Texto João Barbosa
Acontece-me – acontece com toda a malta que escreve sobre vinho – telefonarem-me, por vezes em momentos inconvenientes, para me perguntarem que vinho devem levar para um jantar. Suspiro e por amizade debito uns tantos.
Acontece sempre que estão num supermercado e têm pressa… o tempo esgotou-se em insignificâncias e o vinho é comprado a correr, na primeira porta aberta do caminho. Pergunto-lhes:
– Quando queres comprar um livro também vais a um supermercado?… Ou vais a uma livraria?
Nada a fazer. Vou dizendo marcas – é mais fácil de compreender – e é comum não existirem na loja. Invertem-se os papéis e o amigo debita o conteúdo das prateleiras. Daí escolho um, que nunca é bem aquilo e…
– Epá! Tens esse, aquele e aqueloutro. Apostas seguras, escolhe o que entenderes, estou a meio de (qualquer coisa) e tenho de me despachar.
Nas escolhas cabe frequentemente os vinhos da Quinta da Pacheca. Encontram-se na distribuição moderna, têm qualidade e apresentam preços acessíveis.
Gosto de vinho há bastante tempo e sou militante assíduo. Hoje é mais fácil encontrar-se um bom vinho do que há 20 anos. Nesse tempo, as marcas eram poucas, os rótulos eram maus e nem só a fronha era má.
Ainda assim, já havia mais do que duas mãos cheias de vinhos de qualidade. Uns feneceram e outros sobreviveram. A Quinta da Pacheca engarrafa já há bués e tantas vezes comprei vinhos desta firma.
Tenho este produtor na memória – no lado bom – por várias razões: por o ter conhecido durante a minha primeira relação afectiva adulta e duradoura, por eu ter o apelido Pacheco e por causa do riesling.
Antes do tempo – comprovou-se – a Quinta da Pacheca produziu monovarietais, nomeadamente da casta riesling. Uma agitação feliz para quem não tinha bolsos para vinhos estrangeiros e queria, como uma esponja (!), absorver conhecimento.
Sou defensor das castas portuguesas, mas nada me choca que se cultivem variedades estrangeiras, desde que não sejam admitidas na certificação de Denominação de Origem Controlada. O riesling da Quinta da Pacheca vem-me à lembrança com regularidade.
Já se percebeu que as castas estrangeiras não produziram mais-valias. Ficam vinhos do Douro com a identidade das castas autóctones. Neste caso, cerceal, malvasia fina, gouveio e moscatel galego.
Não me recordo da gama da Quinta da Pacheca na década de 90, hoje tem largura. Este Quinta da Pacheca Colheita Branco 2014 é fácil, descomplexado, bem feito. Tem o sotaque do Douro e a aragem de Lamego; é fresco e apresenta-se com uns saudáveis 12,5 graus de álcool.
Penso que tem tudo para agradar a muita gente, nomeadamente o preço – recomendam cinco euros, menos um cêntimo. Não sou toda a gente.
Compreendo a inclusão, no lote, da casta moscatel galego. Dá gulodice e cria facilidade (não é defeito). Porque se costumam beber os brancos demasiado frescos, este açúcar dá «existência» ao que podia desaparecer.
Para mim, que não tenho nem meio litro para vender, a moscatel galego está a mais. Não faz falta para ter a identidade do Douro; não sou fã desta cultivar. Tenho o meu gosto, mas escrevo para o mundo e obrigo-me a sair dos pratos da balança. É um vinho que merece ser comprado e que, certamente, criará hábito.
(Pode também ler a peça que José Silva escreveu anteriormente sobre a Quinta da Pacheca aqui.)
Contactos
Quinta da Pacheca
Cambres – 5100-424 Lamego
Portugal
Tel: (+351) 254 331 229
Fax: (+351) 254 318 380
E-mail: comercial@quintadapacheca.com | enologia@quintadapacheca.com
Website: www.quintadapacheca.com
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