“Taste in Adegas”, Os Vinhos do Pico Niepoort – Batuta 2001

Douro ou não Douro – Porquê a questão?

Texto Sarah Ahmed | Tradução Teresa Calisto

Muitos produtores de vinho descreveram o Douro como um “parque de diversões”. Com as suas encostas multifacetadas, as suas vinhas localizadas entre os 100 e os 900 metros, a sua miscelânea de castas, as permutações estilísticas parecem intermináveis. Poderíamos dizer que há uma infinidade de escolhas…

E no entanto, para alguns, tome-se como exemplo a minha última descoberta fora de pista – o Quinta da Romaneira Petit Verdot 2011 – as 118 castas aprovadas da região DOC Douro não chegam! O que explica o motivo pelo qual este tinto de casta única de uma das maiores quintas históricas do Vale do Douro está rotulado como Vinho Regional Duriense e não como DOC Douro.

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Vinho Regional Duriense – Fotode Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Devo confessar que tenho uma reacção automática tendencialmente negativa ao uso de uvas não locais (especialmente uvas estrangeiras), quando Portugal é dotado de castas nativas tão ricas e únicas que são o paraíso para qualquer amante de vinho. Bom, podemos perguntar então, o que há de tão bom no Petit Verdot? Mas usando as palavras de Tiago Teles, talvez a questão correcta seja será que as uvas “conduzem o local”?

Tendo amadurecido tarde (ainda mais tarde que o Cabernet Sauvignon) e portanto com maior risco, em Bordéus (onde tem a sua origem), o Petit Verdot é participante do blend tinto da famosa região Francesa (o chamado “sal e pimenta”). Mas transplantem-no para climas mais quentes e secos, onde tem muito melhor hipótese de amadurecer completamente, e o Petit Verdot transforma-se numa poderosa variedade por si só. Na realidade, tendo em conta que as vinhas foram plantadas apenas em 2006, não pude senão ficar impressionada pela concentração e estrutura do Quinta da Romaneira Petit Verdot.

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Christian Seely na Quinta da Romaneira – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Não que o Douro tenha falta de vinhos concentrados e estruturados. Então por que motivo terá Christian Seely, co-fundador da Romaneira e seu Director Executivo, plantado esta vinha quando supervisionou a renovação da quinta do século XVII, após a sua aquisição em 2004? Terá sido um capricho Francês, uma vez que Seely também é o Director Executivo da francesa AXA Millésimes, detentora das vinhas Château Pichon-Baron, Petit Village e Suduiraut em Bordéus?

Não sendo pessoa para medir as palavras, Seely diz simplesmente “deu-se incrivelmente bem”. Tão bem na realidade que ele enxertou vinhas na Quinta do Noval (que faz parte do portfolio da AXA Millésimes). É o teste de acidez que explica o motivo pelo qual tanto a Romaneira como a Noval também produzem um Syrah (tendo este último sido seleccionado como um dos meus 50 Grandes Vinhos Portugueses em 2010). Explica também a razão pela qual Seely deu pouca atenção à variedade icónica de Bordéus, o Cabernet Sauvignon. Apesar de ter sido plantado na vinha de Noval no Vale Roncão, Seely contou-me numa visita há uns anos atrás, de forma que não posso esquecer: enquanto o Syrah “se adaptava bem ao Douro, o Cabernet destacava-se como um vulgar turista.” Basta dizer que as vinhas Cabernet foram rapidamente substituídas pela casta autóctone Touriga Franca!

Aqui ficam as minhas notas sobre o Quinta da Romaneira Petit Verdot 2011, seguidas de seis outros vinhos Durienses a ter em atenção, quatro dos quais notarão que são feitos por produtores nativos do Douro! De facto, considero que a Real Companhia Velha e a Niepoort produzem a maior gama na região de variedades não-locais.

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Quinta da Romaneira Petit Verdot – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Quinta da Romaneira Petit Verdot (Vinho Regional Duriense)
Da colheita excepcional de 2011, este Petit Verdot tem uma tonalidade profunda, opaca e brilhante como pele de beringela. O nariz é poderoso e muito vinoso, com groselha rica, bolo de frutas picante e couro curado, todas estas notas acompanhadas por um palato amplo mas bem equilibrado, com taninos corroborantes, maduros e presentes. Gosto particularmente da forma como abraça o palato – há uma adorável intensidade e peso de fruta, para além de um toque de pó do Douro e de eucalipto, no final longo e ondulado. Ainda assim, duvido muito que conseguisse adivinhar a proveniência deste vinho se o provasse às cegas. Muito bom. Na realidade, o melhor Petit Verdot varietal que já provei (embora de uma amostra pequena). 14%

Outros vinhos Duriense a ter em atenção
Lavradores de Feitoria Tres Bagos Sauvignon Blanc
Real Companhia Velha Delaforce Alvarinho
Poeira Branco (Alvarinho)
Niepoort Pinot Noir
Quinta do Noval Labrador Syrah
Quinta do Noval Cedro

Contactos
Quinta da Romaneira
Cotas
5070 – 252  Alijó
Portugal
Tel: 259 957 000
Fax: 259 957 009
Email: info@quintadaromaneira.pt
Site: www.quintadaromaneira.pt

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