image Porto Colheitas de Excelência image Um Sensato Recém-Chegado ao Douro: Mateus Nicolau de Almeida

Almoço – Restaurante Palco

Texto José Silva

No primeiro encontro do painel de provadores da Blend, fomos recebidos no Restaurante Palco, do Hotel Teatro, num ambiente requintado e tranquilo, para um almoço em que se pretendia provar grandes vinhos portugueses da actualidade, em harmonia com uma culinária moderna baseada em bons produtos portugueses.

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Feitas as apresentações e com a presença de Paulo Costa, Director do Hotel, que nos fez companhia, começou uma refeição que se viria a revelar de enorme qualidade, ajudada também pelo trabalho excelente dos profissionais de mesa do restaurante, quer no serviço e apresentação de cada prato, quer num serviço de vinhos impecável, entre copos, temperaturas e quantidades servidas.

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Os vinhos, provados dois a dois, estiveram à altura da ementa e fizeram como que um bailado entre si e um diálogo sério com a comida, dando-nos imensos momentos de prazer. Começou-se com um espumante da Bairrada, o Encontro Special Cuvée 2010, que apresentou bolha muito fina com mousse persistente, aromas secos e tostados, na boca tem elegância, notas de palha, excelente acidez, seco, com grande final.

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Fizemos então uma viagem deliciosa por um menu de degustação que começou com uma tapenade de tomate seco bem apresentada, bem ligada, com textura suave e elegante, para barrar no pão, e que veio à mesa numa pedra redonda de belo efeito. Seguiu-se um corneto de azeitona com barandade de bacalhau, que vinha espetado num recipiente repleto de sementes tostadas, num contraste visual muito bem conseguido: a massa crocante e o recheio do pequeno corneto muito bem ligados, a desfazer-se na boca, o contraste bacalhau/azeitona a percorrer o palato e deixar boa memória.

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O Rosé Principal Tête de Cuvée 2010 que veio a seguir estava surpreendente, de uma cor salmão pálido muito requintada, aromas exóticos, com notas secas de fumo, suaves fragrâncias de frutos vermelhos e um volume de boca soberbo, com notas de framboesas e mirtilos muito sedosas, acidez muito equilibrada, alguma frescura, final muito longo.

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Ainda ao nível das entradas, surpreenderam o torricado de pão saloio com cavala fumada e creme de cebola tostada, em que o pão, muito bom, tostadinho, serviu de base ao exotismo da cavala fumada, encimada pela cebola tostada e ladeada por duas salicórnias em tempura. Uma explosão de mar e fumo na boca.

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Continuando nas entradas, com a viagem cada vez mais intensa, o chefe presenteou-nos com aquilo a que chamou “uma versão diferente de bife tártaro e batata frita com mostarda Savora”, assim mesmo: a tosta muito fina e crocante dobrada a formar um tubo, recheada pelo tártaro preparado com rigor, muito saboroso, a ligar de forma inusitada com o paladar forte da mostarda que recheava duas batatinhas fritas às rodelas.

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Depois veio um vinho branco do Dão, da Quinta da Passarela, o Vila Oliveira branco 2012, Casa da Passarela, um vinho extraordinário, com aromas complexos de fruta e plantas do monte, grande estrutura na boca, alguma mineralidade, com uma óptima acidez e um final longo e sedoso..

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Para fechar o ciclo das entradas, um prato que mais parecia uma paleta de cores, mas que na boca revelou uma enorme frescura e uma ligação muito interessante entre ingredientes tão diversos como as vieiras, cannelloni de abacate com sapateira, puré de raiz de aipo fumada com cítrico e camarinhas, aqueles camarões de rio minúsculos de aroma e sabor intensos, que faziam a ligação de todo o prato, excelente.

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Passamos depois a dois vinhos Alvarinho de Melgaço com perfis muito diferentes entre si, ambos muito bons. Primeiro o Curtimenta 2011 de Anselmo Mendes, que se apresentou muito suave no nariz, muito elegante, notas de frescura e de frutos tropicais bem maduros, na boca é envolvente, tem óptima estrutura e grande mineralidade, acidez intensa mas bem equilibrada, um vinho complexo mas exuberante.

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Nos pratos de peixe, começou-se com robalo com caldo de Bulhão Pato, mexilhão, lingueirão e esférico de batata, muito requintado quer no paladar, quer na textura, caldo aveludado, batata cremosa, textura do peixe de mar correctíssima, o mexilhão e o lingueirão a reforçar o paladar a mar, tudo muito suave na textura.

O segundo prato peixe foi o salmonete no seu caldo, gnochis de batata, o peixe de textura acertada, rijinho, saboroso, o caldo cremoso e muito sedoso, o gnochi de batata apaladado, num conjunto algo exótico, muito bom.

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E veio outro grande Alvarinho, o Soalheiro Reserva 2011, com aromas de madeira, tostado, com alguma mineralidade, na boca é intenso, belo volume, fresco e com óptima acidez, notas ligeiras de baunilha, a deixar grande final.

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Sendo o terceiro peixe o bacalhau de meia cura com caldo de cebola tostado, cebolinhas caramelizadas e cebolete, e cannelloni de lombarda com bochechas de bacalhau. Muito complexo na sua harmonização, revelou-se incrivelmente simples no paladar e na textura, tudo a ligar bem e a tomar conta do nosso palato, óptimo.

Seguiu-se o M.O.B. tinto 2011, que apresentou aromas florais cheios de elegância, alguma frescura, exótico, na boca com bela acidez, taninos muito redondos, bem construído, seguro e elegante, notas de frutos vermelhos maduros, aveludado, um vinho para ir descobrindo. Depois foi o Quinta da Casa Amarela Grande Reserva tinto 2011, concentrado, elegante, aromas intensos de frutos vermelhos, notas de fumo e madeira, na boca tem rusticidade, é especiado e elegante, tem volume, os frutos vermelhos bem maduros, um vinho gastronómico.

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Passando às carnes, começou-se com um produto extraordinário, o rabo de vitela maronesa com cremoso de batata trufado e foie gras. Várias texturas a ligar bem entre si, o foie por cima e o cremoso de batata por baixo da carne a transmitir-lhe um toque do trufado ligeiro, a carne a desfazer-se, de paladar intenso mas delicioso.

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Então apresentaram-se dois grandes vinhos de duas grandes regiões. O tinto do Dão, Vinha do Contador 2008, é um clássico daquela região, cheio de elegância, com aromas sofisticados de flores, de plantas silvestres, com um volume de boca incrível, bem estruturado, boa acidez e alguma frescura, frutos vermelhos maduros, algum fumo e um grande final.

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O Quinta do Crasto – Vinha Maria Teresa tinto 2011 representa a excelência do Douro, muito elegante no nariz, aveludado, notas florais de esteva e de urze. Na boca tem excelente volume, é cremoso, sofisticado, taninos soberbos, bem casados, longo, com um final imenso. Os dois vinhos fizeram companhia a todo o requinte e elegância da carne de veado no seu lombinho, beterraba, maçã reineta e cantarelos, paladares secos da terra e de húmus, a carne aveludada e saborosa, o molho a ligar o conjunto, num patamar culinário já muito alto.

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Antes da sobremesa e para limpar o palato, apreciou-se um Amontillado de Jerez, seco, com acidez incrível e com notas adocicadas a contrastar. A sobremesa dizia-se ser “o limão e as nozes em texturas”. E assim foi, várias texturas, das nozes e do crocante de várias folhas tostadas, o limão entre uma esfera, um creme e uma tosta. Resultado retumbante.

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Para as sobremesas apreciou-se um Porto Barros branco velho que esteve muito elegante, aromas intensos de frutos secos, ligeiras notas fumadas, alguma complexidade na boca, com alguma frescura e muito boa acidez a equilibrar o conjunto. E o Moscatel de Setúbal da Casa Horácio Simões que esteve muito bem, nariz intenso, com notas de citrinos, caramelo, fresco. Na boca é envolvente, aveludado, com óptima acidez, toque de casca de tangerina, notas ligeiras de frutos secos e algumas especiarias.

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Acabou-se com uma proposta com nome cheio de humor, mas ainda assim muito bem conseguida: “o bosque visto da baixa do Porto”. Muito bom.

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Fecharam-se os trabalhos com um espumante muito especial, o Quinta dos Abibes Grande Reserva Brut Nature 2009, pleno de elegância, bolha finíssima e cordão com alguma persistência. Nariz encantador, aromas a passar pela fruta branca, algumas nozes, palha, cheio de frescura e vigor. Na boca tem um volume seguro, acidez vibrante e aromas exuberantes, seco, fumado, cremoso, final longo e sedoso.

Um belo final!

Cheers!

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