Texto Sarah Ahmed | Tradução Teresa Calisto
Se existe um estilo de vinho firmemente associado com o Verão e o espírito das férias é sem dúvida o Rosé. Será coincidência que o Brasil, um país sinónimo de sol e espírito de férias, tenha sido o público-alvo do Mateus Rosé quando este foi lançado pela primeira vez em 1942?
Quanto a nós Britânicos, quando entrevistei o Sir Cliff Richards há uns anos atrás, ele disse-me que é fã de, adivinhem, Mateus Rosé desde que comprou a sua primeira casa no Algarve, nos anos 60. Parece portanto que o espírito das férias da estrela de “Summer Holliday” chegou em força, e na realidade talvez seja o elixir da juventude do cantor ainda com ar de rapaz.
Mas ao longo da última década, tem havido uma grande mudança entre os consumidores que, nos dias de hoje, estão a disfrutar do rosé o ano inteiro e não apenas durante as férias ou no Verão. Na realidade, no ano passado no Reino Unido, uma em cada oito garrafas de vinho compradas em supermercado eram Rosé, quando no ano 2000 eram apenas uma em cada 40. A base das vendas de vinhos tem sido as opções agora populares e até na moda, de vinhos correntes mais doces.
Apesar do Mateus Rosé continuar a ter um desempenho acima da média nesta categoria, as marcas californianas, como a Blossom Hill, Gallo e Echo Falls, têm sido sem sombra de dúvida os maiores beneficiários do fenómeno Rosé. Como foi prova o meu painel no Decanter World Wine Awards, regra geral os rosés de baixa gama Portugueses, falharam miseravelmente em construir o seu sucesso a partir da fama do Mateus Rosé, graças ao uso grosseiro de açúcar residual e à falta de frescura.
Contudo, estando na moda, há uma nova tendência: o rosé “a sério” e, vejam lá, o Brad Pitt e a Angelina Jolie produzem um: Chateaux Miraval de Provence! Até o Mateus se tornou mais sofisticado, com o lançamento de uma nova gama alta, Mateus Expressions (na imagem). E fico muito contente de dizer que encontrei recentemente fortes provas que sugerem que Portugal poderá apresentar melhores resultados com esta nova tendência, focada na qualidade e na complexidade. Aqui ficam as minhas escolhas de Rosés “a sério” de entre as opções Portuguesas:
Principal Rosé Tête de Cuvée 2010 (Bairrada)
“Tête de Cuvée” é um vinho produzido a partir da primeira prensagem das uvas, o que quer dizer que normalmente é mais puro e de qualidade superior. Principalmente quando, como este vinho, é feito no Rolls Royce das prensas – uma Coquard Champagne – a partir da primeira prensagem (600 lt.) de Pinot Noir, destinado aos vinhos espumosos (comentados abaixo). O sumo prensado passa ao ritmo da gravidade para pequenos tanques (suavemente, mais uma vez), o que também explica a sua tonalidade de um bege rosado super pálido e palato subtil, salino e apetitoso. Cremoso, mas fresco e suavemente frutado (ruibarbo/morango), é muito longo e persistente. Um Rosé seriamente gastronómico – muito provavelmente o melhor que provei de Portugal. Excelente. 12.5% apv (álcool por volume)
Colinas Espumante Bruto Rosé 2009 (Bairrada)
Uma efervescência muito impressionante, salmão, 100% Pinot Noir, que envelheceu durante 3 anos sobre as borras. Tem muita energia e tensão. Apenas uma alusão a arrastamento verde, sobre a impressão geral de aridez e constrição. Um final longo, focado e seco, com uma lágrima fina, muito persistente. Uma estrutura adorável. Excelente. 12.5% apv
Casa de Saima Rosé 2013 (Bairrada)
Cingindo-se às uvas portuguesas desta vez (Baga com apenas um toque de Touriga Nacional) este Rosé da Bairrada, pálido mas brilhante, é fabulosamente salino, fresco e seco. O centro firme e ácido da Baga traz grande energia e linha à sua delicada e crocante fruta vermelha (arando) 13% apv.
Casa Ferreirinha Vinha Grande Rosado 2012 (Douro)
As marcas Casa Ferreirinha e Mateus pertencem à Sogrape. Enquanto o Mateus Expressions de alta gama é ainda bastante comercial (doce), este rosé seriamente pálido e seco, é ao mesmo tempo, de qualidade e complexo. Com origem 100% Touriga Nacional (que parece funcionar muito bem para os rosés) e do ponto mais alto da Quinta do Sairrão (a 650m) é delicadamente frutado, com um palato texturado (suavemente cremoso), com especiarias, apetitoso (nozes) e mineral. Um rosé adorável, nada pomposo, mas ao mesmo tempo sofisticado, com uma acidez finamente equilibrada. Muito bom. 12% apv
Quinta do Perdigão Rosé 2013 (Dão)
José Perdigão, arquitecto e produtor de vinhos orgânicos a tempo inteiro, está habituado a dar 300% a tudo e, quando ele me disse que este era o Rosé mais sério que já tinha produzido, eu sabia que estava prestes a provar um deleite raro. Comparado com as minhas outras recomendações, tem uma tonalidade rosa muito profundo – parecido com a cor dos notáveis rosés Australianos Grenache! Também é similarmente muscular no palato. A razão? Em 2013, o Dão passou por condições desafiantes na altura da colheita, com momentos de chuva intensa e explosões de tempo quente. Alguma da fruta para este vinho chegou com Baumé muito elevado (com potencial teor alcoólico de 15.5 a 16%!). Consequentemente, Perdigão introduziu, pela primeira vez e muito astutamente, caules de uva à fermentação, o que trouxe perfume, frescura e ajudou a baixar o grau alcoólico. Assim, no final de contas, obteve uma situação win-win: fruta fabulosamente exuberante (baga vermelha, groselha e cereja) e um bom corpo com equilíbrio. Quanto à complexidade, as notas minerais e florais de assinatura do Dão estão bem presentes neste blend de Touriga Nacional, Jaen e Alfrocheiro. Como diz Perdigão “não é um rosé de piscina”. Recomenda ainda que acompanhe atum seco e wasabi. Muito original (talvez até único dado o ano de produção). Muito bom. 13.5% apv
Julia Kemper Elpenor Rosé 2013 (Dão)
O rosé de Kemper também é feito a partir de fruta orgânica, mas não podia ser mais diferente. Feito de 100% Touriga Nacional é pálido e ultra delicado, com suaves notas a fruta vermelha e a flores (violetas). Deliciosamente estaladiço e seco com acidez fresca e mineral.
Muxagat MUX Rosé 2012 (Douro)
Este é um rosé realmente interessante – estou tentada a dizer intelectual, mas tenho receio que isso seja ir longe de mais! Bom, o que quero dizer é que tem pouca semelhança aos vinhos cor-de-rosa adocicados, baratos e alegres que podem ser encontrados em qualquer esquina e supermercado. Tudo isto tem lógica, tendo em conta que MUX vem de uma vinha muito elevada, a 700m. Além disso, é influenciado pelo tipo de rosés secos e apetitosos, que os amigos franceses de Mateus Nicolau de Almeida gostam de beber num dia de Verão (pense em Provence, Bandol, Tavel). Um blend de Tinta Cão e Tinta Barroca, que é fermentado e envelhecido parcialmente em tanque, parcialmente em barril (velho). Este vinho de um bege Rosado é cremoso mas seco e apetitoso com boa acidez, notas florais elevadas e de especiarias secas e um toque de chocolate no seu final duradouro. Muito melhor do que soa! Muito bom. 13% apv
Leave a Reply