Texto João Pedro de Carvalho
A casa Ramos Pinto foi fundada em 1880 por Adriano Ramos Pinto ao qual se juntou o seu irmão António. Numa casa onde a inovação e a mentalidade empreendedora sempre andaram de mãos dadas, destaca-se para o caso o nome de José Ramos Pinto Rosa que executou em conjunto com o seu sobrinho João Nicolau de Almeida o importante projecto da selecção das cinco castas recomendadas para o Douro, tanto para Vinho do Porto como para vinho de mesa. Inspirado no seu pai, Fernando Nicolau de Almeida, criador do Barca Velha, João Nicolau de Almeida cedo entendeu que parte do segredo seria juntar uvas de altitude (mais acidez) com uvas de maior maturação, provenientes de cotas mais baixas. Desta forma juntaram-se as uvas da Ervamoira (150m de altitude) com Bons Ares (600m de altitude), o nome pois claro seria Duas Quintas e após alguns ensaios seria lançado pela primeira vez com a colheita de 1990.
O Duas Quintas foi à época uma inovação e um desafio que uniu às mais modernas técnicas de vinificação os tradicionais lagares, num projecto pensado de raiz e mais uma vez pioneiro na região e catalisador do surgimento de um “novo Douro”. Em 1991 iria surgir o Duas Quintas Reserva e em 1992 o Duas Quintas branco. Ao longo de 12 vinhos fomos tomando pulso aos 25 anos de História que a mestria de João Nicolau de Almeida nos ia traduzindo em vinhos e palavras.
Num breve apanhado pelos vinhos que mais me marcaram a prova começou com um magnífico Duas Quintas branco 2000 apresentado numa bela e esguia garrafa renana, decantado e servido o vinho no imediato deixou todos literalmente boquiabertos. Uma combinação entre frescura e toques de lápis de cera, com tisana e flores onde a fruta combina alternadamente entre a frescura e os toques mais untuosos da geleia. É daqueles vinhos que apetece beber e ter em casa mais umas quantas garrafas guardadas. Ao seu lado foi apresentado o Duas Quintas branco 2014 que mostrou toda a genica da sua juventude, quiçá irreverente onde dá para antever que o seu futuro também será de grande categoria.
Demos entrada nos tintos, com o primeiro de todos, aquele que foi o início, o Duas Quintas 1990. Um vinho muito bonito, cheio de vida e onde a fruta parece rejubilar de alegria com tanto morango e framboesa fresca, muita energia com aromas terciários de muito bom-tom, cantos bem arredondados mas cheio de finesse e com uma presença de boca de fazer inveja. Um clássico em toda a linha tal como o eloquente Duas Quintas Reserva 1991 que foi o primeiro Reserva e teve a capacidade de elevar o patamar da qualidade muitos furos acima do que existia para a época na região.
Da colheita de excepcional qualidade, 1994, surgiram em prova os dois tintos. Comparando o Duas Quintas 1994 com o 1990, mostrou-se a meu ver melhor e com mais presença da fruta, algum vegetal num todo muito equilibrado. Já o Duas Quintas Reserva 1994 num perfil clássico de um grande tinto do Douro, nobre e cheio de carácter, muito complexo a combinar a frescura da fruta com um toque de caramelo de leite, uma delícia.
O final da prova seria com os vinhos do novo milénio, tal como o branco também o Duas Quintas Reserva 2000 se mostrou um colosso a caminho do estrelato, denso, coeso e com muita frescura, tudo em grande onde só o tempo o poderá domar. O último vinho, Duas Quintas 2013 é bastante tentador, amplo de aromas com bonito perfume, tudo muito novo e cheio de energia, dentro do carácter e perfil que os vai guiando nesta fantástica viagem que começou em 1990.
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