Texto Sarah Ahmed | Tradução Teresa Calisto
Tiago Teles nasceu em Paris e apanhou o bichinho do vinho em França, enquanto estudante de Telecomunicações em Toulouse, através do programa de intercâmbio de estudantes Erasmus (os pais de Tiago regressaram a Portugal quando ele tinha dois anos de idade).
Ao aperceber-se, como diz, “do quão extraordinário pode ser o vinho”, a sua percepção do vinho mudou profundamente. Tendo sido criado com vinhos relativamente simples, como os das propriedades da família dos seus pais de Vinho Verde e Bairrada, Tiago explica que, antes de ir para França, ele via o vinho como nada mais do que algo “naturalmente presente na dieta… algo nutritivo.”
Depois do seu percurso de Erasmus, Tiago regressou a Portugal. As provas na sua loja de vinho local, em Campo de Ourique – “uma velha loja de vinho” – despertaram ainda mais o seu interesse pelos vinhos. Na realidade, não demorou muito até que Tiago aliasse as suas competências técnicas à sua paixão pelo vinho, co-fundando o fórum online sobre vinho, Os5às8.
Entre 2002 e 2006, Os5às8 permitiu-lhe praticar e consolidar as suas competências como crítico de vinho. Foi também o co-autor de quatro edições de um guia anual de vinho. De seguida, Tiago co-fundou o site NovaCrítica-vinho, para o qual trabalhou como crítico de vinho entre 2007 e 2009 e co-autorou o guia “Portal Portugal Guia de Vinhos Portugueses e Estrangeiros” 2008 e 2009.
Quando ele descreve a prova de vinhos como “uma busca incessante de equilíbrio entre “nós” e a experiência de vida”, seria talvez inevitável que o próximo passo de Tiago fosse produzir o seu próprio vinho. Juntamente com o seu pai, um co investidor, o escritor de vinhos autodidacta/futuro produtor, embarcou numa viagem de descoberta que envolveu visitar vinhas durante vários anos e culminou no Gilda, um vinho tinto. Gilda ganhou o seu nome do barco de madeira retratado no rótulo, que o avô de Tiago construiu e ao qual deu o nome da sua mulher.
Durante estas viagens, diz o Tiago, “nós observamos e provamos inúmeros estilos de vinho e castas”, acrescentando “eu precisava mesmo de amadurecer e me tornar humilde em relação ao vinho, provando muito, observando, libertando-me do desejo humano de controlar e disciplinar a natureza do vinho”, principalmente quando “vinhos sem natureza são os menos inspirados.” Os vinhos de Tiago são feitos com leveduras indígenas, sem enzimas, acidificação, filtragem ou clarificação, para que não se “distorça” o vinho.
Claro que é impossível escapar por completo ao desejo de controlar e disciplinar a natureza do vinho, porque os seres humanos dão necessariamente forma ao conceito ou estilo do vinho. Para Tiago e seu pai, o conceito é “produzir bom vinho, com um carácter popular… os vinhos devem ser bebidos por qualquer pessoa” e “transmitir a simplicidade do vinho criado para o seu propósito histórico, que é refrescar e acompanhar refeições a qualquer momento, em qualquer lugar.” “Fazer vinhos caros não é um objectivo,” afirma Tiago; em Portugal, o Gilda é vendido por 9€.
Quanto ao que ele quer dizer com “bom vinho”, Tiago define-o como elegante, digestível, vinho puro. Na sua opinião, as castas são menos importantes, na verdade “não relevantes”.
Antes, está convencido que a melhor maneira de expressar a localização é através de álcoois equilibrados e de extracções suaves, “caso contrário, o açúcar irá simplesmente remover a expressão mineral e vegetal.”
É uma afirmação provocadora, quando o seu vinho é produzido numa região que tem vivido alguma controvérsia relativamente a que castas obtêm o selo de garantia oficial e podem usar a indicação de origem Bairrada. Tiago afirma que “a Bairrada é uma região, não uma uva” e mantém que “as castas, independentemente de quais sejam, devem transportar o local” nomeadamente “transmitindo exactamente o calcário e o perfil fresco da Bairrada.”
Apesar de ser fã da velha vinha Baga (a casta tinta tradicional da Bairrada), na sua opinião “devido à sua diversidade de solo e influência atlântica, a Bairrada é uma região que tipicamente beneficia de blends e é também apropriada para uvas que amadureçam cedo.” Motivo pelo qual ele está “bastante feliz” com o Merlot que obteve do coração da Bairrada e misturou com Castelão e Tinto Cão para a primeira colheita de Gilda 2012. Diz, “respeitamos as pessoas que plantaram Baga há 80 anos e respeitamos as pessoas que plantaram Merlot há 25 anos. Contextos diferentes, convicções diferentes. Mas certamente, um bom legado para a Bairrada.”
É, portanto, curioso que o Gilda não esteja rotulado Bairrada, mas antes Vinho de Portugal? Tiago admite que, por um lado, tinha medo de desapontar os fãs do estilo robusto, tradicional da Bairrada (Baga). Por outro lado, tinha receio de alienar as pessoas que procurassem o seu estilo preferido (elegante, digestível). No entanto, em 2013 ele terá a coragem das suas convicções e o Gilda (nesta colheita um blend de Merlot, Tinta Barroca e Tinto Cão) será rotulado Bairrada. Estão também em movimento, planos para recuperar uma velha propriedade na região dos Vinhos Verdes, pertencente à mãe de Tiago e fazer um vinho branco. E assim, a viagem
Contactos
Tiago Teles Vinhos de Portugal
Campolargo 3780-180 S. Mateus – S. Lourenço do Bairro – Portugal
Email: tiagoteles@outlook.pt
Site: www.tiago-teles.pt
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