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Os brancos 2014 das Caves do Solar de São Domingos

Texto João Pedro de Carvalho

Desde 1937 que a empresa Caves do Solar de São Domingos, produz espumantes, aguardentes velhas, aguardente bagaceira, vinhos Bairrada e Dão. As suas galerias escavadas na rocha merecem uma visita, um local fantástico onde se albergam mais de dois milhões de garrafas de espumante, largos milhares de vinhos engarrafados e centenas de quartolas em carvalho francês para as suas afamadas aguardentes vínicas.

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Solar de São Domingos – Foto Cedida por Caves do Solar São de Domingos | Todos os Direitos Reservados

Com alguns dos seus espumantes a fazerem parte da minha lista de favoritos em solo nacional, é sobre os novos brancos que agora escrevo, os novos 2014 que acabam de entrar no mercado. A colheita de 2014 foi matreira com a chuva a aparecer em força, sorte para todos os que vindimaram antes das chuvas que tiveram uvas brancas de enorme qualidade. Estas palavras repetidas de Norte a Sul onde por um lado mostraram tristeza pelo potencial que se perdeu nas castas brancas de maturação mais tardia mas também pelas tintas, as brancas de maturação mais precoce deram origem a vinhos de muita qualidade.

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São Domingos white 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Neste caso são dois brancos de 2014 mas bem diferente entre eles, enquanto o São Domingos é fiel ao perfil Bairradino com o lote a ser dominado pelas castas locais Maria Gomes (80%) e Bical (20%). As uvas oriundas de S. Lourenço do Bairro, Vilarinho do Bairro e Ventosa do Bairro, criadas em solos arenoargilosos deram origem a um branco apenas com passagem pelo frio do inox. Aroma muito limpo com fruta em evidência, citrinos, polpa branca, flores a dar perfil cheiroso em muito boa envolvência tanto em nariz como na boca. Boa presença no palato, fruta limpa a fazer-se sentir, mostra alguma garra com alguma secura mineral de fundo. Um branco que pede mesa, marisco, um peixe-espada no carvão ou até mesmo uma sopa de peixe.

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Volúpia white 2014 – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

O outro branco é a faceta mais inovadora deste produtor, o Volúpia 2014, que vem embrulhado numa das obras da poetisa calipolense Florbela Espanca. Invocando a voluptuosidade e sedução, desejo e sabor, busca de harmonia e prazer de beber uva branca. Um desejo de amar perdidamente, amar só por amar, aqui e além. Seria assim que Florbela Espanca definiria este vinho branco cheio de poesia, carregado de sensualidade e irreverência, profundamente pessoal e feminino. Composto por  Sauvignon Blanc (50%), Chardonnay (35%) e Maria Gomes (15%) provenientes da Carregosa com apenas passagem por inox. O resultado é diferente, de aroma complexo e muito fresco, perfumado e cheio de notas de fruta muito madura, limpa e que apetece trincar. É acima de tudo um vinho de perfume delicado, cativador, com uma prova de boca onde conjuga volume com frescura de forma graciosa. Tem acidez e estrutura que lhe dão a capacidade de acompanhar pratos de tempero mais oriental, ou que se deixe brilhar a acompanhar as mais variadas tapas ao final de tarde no terraço.

Contactos
Caves do Solar de São Domingos, S.A.
Ferreiros – Anadia
Apartado 16
3781-909 Anadia – Portugal
Tel: (+351) 231 519 680
Fax: (+351) 231 511 269
Email: info@cavesaodomingos.com
Website: www.cavesaodomingos.com

Druida tinto 2012

Texto João Pedro Carvalho

Na minha vida nunca procurei, nem sequer me agradou, tudo o que seja produto produzido em larga escala, salvo as raras e necessárias exceções à regra, em tudo o resto sempre procurei os pequenos produtores nas mais variadas áreas. Durante anos fui praticante de XC (Cross Country) e como tal fazia parte de um mundo onde se procuram produtos/materiais com alta taxa de rendimento/duração aliando o peso reduzido e preço ajustado, o que na última situação raramente acontece. Transportando para o mundo dos vinhos, o que procuro continua dentro dos mesmos parâmetros de qualidade/satisfação onde o preço de produto de pouca tiragem por vezes se paga caro mas onde na quase totalidade dos casos o investimento a longo prazo é positivo.

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Druida tinto 2012 – Foto de João Pedro Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Os pequenos “ateliers” ou direi adegas de autor que têm surgido em Portugal nos últimos anos têm feito a diferença e delícia de um nicho de consumidores ansiosos por vinhos de identidade bem vincada com tiragem reduzida. A sensação de exclusividade em ter na mão uma garrafa de vinho de qualidade cuja tiragem do vinho se limitou a 96 ou 200 garrafas é mais um dos motivos de alegria para muitos. Não é pois de estranhar que em quase todos estes projetos o destaque natural centra-se no terreno, mais propriamente na vinha quase sempre de área reduzida, com os vinhos a expressarem de forma clara a terra/local que os viu nascer.

É este o caso do Druida tinto 2012, a mais recente criação da dupla: Nuno do Ó e João Corrêa, após o sucesso que foi o Druida Reserva branco. Há acasos que vêm em boa altura, e a forma como surge este tinto é um desses exemplos. Aconteceu no dia em que se passava o mosto de Encruzado para barricas e se reparou que tinham sobrado duas barricas. O pensamento imediato do que fazer teve como resposta, um tinto. E foi exatamente da parcela vizinha à da de Encruzado na Quinta da Turquide, composta por Jaén, Touriga Nacional, com algum Alfrocheiro e Tinta Pinheira. O resultado foram 2 barricas de 228 litros que repousaram durante 20 meses na adega, resultando cerca de 500 garrafas de um tinto cheio de garra e frescura. Tal como no branco notamos que precisa de tempo para que tudo se arrume e a prova nos proporcione mais prazer do que já dá, apesar da ligeira austeridade com que ainda se apresenta. Conjunto fresco, novelo de complexidade ainda muito apertado mas de grande qualidade, profundo com bonitas notas de pinheiro, violetas, especiaria, fruta limpa de grande qualidade com destaque para a cereja vermelha bem gorda e sumarenta. E no trio de elegância/frescura/estrutura mostra-se um belíssimo exemplar do Dão, de criação minimalista que não se paga caro, um prazer garantido a consumir agora a acompanhar um borrego/cabrito assado em forno de lenha ou daqui por uma boa dezena de anos.