Três grandes marcas: Casal Garcia, Lancers e Mateus Porto Blackett 30 Anos, marcado pelo poder do tempo

Vinho de todo o lado – e a começar no Douro

Texto João Barbosa

Durante o período da Guerra Colonial, o Exército era abastecido com vinho engarrafado. «Nessa altura era proibido vender vinho a copo, porque o Estado desconfiava que era oportunidade para adulterar o vinho». Em 1965 rebentou o escândalo do «vinho a martelo», uma bebida «obtida por fermentação de açúcar e junção de água e corantes» – conta Vasco d’Avillez.

Branco ou tinto? Cheio! «A maioria das pessoas não fazia ideia do que era um vinho bom e bebia aquilo a que estava habituada, quer fosse tinto deslavado quer fosse branco oxidado e pesadão» – explica Vasco d’Avillez.

O enólogo Virgílio Loureiro conta que, «até à década de 60, o vinho em Portugal pouco mais era do que sempre foi ao longo dos últimos 250 anos. O local de culto do seu consumo e de compra era a taberna, onde era quase invariavelmente vendido a granel. A exigência dos clientes não era muita, pois o copo era servido cheio – não dando azo a que se pudesse apreciar o seu aroma – e geralmente bebido de um trago».

As tabernas de Lisboa e Porto, embora com preferências de origem (não regiões demarcadas) vendiam vinho de diferentes locais. O vinho provinha sobretudo da terra de origem do taberneiro.

A demarcação da região do Douro data de 1756, a empresa que a instituiu ainda existe – conhecida por Real Companhia Velha. Durante séculos, o Vinho do Porto era o negócio, os vinhos tranquilos não tinham relevo.

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Real Companhia Velha Grandjó – Photo Provided by Real Companhia Velha | All Rights Reserved

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Real Companhia Velha Grandjó – Photo Provided by Real Companhia Velha | All Rights Reserved

Esta firma detém marcas icónicas do Douro. Em 1912 foi criada a Grandjó, específica para vinhos de colheita tardia. Só na década de 60 surgiram os primeiros vinhos sem Botrytis Cinerea, para responder à procura de vinhos mais leves.

Em 1913 nasceu o Evel – «leve» escrito ao contrário. «O objectivo foi criar um vinho elegante, macio e leve», explica Pedro Silva Reis que preside à Real Companhia Velha. «Os primeiros vinhos, tais como hoje, correspondiam às características descritas: elegantes, macios e, de certo modo, leves. Naquela época existiam poucas marcas e apenas uma pequena parte do vinho consumido era engarrafado e rotulado. A marca notabilizou-se a partir dos anos 30 e 40, pelo que será de supor que terá demorado alguns anos até se considerar um verdadeiro sucesso». Nas duas décadas seguintes, o Evel chegou à mesa do chefe do Estado, passando os rótulos a ostentar a designação de «Fornecedora da Presidência da República».

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Real Companhia Velha Cellar – Photo Provided by Real Companhia Velha | All Rights Reserved

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Pedro Silva Reis – Photo Provided by Real Companhia Velha | All Rights Reserved

Real Companhia Velha tem também o oposto do Evel. O Porca de Murça, criado em 1928, homenageando um monumento pré-histórico. «Vinhos tintos potentes e encorpados. A produção dos brancos só aconteceu anos mais tarde. A marca atingiu altos níveis de fama entre as décadas de 40 e 60. Recentemente, a marca voltou a viver momentos de glória ao tornar-se a marca do Douro mais vendida no mundo» – afirma Pedro Silva Reis.

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Barca Velha 1952 – Photo Provided by Sogrape Vinhos | All Rights Reserved

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Casa Ferreirinha Colheita Seleccionada 1960 Reserva Especial – Photo Provided by Sogrape Vinhos | All Rights Reserved

Quando se fala no Douro, há dois vinhos obrigatórios, considerados, por muitos, como os dois melhores de Portugal: Barca Velha (1952) e Ferreirinha Reserva Especial (1960). A Sogrape estabeleceu que os vinhos com maior potencialidade de guarda se designem por Barca Velha e os que previsivelmente terão longevidade inferior se chamem Ferreirinha Reserva Especial.

O espírito e o estilo nunca mudam. Até ao presente saíram 17 Barca Velha e 16 Ferreirinha Reserva Especial (entre 1989 e 1987, a legislação não permitiu o uso do adjectivo «especial».

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