image Esporão – Monte Velho Tinto 2015 e Quinta dos Murças Reserva 2011 image Vinhos Pouca Roupa 2015

Vinhos Dona Berta, o perdurar de uma vontade

Texto João Pedro de Carvalho

Num pulo até ao Douro Superior, a Freixo do Numão, onde está sediada a adega dos vinhos Dona Berta. Durante anos a imagem de marca deste vinho foi o seu carismático produtor que recordo com saudade, o Engº Hernâni Verdelho. Foi com ele que conheci pela primeira vez a casta Rabigato, da qual era acérrimo defensor, e fiquei a conhecer os seus vinhos cheios de carácter, quer tintos quer brancos. As conversas duravam horas, sempre bem-disposto e com um carisma que conseguia transmitir como poucos para os seus vinhos. Era interessante notar que a raça e o toque por vezes até mais rústico que por vezes teimavam em mostrar de início, parecia que se vergava, qual vénia, aos pés do Engº Verdelho. Retomando as provas e o contacto com as novas colheitas, os vinhos sentem a falta do seu criador embora as linhas que os definem estejam presentes. Foram os herdeiros que deram continuidade ao projecto, fizeram perdurar o sonho de um homem, que de resto continua a ser alimentado pela fantástica mancha de vinhedo velho de onde nascem as variadas referências da adega. São vinhos que precisam de tempo em garrafa, cujo carácter bem vincado muda consoante o ano de colheita. É essa maneira de ser que procuro e gosto num vinho, que nos transmita a forma de estar durante um ano, que não seja igual ano após ano como se de um produto feito em série se tratasse. Estes que agora falo são vinhos com potencial de envelhecimento, que foram sabiamente educados e preparados para a vida pelo enólogo e professor Virgílio Loureiro. Desta forma não se estranhe que passados dez anos, quer tintos quer brancos, se mostrem com uma invejável saúde.

Uma prova com dois momentos, o primeiro com o vinho Dona Berta Vinhas Velhas Reserva branco 2015 a mostrar um 100% Rabigato cheio de frescura com a raça que lhe é conhecida. O vinho abandonou os aromas intensos e mais frutados que de certa maneira faziam adivinhar a casta no imediato, para agora mostrar-se mais tenso e mineral. Muito boa a frescura com a fruta bem coesa e presente, sem exageros que nunca aqui fizeram a festa. Tenso e com nervo na boca, boa secura no fundo de corpo bem estruturado, tem tudo para evoluir favoravelmente na passada do tempo. Por agora pede pratos de peixe/marisco com bom tempero até porque a estrutura que mostra ter, dá-lhe essa capacidade de embate. Peixe grelhado no carvão fará uma bela companhia.

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Dona Berta Vinhas Velhas Reserva branco 2015 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

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Dona Berta Reserva tinto 2012 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

O segundo momento coube ao Dona Berta Reserva tinto 2012, onde mais uma vez o tinto leva o seu tempo a entrar para o mercado. Muito carácter num vinho com raça e cheio de energia, muita fruta (bagas e frutos silvestres) mas também uma ligeira austeridade quer a nível de aroma como faz intensão de o confirmar no palato. Tudo muito compacto e bem coeso, apertado de tal forma que só com tempo é que se vão poder descortinar melhor os aromas. Por enquanto é um tinto cheio de vida e energia, capaz de fazer um brilharete com um bife de novilho no carvão com molho alioli.

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