Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira
Em 2012, Luís Seabra abandonou o seu prestigiado cargo de enólogo na Niepoort para se lançar a solo. Explica, “depois de tantos a fazer para outros aquilo que adoro, acho que chega uma altura em que pensamos, porque não fazermos para nós próprios”.
A filosofia da Luis Seabra Vinhos está inserida no nome de marca Cru. O objectivo de Seabra é fazer vinhos “que realmente digam de onde vêm, vinhos de vinhas específicas, com intervenção mínima, vinhos verdadeiros e honestos, crus e puros…Regresso ao essencial.”.
“Regresso ao essencial” tem um tem um significado muito específico para nós britânicos. Foi o slogan de campanha que voltou para assombrar o ex-Primeiro Ministro Britânico John Major durante a década de 90 numa série de escândalos que abalaram o partido Tory. O que significará exactamente para Seabra?
Diz-me que “a única coisa utilizada nos vinhos é o enxofre (um agente antioxidante e antimicrobiano) ” e, mesmo assim, em quantidades baixas “apenas para manter os vinhos debaixo de olho.”. Acrescenta ainda “também prefiro ter mais oxigénio no sumo e nos vinhos jovens de modo a que se conseguiam estabilizar de todas as maneiras e possam envelhecer melhor na garrafa.”. O impacto desta abordagem de intervenção mínima é facilmente perceptível nos vinhos texturais, não forçados de Seabra e, em particular, nos seus vinhos brancos, que ao invés de um sabor frutado mostram um perfil mais terroso.
Em França, Cru também denota uma vinha especial ou área de vinhas. Embora de momento Seabra esteja a comprar parcelas de vinhas velhas a alguns viticultores que conhece há muito tempo ele diz, “no momento em que seja proprietário das vinhas poderei fazer CRU de um talhão específico”.
Sem dúvida que também vai adpotar uma abordagem de intervenção mínima no cultivo da uva. Por agora, admite, honestamente, “Tenho alguns conhecimentos sobre gestão de vinhas, mas estou a enganar-me a mim próprio. O que faço está lentamente a mudar a mentalidade dos viticultores… Se conseguir que um viticultor específico não utilize herbicidas num ano já será um grande feito para mim.
Além disso, na calha estão mais dois tintos da vindima de 2014 – um tinto do Douro e outro de “um projecto louco”, diz, com um produtor espanhol de Navarra, Laderas de Montejurra.
Abaixo estão as minhas notas dos seus primeiros lançamentos Cru 2013. Cada um carrega o nome do seu solo de origem – Xisto e Granito – cuja influência Seabra procura transmitir a nu para o copo. Poderão prova-los com Seabra no Simplesmente Vinho 2015 que será realizado na cidade Porto no fim deste mês.
Luis Seabra Vinhos Granito Cru Alvarinho 2013 (Monção-Melgaço,Vinho Verde)
Proveniente de quarto talhões em Melgaço. As uvas foram fermentadas e depois estagiaram 9 meses em borras, em tonéis de carvalho da Europa de Leste (um tonel novo de 2000 litros, e o outro, um experiente tonel de carvalho de 1000 litros). O vinho passou por uma fermentação maloláctica parcial. Citrinos picantes e frutas de caroço no nariz, seguido de um palato textural e terroso com borras suaves e almofadadas e um final melado. Um Alvarinho bem-feito e muito textural com uma subjacente acidez mineral, suave mas persistente. 12,5%
Luis Seabra Vinhos Xisto Cru Branco 2013 (Douro)
As uvas deste lote orientado a Rabigato são provenientes de três vinhas velhas em Meda (+80 anos), no Douro Superior, elevadas, entre 650 a 700m acima do nível médio das águas do mar. As outras castas (30% do lote) são Códega, Gouveio, Viosinho e Dozelinho Branco. Um vinho muito sugestivo com acidez dançante e mineral, que depois de algum tempo no copo, revela subtilmente camadas de fumo e noz no seu palato muito textural e vegetal a espargos brancos. Tal como o Alavarinho, demonstra borras muito distintas e almofadadas. 12%
Luis Seabra Vinhos Xisto Cru Tinto 2013 (Douro)
Este exemplar de barrica, um lote de Rufete, Touriga Franca, Tinta Carvalha, Alicante Bouchet, Donzelinho Tinto e Malvasia Negra entre outras, é proveniente de duas vinhas de Cima Côrgo com mais de oitenta anos, uma a 400m em Vale Covas, a outra a 570m em Ervedosa (o que é bastante alto para tintos). Ambas foram plantadas em solos de ardósia com predominância de xisto azul. As uvas foram fermentadas, sendo que 50% engaçadas, em barris de madeira abertos, de 3500 litros. O vinho estagiou depois em borras em barris de carvalho francês. É marcadamente um tinto fresco do Douro. Um mundo à parte de alguns dos estilos encorpados, ricos e robustos da região, mostra cereja vermelha crocante, cereja preta sumarenta e groselha e frutos silvestres e leve carvalho, permitindo que os seus taninos finos mas de carga firme e a mineralidade xistosa e enfumaçada tragam textura e interesse ao conjunto. Uma adorável intensidade de vinha, com caruma profundamente incorporada, e um perfume floral tintado que me traz à mente o Dão. Promissor e diferente, no bom sentido.
Contactos
Luís Seabra Vinhos Lda
Rua da Reboleira, Nº 19, 3º Traseiras
4050-492 Porto
E-Mail: lseabrawine@gmail.com
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