Texto João Barbosa
Não poderei ser político! Cumpri o prometido… Escrevi «terroir». E porquê? Porque ingleses e franceses andavam novamente às cabeçadas e o vinho do Douro tinha a qualidade que as gargantas insulares exigiam. Sebastião de Carvalho e Melo sabia da qualidade dos vinhos com uma origem específica, por isso demarcou o sítio.
Ainda é preciso recorrer à história e mais uma vez prometo terminar um texto com «terroir». Este conceito é normalmente atribuído a França. Mas isso é uma ilusão, derivada da criação do vocábulo. Ao longo da história sempre se identificaram locais especiais para a produção de vinho. Um dia, alguém lembrou-se de escrever uma lei para que tal ficasse defendido.
Dizem os portugueses que a primeira região demarcada do mundo é a do Douro, através do alvará régio de 10 de Setembro de 1756, redigido por Sebastião de Carvalho e Melo.
Os italianos argumentam que Chianti é que foi a primeira delimitação, datando de 1716. Por seu lado, húngaros e eslovacos contrapõem que foi Tokaji (Tokay), em 1730. Há argumentos para tudo e os portugueses defendem-se com a especificação pormenorizada e colocação de marcos de pedra.
Ainda assim, a ideia deve ter-lhe ocorrido por causa do tempo em que foi embaixador em Viena. O Sacro Império Romano-Germânico foi um Estado sui generis, formado por uma multiplicidade de países, com graus variados de independência e de monarcas. À data da sua extinção, em 1806, era formado por mais de 400! A Toscânia pertencia ao imperador e fazia parte do «Consórcio». A imperatriz era arquiduquesa de Áustria, país integrante do império, e rainha da Hungria, que ficava de fora desse organismo político.
A Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro (Real Companhia Velha) tinha várias funções, desde a instituição, regulamentação, policiamento, exercício de justiça, monopolista da venda… Para defender a região e a autenticidade dos seus vinhos, Sebastião de Carvalho e Melo mandou arrancar vinhas de várias zonas do país.
Como tudo o que tem valor é imitado (falsificado), houve cedo a tentação de inventar vinho que não existia. Nas adulterações recorriam a bagas de sabugueiro para tingir o líquido. Assim, o governante decretou que fossem arrancados todos os arbustos que ficassem a menos de cinco léguas (portuguesas) da demarcação.
Curiosamente, existem ainda hoje arbustos a cerca de 33 quilómetros da região – porém, não há vinha. Estavam na fronteira, no limite da legalidade. Quer isto dizer que o vinho do Douro continuou a ser pintado, apesar da proibição. Há pouco tempo escrevi, para a Vida Rural, um artigo sobre Sambucus nigra, planta com inúmeras utilizações, mas que não se dá atenção merecida; os 700 hectares que existem no país representam cerca de 2,2 milhões de euros.
Sebastião de Carvalho e Melo foi um homem do seu tempo. Esclarecido e déspota. Perseguiu e quase exterminou a família dos marqueses de Távora, seus adversários. Citação ilustre acabada de inventar:
– Se serves o Estado e não te serves, não mereces tal estado!
O homem que seria agraciado com o título de conde de Oeiras, em 1759, e marquês de Pombal, em 1769, não deixou de ganhar dinheiro duma forma à época vista com benevolência. Da sua quinta em Oeiras saíram muitas pipas de «vinho do Douro», tal como doutras suas propriedades.
Quando o terroir do Douro tinha características da luz forte do mar próximo de Lisboa, de salinidade e de terra calcária ou barrenta. Terroir…
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