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Beber sem preconceitos? A Ascensão do Rosé “a sério”

Texto Sarah Ahmed  | Tradução Teresa Calisto

Se existe um estilo de vinho firmemente associado com o Verão e o espírito das férias é sem dúvida o Rosé. Será coincidência que o Brasil, um país sinónimo de sol e espírito de férias, tenha sido o público-alvo do Mateus Rosé quando este foi lançado pela primeira vez em 1942?

Quanto a nós Britânicos, quando entrevistei o Sir Cliff Richards há uns anos atrás, ele disse-me que é fã de, adivinhem, Mateus Rosé desde que comprou a sua primeira casa no Algarve, nos anos 60. Parece portanto que o espírito das férias da estrela de “Summer Holliday” chegou em força, e na realidade talvez seja o elixir da juventude do cantor ainda com ar de rapaz.

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Mateus Expressions – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Mas ao longo da última década, tem havido uma grande mudança entre os consumidores que, nos dias de hoje, estão a disfrutar do rosé o ano inteiro e não apenas durante as férias ou no Verão. Na realidade, no ano passado no Reino Unido, uma em cada oito garrafas de vinho compradas em supermercado eram Rosé, quando no ano 2000 eram apenas uma em cada 40. A base das vendas de vinhos tem sido as opções agora populares e até na moda, de vinhos correntes mais doces.

Apesar do Mateus Rosé continuar a ter um desempenho acima da média nesta categoria, as marcas californianas, como a Blossom Hill, Gallo e Echo Falls, têm sido sem sombra de dúvida os maiores beneficiários do fenómeno Rosé. Como foi prova o meu painel no Decanter World Wine Awards, regra geral os rosés de baixa gama Portugueses, falharam miseravelmente em construir o seu sucesso a partir da fama do Mateus Rosé, graças ao uso grosseiro de açúcar residual e à falta de frescura.

Contudo, estando na moda, há uma nova tendência: o rosé “a sério” e, vejam lá, o Brad Pitt e a Angelina Jolie produzem um: Chateaux Miraval de Provence! Até o Mateus se tornou mais sofisticado, com o lançamento de uma nova gama alta, Mateus Expressions (na imagem). E fico muito contente de dizer que encontrei recentemente fortes provas que sugerem que Portugal poderá apresentar melhores resultados com esta nova tendência, focada na qualidade e na complexidade. Aqui ficam as minhas escolhas de Rosés “a sério” de entre as opções Portuguesas:

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Principal Rosé Tête de Cuvée 2010 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Principal Rosé Tête de Cuvée 2010 (Bairrada)

“Tête de Cuvée” é um vinho produzido a partir da primeira prensagem das uvas, o que quer dizer que normalmente é mais puro e de qualidade superior. Principalmente quando, como este vinho, é feito no Rolls Royce das prensas – uma Coquard Champagne – a partir da primeira prensagem (600 lt.) de Pinot Noir, destinado aos vinhos espumosos (comentados abaixo). O sumo prensado passa ao ritmo da gravidade para pequenos tanques (suavemente, mais uma vez), o que também explica a sua tonalidade de um bege rosado super pálido e palato subtil, salino e apetitoso. Cremoso, mas fresco e suavemente frutado (ruibarbo/morango), é muito longo e persistente. Um Rosé seriamente gastronómico – muito provavelmente o melhor que provei de Portugal. Excelente. 12.5% apv (álcool por volume)

Colinas Espumante Bruto Rosé 2009 (Bairrada)

Uma efervescência muito impressionante, salmão, 100% Pinot Noir, que envelheceu durante 3 anos sobre as borras. Tem muita energia e tensão. Apenas uma alusão a arrastamento verde, sobre a impressão geral de aridez e constrição. Um final longo, focado e seco, com uma lágrima fina, muito persistente. Uma estrutura adorável. Excelente. 12.5% apv

Casa de Saima Rosé 2013 (Bairrada)

Cingindo-se às uvas portuguesas desta vez (Baga com apenas um toque de Touriga Nacional) este Rosé da Bairrada, pálido mas brilhante, é fabulosamente salino, fresco e seco. O centro firme e ácido da Baga traz grande energia e linha à sua delicada e crocante fruta vermelha (arando) 13% apv.

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Casa Ferreirinha Vinha Grande Rosado 2012 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Casa Ferreirinha Vinha Grande Rosado 2012 (Douro)

As marcas Casa Ferreirinha e Mateus pertencem à Sogrape. Enquanto o Mateus Expressions de alta gama é ainda bastante comercial (doce), este rosé seriamente pálido e seco, é ao mesmo tempo, de qualidade e complexo. Com origem 100% Touriga Nacional (que parece funcionar muito bem para os rosés) e do ponto mais alto da Quinta do Sairrão (a 650m) é delicadamente frutado, com um palato texturado (suavemente cremoso), com especiarias, apetitoso (nozes) e mineral. Um rosé adorável, nada pomposo, mas ao mesmo tempo sofisticado, com uma acidez finamente equilibrada. Muito bom. 12% apv

Quinta do Perdigão Rosé 2013 (Dão)

José Perdigão, arquitecto e produtor de vinhos orgânicos a tempo inteiro, está habituado a dar 300% a tudo e, quando ele me disse que este era o Rosé mais sério que já tinha produzido, eu sabia que estava prestes a provar um deleite raro. Comparado com as minhas outras recomendações, tem uma tonalidade rosa muito profundo – parecido com a cor dos notáveis rosés Australianos Grenache! Também é similarmente muscular no palato. A razão? Em 2013, o Dão passou por condições desafiantes na altura da colheita, com momentos de chuva intensa e explosões de tempo quente. Alguma da fruta para este vinho chegou com Baumé muito elevado (com potencial teor alcoólico de 15.5 a 16%!). Consequentemente, Perdigão introduziu, pela primeira vez e muito astutamente, caules de uva à fermentação, o que trouxe perfume, frescura e ajudou a baixar o grau alcoólico. Assim, no final de contas, obteve uma situação win-win: fruta fabulosamente exuberante (baga vermelha, groselha e cereja) e um bom corpo com equilíbrio. Quanto à complexidade, as notas minerais e florais de assinatura do Dão estão bem presentes neste blend de Touriga Nacional, Jaen e Alfrocheiro. Como diz Perdigão “não é um rosé de piscina”. Recomenda ainda que acompanhe atum seco e wasabi. Muito original (talvez até único dado o ano de produção). Muito bom. 13.5% apv

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José Perdigão – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Julia Kemper Elpenor Rosé 2013 (Dão)

O rosé de Kemper também é feito a partir de fruta orgânica, mas não podia ser mais diferente. Feito de 100% Touriga Nacional é pálido e ultra delicado, com suaves notas a fruta vermelha e a flores (violetas). Deliciosamente estaladiço e seco com acidez fresca e mineral.

Muxagat MUX Rosé 2012 (Douro)

Este é um rosé realmente interessante – estou tentada a dizer intelectual, mas tenho receio que isso seja ir longe de mais! Bom, o que quero dizer é que tem pouca semelhança aos vinhos cor-de-rosa adocicados, baratos e alegres que podem ser encontrados em qualquer esquina e supermercado. Tudo isto tem lógica, tendo em conta que MUX vem de uma vinha muito elevada, a 700m. Além disso, é influenciado pelo tipo de rosés secos e apetitosos, que os amigos franceses de Mateus Nicolau de Almeida gostam de beber num dia de Verão (pense em Provence, Bandol, Tavel). Um blend de Tinta Cão e Tinta Barroca, que é fermentado e envelhecido parcialmente em tanque, parcialmente em barril (velho). Este vinho de um bege Rosado é cremoso mas seco e apetitoso com boa acidez, notas florais elevadas e de especiarias secas e um toque de chocolate no seu final duradouro. Muito melhor do que soa! Muito bom. 13% apv

António Madeira, A Estrela em Ascensão do Dão Serrano

Texto Ilkka Sirén | Tradução Teresa Calisto

Estive recentemente num encontro de um grupo de wine bloggers Finlandeses. De vez em quando, este grupo de geeks sedentos encontra-se para provar alguns vinhos, normalmente “às cegas”, e comer boa comida. E já me conhecem, não é preciso muito para me convencer a comer e a beber.

Inicialmente era suposto fazermos um picnic ao ar livre, mas o tempo não esteve do nosso lado, por isso refugiamo-nos numa adega, localizada na baixa de Helsínquia. Toda a gente trouxe algumas garrafas e servimo-las “às cegas”, uns aos outros. A noite teve um começo dramático quando um dos bloggers deixou cair ao chão, uma garrafa de champagne Pommery NV dos anos 70, que se partiu juntamente com uma garrafa de Blanc de Noir, um vinho branco tranquilo de já-não-me-recordo-de-onde. Passados 15 minutos a praguejar e a desdenhar silenciosamente, continuamos com a prova. Na realidade, os rapazes conseguiram salvar parte do champagne antigo e vertê-lo em alguns copos de vinho, usando um filtro de café. Estava altamente oxidado e já tinha passado o seu auge há bastante tempo, mas ainda era bastante interessante para aqueles que gostamos de, ocasionalmente nos entregar à necrofilia viníca.

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Copo de Vinho – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Havia todo o tipo de vinhos a ser servidos, do neozelandês Grüner Veltliner ao Pinot Noir Catalão. Um dos vinhos que eu trouxe, foi um António Madeira Dão Vinhas Velhas 2011. Esta foi muito provavelmente, a primeira vez que foi provado na Finlândia e eu estava curioso por ouvir o que as pessoas pensavam do vinho.

António Madeira é um tipo francês mas que tem as suas raízes em Portugal. Começou a procurar uma vinha na região de vinho do Dão em 2010 e encontrou um vinhedo de 50 anos, que tinha sido negligenciado, no sopé da Serra da Estrela. António assumiu a tarefa de a recuperar e em 2011 produziu o seu primeiro vinho desta vinha. Eu tinha visto algumas fotografias deste lugar, que parece uma mini versão de Mendoza com a Serra nevada de fundo. Não tão grande nem dramática como os Andes, mas ainda assim muito bonita.

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Queijo – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Quando o servi aos meus amigos wine geeks na prova cega, eles tiveram muita dificuldade em localizar com precisão a sua origem. Não porque não tivesse um carácter distintivo, mas apenas porque os vinhos do Dão são quase completamente desconhecidos na Finlândia. Uma situação que espero que mude no futuro. A hipótese mais próxima foi a Galícia. Depois de cheirar e de provar, ou melhor, depois de o beber, a opinião geral parecia muito positiva. As pessoas reconheceram que ainda era um vinho muito jovem, mas que tinha sem dúvida potencial para envelhecer bem.

Então, o que achei do vinho? Eu já o tinha provado uma vez no evento Simplesmente Vinho, no Porto. Lembro-me de ter provado muitos vinhos nesse dia. Nestes eventos vínicos, mesmo um bom vinho, pode escapar ao nosso radar. Fiquei feliz pela oportunidade de o provar outra vez. O que me surpreendeu neste vinho foi o facto de António, que é um rapaz novo, não ter exagerado. Poderá questionar-se “porque é que isso é tão surpreendente?” mas, da minha experiência, muitas vezes quando estes jovens ases fazem o seu primeiro vinho, têm tendência a produzir vinhos para impressionar os outros ou para provar um ponto de vista. Demasiada extracção, demasiado carvalho, demasiado “natural” ou qualquer outra aldrabice. Deve manter-se o ego fora da equação e deixar que as vinhas falem por elas próprias e, neste caso, parece que António fez precisamente isso. Algo me diz que ainda vamos ouvir falar muito sobre os vinhos Dão Serrano no futuro.

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António Madeira Dão Vinhas Velhas 2011 – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

António Madeira Dão Vinhas Velhas 2011

Esta velha vinha tem uma mistura de castas tradicionais Portuguesas como Tinta Pinheira e Negro Mouro. O vinho tem um toque muito clássico. Fruta vermelha viva com o aroma a pinheiro verde que encontro com frequência nos vinhos do Dão. Boa estrutura e frescura que lhe dá uma boa apetência a ser bebido, já nesta idade. O que poderá explicar por que motivo a garrafa se esvaziou tão rapidamente. Um vinho bem equilibrado que nos faz questionar por que motivo os vinhos do Dão não são conhecidos mundialmente. Bom, que seja ouvido! Estes vinhos conseguem conquistar as mentes e os corações de qualquer entusiasta vinícola de Tóquio ao Rancho Cucamonga.

Contactos
António Madeira
Tel: + 33 680633420
Email: ajbmadeira@gmail.com
blog “A palheira do Ti Zé Bicadas”
vinhotibicadas.blogspot.fr

Vale dos Ares – Um novo Alvarinho de um novo Produtor!

Texto Olga Cardoso

“Vale dos Ares” é uma marca inspirada no nome do antigo concelho de Valadares = Vale dos Ares. “O antigo concelho de Valadares oficializou a sua existência no ano de 1317, ocupando à data a maior parte da área geográfica da sub-região de Monção e Melgaço. Devido à sua dimensão e capacidade de gerar riqueza, bem como alguma incapacidade dos Reis em controlar a irreverente população, a sua autonomia foi continuadamente adiada desde a fundação de Portugal. É esta vivacidade e entusiasmo da gente de Valadares que pretendemos assumir como os valores da marca “Vale dos Ares”.

Esta marca é titulada pela empresa MQ Vinhos, uma jovem empresa familiar que, nas palavras do produtor – Miguel Queimado – abraçou com toda a paixão o conceito de “boutique winery”, dedicando-se à produção de vinhos DOC. A MQ Vinhos está localizada na Quinta do Mato, precisamente a meio da sub-região de Monção e Melgaço e está na propriedade da família desde 1683.

A responsabilidade enológica está a cargo de uma mulher, Gabriela Albuquerque, sendo o objectivo primordial da equipa produzir um vinho único, feito com toda a atenção e cuidado, com controlo a par e passo de todos os momentos de produção, quer da uva, quer do próprio vinho.

Imbuídos de forte paixão, pretendem apresentar ao mercado um vinho que expresse, de forma perfeitamente clara e evidente, todas as características do seu terroir.

Efectivamente, parece ser este respeito pela singularidade da casta Alvarinho e pelo terroir que lhe serve de berço, que lhes permitiu produzir um vinho que não se limita a ser apenas mais um Alvarinho! Nasceu para ser uma boa referência da “latitude” Monção-Melgaço!

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Vale dos Ares Alvarinho 2013 © Blend All About Wine, Lda.

Só provei a colheita de 2013. Ainda assim, poderei afirmar que se trata de uma estreia do produtor, uma vez que este vinho saiu para o mercado com a colheita de 2012.

Com um perfil bastante aromático, mas sem máscaras ou excessivas exuberâncias, mostra-se muito fresco e com uma acidez bem controlada. Apesar dos seus toques tropicais, com o maracujá e o ananás em perfeita evidência, sobretudo no seu ataque inicial, a verdade é que com o decorrer da prova, são as suas notas cítricas e minerais que se fazem mais sentir.

Elegante, equilibrado e com notável estrutura de boca, afigura-se o companheiro ideal para mariscos e peixes grelhados. Termina de forma séria, focada e harmoniosa. Não existe historial para que lhe possamos aferir uma adequada longevidade, mas poderei vaticinar-lhe uma complexante evolução em garrafa entre os 3 e os 5 anos, desde que devidamente acondicionado para o efeito.

Um curioso Alvarinho, que nos deixa a curiosidade para o seguir bem de perto!

Contactos
MQ Vinhos, Unipessoal Lda
Quinta do Mato, sn, Lugar do Mato
4950-740 Sá-MNC
Tel: (+351) 251 531 775
Telemóvel: (+351) 934 459 171
Email: info@mqvinhos.pt
Site: mqvinhos

Conceito Branco – Um Grande Vinho do Douro Superior

Texto João Pedro de Carvalho

Em visita recente ao Douro Superior tive oportunidade de provar algumas colheitas daquele que é um dos melhores brancos feitos em Portugal, o Conceito da enóloga Rita Marques Ferreira. No total foram provadas quatro das seis colheitas já lançadas no mercado, relembro que a primeira colheita deste branco foi 2006, mas em prova apenas estiveram os 2008, 2009, 2010, 2011 aos quais se juntou à última da hora o 2012.

Este fantástico vinho branco nasce em terras de Cedovim (Douro Superior), na Quinta do Cabido, onde residem os 10 hectares de vinha exclusivamente destinados para castas brancas, num planalto localizado a 500 metros de altitude. A transição de solos faz com que por ali mande o granito, em parte responsável pela excepcional qualidade destes vinhos, a outra parte provém da mão da enóloga, influenciada pelo tempo que esteve em Bordéus, onde foi aluna e estagiária do “guru” dos brancos de Bordéus (Denis Dubourdieu).

Na visão muito própria que a enóloga tem pela região e pelos vinhos que cria, nascem brancos de Conceito muito particular, num perfil diferente, mais fresco, sem arestas e onde o detalhe e equilíbrio é palavra de ordem. Dominam as castas locais, Rabigato, Códega do Larinho e Gouveio provenientes de vinhas muito velhas. A passagem por madeira tem vindo a ser afinada e as barricas novas deram lugar a barricas usadas (madeira Francesa e do Cáucaso).

A boa notícia, ou confirmação daquilo que poucos pensavam no início, é que a evolução dos vinhos em causa tem sido fabulosa e não é obra do acaso. Aliás, o Conceito branco tem vindo a ser afinado ao longo das suas “curtas” seis colheitas de história, mostrando-se sempre predicados mais que suficientes para conquistar, por direito próprio lugar entre os grandes vinhos brancos de Portugal.

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Alto Douro Vinhateiro – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Resrvados

Conceito branco 2008 (DOC Douro)
Complexo, amplo com a sensação de pão torrado a mostrar uma barrica muito bem integrada num conjunto cheio de harmonia, que alia frescura com flores e fruta de qualidade (citrinos, pêra) envolta em leve calda. Nada beliscado pelo tempo, boca com muito sabor, frescura e finesse, corpo cheio de detalhe num fundo fresco e mineral. Final longo e persistente.

Conceito branco 2009 (DOC Douro)
Mais amplo e texturado que o 2008, muita frescura num blend com uma fruta (citrinos, pêssego) sólida, bem madura e limpa, nada tocada pelo tempo e com grande pureza de conjunto. Um pouco menos expressivo mas sempre com harmonia e classe, tão características, mostra notas fumadas de uma madeira plenamente integrada, que o arredonda e embala no palato, sem perder o travo fresco e mineral de fundo.

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Conceito White – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Resrvados

Conceito branco 2010 (DOC Douro)
A partir desta colheita a madeira nova perdeu presença, dando ainda mais lugar à fruta (toranja, lima, pêssego) que se apresenta desta forma com maior frescura e definição. O conjunto mantem-se de igual forma em grande nível, complexo e profundo, mais floral e mineral, embora muito mais rico em delicadeza. Mineralidade sentida num conjunto fresco, com vigor que mostra maior sensação de pureza durante toda a prova.

Conceito branco 2011 (DOC Douro)
Vem na boa linha do 2010, aqui muito fino de acidez e conjunto, muito mais delineado nos aromas e sabores. Conjunto complexo, com boa exuberância da fruta (citrinos, pêra). Madeira em grande harmonia, mostra-se afinado, com boca cheia de sabor e frescura, muita classe numa prova repleta de prazer e vivacidade.

Conceito branco 2012 (DOC Douro)
Somos dominados pelos citrinos e pela mineralidade, da madeira pouco ou nenhum sinal, apenas aquela nota de pão torrado que marca toda a linha. Depois quase que ficamos reféns de uma ligeira austeridade mineral que nos domina por instantes, quer o nariz quer o palato, num conjunto ainda tenso, cheio de nervo que se pode até confundir, por momentos, como algo duro no palato e fechado no nariz.

Contactos
Conceito – Vinhos
Tel: (+351) 939 000 350
Fax: (+351) 279 778 059
Email: conceito@conceito.com.pt
Site: www.conceito.com.pt

Alambre 20 Anos…A magia do Moscatel de Setúbal

Texto João Pedro de Carvalho

Portugal é o único país do Mundo capaz de colocar à mesma mesa três generosos de classe Mundial, provenientes de três regiões fantásticas e únicas. Estes vinhos são o Vinho do Porto, Vinho da Madeira e obviamente o Moscatel de Setúbal.

O Moscatel de Setúbal é um vinho generoso com Denominação de Origem Protegida (DOP) reconhecida desde 1907. No entanto, na  José Maria da Fonseca, a produção destes vinhos remonta a 1834 o que possibilita ter um património inédito de vinhos moscatéis em stock.

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Alambre 20 Anos Moscatel de Setúbal – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Photo by João Pedro Carvalho | All Rights Reserved

O Alambre 20 Anos é elaborado a partir da casta Moscatel plantada em solos argilo-calcários, que da produção anual vê uma parte ser destinada ao envelhecimento mais prolongado em cascos de madeira usada na mítica Adega dos Teares Velhos (Vila Nogueira de Azeitão).

O vinho em causa é uma referência obrigatória e um dos meus favoritos, tendo lugar indiscutível entre os melhores vinhos doces de Portugal, com um preço que a rondar os 24€ lhe dá uma invejável relação preço/satisfação. Fruto de um conjunto de grandes moscatéis, envelhecidos e lotados com mestria, resulta um blend de 19 colheitas em que a mais nova tem pelo menos 20 anos e a mais antiga perto de 80 anos.

Um vinho muito complexo e intenso. Elegante, com notas de frutos secos e fruta passa, laranja cristalizada, mel, ligeiro vinagrinho, envolto em frescura e harmonia. Boca com grande presença, gordo mas com bastante frescura, macio com travo melado e de fruta, num final maravilhoso. É o par perfeito para um bom chocolate negro com laranja ou simplesmente para terminar um jantar de amigos em grande classe.

Contactos
José Maria da Fonseca, S.A.
Quinta da Bassaqueira, Estrada Nacional 10
2925-542, Vila Nogueira de Azeitão, Setúbal, Portugal
Tel: (+351) 212 197 500
Email: info@jmf.pt
Site: www.jmf.pt

O terroir do Javali…

Texto João Pedro de Carvalho

O Douro tem sido nos dias de hoje uma das regiões mais mediáticas de Portugal. Actualmente são inúmeras as Quintas de inegável importância histórica no sector do Vinho do Porto, mas também existem muitas Quintas que têm vindo a ganhar notoriedade enquanto produtoras de vinhos tranquilos (vinho de mesa). Tentar descobrir um projecto mais recente que se destaque principalmente pela qualidade dos vinhos tranquilos, sem ter o peso da história a recair nos seus vinhedos, não será fácil mas também não será impossível.

Prova disso é a Sociedade Agrícola Quinta do Javali. Empresa familiar fundada em 2000 com o objectivo de produzir e comercializar (exporta 80% da produção) os seus próprios vinhos DOC Douro e Porto, situando-se na margem esquerda do Rio Douro em Nagoselo do Douro, São João da Pesqueira, no Cima Corgo. A Quinta do Javali viu 10 dos seus 20 hectares serem replantadados numa vinha com as castas da região Tinta Roriz, Touriga Franca, Tinto Cão, Tinta Barroca e Touriga Nacional.

O proprietário e enólogo da quinta, José António Mendes é um apaixonado pelo seu trabalho. Nota-se no brilho dos olhos quando a conversa muda e passamos a falar dos seus vinhos. Enquanto vamos provando as novas colheitas vai explicando que procura fazer sempre todo o trabalho na vinha, evitando intervir na adega, as leveduras são autóctones, os vinhos são todos feitos em lagar com pisa a pé e aliam potência com uma frescura incrível. Não são vinhos fáceis, de agrado imediato, requerem paciência, mostram uma grande densidade, camadas de sabor e aromas, frescos, estruturados com taninos ainda presentes que em novos torna a decantação quase obrigatória.

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Quinta dos Lobatos 2013 | Quinta do Javali Reserva 2011 | Quinta do Javali Vinhas Velhas 2011 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Quinta dos Lobatos 2013 (DOC Douro)
Acabado de lançar no mercado, austero e novo, fruta rija e madura com alguma compota mas muito limpa, especiado, nota de esteva, carnudo, ganha envolvência com o tempo no copo. Boca cheia de vigor e frescura com a fruta a explodir de sabor, secura no fim, pimenta preta, fundo mineral e prolongado.

Quinta do Javali Reserva 2011 (DOC Douro)
Passa 18 meses em barrica. Mais envolvente que o Quinta dos Lobatos, barrica mais integrada apesar do poderio do cacau e tabaco, mostra fruta madura com compota, floral, especiaria doce. Boca com elegância permitida por taninos envoltos em estrutura dominada pela fruta maturada, fresco, conquistador e com menos austeridade a fazer-se sentir.

Quinta do Javali Touriga Nacional 2012 (DOC Douro)
Com uma quantidade muito limitada de 600 garrafas, o vinho é uma provocação aos sentidos. Fruta marcada pela frescura e qualidade, leve geleia, perfume de violetas e ervas aromáticas, tabaco e pimenta Mostra-se coeso, ambicioso, compacto e provocante. Com uma boca cheia de frescura e sabor, revela-se saboroso e preenche por completo o palato numa estrutura ampla em grande final.

Quinta do Javali Vinhas Velhas 2011 (DOC Douro)
Este vinho é um autêntico juggernaut. Chega de forma arrebatadora e domina por completo quem prova. Mostra toda a austeridade do Douro, estrutura firme e fresca, madeira que o ampara sem excessos (20 meses de estágio), fruta muito limpa e sumarenta com balsâmico, especiarias, notas de baunilha e chocolate preto. Enorme vigor e complexidade, disposta por camadas de aromas e sabores, tudo firme e sem abanar. Alimenta-se de tempo no copo ou no decanter, cresce, ganha novas formas mas sempre tenso, sempre novo. Na boca é fresco e amplo, fruta que se mastiga, saboroso, enérgico e grandioso com secura final à procura de pratos condimentados.

Quinta do Javali Special Cuvée 2012 (DOC Douro)
Nasceu de um desafio lançado ao produtor por um apaixonado pelo mundo do vinho e ao mesmo tempo responsável pela distribuição em Portugal. O vinho dá uma prova de luxo, mais macio e delicado que o Vinhas Velhas, conquista pela finesse, complexidade e ao mesmo tempo não perde aquele fulgor e energia característica dos vinhos desta casa. O que mais chama a atenção é o delicado e bonito perfume floral que mostra ao lado de groselhas e framboesas muito frescas e limpas, quase aromas em HD. A barrica arredonda os cantos com toque fumado e baunilha. Na boca mostra uma bonita frescura que domina todo o conjunto, grande harmonia com enorme presença no palato, final muito longo.

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Quinta do Javali Porto LBV 2007/2008/2009 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Quinta do Javali Tawny 20 Anos
De perfil delicado tem harmonia e boa dose de frescura. Nota-se que não tem a complexidade proveniente de um lote com vinhos tão velhos como outros 20Anos à venda no mercado. Bom fruto seco, laranja cristalizada, caramelo, figo, tudo envolto num conjunto bastante agradável, em final prolongado.

Quinta do Javali Porto LBV 2009
Da prova dos LBV 07, 08 e 09 foi este último que mais se destacou, apesar de todos eles estarem num nível de muito boa qualidade. Destacou-se o 2009 pela gulodice da fruta com a presença da mesma e a frescura num conjunto mais amplo e sumarento que os restantes. Na boca, sente-se mais presença da fruta compotada, chocolate e leve especiaria em final fresco e longo.

Contactos
Sociedade Agrícola Quinta do Javali
Apartado 71
5130-909 S. João da Pesqueira
Email: antoniomendes@quintadojavali.com
Site: www.quintadojavali.com

 

Os Vinhos Enosexuais da Quinta das Bágeiras

Texto Ilkka Sirén | Tradução Patrícia Leite

A Bairrada poderá ser uma das regiões vitivinícolas menos conhecidas em Portugal. Para muitos é apenas um ponto preto no mapa. As pessoas de facto não parecem saber o que esperam quando bebem um vinho da Bairrada. O que dificulta ainda mais as coisas é o facto de não ser muito fácil chegar aos bons vinhos.

A casta tinta rainha da região é a Baga, que é na minha opinião uma das castas mais bonitas no planeta Terra. Quando um Baga é bem feito e um pouco envelhecido, pode enganar qualquer um numa prova cega, passando por um vinho top Nebbiolo de Piemonte. As castas brancas incluem Bical e Maria Gomes (Fernão Pires). A Bairrada também é conhecida por produzir um vinho espumante agradável. Mas se está à procura de carácter e não quer ficar entediado em provas estéreis, há um produtor na Bairrada de visita obrigatória, a Quinta das Bágeiras.

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Mário Sérgio Alves Nuno – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Mário Sérgio Alves Nuno é o proprietário e o enólogo “extraordinaire” desta quinta única. Na primeira vez que o conheci, ele fatiou e cortou um leitão inteiro com aquelas tesouras grandes mesmo à minha frente e serviu-mo como almoço. Foi amor à primeira vista. A propósito, o leitão da Bairrada é extremamente saboroso. Só isso já é um bom motivo para visitar a região.
Mário Sérgio produz tudo, desde vinho espumante até aos tintos. Também faz um vinagre espectacular, do qual me ofereceu uma garrafa na minha última visita. Há pouco tempo acabei-a e quase chorei. Preciso de mais desse vinagre o mais rápido possível.
Os vinhos são conhecidos por serem muito bons e têm uma personalidade distinta. Se procura vinhos frutados fáceis de beber, deve fugir a correr e a gritar numa outra direcção.
A adega está cheia daquelas colunas de garrafas inclinadas que desafiam a gravidade. Mas o braço direito de Mário, o senhor do chapéu engraçado, diz que elas nunca caiem. Felizmente os terramotos são raros na região.
A Quinta das Bágeiras faz também parte de um grupo de produtores chamado Baga Friends, que reúne Buçaco, Niepoort, Filipa Pato e alguns outros. Se estiver interessado em aprender mais sobre os vinhos da Bairrada e especialmente sobre a casta Baga, deve provar os vinhos deste gangue de enólogos talentosos.

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Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Quinta das Bágeiras Garrafeira Branco 2012
O vinho é bastante fechado no início, o que não me surpreendeu nada. Aprendi a esperar estes aromas de libertação lenta de praticamente todos os vinhos Bágeiras. Depois de 20 minutos no copo, o vinho abriu e ficou com muito charme. Na boca, o vinho é muito bem estruturado. Acidez soberba e sabores de pêra e citrinos. É definitivamente um vinho digno de envelhecimento que podemos esquecer na adega por um tempo. Notável.

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Quinta das Bágeiras Garrafeira Branco 2012 | Quinta das Bágeiras Pai Abel Branco 2010 – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Quinta das Bágeiras Pai Abel Branco 2010
No momento em que abri a garrafa, gritei “merengue!”. Este vinho tem aquele aroma inconfundível, forte e voluptuoso, que quase me faz lembrar de alguns vinhos Meursault. No aroma parece um pouco como se alguém deixasse cair um palheiro na nossa cabeça e nos cobrisse de maçãs doces. Humm, parece uma cena do CSI. Talvez eu não tenha aproveitado a minha vocação como redactor da TV Hollywood? Outra vez, uma acidez de fazer crescer água na boca e alguns sabores a nozes. O vinho é bastante rico em textura, mas no final muito fresco. Já tem alguma idade e parece estar a evoluir muito bem, mas ainda pode continuar a evoluir por cerca de uma década.

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Bairrada – Portugal
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Os vinhos Atlânticos da Ilha do Pico (Açores)

Texto João Pedro de Carvalho

De todas as regiões demarcadas em Portugal os vinhos oriundos dos Açores são com toda a certeza os mais esquecidos, os menos discutidos, os menos divulgados e os que menos vezes chegam à mesa dos consumidores. No entanto a situação está a mudar e assiste-se a um esforço das entidades locais, entre produtores/CVR para que estes vinhos sejam encarados/consumidos de forma mais habitual.

Focando apenas na Ilha do Pico, são vinhos que nascem sensivelmente a meio do Atlântico, em solos de lava que marcam a paisagem da ilha e que a população local diferencia entre “lajidos” e “terras de biscoito” (Ilha Terceira). É uma região peculiar, moldada pelo ser humano nos famosos “currais”, Património Mundial da Humanidade pela Unesco, que isolada de tudo se tornou depósito natural de castas únicas e diferenciadoras (cheiros e sabores) levadas pelos colonos.

Copo de vinho em “Vinhos do Pico” – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Destacam-se três castas, o Arinto dos Açores que é diferente do Arinto de Bucelas, o Verdelho que foi a primeira casta implantada na ilha e idêntico ao da Madeira mas diferente do encontrado em Portugal Continental e o Terrantez do Pico, distinto do Terrantez da Madeira e do que se encontra no Dão.

Durante anos o mais famoso vinho da Ilha do Pico foi o licoroso, cuja principal característica é a não adição de aguardente, hoje em dia a oferta é mais vasta e estende-se por brancos frescos, de travo salino/mineral em conjunto com licorosos que oscilam entre o perfil mais seco ou mais doce, capazes de surpreender pela diferença.

Alguns dos Vinhos Provados – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Uma prova de contrastes, surpresas e comparativos onde a forte ligação à mesa com peixe e marisco se tornou mais que evidente. Contou com as presenças dos produtores Maria Álvares (Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico), Marco e Rui Faria (Curral de Atlântis), Paulo Machado (Insula Vinhos) e Fortunato Garcia (Vinho Czar), foi conduzida pelo enólogo António Maçanita (Fita Preta).

Curral Atlântis Arinto dos Açores Colheita Selecionada 2013 (IG Açores)
Muita frescura, toranja, lima, folha de limoeiro, salino, menos expressivo que o Verdelho. Muita energia no palato, frescura, sumo de citrinos maduros, mineralidade em conjunto com bom final de boca.

Curral Atlântis Verdelho Colheita Selecionada 2013 (IG Açores)
Marcado pelo toque mais tropical da fruta, cheio e maduro, fresco e salino, envolvente com nota de pederneira. Boca com frescura, vegetal fresco com fruta tropical, seco no final mediano.

Curral Atlântis Verdelho/Arinto dos Açores Colheita Selecionada 2013 (IG Açores)
Aroma de fruta tropical com citrinos maduros, boa frescura, muito limpo, notas de um Verdelho mais gordo e redondo que abraça o Arinto mais ácido e cortante. Conjunto com harmonia entre castas num vinho claramente feito para a mesa.

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Arinto dos Açores by António Maçanita 2013 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Arinto dos Açores by António Maçanita 2013 (DO Pico)
Frescura num conjunto marcado pelo detalhe da fruta limpa (citrinos) e delicada, toque salino, todo muito equilibrado e a dar uma prova muito agradável. Na boca é fresco, salino, muito citrino presente com final persistente.

Insula Private Selection 2013 (IG Açores)
Feito com Arinto dos Açores, carácter vincado num vinho tenso e com muito vigor, notas de pederneira ao lado de fruta limpa e madura, toranja e limão. Boca com austeridade mineral, quase salino, fruta madura a envolver num final de boca seco e prolongado.

Frei Gigante Reserva 2012 (DO Pico)
Um perfil diferente do normal, blend de Arinto dos Açores com Verdelho e Terrantez do Pico. Conjunto perfumado com fruta madura (pêra, toranja), fumo, salino, ao mesmo tempo sensação de untuosidade e envolvência. Boca com boa presença da fruta madura, saboroso, boa acidez a terminar seco e mineral.

Um dos Vinhos Provados – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Lajido Licoroso Seco 2002 (DO Pico)
Não é um vinho de abordagem fácil, recorda ligeiramente os vinhos de Jerez, pela oxidação em conjunto com toque salino e fruto seco, amanteigado com ligeiro iodo. Boca com secura, fresco com frutos secos e iodo, num final persistente e longo.

Lajido Licoroso Reserva Doce 2004 (DO Pico)
Num perfil mais untuoso que o Lajido Seco, notas de frutos secos cobertos de caramelo, laranja caramelizada, uva passa, biscoitos, tudo em boa complexidade. Boca a condizer com os aromas, envolvente e com uma bela acidez. Final longo e persistente.

Czar Licoroso Superior Doce 2008 (DO Pico)
O mais exótico e fora do habitual, resina, toque de frutas cristalizadas com especiarias, ervas de cheiro e tisana, boa frescura a embalar o conjunto com toque salino em fundo. Gordo, complexo, guloso e estranho, diferente e divertido.

Curral Atlântis Verdelho/Arinto dos Açores Doce 2005 (DO Pico)
Passou 5 anos em barrica e 1 ano em garrafa, muito equilibrado, torrefacto, laranja caramelizada, salino e untuoso. Boca a mostrar muita frescura que liga com fruta caramelizada, calda de fruta, final longo e persistente.

Terras de Tavares – O Dão do João

Texto João Pedro de Carvalho

A Quinta da Boavista, pertença da família Tavares de Pina, onde se produzem os vinhos Terras de Tavares e Torre de Tavares, situa-se na Região Demarcada do Dão, Penalva do Castelo, entre as Terras de Penalva e as Terras de Tavares, a uma altitude aproximada de 450m.

A Quinta data dos finais do séc. XVIII tendo tido a vinha como actividade principal e hoje em dia conta ainda com a criação de cavalos raça Lusitana, mas também já ali se produziu o famoso Queijo da Serra da Estrela. Os cerca de 7ha de vinha situada em solos de transição xisto-granito de grande profundidade e elevados teores de argila conferem aos vinhos características muito especiais.

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Paisagem – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

A uva que antes era vendida para a Cooperativa local, deu origem em 1997 ao primeiro Terras de Tavares, considerado até hoje como um dos melhores vinhos do produtor. Apenas em 2005 começaram a ser vinificados na Quinta. Até então apenas elaboravam blends de toda a produção que eram produzidos na Quinta da Murqueira.

Na Quinta da Boavista, João Tavares de Pina, um amigo de longa data e produtor apaixonado pela região com toda a irreverência que o caracteriza, vai criando a seu gosto vinhos plenos de identidade, de forte ligação à terra, espelhos de cada colheita que apenas são lançados para o mercado quando ele considera estarem aptos para consumo.

Não procura o agrado fácil. Os vinhos são feitos à sua imagem, com madeira pouco presente e estágios prolongados em garrafa. Brilhantes à mesa, apreciadores de uma boa conversa, claramente marcados pela alma da região num cunho muito próprio que João trata de aprimorar colheita após colheita

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Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Em conversa ficamos a saber que o João tem um carinho muito especial pela Jaén que considera de enorme potencial, juntando também a Tinta Pinheira e a Touriga Nacional. À Quinta da Lomba (Gouveia) foi buscar as uvas de onde produzia os seus brancos à base de Encruzado, Cercial e Síria. Entretanto as vinhas foram vendidas, pelo que teremos de esperar, quem sabe até 2015 para termos um novo Torre de Tavares branco.

Numa visita recente à Quinta da Boavista, aproveitei o seu fantástico enoturismo para me deliciar com a excelente gastronomia regional que João Tavares de Pina nos prepara a acompanhar os seus vinhos. Tive pena de não ter levado os calções de banho para dar um mergulho na fantástica piscina, mas fica para outra altura.

Começando pelos brancos ainda disponíveis no mercado:

Torre de Tavares Síria 2009 (Regional Beiras)
Aroma a mostrar notas de muito boa evolução, intensidade média, flores, fruta (tangerina, maçã verde) com muita frescura e mineralidade de fundo. Boca com estrutura coesa, saboroso, com notas de fruta madura, num final fresco e bastante mineral.

Torre de Tavares Encruzado 2008 (DOC Dão)
Encruzado que não foi filtrado, mostra aroma evoluído com complexidade, cheio de detalhes, fruta madura, flores amarelas com toranja e marmelo, palha, sensação de untuosidade com boa mineralidade. Boca envolvente, fruta em calda, frescura com mineralidade em fundo.

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João Tavares Pina – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Nos tintos os destaques são:

Rufia 2012 (DOC Dão)
O Rufia nasceu na colheita 2009 como um 100% Rufete (Tinta Pinheira). Agora na nova edição juntou-se com a Touriga Nacional e a Jaén. O resultado é um vinho atrevido e cheiroso, pouco consensual devido à componente vegetal (rama de tomate) que está em evidência, embora a fruta esteja presente com muito boa qualidade e quase que se trinca. O vinho é mais sério do que se pode imaginar, um verdadeiro rebelde que alia compotas e balsâmico, sustentado por uma bela estrutura, com taninos presentes em final saboroso.

Torre de Tavares Jaén 2008 (DOC Dão)
Será posto à venda nos próximos meses. Apesar dos seis anos que já tem, está ainda muito novo mas cheio de encantos e recantos tão característicos do Dão. Está limpo e fresco, cheio de energia, muito fruto silvestre, balsâmico, pinheiro, cacau, madeira integrada com boa frescura. Explosão de sabor no palato, frescura com taninos a pedir comida por perto. O final deste belíssimo Jaén é longo e persistente.

Torre de Tavares Jaén 2007 (DOC Dão)
Vinho que desperta um sorriso, muito limpo e rico de aromas, coeso e envolvente a mostrar o grande vinho que é. Aromas característicos do Dão bem vincados, mato, pinheiro, frutos silvestres, muita frescura sempre presente, cacau e mineral em fundo. Boca a condizer, grande estrutura de apoio, muito boa frescura com a fruta sumarenta a marcar presença, taninos firmes com final especiado e longo.

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Terras de Tavares Reserva 1997 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Torre de Tavares Touriga Nacional 2008 (DOC Dão)
Uma Touriga Nacional mais contida e delicada, com aroma limpo, sedutor e fresco. Notas de  alfazema, mato, vegetal e fruta madura bem integrada. Boca bem estruturada a mostrar fruta (cereja) bem casada com a madeira, balsâmico e mineral em fundo com taninos ainda por polir. Final longo e persistente.

Terras de Tavares 2006 (DOC Dão)
Resulta do blend Touriga Nacional e Jaén, com estágio de 3 anos em barrica e posterior estágio em garrafa. O vinho mostra-se ainda muito novo, cheio de vigor e a pedir tempo. Floral, com fruto negro e mineralidade em fundo. Na boca mostra muita força, taninos presentes, fruta gorda e frescura. É vincadamente terroso e possuí um grande final.

Terras de Tavares Reserva 1997 (DOC Dão)
Blend de Jaén e Touriga Nacional com domínio da primeira sobre a segunda. Complexo e delicado, limpo e perfumado, exibe notas de resina, floral, cacau, fruta vermelha gulosa (mirtilo e cereja), complementados com toques terrosos e especiados. Na boca é suave mas firme, longo, e com taninos domados. Muito elegante e com travos de um Dão clássico, precisa de tempo no copo. Final longo e persistente, num vinho que enaltece a sua região.

Contactos
Quinta da Boavista – Castelo de Penalva
3550-058 Penalva do Castelo, Portugal
Tel: (+351) 91 985 83 40 (João Tavares de Pina)
Email: jtp@quintadaboavista.eu
Site: www.quintadaboavista.eu

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João Portugal Ramos Loureiro 2013, os prazeres acessíveis do Vinho Verde

Texto João Pedro de Carvalho

A aventura de João Portugal Ramos no mundo do vinho começou em 1980. Chegou a andar pelo Dão, Lisboa e Setúbal, mas nos dias de hoje apenas conta com presença nas regiões do Alentejo, Tejo, Beiras e Douro.

Os canais internacionais de distribuição pediram-lhe um Vinho Verde e foi isso que o fez lançar em 2011 o seu primeiro vinho daquela região, o Lima Loureiro em exclusivo para o mercado Americano.

Consolidado o projecto sediado em Monção, investimento que rondou 1 milhão de euros, lançou com sucesso na colheita de 2012 o João Portugal Ramos Alvarinho (Portugal, UK e USA).

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João Portugal Ramos Loureiro 2013 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Chega agora a vez de lançar no mercado Português e com igual sucesso o João Portugal Ramos Loureiro 2013 (3,79€ PVP). Um vinho de aroma fresco e elegante, citrinos, erva-príncipe, ervas de cheiro combinadas com mineralidade de fundo. No palato mostra boa acidez e sabor refrescante com bom final de boca. Sob a influência marítima, a região dos Vinhos Verdes tem nos seus vinhos um verdadeiro símbolo de boas vindas ao verão, resultando numa harmonia perfeita com marisco, ceviche ou simplesmente como vinho de esplanada.

Contactos
João Portugal Ramos Vinhos S.A.
Vila Santa
7100-149 Estremoz
Portugal
Tel.: (00 351) 268 339 910
Fax.: (00 351) 268 339 918
www.jportugalramos.com