MAPA a nadar ribanceira acima como um Burbot O Grande Alicante Bouschet da Herdade do Rocim

Anselmo Mendes, Produtor e Enólogo

Texto José Silva

Sendo de Monção, Anselmo Mendes acabou por se estabelecer em Melgaço, em 1997, onde comprou uma propriedade e onde, além duma pequena casa, acabou por construir uma adega. Que foi crescendo, crescendo, até ao limite possível. E assim, foi com naturalidade que lançou, em 1998,o seu primeiro vinho, o Muros de Melgaço.

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Anselmo Mendes – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Estudioso, pesquisador, aplica os ensinamentos da riquíssima história dos vinhos portugueses à produção dos seus próprios vinhos, juntando-lhes a modernidade apenas necessária. Gosta de estudar as vinhas, sendo hoje enólogo consultor em várias outras regiões do país e mesmo no Brasil. Também gosta de ensinar e dar formação a quem trabalha com ele e o acompanha, que também o ajudam a fazer experiências, muitas experiências, na vinha, mas sobretudo na adega, com que também se vai divertindo. Aliás Anselmo Mendes é uma pessoa divertida, de conversa fácil e muito interessante, que transpira a paixão e o conhecimento que tem deste mundo fascinante que é o vinho.

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New winery – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Quando a sua adega chegou ao seu limite físico, Anselmo Mendes resolveu construir uma adega de raíz, mais abaixo, moderna, bem equipada, mas com espaço adequado á quantidade de vinho que produz nos dias de hoje.

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Old facilities recuperated – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Mas aproveitou para recuperar as antigas instalações com muito bom gosto, transformando a adega das cubas numa zona de provas, que inclui uma confortável sala de estar e uma sala de provas muito bem equipada, com vista para o vale, que vai até ao rio Minho.

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Old Barrels’ room- Photo by José Silva | All Rights Reserved

A antiga sala de barricas, mantendo algumas das velhas barricas e equipamentos que já não se usam, é agora uma sala para as suas “experiências”, de que por vezes saem coisas deliciosas.

Numa visita recente, passamos pela adega para provar alguns vinhos das cubas, todos de 2014, com destaque para um Loureiro que nos deixou quase estarrecidos, tal a sua qualidade e potencial! E, claro, provaram-se os Alvarinhos que hão-de dar os vários vinhos deste produtor, bem conhecidos no mercado. No entanto Anselmo Mendes promete novidades para este ano…ficamos a aguardar.

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Bottling and labeling – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Saídos da adega, onde se engarrafavam e rotulavam já alguns vinhos, não passaram 5 minutos até estarmos nas “velhas” instalações, neste caso no conforto da sala de provas.

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Tastings’ room – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Mas não resistimos a passear um pouco pelas vinhas, nesta época do ano completamente nuas, após terem sido podadas, que daqui a um mês estarão a dar os primeiros rebentos.

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The vineyard – Photo by José Silva | All Rights Reserved

No frio da manhã o vale estava tranquilo, o fumo das lareiras aqui e ali, e os montículos das vides resultantes da poda a marcar também a paisagem, com um tanque de água corrente de permeio.

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Tank – Photo by José Silva | All Rights Reserved

E, a toda a volta, os imponentes muros de granito, a fazer algumas separações, entre o arvoredo e a vinha, e entre patamares de várias vinhas.

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Granite Walls – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Dizia o Anselmo: “Já não se fazem muros destes!” A diferença principal entre os vinhedos de Alvarinho de Monção e Melgaço (que constituem, em conjunto, a sub-região de Monção e Melgaço), é que em Monção os vinhedos estão principalmente num amplo vale, que vai estreitando para montante, apertado entre o rio Minho e a montanha, até que toma a forma de patamares, por ali acima, já em Melgaço. Estas vinhas do Anselmo são um bom exemplo disso.

Ainda passamos pela antiga adega de barricas, agora a aguardar novidades e novos processos, e ficou combinada nova visita em vindimas, lá para Setembro, para nos divertirmos um bocado. Mas era hora da prova principal, e sentamos-nos à mesa com o nosso anfitrião, para provar…18 vinhos!!

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18 wines’ tasting – Photo by José Silva | All Rights Reserved

A coisa prometia e lá fomos guiados pelo mestre, que foi explicando, aconselhando e por vezes justificando as suas escolhas. Mas será preciso justificação para provar estes vinhos?!

Começamos pelos Muros Antigos de 2014, 2012 e 2010. Mesmo o 2010 ainda muito fresco, com muito boa acidez, e o 2014 ainda cheio de fruta, algum tropical, sedoso, a prometer belas experiências lá para o verão. Seguiram-se os Muros Antigos Loureiro de 2014 e 2010. A outra casta que Anselmo Mendes trabalha intensamente, na perfeição, aqui a dar-nos duas perspectivas diferentes: 2014 muito floral, intenso, com óptima acidez na boca e um final muito fresco e persistente, e 2010 sensacional, evoluído mas ainda com bela acidez, alguma fruta branca madura, exótico, com final aveludado e elegante, a provar que também os brancos da região dos vinhos verdes envelhecem com galhardia.

Passamos então aos quatro Muros Antigos Alvarinho: 2014, 2012, 2010 e 2009. O primeiro, ainda muito jovem, quase um bebé, a precisar de tempo de garrafa, mas já a denotar alguma mineralidade a equilibrar a fruta, que está bem presente, com bom volume de boca, na linha dos seus irmãos mais velhos. 2012 é já um clássico deste patamar, a fruta mais moderada embora presente, uma mineralidade intensa, elegante mas robusto, muito boa acidez, num conjunto muito equilibrado ainda com alguma juventude. 2010 é um Alvarinho já com alguma evolução em que a fruta quase desapareceu, para dar lugar a notas secas, aromas químicos deliciosos ainda muito suaves, mas onde a mineralidade granítica se mantém e se afirma. Redondo na boca, persistente, volumoso, até ligeiramente austero, com muito boa acidez a dar-lhe prolongamento final. 2009 é já um Alvarinho evoluído, muito elegante, até mesmo exótico, cheio de complexidade, com aromas terciários inebriantes e difíceis de distinguir mas por isso mesmo tentadores e um final muito longo, sedoso, seguro.

Passando para outro estilo, provaram-se os Contacto de 2014, 2012 e 2010. Um Alvarinho mais aromático, este 2014 ainda cheio de fruta tropical, intenso, muito fresco, aveludado, um dos mais gastronómicos, pede comida. 2012 apresentou-se mais fechado, embora no copo fosse evoluindo, ainda alguma fruta, mas mais madura, fresco e elegante. 2010 a apresentar alguma evolução, mantendo o perfil de suavidade, agora quase sem fruta, mas com toque seco e notas tostadas, muito envolvente na boca, com acidez intensa a dominar um belo conjunto.

Veio então o Muros de Melgaço com a sua garrafa estranha mas que é já uma referência. O 2013 apresentou-se cheio de força, notas de fruta tropical bem madura, muito maracujá, elegante e intenso, muito redondo na boca, com óptimo volume, um dos grandes clássicos de Anselmo Mendes. O 2009 apresenta grande evolução, já muito pouca fruta, muito suave, notas intensas de evolução, ainda alguma frescura, complexo mas muito seguro, ainda vai evoluir muito, para nosso prazer. Finalmente passamos aos dois patamares superiores dos Alvarinhos de Anselmo Mendes.

Primeiro os Curtimenta 2013 e 2012. O 2013 está poderoso, ainda com muita fruta, com notas tropicais, mas com uma mineralidade intensa e muita frescura. Na boca é incrível, a mineralidade quase salina a traduzir os terrenos graníticos na sua plenitude, fresco, acidez intensa e um final imenso. O 2012 é semelhante ao anterior, apenas mais elegante, mantendo o volume na boca, intenso, mineral, ligeiramente mais sedoso, a revelar que a evolução no tempo vai ser fascinante.

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A fantastic tasting – Photo by José Silva | All Rights Reserved

E terminamos uma prova fantástica com dois Parcela Única: 2013 e 2012. Qual deles o melhor! 2013 ainda cheio de juventude, a fruta tropical muito elegante, aveludado, cheio de requinte no nariz, quase um perfume. Na boca é envolvente, apresenta-se muito equilibrado entre a frescura, a fruta e a acidez, tudo dominado por uma mineralidade que se vai sentindo ao longo da prova, precisa de estar algum tempo no copo e não pode ser servido muito fresco. Final muito elegante e longo, muito longo. O 2012 em relação ao anterior tem um perfil semelhante, ainda mais elegante, a fruta a ficar mais suave, o perfume mais envolvente, muito complexo, um vinho fantástico.

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On the way out – Photo by José Silva | All Rights Reserved

Deixamos Melgaço com a certeza que em breve teremos mais alguns excelentes vinhos no mercado. Em Setembro, lá estaremos nas vindimas.

Contactos
Zona Industrial de Penso, Lote 2
4960-310 Melgaço · Portugal
Tel/Fax: (+351) 227 128 541
E-mail: anselmo.mendes@netcabo.pt
Site: www.anselmomendes.pt

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