Texto Sarah Ahmed | Bruno Ferreira
Ainda não tenho a certeza se, quando lhes mostrei esta foto, o meu grupo sommelier ficou aliviado ou deasapontado por não ter conhecido o português detentor do título de melhor bigode na indústria de vinho portuguesa, Paulo Laureano. Como observou friamente um deles, “ele parece tímido”. Nesta foto até um pouco “louco”, mas isso está longe da verdade – posso assegurar-vos que Paulo Laureano é tão equilibrado quanto os seus vinhos ou até como as pontas pontas enceradas do seu bigode.
O enólogo não teve possibilidade de nos mostrar os seus vinhos pessoalmente porque estava no Brasil à procura dos mercados. Mas, no que toca aos vinhos feitos debaixo do nome da sua marca (faz bastante consultadoria), o seu foco é a terra natal. Não só nas castas portuguesas autóctones (incluindo o único tinto monovarietal de Tinta Grossa), mas também na região onde nasceu, o Alentejo.
Devido à popularidade desta região sulista, quente e seca entre os compradores de supermercado, o Alentejo é mais conhecido no Reino Unido pelos tintos suaves, abordáveis e frutados. Não é de todo conhecido pelos seus brancos. Por isso é que foi uma surpresa para o meu grupo, descobrirem que a Vidigueira, a sub-região mais a sul da DOC Alentejo, era capaz de produzir tintos e brancos tão contidos – perfeitos para para os jantares finos que oferecem nos seus restaurantes, o The Ritz em Londres, o Gordon Ramsey’s Maze, o Butler’s Wharf Chop House e o Yauatcha, e também o novo restaurante de Nuno Mendes, focado numa espécie de tapas portuguesas, Taberna do Mercado, onde irei apresentar os vinhos do Alentejo ao mercado no próximo mês.
Como é que Laureano conseguiu vinificar brancos tão a sul? Quando conheci Laureano há vários anos atrás, explicou-me que, apesar da sua localização, o micro-clima especial da Vidigueira é responsável por esta contenção e estrutura. Os níveis de humidade são mais elevados e o clima mais temperado do que estaríamos à espera porque, devido à sua topografia, as brisas do Atlântico ainda conseguem serpentear até aos 60km terra a dentro. Além disso, a Vidigueira beneficia de maior precipitação graças à Serra do Mendro, por onde o ar frio, que arrefece as vinhas, desce durante a noite. A cereja no topo do bolo são os solos xistosos que caracterizam tantos vinhos Alentejanos. Porquê? Primeiro porque estes solos finos e rochosos, oferecem pouco às vinhas em termos de nutrientes, o que mantém os rendimentos baixos. Segundo porque o xisto tem a capacidade de, lentamente, drenar a água para as vinhas (tal como no Douro). Agora já sabem porque é que a Vidigueira tem história em vinificação de brancos.
Aqui estão as minhas notas de prova dos vinhos de Laureano, que, posso acrescentar, encontrei mais frescos e precisos (especialmente os brancos) do que no passado. Parcialmente devido à colheita ter sido feita mais cedo, foi o que me disseram.
Paulo Laureano Premium Vinhas Velhas branco 2014 (DOC Vidigueira, Alentejo)
Quando, este mês, visitei o Alentejo havia muita entusiasmo em volta dos brancos de 2014. Este medalha de prata no Decanter World Wine Awards 2015 mostra o porquê. Apenas parcialmente fermentado em carvalho (francês) durante quatro meses, com ênfase na fruta e na frescura. A acidez é uma boa marca da sua fruta cítrica madura tropical (toranja rosa e tangerina) e pêra seca. Aliás, neste caso, Vinhas Velhas significa mais ou menos 40 anos. 13,5%
Paulo Laureano Dolium Escolha branco 2014 (DOC Vidigueira, Alentejo)
O Dolium centra-se na típica e mais utilizada casta branca do Alentejo, a Antão Vaz. Envelhecido durante 6 meses em carvalho francês. Embora partilhe a toranja rosa, a tangerina e a pêra seca do Vinhas Velhas, este vinho é mais concentrado, com mais textura, estruturado e complexo, com carvalho nogado e nuances minerais. Equilibrado, com um final longo e muito bem equilibrado. 13%
Paulo Laureano Premium Vinhas Velhas 2013 (DOC Vidigueira, Alentejo)
Este blend de Aragonês, Trincadeira e Alicante Bouschet, de cor intensa, revela amora e groselha suculentas, com notas salgadas de chicória e folha de tabaco. Uma mineralidade xistosa que empresta frescura e nuance ao final. Taninos (finos) e acidez (fresca) muito bem equilibrados.
Paulo Laureano Selection Tinta Grossa 2011 (DOC Vidigueira, Alentejo)
Segundo Diana Silva, gestora da marca Paulo Laureano, só existem 5 hectares de Tinta Negra no mundo, dos quais Paulo Laureano tem 3. Provavelmente porque apresenta pouco rendimento e é um cliente um bocado complicado na vinha. Este vinho apenas foi feito em 2008, 2011 e 2012. As uvas são pequenas e com pele fina, o que sobressai logo na estrutura de taninos deste vinho tintoso e na maneira como consegue absorver o carvalho francês novo com facilidade. No nariz fez-me lembrar Lagerin (uma casta tinta do Norte de Itália), com notas de chocolate amargo, violetas, cereja/ameixa azeda, balsâmico e chicória. Notas essas que continuam no palato, juntamente com notas de ruibarbo, frutas silvestres, lavanda, marmelada/cera de abelha, cravo, casca de cássia e sortido da Bassatt’s Liquorice Allsorts. Os taninos são musculados e um pouco rústicos, mas no bom sentido, e termina firme, seco e saboroso. Um vinho complexo e único. Silva recomenda acompanhar com Carne de porco à alentejana. 14%
Paulo Laureano Dolium Reserva tinto 2012 (DOC Vidigueira, Alentejo)
Este blend maioritariamente composto por Trincadeira (70%), com Aragonês e Alciante Bouschet, foi envelhecido em barricas de carvalho francês e americano durante 18 meses. Tem toque de mocha por causa da sua baga escura mas acabada de colher, groselha e abrunho com notas de cravo. Como nos outros tintos, não há vestígio que indique ser melado. Bom comprimento e equilíbrio com taninos finos.
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