Texto José Silva
Jorge Tenreiro e Cláudia Cudell são os donos da Quinta do Cume, em Provesende.
Ele é cirurgião vascular, ela pintava quadros belíssimos. Ele continua de bisturi na mão diariamente, mas descobriu a tesoura de poda e outros instrumentos com que trata “cirurgicamente” as suas vinhas; ela quase já não pinta, pois dedicou-se de alma e coração à comercialização dos vinhos que ambos adoram fazer, com a sabedoria do enólogo e amigo Jean-Hugues Gros, um francês que já é mais duriense que muitos durienses. Foi apenas em 1998 que Jorge Tenreiro comprou os terrenos onde, sempre com a mulher ao lado, haveria de construir uma casa magnífica e começar a plantar vinha, sobretudo de uvas brancas.
Até que, em 2006, começaram a produzir vinho branco e um pouco de rosé.
Em 2009 começaram também a fazer tinto, tendo comprado vinhas velhas na parte de baixo da aldeia e fazem tintos que hoje são já bastante apreciados.
Lá em cima, as vinhas de uvas brancas dominam a paisagem.
E são sobretudo de Malvasia-Fina, com um pouco de Rabigato e Viosinho. Os mais de 600 metros de altitude dão-lhes a frescura e a elegância, os terrenos xistosos e pobres dão-lhes a mineralidade. Entretanto a produção foi evoluindo, e passaram a produzir um vinho branco Reserva todos os anos, um tinto Selection e um tinto Reserva, e o tinto Flor do Cume, este só para exportação. Naquele ano fabuloso que foi 2011, fizeram um tinto muito especial, o Grande Reserva, até hoje a única colheita, numa edição limitada a 1540 garrafas e 90 magnum. Actualmente a produção total da Quinta do Cume é de cerca de 40.000 garrafas.
Entretanto construíram uma adega, pequena mas moderna, que chega para as encomendas. O que não chegava era a localização do engarrafamento, que provocava verdadeiros “engarrafamentos” na adega, e por isso estão a construir um armazém para produto acabado, engarrafamento e rotulagem. Seguidamente vai ser uma fantástica sala de provas, que vai nascer do meio duma vinha, com o bom gosto habitual deste casal. E que, uma vez mais me recebeu com simplicidade para um almoço que teve tanto de simples como de delicioso.
Para abrir o apetite um salmão fumado com gotinhas de limão soberbo.
Depois umas alheiras ali da aldeia tostadinhas e estaladiças, na companhia de ovos estrelados, batata cozida e couve salteada, estas bem regadas de azeite, tudo acompanhado de pão da aldeia, cozido em forno de lenha.
Para sobremesa, uma deliciosa salada de pêssegos da quinta, não foi preciso mais nada.
Começamos com o Reserva branco 2014 em comparação com o 2013, e que bem lhe faz um ano de garrafa: elegante, fragrâncias de fruta branca e flores do monte, na boca tem acidez acentuada, frescura, notas de citrinos e alguma baunilha, tudo muito suave e bem casado. O 2014 está pleno de juventude, frutado, intenso, vai ser um belo vinho.
Para “atacar” as alheiras provou-se o Selection tinto 2013 e o Reserva tinto 2012. O Selection é um vinho moderno, com um leque vasto de harmonizações, suave mas persistente, muita fruta madura, fresco e apetecível, a pedir comida.
O tinto Reserva tem aromas mais intensos, frutos vermelhos, notas de madeira, fumo e especiarias. Mas ao mesmo tempo tem frescura e muito boa acidez, é aveludado e muito elegante.
Ainda demos um salto ao Grande Reserva 2011, um tinto sério, concentrado, austero, com aromas exóticos. Na boca tem óptimo volume, notas de fruta preta, ligeiro toque de chocolate preto, bela acidez e final muito longo. Para guardar uns bons anos. Quando chegou a salada de pêssego, voltamos ao branco 2013, que se tinha mantido em gelo, e o casamento foi perfeito.
Lá em baixo, continuava a pacatez da aldeia de Provesende…
Contactos
Quinta do Cume
5060-261 Provezende
Portugal
Tel: (+351) 91 445 7550
E-mail: quintadocume@netcabo.pt
Website: www.quintadocume.pt
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