Arinto mais ácido e cortante. Conjunto com harmonia entre castas num vinho claramente feito para a mesa.

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Arinto dos Açores by António Maçanita 2013 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Arinto dos Açores by António Maçanita 2013 (DO Pico)
Frescura num conjunto marcado pelo detalhe da fruta limpa (citrinos) e delicada, toque salino, todo muito equilibrado e a dar uma prova muito agradável. Na boca é fresco, salino, muito citrino presente com final persistente.

Insula Private Selection 2013 (IG Açores)
Feito com Arinto dos Açores, carácter vincado num vinho tenso e com muito vigor, notas de pederneira ao lado de fruta limpa e madura, toranja e limão. Boca com austeridade mineral, quase salino, fruta madura a envolver num final de boca seco e prolongado.

Frei Gigante Reserva 2012 (DO Pico)
Um perfil diferente do normal, blend de Arinto dos Açores com Verdelho e Terrantez do Pico. Conjunto perfumado com fruta madura (pêra, toranja), fumo, salino, ao mesmo tempo sensação de untuosidade e envolvência. Boca com boa presença da fruta madura, saboroso, boa acidez a terminar seco e mineral.

Um dos Vinhos Provados – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Lajido Licoroso Seco 2002 (DO Pico)
Não é um vinho de abordagem fácil, recorda ligeiramente os vinhos de Jerez, pela oxidação em conjunto com toque salino e fruto seco, amanteigado com ligeiro iodo. Boca com secura, fresco com frutos secos e iodo, num final persistente e longo.

Lajido Licoroso Reserva Doce 2004 (DO Pico)
Num perfil mais untuoso que o Lajido Seco, notas de frutos secos cobertos de caramelo, laranja caramelizada, uva passa, biscoitos, tudo em boa complexidade. Boca a condizer com os aromas, envolvente e com uma bela acidez. Final longo e persistente.

Czar Licoroso Superior Doce 2008 (DO Pico)
O mais exótico e fora do habitual, resina, toque de frutas cristalizadas com especiarias, ervas de cheiro e tisana, boa frescura a embalar o conjunto com toque salino em fundo. Gordo, complexo, guloso e estranho, diferente e divertido.

Curral Atlântis Verdelho/Arinto dos Açores Doce 2005 (DO Pico)
Passou 5 anos em barrica e 1 ano em garrafa, muito equilibrado, torrefacto, laranja caramelizada, salino e untuoso. Boca a mostrar muita frescura que liga com fruta caramelizada, calda de fruta, final longo e persistente.

Terras de Tavares – O Dão do João

Texto João Pedro de Carvalho

A Quinta da Boavista, pertença da família Tavares de Pina, onde se produzem os vinhos Terras de Tavares e Torre de Tavares, situa-se na Região Demarcada do Dão, Penalva do Castelo, entre as Terras de Penalva e as Terras de Tavares, a uma altitude aproximada de 450m.

A Quinta data dos finais do séc. XVIII tendo tido a vinha como actividade principal e hoje em dia conta ainda com a criação de cavalos raça Lusitana, mas também já ali se produziu o famoso Queijo da Serra da Estrela. Os cerca de 7ha de vinha situada em solos de transição xisto-granito de grande profundidade e elevados teores de argila conferem aos vinhos características muito especiais.

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Paisagem – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

A uva que antes era vendida para a Cooperativa local, deu origem em 1997 ao primeiro Terras de Tavares, considerado até hoje como um dos melhores vinhos do produtor. Apenas em 2005 começaram a ser vinificados na Quinta. Até então apenas elaboravam blends de toda a produção que eram produzidos na Quinta da Murqueira.

Na Quinta da Boavista, João Tavares de Pina, um amigo de longa data e produtor apaixonado pela região com toda a irreverência que o caracteriza, vai criando a seu gosto vinhos plenos de identidade, de forte ligação à terra, espelhos de cada colheita que apenas são lançados para o mercado quando ele considera estarem aptos para consumo.

Não procura o agrado fácil. Os vinhos são feitos à sua imagem, com madeira pouco presente e estágios prolongados em garrafa. Brilhantes à mesa, apreciadores de uma boa conversa, claramente marcados pela alma da região num cunho muito próprio que João trata de aprimorar colheita após colheita

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Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Em conversa ficamos a saber que o João tem um carinho muito especial pela Jaén que considera de enorme potencial, juntando também a Tinta Pinheira e a Touriga Nacional. À Quinta da Lomba (Gouveia) foi buscar as uvas de onde produzia os seus brancos à base de Encruzado, Cercial e Síria. Entretanto as vinhas foram vendidas, pelo que teremos de esperar, quem sabe até 2015 para termos um novo Torre de Tavares branco.

Numa visita recente à Quinta da Boavista, aproveitei o seu fantástico enoturismo para me deliciar com a excelente gastronomia regional que João Tavares de Pina nos prepara a acompanhar os seus vinhos. Tive pena de não ter levado os calções de banho para dar um mergulho na fantástica piscina, mas fica para outra altura.

Começando pelos brancos ainda disponíveis no mercado:

Torre de Tavares Síria 2009 (Regional Beiras)
Aroma a mostrar notas de muito boa evolução, intensidade média, flores, fruta (tangerina, maçã verde) com muita frescura e mineralidade de fundo. Boca com estrutura coesa, saboroso, com notas de fruta madura, num final fresco e bastante mineral.

Torre de Tavares Encruzado 2008 (DOC Dão)
Encruzado que não foi filtrado, mostra aroma evoluído com complexidade, cheio de detalhes, fruta madura, flores amarelas com toranja e marmelo, palha, sensação de untuosidade com boa mineralidade. Boca envolvente, fruta em calda, frescura com mineralidade em fundo.

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João Tavares Pina – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Nos tintos os destaques são:

Rufia 2012 (DOC Dão)
O Rufia nasceu na colheita 2009 como um 100% Rufete (Tinta Pinheira). Agora na nova edição juntou-se com a Touriga Nacional e a Jaén. O resultado é um vinho atrevido e cheiroso, pouco consensual devido à componente vegetal (rama de tomate) que está em evidência, embora a fruta esteja presente com muito boa qualidade e quase que se trinca. O vinho é mais sério do que se pode imaginar, um verdadeiro rebelde que alia compotas e balsâmico, sustentado por uma bela estrutura, com taninos presentes em final saboroso.

Torre de Tavares Jaén 2008 (DOC Dão)
Será posto à venda nos próximos meses. Apesar dos seis anos que já tem, está ainda muito novo mas cheio de encantos e recantos tão característicos do Dão. Está limpo e fresco, cheio de energia, muito fruto silvestre, balsâmico, pinheiro, cacau, madeira integrada com boa frescura. Explosão de sabor no palato, frescura com taninos a pedir comida por perto. O final deste belíssimo Jaén é longo e persistente.

Torre de Tavares Jaén 2007 (DOC Dão)
Vinho que desperta um sorriso, muito limpo e rico de aromas, coeso e envolvente a mostrar o grande vinho que é. Aromas característicos do Dão bem vincados, mato, pinheiro, frutos silvestres, muita frescura sempre presente, cacau e mineral em fundo. Boca a condizer, grande estrutura de apoio, muito boa frescura com a fruta sumarenta a marcar presença, taninos firmes com final especiado e longo.

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Terras de Tavares Reserva 1997 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Torre de Tavares Touriga Nacional 2008 (DOC Dão)
Uma Touriga Nacional mais contida e delicada, com aroma limpo, sedutor e fresco. Notas de  alfazema, mato, vegetal e fruta madura bem integrada. Boca bem estruturada a mostrar fruta (cereja) bem casada com a madeira, balsâmico e mineral em fundo com taninos ainda por polir. Final longo e persistente.

Terras de Tavares 2006 (DOC Dão)
Resulta do blend Touriga Nacional e Jaén, com estágio de 3 anos em barrica e posterior estágio em garrafa. O vinho mostra-se ainda muito novo, cheio de vigor e a pedir tempo. Floral, com fruto negro e mineralidade em fundo. Na boca mostra muita força, taninos presentes, fruta gorda e frescura. É vincadamente terroso e possuí um grande final.

Terras de Tavares Reserva 1997 (DOC Dão)
Blend de Jaén e Touriga Nacional com domínio da primeira sobre a segunda. Complexo e delicado, limpo e perfumado, exibe notas de resina, floral, cacau, fruta vermelha gulosa (mirtilo e cereja), complementados com toques terrosos e especiados. Na boca é suave mas firme, longo, e com taninos domados. Muito elegante e com travos de um Dão clássico, precisa de tempo no copo. Final longo e persistente, num vinho que enaltece a sua região.

Contactos
Quinta da Boavista – Castelo de Penalva
3550-058 Penalva do Castelo, Portugal
Tel: (+351) 91 985 83 40 (João Tavares de Pina)
Email: jtp@quintadaboavista.eu
Site: www.quintadaboavista.eu

Da Escrita ao Vinho: Parte 1 – Os Vinhos de João Afonso

Texto Sarah Ahmed  | Tradução Patrícia Leite

Eu adorei as minhas três curtas, mas doces, participações em vindimas, particularmente na Cullen Wines, em Margaret River, Austrália. Estive lá na altura certa: as uvas chegavam à adega inteiras e rapidamente.

A natureza ditava o que se fazia e quando se devia fazer, o que, apesar de ser fisicamente exigente, era mentalmente relaxante – não valia a pena programar as coisas! E como é delicioso provar os frutos do nosso trabalho! Ainda fico entusiasmada ao lembrar-me que fui eu que fiz a “batônnage” do Cullen 2007 Chardonnay, um vinho que recebeu o prémio de Melhor Chardonnay do Mundo nos Decanter World Wines Awards em 2010.

E confesso que, se o tempo voltasse atrás, eu ficaria extremamente tentada a voltar a fazer vinho, em vez de apenas escrever sobre ele. Talvez devesse seguir as intrépidas pisadas de três produtores de vinho Portugueses que estão a fazer isso mesmo. As suas estórias são inspiradoras. Aqui fica a primeira. As de Richard Mayson e Tiago Teles virão a seguir.

João Afonso nasceu em Coimbra em Fevereiro de 1957. Estudou Educação Física na Universidade de Lisboa e apaixonou-se pela sua primeira carreira, o ballet, quando uma bailarina apresentou a dança ao estudante de desporto. Dois anos depois, dançava pelo mundo fora com o célebre Ballet Gulbenkian, onde passou 15 anos.

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João Afonso – Foto cedida por João Afonso | Todos os Direitos Reservados

 

Afonso diz que se apaixonou pelo vinho mais lentamente já que “os bailarinos falam sempre e (quase) exclusivamente sobre port de bras, cou-de-pie, pirouettes, grand jete… e performances de dança. Comem e bebem pouco, porque têm que estar em boa forma física todas as manhãs”.

No entanto, a semente da ideia de fazer vinhos foi plantada quando em 1983, a mulher de Afonso lhe deu uma cópia do livro “Conhecer e Trabalhar o Vinho” do aclamado professor de Enologia da Universidade de Bordéus, Émile Peynaud. Acrescenta ele “a minha avó era uma pequena produtora de vinho na Beira Alta e, de certa forma, eu estava com saudades dos velhos tempos quando tudo o que comíamos e bebíamos era feito em casa e as coisas tinham outro sabor e outro gosto (nem sempre o melhor, mas mais genuíno, sem sabores sintéticos e fáceis …)”.

Embora tenha frequentado um curso intensivo de uma semana sobre fazer vinho na Escola da Anadia, Bairrada, em 1987 (Afonso tinha desde há muito, uma paixão pelos vinhos maduros da Bairrada), a sua carreira itinerante e de grande notoriedade como o bailarino principal da companhia, impediu-o de perseguir seriamente o seu interesse pelos vinhos. Foi apenas quando a sua carreira na dança terminou em 1993 que, tanto o conhecimento como o interesse floresceram, especialmente depois de ter conhecido o Professor Virgílio Loureiro do Instituto Superior de Agronomia de Lisboa (na altura, enólogo na Quinta dos Roques e Quinta das Maias no Dão) e João Paulo Martins (o jornalista de vinhos).

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João Afonso – Foto cedida por João Afonso | Todos os Direitos Reservados

 

Em 1994, Afonso tinha começado a fazer vinho, a partir dos dois hectares da vinha envelhecida Ribeiro na Beira Alta. Foi plantada no início do século XX quando a sua avó era ainda uma criança. Primeiro, surgiu um tinto, no ano seguinte, um vinho branco, usando barricas antigas fornecidas por Dirk Niepoort da Niepoort.

Apesar de Afonso estar muito contente com os vinhos, que ele descreve como “extraordinários (na minha modesta opinião)”, o princípio do fim da sua primeira aventura na produção de vinhos, veio quando o seu irmão mais velho arrancou a vinha envelhecida.

Por sorte, Niepoort e Loureiro já tinham apresentado Afonso a Luís Lopes, o director da, na altura, recentemente lançada, “Revista de Vinhos” e, segundo as suas palavras, “como a produção de vinho era um assunto familiar melindroso (eu tenho mais quatro irmãos), comecei com o fantástico e mais fácil assunto da escrita de vinhos, em Maio de 1994”. Ele ainda escreve para a Revista de Vinhos e, entre 2000 e 2008, escreveu o seu próprio guia para vinhos no mercado português. Também escreveu dois livros sobre vinhos “Entender de Vinho” e “Curso de Vinho”. No entanto, ele admite, “escrever não é de todo o que prefiro fazer. Também é uma forma de arte, mas às vezes (muitas vezes) não tem nada a ver com “o lado bom da vida”. Para Afonso, o lado bom da vida é “ver e sentir a beleza e a felicidade”. Uma sensação que ele experimentou vividamente em 2009, quando descobriu uma velha e pequena vinha (3.9 hectares) em Reguengo, Portalegre, à venda e decidiu que a sua missão era protegê-la e recuperá-la.

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João Afonso – Foto cedida por João Afonso | Todos os Direitos Reservados

 

Porquê Portalegre? Afonso responde: “Eu escolho o Norte do Alentejo por três razões: a paisagem é semelhante à da Beira Alta (mais bonita e eu sinto-me em casa); é mais perto (de Lisboa) que a Beira Alta; e, acima de tudo, tem vinhas antigas com materiais envelhecidos (sem selecções de cultivadores de viveiros): castas envelhecidas, todas misturadas no mesmo enredo de vinho. Se podemos falar de “terroir” em Portugal, a Quinta das Cabeças, ou seja, o Reguengo pode ser um”. De facto, e como um bom presságio, depois de ter comprado a quinta, ele soube que o altamente respeitado enólogo alentejano Colaço do Rosário (criador do Pêra-Manca) identificou a encosta da Quinta das Cabeças como o melhor sítio para criação de uvas em todo o Alentejo.

Oito meses depois, Afonso tinha feito os seus primeiros vinhos: Equinócio (branco) e Solstício (tinto), parcialmente fermentado em ânfora de barro, como tinha sido a tradição regional durante séculos). No entanto, ele afirma nunca ter tido uma visão para o vinho: “Eu não sou um enólogo” diz, “Eu só tento proteger a minha vinha e colher as uvas para deixá-las tornar-se vinho”. A confiança de Afonso em deixar que as vinhas falem, advém da sua crença na vinha: “Eu gosto de a ver. Gosto de me sentir dentro dela. Eu não faço vinho, a vinha é que o faz. Eu deixo que os meus olhos escolham por mim”.

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Foto cedida por João Afonso | Todos os Direitos Reservados

A abordagem não intervencionista começa com a vinha, que é organicamente certificada e cultivada de forma biodinâmica. Para Afonso “perceber a nossa propriedade, seguir o calendário lunar de Maria Thun e aplicar as preparações biodinâmicas em doses homeopáticas, resulta em vinhas ainda mais genuínas e intensas”. Para além disso, ele jurou nunca voltar a usar químicos, depois de ter pulverizado os seus olivais em 1999 contra as traças: “o cheiro era tão terrível que achei que, se as oliveiras tivessem pernas, teriam fugido rapidamente!”.

Então, o idílio rural corresponde às expectativas? “Sim. Completamente” é a resposta de Afonso. Uma vez que ele é pouco inspirado pelos “vinhos globalizados ou em voga” (vinhos com Syrah, Merlot, Cabernet Sauvignon, Petit Verdot, Viognier, Sauvignon Blanc, Touriga Nacional…) que ele acredita terem resultado numa perda enorme da tradição vitivinícola, ele orgulha-se intensamente do facto de Cabeças ter “dado provas que é possível fazer bom vinho com uvas que toda a gente despreza”.

Para além disso, a experiência de Afonso implica que ele nunca tenha tido ilusões sobre os desafios inerentes à venda do seu próprio vinho. Ele explica “escrever sobre vinhos ensinou-me a dificuldade de vender vinhos, mesmo vinho muito bom, e eu já tinha tido essa experiência na Beira Alta”. Escrever implicou que Afonso compreendesse bem a importância de ter uma história diferente e genuína e não fazer apenas algo semelhante a outros vinhos: “Teria morrido à partida”, diz.

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Vinhas – João Afonso – Foto cedida por João Afonso | Todos os Direitos Reservados

Afirma ainda “A única hipótese é fazer algo completamente diferente, algo bom e algo difícil de encontrar”. Entrando neste tema e olhando para o quadro geral, ele observa “Portugal é diferente. Não existe isso [as castas e os terroir] em mais nenhum lado senão aqui. E nós fazemos mesmo vinhos muito bons… Eles são puros, bons e falam uma língua simples, sumarenta e fantástica com aqueles que os sabem perceber”. Então por que motivo devemos escolher o seu vinho, pergunto? Porque, responde ele, “é o sabor de uma vinha alentejana de 1920, através dos olhos e das mãos de um crítico de vinhos – um ex-bailarino”. Esta é uma proposta verdadeiramente única. E para reforçar, posso acrescentar que Equinócio e Solstício são também excelentes propostas para amantes de vinhos excitantemente autênticos com uma sensação palpável de lugar.

Restaurante G, da Pousada de S. Bartolomeu, Bragança

Texto José Silva

Um dos motivos mais interessantes para quem anda nesta actividade da gastronomia e dos vinhos, é, de vez em quando, descobrir coisas que nos surpreendem e nos deixam felizes. É também uma das razões porque mantemos a vontade e o gosto de continuar a desenvolver este trabalho. Foi o que aconteceu numa recente visita a Bragança, lá bem no interior transmontano, quando mão amiga nos levou até à Pousada de S. Bartolomeu para almoçar.

A pousada tem muita tradição, que conheço bem, pois ali pernoitei muitas vezes, em várias visitas a Bragança, mas a surpresa foi a recente entrada para a gestão do grupo Geadas, que tem o restaurante do mesmo nome em Bragança. Há várias décadas que é a casa de bem comer mais conhecida e conceituada da cidade, gerida por dois irmãos, a servir comida tradicional de Trás-os-Montes. Mas que nos últimos anos desenvolveu uma ementa alternativa de autor, baseada em produtos transmontanos. Agora, com esta aquisição, os dois irmãos resolveram transferir esse conceito de autor para o restaurante da pousada, que baptizaram de “G”, simplesmente.

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Photo by José Silva | All Rights Reserved

O espaço foi remodelado, ficou mais confortável e acolhedor, com uma oferta requintada, baseada em produtos da região, que se saúda. Sala cheia de luz, com vista sobre a cidade, lá do alto, precedida duma simpática sala de estar, onde se expõem alguns produtos, entre azeite, enchidos e doçaria. Amesendação impecável, com tudo o que é bom na mesa, serviço irrepreensível, incluindo o trabalho de vinhos, a cargo de profissionais com enorme experiência.

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Photo by José Silva | All Rights Reserved

 

Na refeição que partilhei com alguns amigos, começaram por nos servir pão regional transmontano de Bragança e uma bola de carne deliciosa, com enchidos da região, muito apaladada. O que pediu o primeiro copo de vinho, neste caso também transmontano, o tinto “Quinta das Corriças Reserva de 2011”, cheio de corpo mas ao mesmo tempo muito elegante, com acidez bem presente a dar-lhe equilíbrio, notas suaves de frutos vermelhos e algum fumo, apenas uma fragrância.

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Photo by José Silva | All Rights Reserved

Há vários menus de degustação propostos, cujo preço varia consoante a quantidade de pratos e de vinhos para cada um. Na nossa refeição começamos por apreciar um pão com salpicão de Vinhais, servido numa pedra redonda e que ainda vinha morno, e manteiga de ervas finas que se derretia facilmente ao entranhar-se na massa. Belo começo!

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Photo by José Silva | All Rights Reserved

Numa outra pedra, esta mais baixa e comprida, veio uma lata, daquelas das conservas, que servia de recipiente para um à Braz de alheira de Vinhais com rodela de salpicão, a batata frita bem ligada com a pasta da alheira e o contraste com o salpicão a dar um toque de requinte.

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Photo by José Silva | All Rights Reserved

 Então veio novamente uma pedra redonda com um escabeche de perdiz a duas temperaturas, a carne da perdiz bem esfiada, tudo bem compactado e o escabeche por cima numa realização simples mas muito elegante. Nos pratos quentes provamos um caldo de aves (faisão e perdiz), com nabo e abóbora, suculento e muito apaladado, o caldo bem quente, numa bela composição cromática, com a cor alaranjada da abóbora a dominar, vários paladares bem integrados, um caldo exótico delicioso.

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Photo by José Silva | All Rights Reserved

O prato principal proposto foi um soberbo lombo de porco bísaro maturado, tenro, macio, muito bem cozinhado, no ponto, com uma ligeira capa da sua própria gordura, uma carne de excelência. Na companhia dumas couves do pote, tradicionais da matança, mas aqui estilizadas, servindo de recheio a um crocante mil folhas de sementes, delicioso. E ainda, como apontamento, um figo caramelizado recheado com alguns miúdos do porco. Quase uma obra de arte! Fechou-se o repasto com uma tradicional torta de laranja em boa companhia.

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Photo by José Silva | All Rights Reserved

Por esta altura já a segunda garrafa de vinho estava no fim…

Contactos

Pousada de São Bartolomeu
Rua Estrada do Turismo, 5300-271 Bragança
Tel: (+351) 273 331 493 Fax: (+351) 273 323 453
guest@pousadas.pt
Pousada-De-Bragança

As Actividades Vitivinicolas em Portugal

Texto Patrícia Leite 

É frequente associarmos uma empresa de vinhos a uma unidade produtora que terá uma quinta com vinhas e uma adega. Sendo assim na maior parte dos casos, o facto é que a empresa que vemos identificada numa garrafa pode ser a produtora do vinho mas não das uvas ou pode até ter apenas engarrafado o vinho.

Categorias principais

No sector dos vinhos português, podem ser exercidas várias actividades económicas, como sejam produzir, engarrafar ou comprar/vender vinho, a granel ou engarrafado. É a lei nacional, o Decreto-Lei nº178/99, de 21 de Maio, que define as categorias de agentes económicos em função dessas actividades e estabelece a obrigatoriedade da respectiva inscrição no Instituto da Vinha e do Vinho, I.P. (IVV). Este regime não se aplica aos operadores que se dediquem exclusivamente à produção ou comércio de Vinho do Porto, nem às Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.

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Decreto-Lei nº178/99

As principais categorias de agentes económicos previstas na lei nacional são as seguintes: Engarrafador, Armazenista, Produtor, Vitivinicultor e Vitivinicultor-Engarrafador.

A actividade de um Engarrafador é a de proceder ou mandar proceder ao engarrafamento em regime de prestação de serviços, assumindo-se como único responsável do produto.

Um Armazenista pratica o comércio por grosso (compra/venda) de vinho, a granel ou engarrafado.

Um Produtor produz vinho a partir de uvas que obtém na sua exploração vitícola ou de uvas que compra. Está incluída nesta categoria a actividade exercida pelas adegas cooperativas, que produzem vinho a partir de uvas que recebem dos seus cooperantes.

A categoria de Vitivinicultor corresponde também à produção de vinho mas apenas a partir de uvas obtidas exclusivamente na exploração vitícola do agente económico, não podendo este comprar uvas.

Por seu turno, um Vitivinicultor-Engarrafador exerce esta última actividade e ainda engarrafa o vinho que produz, nas suas instalações exclusivas ou nas de outrem, em regime de prestação de serviços. Como Engarrafador que também é, assume-se igualmente como único responsável do produto.

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Cúmulo de categorias

Os agentes económicos devem inscrever-se no IVV nas várias categorias correspondentes às actividades que pretendam vir a exercer, estando apenas isentos de inscrição os Vitivinicultores e os Produtores cujo volume de produção não seja superior a 4000 litros de vinho por ano.

Isto significa que as categorias podem ser cumuláveis, excepto quando há incompatibilidades devido à natureza da própria categoria:
a) não é possível exercer a actividade de Vitivinicultor ou de Vitivinicultor-Engarrafador com as de Armazenista e de Produtor;
b) também não é possível a acumulação da categoria de Vitivinicultor-Engarrafador com as de Vitivinicultor ou de Engarrafador.

Sendo o Engarrafador o único responsável do produto, é a este que cabe pedir a certificação dos vinhos junto das respectivas entidades certificadoras. Por outro lado, a categoria de Engarrafador é muitas vezes cumulada com a de Armazenista e/ou a de Produtor, o que é frequente ocorrer nos agentes económicos de maior dimensão.

De notar que não se pode ser Engarrafador e também Vitivinicultor-Engarrafador porque este último apenas pode engarrafar o vinho que produz.

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Outras categorias

Há mais cinco categorias, que são mais específicas quanto à actividade ou ao produto: Destilador, Fabricante de Vinagre de Vinho, Preparador, Exportador/Importador e Retalhista.

Enquanto as categorias de Destilador e de Fabricante de Vinagre de Vinho descrevem a actividade em causa no próprio nome, a categoria de Preparador refere-se a quem obtém produtos aptos a serem consumidos, a partir de vinho, de derivados deste e de subprodutos da vinificação (como seja o Vinho Espumante).

Por seu lado, deverá inscrever-se como Exportador/Importador quem pretenda comprar ou vender directamente a países terceiros produtos vitivinícolas a granel ou engarrafados.

A categoria de Retalhista está prevista para exercer a venda directa ao consumidor de produtos vitivinícolas embalados ou pré-embalados, mas a lei isentou estes agentes económicos de inscrição no IVV.

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E os produtores de uvas, os Viticultores?
O Decreto-Lei nº178/99 não prevê a produção exclusiva de uvas como uma categoria económica, incluindo esta actividade na produção de vinho exercida pelos Vitivinicultores e Vitivinicultores-Engarrafadores e pelos Produtores quanto ao vinho de uvas próprias. Para entrarem no circuito económico do vinho, as uvas produzidas pelos Viticultores são vendidas ou entregues aos Produtores, os únicos agentes económicos (pessoas singulares, empresas ou cooperativas) que podem comprar uvas para produzir vinho.

Categoria obrigatória na garrafa

De acordo com a lei comunitária e nacional, é obrigatória na rotulagem dos vinhos a indicação do nome e endereço do Engarrafador, precedida da expressão «engarrafador» ou «engarrafado por» ou, no caso de Vinho Espumante, «preparador» ou «preparado por».

No entanto, constando na rotulagem a identificação de uma entidade que intervenha no circuito comercial do vinho além do Engarrafador, o nome deste último pode ser substituído por um código (número de atribuído pelo IVV), precedido da expressão «Eng. nº».

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Desta forma, se na garrafa estiver apenas identificado quem engarrafou o vinho, apenas saberemos quem o produziu se constarem também outras menções que nos forneçam essa informação. Vejamos o caso de um agente económico inscrito como Armazenista, Produtor e Engarrafador:
a) poderá ter comprado e engarrafado um determinado vinho, actuando para esse produto como Armazenista e Engarrafador;
b) poderá ser o Produtor de outro vinho, com uvas da sua quinta, e o seu Engarrafador;
c) e poderá ainda produzir um outro vinho, com uvas que comprou, e proceder ao seu engarrafamento.

Certo é que a categoria que, por si só, fornece mais informação na garrafa é a de Vitivinicultor-Engarrafador: diz-nos que quem engarrafou foi quem produziu as uvas e o vinho em questão.