Blend All About Wine

Wine Magazine
L´And Vineyards, um hotel dedicado ao culto do vinho…

Texto José Silva

Está situado muito perto de Montemor-o-Novo, em pleno Alentejo, este hotel que é muito mais que isso. Banhado pela paisagem alentejana característica, beneficiando daquela quietude, daquele sossego, é uma unidade hoteleira muito moderna e que desenvolve, há cerca de três anos, um novo conceito, em que a produção de vinho faz parte integrante de todo o complexo.

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L’And Vineyards Resort – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

No edifício central estão os serviços que o L’And oferece: restaurante, salas de estar e um spa que inclui uma piscina, havendo ainda uma simpática piscina exterior. E, por baixo deste edifício está, imagine-se, a adega. Mas uma adega de pequenas dimensões, com cubas de aço inox muito pequenas, uma versão liliputiana das adegas alentejanas, sendo o responsável pela produção dos vinhos o engº. Paulo Laureano, um enólogo com enorme experiência, que aceitou este desafio.

Cá fora, em frente ao edifício, estão as vinhas, mas também há vinhas mesmo ao lado da piscina, entre esta e as primeiras suites do hotel. São construções apenas de dois pisos, como aliás são todas as outras, numa integração ambiental que também foi desde o começo uma das grandes preocupações dos proprietários. Um lago artificial serve apenas para reter a água necessária para regar os imensos relvados e, a seu tempo, as vinhas.

Embora os automóveis possam aparcar junto aos apartamentos, o pessoal do hotel desloca-se em veículos eléctricos por todo o complexo. Não há ali os tradicionais quartos de hotel, mas sim suites de pelo menos dois quartos, com salas de estar enormes, cheias de luz e muito bem equipadas, com mini-bar, máquina de café Nexpresso, televisão com todos os canais possíveis, vídeo e suporte para Ipod e Iphone, ar condicionado e um pátio interior absolutamente privado.

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Vinhas L’And Vineyards – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Não faltam uns confortáveis chapéus de palha, que se podem revelar muito úteis, diria mesmo fundamentais, para enfrentar o vigor do sol alentejano. Cá fora, em cada suite, há uma lareira que pode ser acesa para se estar cá fora, à noite. Há também algumas vivendas que foram vendidas a privados, mas que fazem parte de todo o complexo, beneficiando mesmo de alguns dos seus serviços. É um local para descansar e fazer belas caminhadas a pé, mas que não deixa de estar bem perto de Montemor-o-Novo, com todas as necessidades mesmo à mão. No spa, bem como em todas as suites, usam-se os produtos de beleza da Caudalie, preparados à base de uvas e de vinho, sendo propostas no spa várias aplicações, massagens e tratamentos de vinoterapia, de belo efeito.

Mas como o corpo também tem que ser bem tratado interiormente, há um excelente restaurante, onde todos os dias é servido um completíssimo pequeno almoço. Embora esteja encerrado à segunda e terça-feiras, o restaurante tem um serviço impecável, com amesendação de grande qualidade e profissionais que não descuram o mais pequeno pormenor, e que inclui o serviço dum escanção, a propor-nos viagens apelativas pelo nosso mundo vínico. E que servem de suporte a uma ementa preparada diariamente pela equipa de profissionais dirigida pelo chefe Miguel Laffan que, com a sua experiência e bom gosto, lhe valeu em 2013 a atribuição duma estrela do prestigiado guia Michelin, aliás inteiramente merecida.

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Restaurante L’And Vineyards – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

É a busca de paladares e texturas suaves e requintadas em que a utilização exaustiva de produtos genuinamente portugueses é uma constante, com resultados brilhantes, que ali têm levado imensos visitantes, com uma percentagem enorme de portugueses, que cada vez mais dão valor aos nossos produtos, aos nossos vinhos e aos nossos profissionais.

O menu degustação que se provou é uma boa solução, para apreciar entradas, peixe, carne e sobremesa, a que se podem juntar vários vinhos servidos a copo.

Começamos por petiscar umas amêndoas caramelizadas com caril, até que veio uma deliciosa sopa de peixe da costa vicentina, lagostim assado e croquete cremoso de ostra, seguido de tataki de atum em mil folhas, compota de cebola roxa e chutney de manga com salada de rábano, coentros, bergamota e wasabe. Também um delicioso salmonete em caldo de caldeirada com salada crocante.

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Tataki de Atum em Mil Folhas – Foto de José Silva | Todos os direitos Reservados

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Salmonete em Caldo – Foto de José Silva | Todos os direitos Reservados

Veio depois a carne com o lombinho de porco de raça alentejana assado lentamente, gratin de couve-flor texturizado com salteado de espargos, ervilha e morcela regional, uma festa para o paladar.

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Duo de cenoura, terra de pistacho com espuma de açafrão e gengibre e gelado de mel – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Nas sobremesas provou-se o tiramisu de pistacho com chocolate branco e cerejas confitadas, gelado de café e crocante de chocolate tainori, para terminarmos com um duo de cenoura sobre terra de pistacho com espuma de açafrão e gengibre e gelado de mel.

Os vinhos propostos foram espumante bruto da Herdade do Esporão, muito elegante, suave mas com bolha persistente e cordão cremoso, o branco duas castas do mesmo produtor, com Roupeiro e Arinto, de 2012, fresco, muito elegante, com óptima acidez e alguma evolução, excelente vinho.

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L´And Vineyards Reserva 2010 – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

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Grandjó de 2008 Late Harvest – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Depois veio o tinto L’And Vineyards Reserva 2010, cheio de estrutura, redondo, de aromas muito elegantes, aveludado mas com a força dos frutos vermelhos e taninos bem casados, um vinho a reter.

Para as sobremesas o escanção propôs um vinho do Porto Rozès White Reserva e um Grandjó de 2008 Late Harvest, e propôs muito bem.

Servidos na temperatura correcta em copos adequados, foram o epílogo de excelência para uma refeição magnífica neste L’And Vineyards.

Contactos
L’And Vineyards
Estrada Nacional 4
Herdade das Valadas
Apartado 122
7050-031 Montemor-o-Novo
Évora
Tel: (+351) 266 242 400
Fax: (+351) 266 242 401
E-mail: reservas@l-and.com or info@l-and.com
Site: l-andvineyards.com

Vale dos Ares – Um novo Alvarinho de um novo Produtor!

Texto Olga Cardoso

“Vale dos Ares” é uma marca inspirada no nome do antigo concelho de Valadares = Vale dos Ares. “O antigo concelho de Valadares oficializou a sua existência no ano de 1317, ocupando à data a maior parte da área geográfica da sub-região de Monção e Melgaço. Devido à sua dimensão e capacidade de gerar riqueza, bem como alguma incapacidade dos Reis em controlar a irreverente população, a sua autonomia foi continuadamente adiada desde a fundação de Portugal. É esta vivacidade e entusiasmo da gente de Valadares que pretendemos assumir como os valores da marca “Vale dos Ares”.

Esta marca é titulada pela empresa MQ Vinhos, uma jovem empresa familiar que, nas palavras do produtor – Miguel Queimado – abraçou com toda a paixão o conceito de “boutique winery”, dedicando-se à produção de vinhos DOC. A MQ Vinhos está localizada na Quinta do Mato, precisamente a meio da sub-região de Monção e Melgaço e está na propriedade da família desde 1683.

A responsabilidade enológica está a cargo de uma mulher, Gabriela Albuquerque, sendo o objectivo primordial da equipa produzir um vinho único, feito com toda a atenção e cuidado, com controlo a par e passo de todos os momentos de produção, quer da uva, quer do próprio vinho.

Imbuídos de forte paixão, pretendem apresentar ao mercado um vinho que expresse, de forma perfeitamente clara e evidente, todas as características do seu terroir.

Efectivamente, parece ser este respeito pela singularidade da casta Alvarinho e pelo terroir que lhe serve de berço, que lhes permitiu produzir um vinho que não se limita a ser apenas mais um Alvarinho! Nasceu para ser uma boa referência da “latitude” Monção-Melgaço!

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Vale dos Ares Alvarinho 2013 © Blend All About Wine, Lda.

Só provei a colheita de 2013. Ainda assim, poderei afirmar que se trata de uma estreia do produtor, uma vez que este vinho saiu para o mercado com a colheita de 2012.

Com um perfil bastante aromático, mas sem máscaras ou excessivas exuberâncias, mostra-se muito fresco e com uma acidez bem controlada. Apesar dos seus toques tropicais, com o maracujá e o ananás em perfeita evidência, sobretudo no seu ataque inicial, a verdade é que com o decorrer da prova, são as suas notas cítricas e minerais que se fazem mais sentir.

Elegante, equilibrado e com notável estrutura de boca, afigura-se o companheiro ideal para mariscos e peixes grelhados. Termina de forma séria, focada e harmoniosa. Não existe historial para que lhe possamos aferir uma adequada longevidade, mas poderei vaticinar-lhe uma complexante evolução em garrafa entre os 3 e os 5 anos, desde que devidamente acondicionado para o efeito.

Um curioso Alvarinho, que nos deixa a curiosidade para o seguir bem de perto!

Contactos
MQ Vinhos, Unipessoal Lda
Quinta do Mato, sn, Lugar do Mato
4950-740 Sá-MNC
Tel: (+351) 251 531 775
Telemóvel: (+351) 934 459 171
Email: info@mqvinhos.pt
Site: mqvinhos

Conceito Branco – Um Grande Vinho do Douro Superior

Texto João Pedro de Carvalho

Em visita recente ao Douro Superior tive oportunidade de provar algumas colheitas daquele que é um dos melhores brancos feitos em Portugal, o Conceito da enóloga Rita Marques Ferreira. No total foram provadas quatro das seis colheitas já lançadas no mercado, relembro que a primeira colheita deste branco foi 2006, mas em prova apenas estiveram os 2008, 2009, 2010, 2011 aos quais se juntou à última da hora o 2012.

Este fantástico vinho branco nasce em terras de Cedovim (Douro Superior), na Quinta do Cabido, onde residem os 10 hectares de vinha exclusivamente destinados para castas brancas, num planalto localizado a 500 metros de altitude. A transição de solos faz com que por ali mande o granito, em parte responsável pela excepcional qualidade destes vinhos, a outra parte provém da mão da enóloga, influenciada pelo tempo que esteve em Bordéus, onde foi aluna e estagiária do “guru” dos brancos de Bordéus (Denis Dubourdieu).

Na visão muito própria que a enóloga tem pela região e pelos vinhos que cria, nascem brancos de Conceito muito particular, num perfil diferente, mais fresco, sem arestas e onde o detalhe e equilíbrio é palavra de ordem. Dominam as castas locais, Rabigato, Códega do Larinho e Gouveio provenientes de vinhas muito velhas. A passagem por madeira tem vindo a ser afinada e as barricas novas deram lugar a barricas usadas (madeira Francesa e do Cáucaso).

A boa notícia, ou confirmação daquilo que poucos pensavam no início, é que a evolução dos vinhos em causa tem sido fabulosa e não é obra do acaso. Aliás, o Conceito branco tem vindo a ser afinado ao longo das suas “curtas” seis colheitas de história, mostrando-se sempre predicados mais que suficientes para conquistar, por direito próprio lugar entre os grandes vinhos brancos de Portugal.

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Alto Douro Vinhateiro – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Resrvados

Conceito branco 2008 (DOC Douro)
Complexo, amplo com a sensação de pão torrado a mostrar uma barrica muito bem integrada num conjunto cheio de harmonia, que alia frescura com flores e fruta de qualidade (citrinos, pêra) envolta em leve calda. Nada beliscado pelo tempo, boca com muito sabor, frescura e finesse, corpo cheio de detalhe num fundo fresco e mineral. Final longo e persistente.

Conceito branco 2009 (DOC Douro)
Mais amplo e texturado que o 2008, muita frescura num blend com uma fruta (citrinos, pêssego) sólida, bem madura e limpa, nada tocada pelo tempo e com grande pureza de conjunto. Um pouco menos expressivo mas sempre com harmonia e classe, tão características, mostra notas fumadas de uma madeira plenamente integrada, que o arredonda e embala no palato, sem perder o travo fresco e mineral de fundo.

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Conceito White – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Resrvados

Conceito branco 2010 (DOC Douro)
A partir desta colheita a madeira nova perdeu presença, dando ainda mais lugar à fruta (toranja, lima, pêssego) que se apresenta desta forma com maior frescura e definição. O conjunto mantem-se de igual forma em grande nível, complexo e profundo, mais floral e mineral, embora muito mais rico em delicadeza. Mineralidade sentida num conjunto fresco, com vigor que mostra maior sensação de pureza durante toda a prova.

Conceito branco 2011 (DOC Douro)
Vem na boa linha do 2010, aqui muito fino de acidez e conjunto, muito mais delineado nos aromas e sabores. Conjunto complexo, com boa exuberância da fruta (citrinos, pêra). Madeira em grande harmonia, mostra-se afinado, com boca cheia de sabor e frescura, muita classe numa prova repleta de prazer e vivacidade.

Conceito branco 2012 (DOC Douro)
Somos dominados pelos citrinos e pela mineralidade, da madeira pouco ou nenhum sinal, apenas aquela nota de pão torrado que marca toda a linha. Depois quase que ficamos reféns de uma ligeira austeridade mineral que nos domina por instantes, quer o nariz quer o palato, num conjunto ainda tenso, cheio de nervo que se pode até confundir, por momentos, como algo duro no palato e fechado no nariz.

Contactos
Conceito – Vinhos
Tel: (+351) 939 000 350
Fax: (+351) 279 778 059
Email: conceito@conceito.com.pt
Site: www.conceito.com.pt

«Lisboa» mudou!

Texto Patrícia Leite 

Passados 21 anos desde a criação da Indicação Geográfica na região vitivinícola de Lisboa e depois de várias alterações das regras de produção e comércio, chegam agora novas mudanças a esta região.Brevemente poderemos ver no mercado novas categorias de produtos vitivinícolas com a designação IG «Lisboa», como vinhos frisantes, vinagres de vinho e aguardentes.

O Novo Regime da IG «Lisboa»

No passado dia 26 de Junho entrou em vigor o novo regime para a produção e comércio dos vinhos e demais produtos vitivinícolas da Indicação Geográfica (IG) «Lisboa», por força da publicação no dia anterior da Portaria nº130/2014.

Este diploma vem revogar o anterior regime em vigor desde 2009 e estabelecer novas regras, por força da actual lei comunitária da organização comum dos mercados dos produtos agrícolas, a chamada OCM Única, mantendo a qualidade e as práticas tradicionais que caracterizam os produtos vitivinícolas da região e reconhecendo a sua importância e o valor económico que os mesmos geram.

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Lisboa Region – in Font: www.winesofportugal.info

As principais alterações ao regime da IG «Lisboa» são as seguintes:
– Fixação do rendimento máximo por hectare das vinhas destinadas à produção dos vinhos e produtos vitivinícolas com direito à IG «Lisboa» em 200 hl;
– Inclusão de novas categorias de produtos do sector vitivinícola com direito ao uso da IG «Lisboa», a saber: vinho espumante de qualidade, vinho frisante, vinho frisante gaseificado, vinagre de vinho, aguardente vínica e aguardente bagaceira;
– Actualização das castas aptas à produção de vinho e respectiva nomenclatura, face às alterações introduzidas através da lista de castas para a produção de vinho em Portugal, publicada em 2012.

Neste novo regime, a IG «Lisboa» pode ser utilizada para a identificar as seguintes categorias de vinhos: vinho tranquilo (já prevista no regime anterior), vinho licoroso (já prevista no regime anterior), vinho espumante (já prevista no regime anterior), vinho espumante de qualidade (nova categoria), vinho frisante (nova categoria) e vinho frisante gaseificado (nova categoria).

[Para saber mais sobre as diferentes categorias de vinhos, poderá consultar o nosso artigo anterior sobre o tema]

Para além dos vinhos, a IG «Lisboa» pode ainda passar a identificar os seguintes produtos vitivinícolas: Vinagre de vinho, Aguardente vínica e Aguardente bagaceira.

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Copo de Vinho – Imagem corstesia de Danilo Rizzuti | FreeDigitalPhotos.net

Tal como acontece para qualquer outra IG, este novo regime estabelece ainda para a da IG «Lisboa» outras regras referentes à produção e ao comércio, nomeadamente sobre os seguintes temas:
– Delimitação da área geográfica de produção e Sub-regiões (Estremadura e Alta-Estremadura);
– Solos, castas e práticas culturais;
– Inscrição e caracterização das vinhas e rendimento por hectare;
– Vinificação e práticas enológicas;
– Características dos produtos;
– Inscrição de operadores económicos;
– Rotulagem e comercialização;
– Circulação e documentos de acompanhamento;
– Controlo e certificação.

Poderá conhecer em pormenor todas as regras consultando o próprio diploma.

De «Estremadura» a «Lisboa»

Foi em 1993, com a Portaria nº351/93, que foi criada a IG para a região de Lisboa, nessa altura denominada por «Estremadura», a qual destinava-se a vinhos tranquilos, chamados «Vinho Regional Estremadura».

A área geográfica de produção da IG abrangia os mesmos concelhos que hoje abrange, a saber:
– O distrito de Lisboa, à excepção do município de Azambuja;
– Do distrito de Leiria, os municípios de Alcobaça, Batalha, Bombarral, Caldas da Rainha, Leiria, Marinha Grande, Nazaré, Óbidos, Peniche, Pombal (exceto as freguesias de Abiul, Pelariga, Redinha e Vila Cã) e Porto de Mós;
– Do distrito de Santarém, o município de Ourém.

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GI «Lisboa» Geographical Area – in Portaria (Ministerial Order) No. 130/2014

No ano 2000, a utilização da anterior IG «Estremadura» foi alargada a vinho licoroso (Portaria nº244/2000) e, em 2003, houve a alteração do regime quanto ao teor alcoólico dos mostos destinados à elaboração dos vinhos (Portaria nº1066/2003).

A IG da região de Lisboa foi redenominada «Lisboa» em 2009 já que se concluiu que esse topónimo teria efeitos positivos na divulgação e comercialização dos vinhos, nomeadamente para os mercados externos, pela sua notoriedade, maior facilidade de leitura e melhor referência quanto à localização (Portaria nº426/2009, depois alterada pela Portaria nº1393/2009). A par do novo nome, a IG passou também a ter duas sub-regiões – Estremadura e Alta-Estremadura – e a poder ser utilizada na categoria de vinho espumante.

Outros Produtos Certificados

Para além da certificação como IG “Lisboa», os produtos vitivinícolas desta região podem ainda ser certificados como produtos com uma das 9 Denominações de Origem (DO): «Alenquer», «Arruda», «Bucelas», «Carcavelos», «Colares», «Encostas d’Aire», «Lourinhã», «Óbidos» e «Torres Vedras».

De notar que as áreas geográficas de produção da IG «Lisboa» e das DO da região são distintas, correspondendo cada uma delas a uma delimitação territorial específica, como poderemos perceber no mapa infra.

[Para saber mais sobre o conceito e diferenças entre DO e IG, poderá consultar o nosso artigo anterior sobre o tema]

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Extracto de Regiões Vitivinícolas – in ViniPortugal

 

É à Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa (CVRLx) que compete controlar a produção e o comércio e certificar os produtos vitivinícolas com direito às DO «Alenquer», «Arruda», «Bucelas», «Carcavelos», «Colares», «Encostas d’Aire», «Lourinhã», «Óbidos» e «Torres Vedras» e à IG «Lisboa».

Esta Comissão Vitivinícola foi designada como Entidade Certificadora em 2008, pela Portaria nº739/2008, no âmbito do processo de reorganização institucional do sector vitivinícola português que se iniciou em 2006.

[Para saber mais sobre a história do Sector dos Vinhos em Portugal e o papel da CVRLx como Entidade Certificadora, poderá consultar o nosso artigo anterior sobre o tema]

Contactos
Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa
Rua Cândido dos Reis – Apartado 145
2560-312 Torres Vedras
Tel.: 261 316 724
Fax: 261 313 541
Email: cvr.lisboa@mail.telepac.pt
Site: www.vinhosdelisboa.com

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Na ilha do Faial, Açores, surge um novo restaurante…

Texto José Silva

O arquipélago dos Açores tem vindo a ser reconhecido em todo o mundo como um destino fantástico, quer por causa das suas paisagens, quer pela defesa ambiental e ecológica. São nove ilhas no meio do oceano Atlântico norte, onde o verde predomina, com um mar protegido onde abundam espécies de peixe fora do vulgar.

É uma das maiores reservas de atum do mundo, a par de outras espécies, como o cherne e o goraz. Mas também ali abundam dois mamíferos que proporcionam espectáculos deliciosos e divertidos: os golfinhos e as baleias.

É mesmo o único local no mundo onde se podem ver todas as espécies de baleias conhecidas. Mais recentemente, entre as ilhas do Pico e de S. Jorge, a moda é mergulhar com os tubarões, que também são abundantes.

As vinhas tradicionais da ilha do Pico são património da humanidade.

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Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

E há óptimos produtos em todas as ilhas, sobretudo peixe, algum marisco, uma excelente carne de vaca e muita variedade de queijos, além de frutos deliciosos, sendo o ananás de S. Miguel o mais famoso.

Os Açores são o único local na Europa onde se planta chá, na ilha de S. Miguel. A restauração das ilhas tem vindo a evoluir muito, beneficiando da qualidade destes produtos, sobretudo do peixe e da sua enorme variedade, e os vinhos tranquilos começam a ser presença constante nos restaurantes das ilhas.

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Sr. Genuíno – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

A ilha do Faial, bem conhecida por ter tido o último vulcão em actividade, em 1957, o vulcão dos Capelinhos, e o célebre Café Peter´s, tem também um cidadão que deu duas vezes a volta ao mundo no seu barco “Hemingway”, sozinho. É o sr. Genuíno, homem do mar e do peixe, dizem que um dos melhores conhecedores de peixe nos Açores, que trouxe dessas epopeias milhares de recordações e que acabou por casar no Brasil.

Agora mais calmo, resolveu abrir o seu próprio restaurante, na sua ilha natal, o Faial. Escolheu um local fantástico, a pequena baía da praia de Porto Pim. Um arquitecto amigo desenhou o projecto e surgiu, de raiz, um local onde se pretende divulgar o marisco e peixe dos Açores, através de algumas receitas tradicionais, mas também com alguma inovação, descobrir novas ligações, fazer novas propostas.

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Restaurante Genuíno – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

São duas salas, uma em baixo e outra no primeiro piso, decoradas com simplicidade, em tons muito claros, mesas bem postas, ambiente descontraído com janelas enormes a deixar ver uma paisagem muito bonita, da praia de Porto Pim. A tranquilidade está por todo o lado. Neste “Genuíno” só se  serve peixe fresco e algum marisco, numa ementa apelativa e moderna.

Pão saboroso, queijo, requeijão e pimenta da terra para começar. Há duas sopas possíveis, Hemingway e creme de legumes. Como entradas um saboroso camarão à Genuíno, salada de atum fresco, salada de polvo muito bem temperada e palitos de peixe-espada à Cabo Horn.

Pegando em peixes das ilhas propõem-se nomes de locais que o sr. Genuíno visitou nas suas viagens, alguns deles mesmo incluindo preparação e temperos dessa regiões longínquas: filetes de peixe-espada com arroz do mesmo, atum no forno à Rapa Nui, escabeche quente de peixe à Polinésia, genuinamente arroz de peixe, arroz de polvo da costa (ao jantar).

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Ilha do Faial – Foto de José Silva | Todos os Direitos Reservados

Na grelha do Pico passam cherne do Guernica, peixe-espada com banana da ilha, atum timorense, goraz a meio canal e pargo à Vanuatu.

Há menu infantil e menu vegetariano e também fazem take away. Para terminar, sobremesa do “Genuíno”, pudim de chá da Gorreana, salada de fruta, pudim de inhame, ananás e prato de queijo. Os vinhos açoreanos, sobretudo do Pico e de S. Miguel estão bem presentes, assim como o Lajido e o Ksar, ambos do Pico e muito especiais.

O restaurante está sempre aberto, podendo comer-se a qualquer hora do dia, todos os dias.

Ali em frente, aquele mar fantástico contínua tranquilo…

 

Contactos
Restaurant Genuíno
Areinha Velha, 9 Horta
9900-067 Ilha do Faial, Açores
Tel: (+351) 292 701 542
Email: genuino@genuinomadruga.com

Denominação de Origem e Indicação Geográfica

Texto Patrícia Pais Leite 

O que significa “DOC” que vemos tantas vezes nas garrafas dos vinhos portugueses? É o mesmo que “Denominação de Origem”? E o que significa o termo “Vinho Regional”? Porque é que há ainda outros vinhos que não são “DOC” nem “Vinho Regional”? São estas questões que pretendemos aqui esclarecer. 

Legenda
DO: Denominação de Origem;
IG: Indicação Geográfica;
Produtos vitivinícolas: vinhos, vinhos espumantes, vinhos frisantes, vinhos licorosos, vinagres de vinho, aguardentes de vinho e aguardentes bagaceiras;
Certificação de produtos vitivinícolas: processo de validação da conformidade do produto com os requisitos definidos pela Entidade Certificadora para a DO ou a IG, o qual é evidenciado, no caso dos produtos engarrafados, através do selo de garantia constante da garrafa.

Os Conceitos

“Queijo Serra da Estrela”, “Carne Barrosã”, “Mel dos Açores”, “Azeite de Moura”, “Pêra Rocha do Oeste” e ainda “Ovos Moles de Aveiro”, são nomes que conhecemos e associamos a produtos de qualidade, certificados e relacionados com uma determinada origem geográfica. Trata-se de produtos registados em sede comunitária como produtos agrícolas ou géneros alimentícios com Denominação de Origem Protegida ou Indicação Geográfica Protegida.
E, nos vinhos, todos nós estamos familiarizados com nomes como “Alentejo”, “Douro”, “Vinho Verde”, “Trás-Os-Montes”, “Dão”, “Bairrada”, “Ribatejo”, entre outras.

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Queijo Serra Estrela – in confrariadoqueijoserradaestrela.com

Foi efectivamente no sector vitivinícola que nasceu o primeiro sistema de protecção de uma Denominação de Origem, em 1756, com criação da Região Demarcada do Douro. Actualmente, por força das leis comunitárias, o conceito de vinho de qualidade baseia-se nomeadamente nas características específicas atribuíveis à sua origem geográfica, sendo os vinhos identificados por Denominações de origem (DO) ou Indicações Geográficas (IG).

No sector dos vinhos, uma DO é o nome geográfico de uma região (ou uma denominação tradicional, associada a uma origem geográfica ou não) que serve para identificar um produto vitivinícola:
– cuja qualidade ou características se devem, essencial ou exclusivamente, ao meio geográfico, incluindo os factores naturais (ex: clima, solo, castas) e humanos (ex: técnicas de vinificação);
– cujas uvas provêm exclusivamente dessa região;
– e cuja produção ocorre no interior dessa região.
A área de produção de uma DO é a respectiva Região Demarcada.

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Pinhão, Douro © Blend All About Wine, Lda.

O conceito de IG difere do conceito de DO essencialmente nos seguintes pontos:
– a qualidade, reputação ou outras características do produto podem ser atribuídas a essa origem geográfica, não sendo relevantes os factores humanos, como na DO;
– pelo menos, 85% das uvas utilizadas são provenientes exclusivamente dessa região, não a totalidade das uvas, como na DO.
De notar que a produção terá também de ocorrer no interior da área geográfica delimitada.

Para além das distinções conceptuais, a DO difere ainda da IG por uma maior exigência ao nível dos requisitos para a certificação dos produtos, nomeadamente quanto ao título alcoométrico, às castas utilizadas, aos métodos de vinificação, às práticas enológicas, às características organolépticas, entre outros.

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Image courtesy of Rawich in FreeDigitalPhotos.net

Com efeito, o uso de cada DO está subordinado ao cumprimento de regras específicas de produção e comércio, constantes de um regulamento próprio, que disciplina a delimitação da região de proveniência, a natureza do solo, as castas aptas à produção, as práticas culturais e formas de condução, os rendimentos por hectare, os métodos de vinificação, as práticas enológicas, o título alcoométrico, as características físico-químicas e organolépticas, as regras específicas sobre rotulagem (se necessário).

Para o uso de cada IG, existe também um regulamento de produção e comércio próprio, mas este apenas deve definir, pelo menos, a delimitação da região de proveniência, as castas e as regras específicas de produção e apresentação, designação e rotulagem, sempre que necessário.

As Designações Oficiais

Até Agosto de 2009, as designações dos vinhos com DO eram várias e pouco perceptíveis para o consumidor. Podíamos ver nos rótulos “VQPRD” (Vinho de Qualidade Produzido em Região Determinada), “VEQPRD” (Vinho Espumante de Qualidade Produzido em Região Determinada), “VFQPRD” (Vinho Frisante de Qualidade Produzido em Região Determinada) e “VLQPRD” (Vinho Licoroso de Qualidade Produzido em Região Determinada). Cada uma destas designações correspondia à respectiva categoria de vinhos: Vinho Tranquilo, Vinho Espumante, Vinho Frisante e Vinho Licoroso.

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Glasses © Blend All About Wine, Lda.

Com a classificação comunitária em vigor desde 1 de Agosto de 2009, um vinho que cumpra os requisitos de uma DO é designado simplesmente como “Vinho com DO”, independentemente da sua categoria.
Por seu lado, um vinho que cumpra os requisitos de uma IG é designado como “Vinho com IG”, enquanto anteriormente era designado como “Vinho de Mesa com IG”.

Em termos de categorias, tanto um “Vinho com DO” como um “Vinho com IG” podem ser vinho tranquilo, vinho espumante, vinho frisante ou vinho licoroso (Sobre este tema, veja o nosso último artigo).

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Image courtesy of Rawich- in FreeDigitalPhotos.net

Na rotulagem dos “Vinhos com DO” portugueses, são utilizadas as menções “Denominação de Origem Controlada” / “DOC” ou “Denominação de Origem Protegida”.

Para os “Vinhos com IG” portugueses, pode ser utilizada a menção “Vinho Regional” ou “Vinho da Região de” ou “Indicação Geográfica Protegida”. De notar que o “Vinho Regional” não está associado a DO mas sim a IG.

E os vinhos que não são “DOC” nem “Vinho Regional”? Estes são classificados como “Vinhos sem DO e sem IG”, também designados apenas “Vinhos”. Correspondem aos anteriores “Vinhos de Mesa”.

Wine Official Designations © Blend All About Wine, Lda.

A Protecção das DO e das IG

Ao garantirem a genuinidade e a qualidade dos produtos, as DO e as IG permitem ainda a protecção dos consumidores e dos produtores, o bom funcionamento do mercado dos vinhos e a promoção de produtos de qualidade. Por estes motivos, as DO e as IG beneficiam de protecção contra qualquer utilização comercial que as prejudique (usurpação, imitação ou evocação) ou que explore indevidamente a sua reputação.

A defesa de cada DO ou IG e o respectivo processo de controlo e certificação cabem à respectiva Entidade Certificadora (Comissões Vitivinícolas Regionais, Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, I. P. e Instituto do Vinho, do Bordado e do Artesanato da Madeira, I.P.).

Podemos confirmar que um vinho engarrafado é certificado como “Vinho com DO ou IG” através do selo de garantia constante da garrafa.

Da escrita ao vinho: Parte 2 – Os Vinhos do Sonho Lusitano de Richard Mayson

Texto Sarah Ahmed  | Tradução Teresa Calisto

Quando se trata de fazer vinho, excluindo o Vinho do Porto, a aliança comercial Anglo-Portuguesa parece andar em torno do nome Richard. Por exemplo, os Richardsons of Mouchão  de Sir Cliff Richard da Adega do Cantor.

O mais recente Britânico a continuar com esta tradição, é o escritor de vinhos Richard Mayson, que publicou vários livros sobre os vinhos portugueses do Porto e da Madeira. Não satisfeito com o facto de ter entrado, por casamento, para a famosa família madeirense Blandy, adquiriu a sua própria propriedade, Quinta do Centro, em 2005 na sub-região Alentejana de Portalegre (que ligação é esta dos escritores de vinho a Portalegre?!?).

Os vinhos são feitos em parceria com o conhecido enólogo e consultor Rui Reguinga com o revelador nome de marca Sonho Lusitano (‘Lusitanian Dream’). Falei com Mayson sobre viver o sonho, neste segundo de três artigos sobre escritores de vinho que fazem vinho em Portugal. A seguir, Tiago Teles.

 

Escultura de Cavalo – Foto cedida por Richard Mayson | Todos os Direitos Resrvados

Como surgiu este interesse por vinho?

Em Portugal: a minha família era fabricante de têxteis e tinha ligações comerciais lá. As férias e as viagens de negócios eram muitas vezes associadas. Os meus pais tinham uma casa em Portugal e apresentaram-me ao vinho era eu ainda muito jovem.

Quando foi mordido pelo bichinho do vinho – quando é que passou a ser um hobby a sério?

O meu primeiro emprego fez-me ficar com o bichinho do vinho. Tinha acabado de sair da escola aos 18 anos e estava a desfrutar de um ano sabático em Portugal, quando arranjei trabalho num restaurante. Os donos tornaram-me responsável pela lista de vinhos, na realidade apenas tinha que me certificar que a adega estava abastecida com os vinhos da lista e fazer as encomendas. Mas lembro-me de ter pensado que este era um tema realmente interessante, e fui até Lisboa para comprar alguns livros sobre vinho, que li na praia nas minhas tardes de folga. Durante os meses de Inverno, comecei a visitar as vinhas e através de alguns contactos profissionais dos meus pais, fui convidado para almoçar com Jorge Ferreira do despachante de vinho do Porto homónimo. Foi no dia 24 de Março de 1980 e lembro-me de ter pensado “isto é que é vida”. O bichinho tinha mordido!

O que o levou a uma carreira na escrita de vinhos?

Quando estava na Universidade, tive que escrever uma dissertação como parte do meu curso. Usando os contactos que tinha feito em Portugal durante o meu ano sabático, passei os meses de Julho e Agosto de 1982 a pesquisar o micro clima das vinhas do Douro. A nossa empresa familiar de têxteis tinha acabado de fazer um grande número de despedimentos na recessão do início dos anos 80 e não havia emprego para mim, pelo que decidi candidatar-me a empregos no comércio de vinhos. Tive a sorte de ter sido acolhido pela The Wine Society, onde uma das minhas tarefas era escrever, tanto ofertas, como notas de prova, para incluir nas caixas sortidas. Mas sempre tive a ideia de querer escrever um livro sobre vinhos Portugueses e, com a pressão dos compromissos profissionais familiares, quando surgiu a oportunidade em 1989, deixei a Wine Society para me tornar escritor de vinhos freelancer. O livro “Portugal’s Wines and Wine Makers” (“Vinhos e Vinhas de Portugal”) foi publicado em 1992 pela Ebury Press.

Na sua escrita, que vinhos o inspiraram mais e porquê?

A resposta tem que ser o Douro e especificamente o Vinho do Porto Tawny de 20 anos. Há algo de verdadeiramente mágico e misterioso no equilíbrio melífluo e na postura destes vinhos que não se baseiam apenas num ano ou colheita. Acho que fui inspirado também pelo Sherry (tendo tido uma visita alargada a Jerez por ter ganho a Bolsa Vintner em 1987) e pelo Madeira, tendo visitado a ilha pela primeira vez em 1990.

Na sua escrita, que vinhos o inspiraram menos e porquê?

É um grande desafio responder a essa pergunta, uma vez que me interesso por todos os vinhos. No entanto, sou menos inspirado por algumas das marcas maiores e pelos vinhos mais comerciais vendidos a níveis de preço chave pelos supermercados. Na realidade, acho estas promoções “menos de metade do preço” deprimentes.

Foto cedida por Richard Mayson | Todos os Direitos Resrvados

Alguma das duas últimas respostas mudou desde que começou a fazer os seus próprios vinhos?

Não, acho que fazer vinho apenas consolida a nossa opinião. Enquanto produtor de vinho é frustrante ver os consumidores serem enganados com vinhos fracos, por vezes a preços altos e muitas vezes pensamos “Eu consigo fazer muito melhor que isto!”

O que o motivou a fazer o seu próprio vinho? Houve algo em particular? 

Eu sempre tive em mente transformar as minhas palavras em acções. Eu andava a escrever há anos sobre o potencial que Portugal tinha e tem, enquanto país produtor de vinhos e queria ser eu a mostrar isso mesmo. Há alguma satisfação em “passar de caçador furtivo a guarda de caça”.

Dada a sua especialidade ser o Vinho do Porto, o Madeira e os vinhos do Douro, porquê o Alentejo?

Duas razões principais: o Douro é um sítio complicado e, quando finalmente me decidi a avançar, estava cada vez mais superlotado de actores, muitos deles a fazer vinhos excelentes. Para além disso os preços do imobiliário tinham perdido a ligação com a realidade. O meu Alentejo não é um Alentejo qualquer, mas um canto de Portugal que eu tinha debaixo de olho há anos. Primeiro a região de Portalegre é espectacularmente linda e mais parecida com o Norte de Portugal do que com o Sul, com pequenos minifúndios em montanhas de granito e xisto. Tem um terroir fabuloso e eu queria mostrar isso mesmo e colocar este lugar no mapa.

Depois de ter decidido fazer o seu próprio vinho, quanto tempo demorou até ter o seu primeiro vinho?

Qual o comprimento de um pedaço de fio? Demorou-me bastante tempo a encontrar o sítio certo e nunca se tem a certeza se se vai avançar até se encontrar o sítio certo. Creio que demorou cerca de cinco anos desde começar a procurar a sério até produzir o nosso primeiro vinho em 2005.

Qual era a sua visão para o seu vinho e ela mudou de alguma maneira?

Quando enveredei por este projecto disse, meio a sério, meio a brincar, que queria ser o “Petrus de Portugal”! Agora percebo que para ser Petrus (ou qualquer outro grande vinho icónico) é necessário ambicionar ser perfeito a todos os níveis. A perfeição vem, não só, a enorme custo, tanto financeiro como emocional, e como resultado, a maioria dos vinhos são um compromisso, moldado para o mercado. Eu acredito que temos as condições naturais na Serra de São Mamede para fazer vinho realmente bom e de qualidade mundial, mas que demora tempo a chegar lá e que o preço que se recebe por todo o nosso trabalho árduo, depende do que o mercado irá aceitar. Comprar uma vinha e fazer e vender os nossos próprios vinhos traz uma forte dose de aspectos práticos ao nosso sonho inicial. Fazê-lo durante uma das mais sérias crises financeiras da história, apenas serve para testar ainda mais o nosso sonho.

Teve desde o início uma ideia sólida sobre quem iria comprar e degustar o seu vinho e isso é importante?

Sim, eu tinha planeado desde o início fazer três vinhos tintos diferentes. Começando com um vinho, Pedra Basta em 2005, chegamos aos três (Duas Pedras e Pedra e Alma) em 2009. Antes de lançarmos o nosso primeiro vinho Pedra Basta em 2007, testamos o mercado para ter a certeza que nos encontrávamos na categoria certa de preço/qualidade, tanto em Portugal como, mais essencialmente, a nível internacional. É também importante encontrar o nome e imagem certos para o nosso vinho. Basicamente conhecíamos o nosso mercado e continuamos a tê-lo como alvo, apesar desse alvo estar em constante movimento.

Richard Mayson – Foto cedida por Richard Mayson | Todos os Direitos Resrvados

Quão envolvido está no processo de cultivo da uva, produção do vinho, desenvolvimento da marca/embalagem e marketing? 

No início tentei estar envolvido em todos os níveis, mas com três crianças pequenas em casa e outros trabalhos para fazer, isso não é possível. No entanto, eu gosto de saber o que está a acontecer e tomo as decisões estratégicas nas vinhas, sobre a mistura dos lotes e sem dúvida, sobre o desenvolvimento da marca/embalagem e marketing. Tenho muita sorte em ter uma equipa excelente e de confiança, incluindo o brilhante enólogo Rui Reguinga que é também o meu sócio. Pensamos dentro das mesmas linhas e gostamos dos mesmos tipos de vinhos, o que ajuda!

Tinha alguma experiência na produção de vinhos ou fez alguns estudos em enologia antes de fazer o seu próprio vinho?

Eu passei uma vida no vinho, que incluiu trabalhar num conjunto de casas vinícolas tanto em Portugal como na Austrália, portanto eu sabia no que me estava a meter. Mas se tenho uma formação formal? Não. Eu não confiaria em mim para ser responsável por uma colheita dia a dia, hora a hora, mas eu sei o que se passa.

Tem um mentor ou herói do vinho que o inspire?

Essa é difícil de responder porque eu tenho tantos bons amigos no negócio do vinho cuja influência me contagiou ao longo dos anos. Para nomear apenas alguns, diria Rick Kinzbrunner da Giaconda, em Victoria, Austrália, a família Roquette da Quinta do Crasto no Douro e Dirk Niepoort que reinventou o negócio da família ao longo dos últimos 25 anos.

De que forma a sua experiência enquanto escritor de vinhos, influenciou o estilo de vinho que faz, a região e/ou as variedades a partir das quais obtém as suas uvas, e como desenvolve a marca e vende os seus vinhos?

Eu diria que ser escritor de vinhos tem tido uma influência a todos os níveis. Enquanto escritor de vinhos vê-se tanto deste mundo; o óptimo, o bom e o mau e o feio. Isto quer dizer que formamos ideias bastante claras sobre o que funciona para nós. Obviamente, em termos de estilo, antes de mais, temos que respeitar o terroir. Eu costumava ser um céptico do terroir mas agora sou um fanático. Obtemos as nossas uvas das minhas vinhas, pelo que os nossos vinhos são específicos do local. As uvas que tenho são, em parte, aquelas que têm um historial de se dar bem na nossa área, mas também aquelas de que gosto e sobre as quais tenho um palpite, como Syrah e Touriga Nacional. Por muito que goste da variedade, nunca plantaria Pinot noir em Portalegre, da mesma forma que não plantaria Syrah em Sheffield! Apesar dos nossos vinhos serem de uma única propriedade, Quinta do Centro, decidi desde cedo, criar a marca dos nossos vinhos de acordo com o terroir local, em vez de seguir o caminho, tantas vezes repetido, da propriedade única. “Pedra” é o nosso tema comum e reflecte a minha crença no nosso terroir predominantemente granítico.

Escrever sobre vinhos dá-lhe uma compreensão do processo, do mercado, etc. mas fazer o seu próprio vinho envolveu algum desafio/dificuldade imprevisto? Se sim, quais são?

Sim, há alturas em que o sonho se transforma em pesadelo, especialmente quando as coisas correm mal no meio da vindima, quando toda a gente está a trabalhar ao máximo e há bastante tensão. Eu passei uma vindima, enterrado até aos joelhos em efluente, quando o sistema de esgotos deixou de funcionar. Não pensamos nestas coisas quando estamos a provar vinho, mas para fazer bom vinho é preciso muita água e ela tem que ir para algum lado.

Adega – Foto cedida por Richard Mayson | Todos os Direitos Resrvados

Reciprocamente, fazer o seu próprio vinho ultrapassou as suas expectativas de alguma forma? Há alguns aspectos do processo que considere particularmente agradáveis? 

Adoro tudo (com excepção dos esgotos, obviamente) mas acho que promover e vender o nosso vinho me trouxe mais satisfação do que estava à espera. 

Estar envolvido no processo de produção mudou a sua perspectiva sobre o mundo do vinho em alguma forma?

Sim, eu diria que produzir vinho mudou a maneira como penso sobre praticamente tudo o que tem a ver com vinho. Enquanto escritor de vinho, estamos do lado de quem recebe muita hospitalidade e não vemos com frequência a angústia comercial que faz parte da enologia, a quase todos os níveis. A regulamentação vitivinícola é particularmente frustrante.

Está satisfeito com a sua gama – em termos do próprio vinho (coincide com a sua visão), as vendas e o nível de preço?

Sim, estou muito satisfeito com a nossa gama. Pedra Basta é o nosso vinho principal e vende no Reino Unido por cerca de £12.50, com o Duas Pedras a £8.50 e o Pedra e Alma a cerca de £20. Acredito que todos os nossos vinhos oferecem um bom valor pelo dinheiro e isso é importante. Temos que acreditar nos nossos produtos.

E a seguir (alguns planos para expandir a gama)? 

Possivelmente um Pedra Basta branco, possivelmente um rosé. Está sempre sob discussão. 

Qual é a coisa mais excitante que está a acontecer com os vinhos Portugueses hoje em dia? 

Acho que os vinhos brancos provaram e estão a provar que são incrivelmente emocionantes em Portugal. Mais ainda, gosto da reabilitação da uva Baga que está a acontecer.

Vinho é um luxo, não uma necessidade – o que faz com que valha a pena e qual é o valor mínimo que os consumidores devem esperar pagar por um vinho interessante de qualidade? 

É a variedade que dá sabor à vida e não há nada mais variado que o vinho, em estilo, carácter, história e embalagem. Veja-se a gama média dos supermercados. Não encontra nada parecido com esta variedade em sumos de laranja ou feijão enlatado! Quanto é que os consumidores devem pagar, depende do mercado, mas no Reino Unido, grande parte do custo do vinho está a ser fixado sob a forma de taxas e despesas gerais. Eu diria que £7.50 seria a regra geral, tendo sempre em conta que quanto mais se paga, mais vinho se obtém pelo dinheiro.

Pedra Basta – Foto cedida por Richard Mayson | Todos os Direitos Resrvados

Há tanta competição por espaço de prateleira – porque é que os retalhistas e os consumidores devem escolher Portugal?

Portugal redescobriu o seu terroir nos últimos vinte anos e é um sítio muito emocionante para se estar. Dentro de Portugal há um espectro enorme de vinhos, tinto, branco e fortificado, mais do que em qualquer outro país de tamanho comparável, atrever-me-ia a dizer. Portugal oferece uma gama de sabores única, a partir de uvas fascinantes, bem como óptima relação custo/benefício. Qualquer pessoa com um interesse genuíno por vinho, deve ter mais que um interesse superficial por Portugal. Pode não ser o país mais fácil de compreender, mas traz recompensas enormes para aqueles que despendam do tempo e do esforço.

E porque deveriam escolher um dos seus vinhos? Qual é a história?  

Pedra Basta 2010. Este é o vinho que sempre quis fazer.Acabamos de lançar a colheita de 2010 e apesar de ter sido um ano bastante difícil, o Rui Reguinga fez um óptimo trabalho e acho que o vinho é o nosso melhor até à data. Nós aliviamos deliberadamente o carvalho, para permitir que a fruta se expressasse mais. O vinho é uma verdadeira reflexão do nosso terroir de montanha, fruta madura combinada com frescura e subtileza. As uvas são Trincadeira, Aragonez e Alicante Bouschet com um toque de Cabernet Sauvignon. Não vou encher esta resposta com a prosa púrpura do escritor de vinho, pelo que bastará dizer que eu estou muito, muito orgulhoso dele. Prove-o e veja se concorda.

Alambre 20 Anos…A magia do Moscatel de Setúbal

Texto João Pedro de Carvalho

Portugal é o único país do Mundo capaz de colocar à mesma mesa três generosos de classe Mundial, provenientes de três regiões fantásticas e únicas. Estes vinhos são o Vinho do Porto, Vinho da Madeira e obviamente o Moscatel de Setúbal.

O Moscatel de Setúbal é um vinho generoso com Denominação de Origem Protegida (DOP) reconhecida desde 1907. No entanto, na  José Maria da Fonseca, a produção destes vinhos remonta a 1834 o que possibilita ter um património inédito de vinhos moscatéis em stock.

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Alambre 20 Anos Moscatel de Setúbal – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Photo by João Pedro Carvalho | All Rights Reserved

O Alambre 20 Anos é elaborado a partir da casta Moscatel plantada em solos argilo-calcários, que da produção anual vê uma parte ser destinada ao envelhecimento mais prolongado em cascos de madeira usada na mítica Adega dos Teares Velhos (Vila Nogueira de Azeitão).

O vinho em causa é uma referência obrigatória e um dos meus favoritos, tendo lugar indiscutível entre os melhores vinhos doces de Portugal, com um preço que a rondar os 24€ lhe dá uma invejável relação preço/satisfação. Fruto de um conjunto de grandes moscatéis, envelhecidos e lotados com mestria, resulta um blend de 19 colheitas em que a mais nova tem pelo menos 20 anos e a mais antiga perto de 80 anos.

Um vinho muito complexo e intenso. Elegante, com notas de frutos secos e fruta passa, laranja cristalizada, mel, ligeiro vinagrinho, envolto em frescura e harmonia. Boca com grande presença, gordo mas com bastante frescura, macio com travo melado e de fruta, num final maravilhoso. É o par perfeito para um bom chocolate negro com laranja ou simplesmente para terminar um jantar de amigos em grande classe.

Contactos
José Maria da Fonseca, S.A.
Quinta da Bassaqueira, Estrada Nacional 10
2925-542, Vila Nogueira de Azeitão, Setúbal, Portugal
Tel: (+351) 212 197 500
Email: info@jmf.pt
Site: www.jmf.pt

LISBOA … uma região vitivinícola renovada!

Texto Olga Cardoso

A região de Lisboa, anteriormente conhecida por Estremadura, situa-se a noroeste da capital, numa área de cerca de 40 km de extensão. O clima é maioritariamente temperado em virtude da influência atlântica.

As vinhas que crescem próximo da costa amadurecem de forma mais lenta devido às brisas marítimas, enquanto as situadas em áreas mais soalheiras do interior estão bem resguardadas pelo terreno acidentado.

Photo by IVV – Instituto da Vinha e do Vinho, I.P. | All Rights Reserved

A Região de Lisboa é, presentemente, uma das mais importantes do país em termos de volume de produção e contempla 9 Denominações de Origem distintas, reconhecendo-se assim a tipicidade, singularidade e qualidade dos seus vinhos.

Alenquer, Arruda, Bucelas, Carcavelos, Colares, Encostas d’Aire, Lourinhã, Óbidos e Torres Vedras, são as suas Denominações de Origem, contando ainda com a indicação geográfica homónima “Vinho Regional Lisboa”.  Veja aqui para mais detalhes.

Na zona Sul da região encontram-se as três Denominações de Origem mais conhecidas pela sua tradição e prestígio: Bucelas, Carcavelos e Colares.

Na sua parte central, encontramos as mais vastas manchas de vinha desta região, onde para além do Vinho com Indicação Geográfica Lisboa, foram reconhecidas pelas suas características de elevada qualidade as Denominações de Origem Alenquer, Arruda, Torres Vedras e Óbidos.

Mais junto ao mar vamos encontrar uma zona produtora de vinhos particularmente vocacionados para a produção de aguardentes de qualidade e que mereceram o reconhecimento da Denominação de Origem Lourinhã.

Na zona mais a Norte, distingue-se uma vasta região de vinha que se estende desde as encostas das serras dos Candeeiros e de Aires até ao mar. Ali, produzem-se os vinhos com direito à Denominação de Origem Encostas d’Aire.

Photo by ViniPortugal | All Rights Reserved

A região de Vinhos de Lisboa abarca assim uma área de vinha de 30 mil hectares, produzindo cerca de 20 milhões de garrafas de vinho certificadas, além de aguardente, espumantes e vinhos licorosos.

As principais castas brancas são o Arinto, Fernão Pires, Malvasia, Seara-Nova e Vital, enquanto nas castas tintas predominam o Alicante Bouschet, Aragonez, Castelão, Tinta Miúda, Touriga Franca, Touriga Nacional e Trincadeira, para além da contribuição de castas internacionais como o Chardonnay, Cabernet Sauvignon e Syrah.

Na região vitícola de Lisboa produzem-se hoje diversos brancos de notável qualidade. No entanto, é de Bucelas, demarcada em 1911, que nos chegam os seus vinhos brancos mais famosos e apreciados.

Elaborados essencialmente a partir da casta Arinto, estes vinhos brancos apresentam uma acidez equilibrada, suaves aromas florais e são capazes de conservar as suas qualidades durante anos.

No que respeita aos tintos, esta região tem vindo a sofrer algumas alterações no seu panorama global. Se Colares e Carcavelos assumem hoje uma elevada importância histórica, outras Denominações de Origem, fruto da enorme reestruturação efectuada nas suas vinhas e adegas, produzem agora vinhos harmoniosos, equilibrados e conhecidos pela sua boa relação qualidade/preço.

Photo by Carlos Janeiro | All Rights Reserved – Veja aqui o blog do Carlos

A região de Alenquer produz alguns dos mais prestigiados vinhos DOC da região de Lisboa. A sua situação geográfica favorece a maturação das uvas, resultando em tintos mais intensos e concentrados.

Noutras zonas da região de Lisboa, os vinhos tintos são aromáticos, elegantes, ricos em taninos e capazes de envelhecer alguns anos em garrafa.

Fruto da modernização e da aposta na qualidade, o perfil dos vinhos tintos Lisboa começou a alterar-se, tendo adquirido mais cor, corpo, equilíbrio, intensidade e complexidade.

E agora convido-os a ver um video sobre a cidade das setes colinas, seus vinhos, história e diversidade.

 


CVR Lisboa | All Rights Reserved

Região Vitivínicola de Lisboa – vinhos de paixão!

O terroir do Javali…

Texto João Pedro de Carvalho

O Douro tem sido nos dias de hoje uma das regiões mais mediáticas de Portugal. Actualmente são inúmeras as Quintas de inegável importância histórica no sector do Vinho do Porto, mas também existem muitas Quintas que têm vindo a ganhar notoriedade enquanto produtoras de vinhos tranquilos (vinho de mesa). Tentar descobrir um projecto mais recente que se destaque principalmente pela qualidade dos vinhos tranquilos, sem ter o peso da história a recair nos seus vinhedos, não será fácil mas também não será impossível.

Prova disso é a Sociedade Agrícola Quinta do Javali. Empresa familiar fundada em 2000 com o objectivo de produzir e comercializar (exporta 80% da produção) os seus próprios vinhos DOC Douro e Porto, situando-se na margem esquerda do Rio Douro em Nagoselo do Douro, São João da Pesqueira, no Cima Corgo. A Quinta do Javali viu 10 dos seus 20 hectares serem replantadados numa vinha com as castas da região Tinta Roriz, Touriga Franca, Tinto Cão, Tinta Barroca e Touriga Nacional.

O proprietário e enólogo da quinta, José António Mendes é um apaixonado pelo seu trabalho. Nota-se no brilho dos olhos quando a conversa muda e passamos a falar dos seus vinhos. Enquanto vamos provando as novas colheitas vai explicando que procura fazer sempre todo o trabalho na vinha, evitando intervir na adega, as leveduras são autóctones, os vinhos são todos feitos em lagar com pisa a pé e aliam potência com uma frescura incrível. Não são vinhos fáceis, de agrado imediato, requerem paciência, mostram uma grande densidade, camadas de sabor e aromas, frescos, estruturados com taninos ainda presentes que em novos torna a decantação quase obrigatória.

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Quinta dos Lobatos 2013 | Quinta do Javali Reserva 2011 | Quinta do Javali Vinhas Velhas 2011 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Quinta dos Lobatos 2013 (DOC Douro)
Acabado de lançar no mercado, austero e novo, fruta rija e madura com alguma compota mas muito limpa, especiado, nota de esteva, carnudo, ganha envolvência com o tempo no copo. Boca cheia de vigor e frescura com a fruta a explodir de sabor, secura no fim, pimenta preta, fundo mineral e prolongado.

Quinta do Javali Reserva 2011 (DOC Douro)
Passa 18 meses em barrica. Mais envolvente que o Quinta dos Lobatos, barrica mais integrada apesar do poderio do cacau e tabaco, mostra fruta madura com compota, floral, especiaria doce. Boca com elegância permitida por taninos envoltos em estrutura dominada pela fruta maturada, fresco, conquistador e com menos austeridade a fazer-se sentir.

Quinta do Javali Touriga Nacional 2012 (DOC Douro)
Com uma quantidade muito limitada de 600 garrafas, o vinho é uma provocação aos sentidos. Fruta marcada pela frescura e qualidade, leve geleia, perfume de violetas e ervas aromáticas, tabaco e pimenta Mostra-se coeso, ambicioso, compacto e provocante. Com uma boca cheia de frescura e sabor, revela-se saboroso e preenche por completo o palato numa estrutura ampla em grande final.

Quinta do Javali Vinhas Velhas 2011 (DOC Douro)
Este vinho é um autêntico juggernaut. Chega de forma arrebatadora e domina por completo quem prova. Mostra toda a austeridade do Douro, estrutura firme e fresca, madeira que o ampara sem excessos (20 meses de estágio), fruta muito limpa e sumarenta com balsâmico, especiarias, notas de baunilha e chocolate preto. Enorme vigor e complexidade, disposta por camadas de aromas e sabores, tudo firme e sem abanar. Alimenta-se de tempo no copo ou no decanter, cresce, ganha novas formas mas sempre tenso, sempre novo. Na boca é fresco e amplo, fruta que se mastiga, saboroso, enérgico e grandioso com secura final à procura de pratos condimentados.

Quinta do Javali Special Cuvée 2012 (DOC Douro)
Nasceu de um desafio lançado ao produtor por um apaixonado pelo mundo do vinho e ao mesmo tempo responsável pela distribuição em Portugal. O vinho dá uma prova de luxo, mais macio e delicado que o Vinhas Velhas, conquista pela finesse, complexidade e ao mesmo tempo não perde aquele fulgor e energia característica dos vinhos desta casa. O que mais chama a atenção é o delicado e bonito perfume floral que mostra ao lado de groselhas e framboesas muito frescas e limpas, quase aromas em HD. A barrica arredonda os cantos com toque fumado e baunilha. Na boca mostra uma bonita frescura que domina todo o conjunto, grande harmonia com enorme presença no palato, final muito longo.

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Quinta do Javali Porto LBV 2007/2008/2009 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Quinta do Javali Tawny 20 Anos
De perfil delicado tem harmonia e boa dose de frescura. Nota-se que não tem a complexidade proveniente de um lote com vinhos tão velhos como outros 20Anos à venda no mercado. Bom fruto seco, laranja cristalizada, caramelo, figo, tudo envolto num conjunto bastante agradável, em final prolongado.

Quinta do Javali Porto LBV 2009
Da prova dos LBV 07, 08 e 09 foi este último que mais se destacou, apesar de todos eles estarem num nível de muito boa qualidade. Destacou-se o 2009 pela gulodice da fruta com a presença da mesma e a frescura num conjunto mais amplo e sumarento que os restantes. Na boca, sente-se mais presença da fruta compotada, chocolate e leve especiaria em final fresco e longo.

Contactos
Sociedade Agrícola Quinta do Javali
Apartado 71
5130-909 S. João da Pesqueira
Email: antoniomendes@quintadojavali.com
Site: www.quintadojavali.com