Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira
‘Scales fall from the eyes’ (“Tirar as palas dos olhos”). É uma frase dramática. Uma frase que utilizo por duas vezes nesta peça e que portanto, caro leitor, me senti na responsabilidade de investigar a sua origem. Provavelmente já sabe que vem da Bíblia, do conto de Saulo, um perseguidor de cristãos, que após ter sua visão restaurada por um Cristão, vê a luz e converte-se ao Cristianismo.
A minha conversão ao Vinho Verde, ou mais propriamente ao Alvarinho, esteve longe de ser uma experiência religiosa. Mas confesso que tenho sido um pouco evangélica em relação ao Alvarinho desde que o descobri, há cerca de 12 anos atrás, na Prova Anual de Vinhos de Portugal. Estava um dia invulgarmente quente e ensolarado em Londres – e qual sítio melhor para saciar a minha sede do que a mesa de Vinho Verde?
À medida que dava o meu primeiro gole do Alvarinho Palacio da Brejoeira, experienciei o meu primeiro momento “scales fall from eyes” (abrir os olhos). Percebi que o Vinho Verde não era apenas um agradável produto comercial, gaseificado, e meio-seco. O Brejoeira era tão elegante e requintado como a sua delicada garrafa flute. E ganhava aos pontos ao Rias Baixas Albariño que eu na altura vendia em Oddbins.
O meu segundo momento “scales fall from eyes” (abrir os olhos)? Foi uma prova vertical na Quinta de Soalheiro com o enólogo Luis Cerdeira. Provamos este, a primeira marca de Alvarinho em Melgaço, da colheita de 1995. Outro mito desmentido. Nem todo o Vinho Verde é, como dizemos na Hugh Johnson Pocket Wine, “DYA” (drink the youngest available – beber o mais jovem dísponível). O 1995 (unoaked) estava glorioso.
Plante a casta certa (Alvarinho) no lugar certo (Monção e Melgaço) e este prospera, mesmo depois de 14 anos em garrafa! Daqui para a frente, valerá a pena procurar nos rótulos de Vinho Verde por essa sub-região de alta importância, Monção e Melgaço, já que estão em andamento planos para permitir que que todos os produtores de Vinho Verde, e não apenas aqueles localizados em Monção e Melgaço, coloquem Alvarinho no rótulo frontal.
O que faz o Alvarinho de Monção e Melgaço tão especial? A pista está no nome da quinta dos Cerdeira. Soalheiro significa ensolarado, localizado no interior e abrigado da influência do Atlântico. Monção e Melgaço é a região do Vinho Verde mais seca e ensolarada. As percentagens hl/ha também são mais baixas, o que explica o porquê dos Alvarinhos desta Sub-Região terem a concentração necessária para envelhecer tão brilhantemente, isto já para não falar da sua grande complexidade e requinte.
Estou ansiosa por partilhar estas experiências de ‘abrir os olhos’ em Junho numa prova mini-vertical na Quinta de Soalheiro (e uma visita ao Palácio da Brejoeira), quando eu estiver a conduzir o Premium Tour da Blend – All About Wine, de produtores de excelência do Douro e Vinho Verde. Espero que se possam juntar a mim.
Aqui estão as minhas notas sobre os últimos lançamentos da Quinta de Soalheiro:
Quinta de Soalheiro Alvarinho Bruto 2013 (Vinho Espumante IG Minho)
Amarelo pálido com bolhas de tamanho considerável. Manga verde no nariz, seguido de um palato cremoso a salada de frutas, muito focado na fruta. É, de facto, muito vínico – mais parecido com um vinho de mesa do que um espumante. Também porque as bolhas não são muito persistentes, embora a fruta seja. E também tenho a certeza que o intuito de Cerdeira não era um espumante tipo champanhe. Pelo contrário, a intenção é destacar fruta ensolarada da Soalheiro. Sim, pensa que apenas a Austrália transporta o sol para copo, acontece que este também. Muito agradável, divertido e irresistível, trouxe-me memórias da minha primeira prova com Cerdeira num longo almoço de convívio no restaurante Panorama. Foi a companhia perfeita a caranguejo barrado em pão rústico e saboroso. Isto é para beber! 12.5%
Quinta de Soalheiro Dócil 2014 (IG Minho)
Este Alvarinho meio-seco, equilibrado e com textura, mostra uma cascata de sabores à medida que se abre, desde doce de pêra cozida, casca de pêra e lichia a maracujá. Uma lenta e muito suave pulsação de acidez desperta os sabores. Muito diferente dos estilos mais secos – um Alvarinho em câmara lenta. 9% , 48g/l de açucar residual.
Quinta de Soalheiro Alvarinho 2014 (Monçao e Melgaço)
Esta foi uma colheita complicada devido às chuvas no fim de Setembro e Outubro. No entanto a Soalheiro já tinha colhido a sua fruta. A amplitude da concentração e complexidade deste vinho fica demonstrada pelo quão bem sabe no segundo dia, quando do copo saltam madressilva, maracujá e lúpulo. Muito expressivo, e no palato mostra maracujá suculento, lichia e pêssego branco. Uma acidez persistente e agradável no final, atractivo para os apaixonados pelos poderosos Sauvignon Blancs da Nova Zelândia. 12.5%
Quinta de Soalheiro Primeiras Vinhas Alvarinho 2013 (DOC Monçao e Melgaço)
O nome ‘Primeiras Vinhas’ – um dos meus Alvarinhos favoritos – pressupõe que este seja proveniente das vinhas mais velhas da Soalheiro (mais de 30 anos de idade). De um ano excelente e de amadurecimento lento (com mais chuva de Inverno do que o que é costume, e com Julho e Agosto muito secos e quentes mas com noites frias), é um vinho adorável, com várias camadas, sendo porém, de expressão muito suave e elegante. Basta dizer que não salta do copo em direcção a nós como o seu irmão mais novo, mas procure e encontrará! No nariz, damasco ceroso e, no palato revela camadas de laranja vigorosa (um apelativo toque amargo), madressilva, pêssego cremoso amarelo e branco, borras agradáveis e notas de frutos secos nogados (15% deste cuvée foi fermentado em barril). Uma acidez dançante e minerais cintilantes levam a um final muito longo e suave, com uma fantástica ressonância de back palate. Lindo. 13%
Quinta de Soalheiro Reserva Alvarinho 2013 (DOC Monçao e Melgaço)
O Reserva foi fermentado e envelhecido em barricas de carvalho francês (em novas e em já utilizadas), em “batonnage” com borras finas, até ao final de Junho de 2014. Por vezes achei este vinho demasiado amadeirado para o meu gosto mas, o 2013 mostra uma fantástica transparência a alperce, pêssego, lichia e ananás. Um pingo de sabor a baunilha e ervas secas acrescentam interesse. Grande postura e equilíbrio; muito bom. 13%
A propósito, a gama de Alvarinhos da Soalheiro extende-se a uma aguardente Alvarinho e a ‘allo’ uma mistura minhota das castas Alvarinho e Loureiro. Tal como tinha dito, em todas as direcções!
Contactos
Quinta de Soalheiro
Alvaredo . Melgaço
4960-010 Alvaredo
Tel: (+351) 251 416 769
Fax: (+351) 251 416 771
E-mail: quinta@soalheiro.com
Website: www.soalheiro.com
Leave a Reply