Texto João Barbosa
A Companhia das Quintas, não sendo um gigante do negócio em Portugal, tem um leque de propriedades espalhadas por diferentes regiões. De cima para baixo: Quinta da Fronteira (Douro), Quinta do Cardo (Beira Interior), Quinta de Pancas (Lisboa) e Herdade da Farizoa (Alentejo).
Possivelmente, o território no Alentejano seja o menos conhecido. A Quinta de Pancas tem já uma longa vida como referência no panorama português, a Quinta do Cardo é um caso raro de reconhecimento de vinhos da sua região, a Quinta de Fronteira está no mediático Douro e a Herdade da Farizoa, embora na região portuguesa de maior sucesso de vendas, tem mais competidores de dimensão.
A Herdade da Farizoa foi comprada em 2000 e a adega construída no ano seguinte. Uma característica não muito comum: não se fazem brancos. O pomar de videiras é composto por alicante bouschet (oito hectares), alfrocheiro (quatro hectares), aragonês (15 hectares), cabernet sauvignon (6,5 hectares), syrah (5,5 hectares), touriga franca (menos de um hectare), touriga nacional (6,5 hectares) e trincadeira (dez hectares). Havia dois hectares com tinta caiada, que foram arrancados. Encontram-se em pousio para virem a ser cultivados com alicante bouschet.
A vinha ocupa uma pequena parte da propriedade – pequena para o padrão alentejano, com 156 hectares. O espaço está arrendado e é dominado por montados, de sobro e azinho, e pastagens. Existem um olival de quatro hectares. O solo é uma mistura de argila, mármore e xisto. Situa-se no concelho de Elvas e dentro da demarcação de Borba.
A empresa tem vindo a realizar uma reestruturação, inicialmente apenas de actividades administrativas e comerciais. A saída dos enólogos Nuno do Ó, que abraçou negócio por sua conta, e de João Corrêa, por doença, levou à contratação de Frederico Vilar Gomes para dirigir as operações de campo e enologia. É jovem e já confirmado como um dos melhores técnicos do país.
Sangue novo que trouxe inovação, alguma com um certo risco. Há liberdade para experiências. Frederico Vilar Gomes atribui responsabilidade e liberdade aos enólogos residentes em cada propriedade, pois são eles, melhor do que ninguém, a conhecer o terreno, o ambiente e as uvas. Visitei uma outra propriedade e provei uma amostra… as opiniões dividiram-se, mas se o técnico da quinta acredita, então que se faça o ensaio.
Na Herdade da Farizoa é Joaquim Mendes quem manda. Ali fazem-se os Portas da Herdade, Herdade da Farizoa, Herdade da Farizoa Reserva e Herdade da Farizoa Grande Reserva (anteriormente designado por Grande Escolha).
O Portas da Herdade 2014 é uma aposta segura para os dias ao ar livre, acompanhando bem carnes greladas. É macio e escorregadio. É um lote de alicante bouschet (5%), aragonês (40%) sirah (15%) e trincadeira (15%).
O Herdade da Farizoa também alinha pela juventude e fruta, mais guloso que o anterior. Aragonês (50%), syrah (30%) e touriga nacional (20%) mostram-se bem casadas. Vai bem com os grelhados, mas massas também resultam.
O Herdade da Farizoa Reserva 2010 é um alentejano feito com touriga nacional (67%) e syrah (33%). É mais uma prova da plasticidade da casta portuguesa e da boa adaptabilidade da francesa. Ponho-o na mesa no Outono, com comidas mais fortes, mas madrugadoras face ao Inverno.
O Herdade da Farizoa Grande Escolha 2009 é um vinho que me surpreendeu. Sendo o Alentejo uma região quente e embora esta propriedade empreste frescura, a vivacidade ultrapassou as minhas expectativas. Sem marca de oxidação, com aromas de menta, restolho de trigo, pimenta branca e rosas secas. Chega com doçura e finaliza seco.
O Herdade da Farizoa Grande Reserva 2012 traz feições do mano mais velho, como a menta e o restolho do trigo. Para quem tem sangue alentejano, como eu, o perfume da lenha de azinho dá grande conforto. Somem-se-lhe pitadas de noz-moscada e erva-doce. Na boca mostra amoras e mirtilos, terra seca, cacau. Tem estrutura e fibra, mas sem bruteza. Não vem tão doce quanto o anterior e termina seco. Este é um lote de syrah (75%) e touriga nacional (25%).
Contactos
Herdade da Farizoa
7350-491 Terrugem
Tel: (+351) 268 657 552 | (+351) 93 80 90 518
Fax: (+351) 268 107 190
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