Texto João Barbosa
Oiço com grande regularidade o elogio ao vinho com idade. Laudes que compreendo, pois sou dos que o apreciam com anos de vida. No entanto, o que me faz escrever é o ar pedante com que muitos enófilos assumem, dividindo o mundo em duas castas. Reconheço que muitos apreciadores têm agrado com néctares novos e antigos.
A verdade é que os vinhos antigos têm para mostrar o que os novos não conseguem… até porque os outros são bebidos novos. Não é uma injustiça, é a vida. Um dia disseram-me: «os vinhos são como as pessoas, uns evoluem e outros continuam estúpidos».
Um aforismo anedótico que tem o seu «quê» de acertado. Olhando para gente das artes cénicas – porque é mais fácil citar – podemos reparar como Lauren Bacall ou Sean Connery «melhoraram» com a idade.
A beleza arrebatadora desta actriz evoluiu para um charme e uma aura de Rainha. O caso de Sean Connery é mais óbvio. Achava-o um bocado canastrão, sem ser nem bonito nem feio, e hoje é um lorde.
Que podemos dizer de James Dean ou de Mia Zapata? Nunca saberemos, embora existam programas de computador que fazem antevisões. Não quero estar só a elogiar a idade mais avançada, apenas a enumerar situações.
Há uma outra situação que é a do homicídio vínico. Abrem-se garrafas de vinho que poderia ganhar com os anos. Se o enófilo conseguir guardar algumas, não existe problema. Mas… mas, e se amanhã não estiver vivo? Ou o síndrome da criança no Natal. Ou a velocidade dos dias e a espécie de ejaculação precoce.
Falando com apreciadores não militantes, reparo que a maioria, a enorme maioria, afirma que gosta de beber o vinho enquanto é novo. Porquê? A maior facilidade é, provavelmente, a principal razão.
Outro motivo será o do gosto por educar. Mas quem me dá o direito de afirmar que alguém não tem o gosto educado? Gostos são gostos, discutem-se, mas têm de se respeitar. Conheço gente, com anos de prazer enófilo, que prefere incondicionalmente o vinho jovem.
George Bernard Shaw sentenciou: «A juventude é uma coisa maravilhosa, que pena ser desperdiçada pelos jovens».
Pelo que escrevi, nota-se que não irei até onde chega a deliciosa arrogância deste grande escritor. Gosto de vinho com idade e com juventude… mas…
Há sempre um mas! O vinho que não é jovem, mas criança – aproveitando o chamado Verão de São Martinho, em Novembro. Há muitos adágios populares que elogiam os vinhos na infância:
– No São Martinho vai-se à adega e prova-se o vinho.
– Pão com olhos, queijo sem olhos e vinho que salte aos olhos.
– No dia de São Martinho, lume, castanhas e vinho.
Estas certezas podem explicar-se pela antiga dificuldade, de antigamente, em guardar o vinho por muitos meses. Em novo estava «óptimo» e em Março ou em Abril, sabe-se lá. Essa realidade pode ter sido transmitida pelo ADN dos portugueses… sei lá!
Além de apreciar a juventude e a antiguidade, mais do que uma garantia acerca do que é correcto ou está errado, prefiro outro aforismo popular:
– Não se vai de smoking para a praia.
Ninguém me tira o «Anjo Azul», dirigido por Josef von Sternberg em 1930, com Marlene Dietrich. Nem as gargalhadas que dei com as «Manobras na Casa Branca», de 1997 e hoje é comédia, de Barry Levinson, com Robert De Niro e Dustin Hoffman.
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