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De Volta aos anos 30 com a Casa dos Tawnies

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Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira

Big Fortified Tasting (Grande Prova de Fortificados) é a uma feira exclusivamente dedicada a vinhos fortificados, e a maior do mundo para este propósito. E é também uma das minhas provas favoritas do ano, até porque fortificados envelhecidos em madeira – obras vínicas do tempo – estão entre os mais deliciosos e complexos vinhos à face da Terra. Por isso não hesitei quando tive a oportunidade de participar na Masterclass “House of Tawnies”, da Sogevinus, que me levou de volta aos anos 30. Pode ter sido a era da Depressão mas, no que toca ao vinho do Porto, à medida que provava os Colheitas 1935, 1937 e 1938, havia muitas razões celebrar!

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Carlos Alves, Enólogo do grupo Sogevinus – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Não contabilizando a inegável qualidade destes vinhos do Porto, a auto-intitulada alcunha “House of Tawnies” encaixa-lhe que nem uma luva. Quando a Sogevinus adquiriu, há 10 anos atrás, a Kopke, a Burmester, a Barros e a Cálem, ficou em posse do maior stock de Colheitas em Portugal – segundo o enólogo do grupo, Carlos Alves, a Sogevinus possui 17 milhões de litros de Porto Tawny. Além do mais, já que os Colheitas são engarrafados por encomenda, passam muito mais tempo em madeira do que os 7 anos mínimos legais. Agora que tenho tempo para pensar, foi qualquer coisa de extraordinário provar vinhos que passaram mais de 80 anos em madeira. Os 4 Colheitas que provamos tinham sido engarrafados apenas 15 dias antes.

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Os quatro copos na mesa de prova – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

É uma longevidade que se baseia simultaneamente na mestria de selecção das uvas e o cuidado dispensado nestes raros e finos Portos durante o seu longo estágio em madeira. Alves explica que, as uvas não têm apenas de ter estrutura para envelhecer, devem também enquadrar-se na filosofia da casa. Ele certifica-se disso, nas vinhas, todos os anos, a cada vindima; as uvas para os Colheitas são as primeiras a ser alocadas já que esta categoria é uma imagem de marca da empresa.

Nos Kopke, as uvas para os Colheita têm sido obtidas, desde os anos 20, nas parcelas do meio e superiores da Quinta S. Luiz, perto do Pinhão, em Cima Corgo. A 600m acima do nível médio das águas do mar, proporcionam a acidez para o estilo estruturado e intenso do Kopke. Quando a Barros adquiriu a Kopke em 1952, também pensou nas uvas da Quinta S. Luiz mas, neste caso, uvas com um maior teor de açúcar são obtidas de duas parcelas mais baixas e mais quentes, da vinha junto ao rio. São mais adequadas para os Portos mais ricos desta casa.

Quanto ao cuidado dispensado aos Portos durante o tempo que passam em madeira, Alves tem uma equipa dedicada para isso, consistiando de duas pessoas, isto porque “precisam de conhecer os vinhos para trabalhá-los bem”. Acrescenta ainda que, têm o cuidado de se certificarem que as pipas, os tonéis e as barricas se mantém sempre ligados à mesma casa “já que a madeira – o tamanho e tipo de madeira – confere perfil à casa”. A Cálem, por exemplo, com a maior variedade de barris, tem a tradição de envelhecer os vinhos em madeira tropical/exótica.

Alves e a sua equipa transferem os Colheitas, pelo menos uma vez por ano, das pipas individuais de 550 litros (barril de Porto) em que se encontram, para uma barrica grande, isto para poderem ajustar os níveis de aguardente vínica (que evapora ao longo do tempo) e manter os de requisitos mínimos de percentagem alcoólica (a aguardente vínica integra-se muito melhor quando misturada em quantidades mais elevadas, na barrica). Há dois factores que ajudam a explicar o porquê destes Colheitas dos anos 30 – os mais antigos que a empresa tem para venda – terem conseguido manter uma frescura incrível, sendo que um deles é este modo de exposição ao ar, e o outro é o facto de lavarem as pipas antes de recolocarem lá os Portos. Aqui estão as minhas notas de prova:

Kopke Porto Branco 1935

Fundada em 1638 por Christiano Kopke e pelo seu filho Nicolau, a Kopke é a empresa mais antiga de exportação de vinho do Porto. Em 1953 foi adquirida pela família Barros, nas mãos da qual ficou até 2006, altura em que a própria Barros foi aquirida pela Sogevinus. Com cerca de 45g/l de açúcar residual, este pálido e raro Colheita, feito a partir de uvas brancas, é, em termos de estilo, mais seco do que o Kopke Tawny Colheita de uvas tintas. Tem um nariz mais firme e focado, ainda que mais contido. Palato com notas distintas a maresia/ ozono e nogado, estilo Fino (Sherry Seco) – mais leve e menos doce do que o sabor a nozes que normalmente associo aos tawnies. E, talvez por ter menos extracto e açúcar residual, tem uma frescura particularmente marcada. É de um ano altamente considerado no Douro, e tem uma electrizante intensidade de perfume a casca de laranja, laranja e maça eau-de-vie, com notas de anis e apimentado num final longo e limpo.

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Kopke Porto Branco 1935 & Kopke Porto Colheita 1935 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Kopke Porto Colheita 1935

Âmbar carregado e borda de açafrão. Com as suas notas a casca de laranja e toranja no nariz, tem uma sensação palpável de frescura – um ponto a mais. Mas também há riqueza, o que me faz lembrar dos biscoitos Madeleine. Na boca, tem uma energia fantástica. Uma espinha nogada confere longevidade e tensão, o toque a toranja e a casca de laranja conferem sabor, enquanto que, um toque de vinagrinho de frutas faz um contraste picante com o figo seco, doce e suave. Um final longo, muito vibrante, com um timbre maravilhoso. Fabulosamente complexo e com personalidade.

Burmester Porto Colheita 1937

Henry Burmester e John Nash começaram a enviar vinho do Porto para as Ilhas Britânicas após chegarem a Vila Nova de Gaia, em 1750. A casa de Porto permaneceu na família Burmester até 2005, altura em que foi adquirida pela Sogevinus. Apesar de ter uma cor caramelo queimado, é um Colheita particularmente sedoso, com um paladar (e doçura aparente) muito diferente do Kopke. Parece muito mais jovem, tal é o seu perfeito e harmoniosamente frutado paladar a caramelo salgado. Alves descreve-o como sendo “uma caixa de perfume”, devido aos aromas que apresenta. É possível distinguir tamarindo, canela adocicada e cardamomo no chutney de frutas secas e damasco de Tânger. Rico, mas bem equilibrado, tem uma grande postura e persistência no final, carregado a cigarrilhas de café crème. Melífluo, muito elegante.

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Barros Porto Colheita 1938 & Burmester Porto Colheita 1937 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Barros Porto Colheita 1938

A Barros foi fundada em 1903 por Manoel de Almeida e adquirida pela Sogevinus em 2006. Proveniente de ano quente, este Barros tem tons fulvos, e nas bordas, açafrão e azeitona nas. No nariz sente-se um pouco a aguardente, com uma pitada de noz. E, contrariamente à realidade, sugere ser o mais velho dos Colheitas Tawny. Na boca é mais doce, com tâmaras secas, crème caramel, caramelo salgado e nogado. No entanto, o final demonstra um traço de terra e noz amarga – está a secar um pouco. Não é tão harmonioso como os outros.

O meu preferido? É difícil escolher entre o Kopke e o Burmester – são estilos tão diferentes, tal como devem ser. Fazendo um balanço, o Kopke é o mais etéreo dos dois – adorei a energia, tensão e toque que apresentou. Mas o equilíbrio aveludado do Burmester foi o que colheu mais votos.

Se quiser fazer o seu próprio mano a mano Burmester vs Kopke, porque não juntar-se a mim no Tour da Blend – All About Wine ao Porto, Vinho Verde e Douro no próximo mês?  Vamos fazer um frente a frente de Tawnies 20 anos e Portos brancos da Kopke e da Burmester, seguido de dois Colheitas da Kopke, um 1966, e outro de 1957, um dos meus Portos favoritos que também indiquei no artigo que escrevi para a wine-searcher em Dezembro.  Dias felizes!

Contactos
Sogevinus Fine Wines, S.A.
Avenida Diogo Leite nº 344
4400-111 Vila Nova de Gaia
Tel: +351 22 3746660
Fax: +351 22 3746699
E-mail: comercial@sogevinus.com
Website: www.sogevinus.com

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