Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira
Vallado significa “grande vale”. Qualquer pessoa que já tenha feito o tour até ao topo desta propriedade do Douro no Land Rover vintage da Quinta do Vallado pode confirmar, é vertiginoso; as vinhas sobem dos 80 aos 380m de altitude. Lá no topo é onde estão as vinhas mais velhas – field blends centenárias de 34 castas diferentes – que teimosamente permanecem enraizadas. Foi destas vinhas que – a coroa – proveio o novo e surpreendentemente diferente vinho tinto da Vallado, Vinha da Coroa – de uma parcela de dois hectares com o mesmo nome.
Ao explicar a origem deste vinho, Francisco Ferreira confessou que lhe causava confusão que, “todos os anos, duas parcelas de vinhas velhas adjacentes (e vinificadas da mesma forma) produzissem os melhores e os piores vinhos”. Agora espantem-se, estes “piores” vinhos provinham da Vinha da Coroa! Fazendo cara feia, como se tivesse acabado de mastigar uma graínha de uva, Francisco relembrou, “todos os anos que passavam a fruta Vinha da Coroa tinha um sabor mais verde e mais amargo”.
Até ao lançamento do Quinta do Vallado Vinha da Coroa 2013, a fruta desta parcela tinha como destino o Vallado Tinto, um vinho de entrada com muito mais volume, uma boa maneira para disfarçar as características específicas desta fruta. Então porquê fazer um vinho produzido unicamente desta parcela? Para Francisco, resultou de um melhor conhecimento da Vinha da Coroa. Uma pista, até há pouco tempo, a parcela costumava chamar-se “Moscatel Velho” (já foi local de plantação desta casta branca de vinho branco). Um factor que, juntamente com os seus solos ricos, explicam por que é que a maturidade dos taninos era um problema para a Vinha da Coroa mas não para as outras parcelas de vinhas velhas da Vallado.
Dado que a Vallado se situa na sub-região mais fria e húmida do Douro (Baixo Corgo), a maior parte das suas vinhas adoram o sol e estão viradas a sudoeste. Um aspecto que, diz Francisco, é o segredo para a qualidade dos taninos “muitos maduros e equilibrados” dos tintos de topo Quinta do Vallado Reserva Field Blend e Quinta do Vallado Adelaide, já para não falar da poderosa fruta concentrada.
Assim que Francisco percebeu a diferença, percebeu que resolver o problema da Vinha da Coroa passava por adapatar a vinificação à sua localização mais fria, especificamete extraindo menos taninos e, para o equilíbrio, fruta mais delicada. Afinal de contas, como observa, “o mais importante [questão proeminente para a qualidade do vinho] é o equilíbrio… Não me importa que as uvas estejam muito maduras se mantiverem uma boa acidez e não houver excesso de alcoól e fruta demasiado madura; também não me importa que estejam um pouco menos maduras se o vinho não mostrar taninos verdes ou amargura”. Como demonstra eloquentemente o último e muito equilibrado lançamento da Vallado, com uma menor extracção, a Vinha da Coroa é um local favorável para vinhos com apelo inicial (fruta e taninos suaves), mas com complexidade de sabores de vinha velha. Ou como diz Francisco, “vinhos mais leves, talvez menos vistosos, mas mais apelativos do ponto de vista do consumidor”.
Na verdade, para o Vinha da Coroa, até escolheu previmente este local frio para demonstrar o seu perfil fresco – gostei muito das frutas vermelhas crocantes, toque apimentado e acidez fresca. Este estilo de vinhos mais leves mas sérios já está assente na Austrália, onde um produtor me disse recentemente “tem que haver vida além da vida e do homem e grande vinhos com peso, poder e força. A Austrália pode fazer isso mas também pode fazer outras coisas”. Tal como o Douro pode, tomando como exemplo, reconhece Francisco, a Nieeport que esteve na vanguarda desta abordagem com o Charme.
Em busca de um estilo mais leve, Francisco não esmaga nenhuma das uvas e, 50% por cento são cachos inteiros. Enquanto que a máquina robotizada de pigeage esmaga as uvas do Reserva e do Adelaide umas quatro vezes ao dia, o Vinha da Coroa foi submetido a um “baixo nível de extracção” (e um pouco de maceração carbónica tipo-Beaujolais) durante os seus 14 dias de fermentação. Foi envelhecido durante 16 meses em barricas de carvalho francês, nenhuma delas nova. Marcadamente mais pálido que os outros tintos 2013 que degustei nesta prova, vivo, com a acidez fresca a trancar as frutas vermelhas crocantes. As notas terrosas e harmoniosas derivadas dos cachos conferem profundidade, enquanto que, as notas de pimenta branca e um toque de eucalipto elevam o final. Corpo médio, com boa longevidade e intensidade, confere uma interessante nota de contraste ao portefólio da Vallado. 14.5%
Um contraste que, tomem nota viajantes, está agora reflectido na sua sofisticada oferta de enoturismo desde que Francisco abiu a Casa do Rio no Douro Superior. Enquanto que os hóteis da Vallado estão situados bem perto da Régua e da agitação da cidade, a Casa do Rio fica nitidamente longe destes olhares. E, de facto, até fica à face de um caminho de terra batida e não perto de uma estrada. O caminho desce gentilmente pela vinha da Quinta do Orgal da Vallado, levando-nos até este pequeno hotel boutique (seis quartos) com vista para o Douro. Quase escondido por entre os patamares de vinhas como se de um ninho de pássaros se tratasse, e, embora os quartos beneficiassem com um melhor isolamento acústico, é um local espectacularmente tranquilo – um retiro natural. Recomendo.
Contactos
Quinta do Vallado – Sociedade Agrícola, Lda.
Vilarinho dos Freires
5050-364 – Peso da Régua | Portugal
Tel: (+351) 254 323 147
Fax: (+351) 254 324 326
Website: www.quintadovallado.com
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