Texto João Barbosa
O peso do vidro chateia-me. Existe alguma probabilidade de ser o primeiro a começar uma crónica vinícola desta maneira. Tem alguma coisa a ver? Tem! Não empatando: pegada de carbono e/ou respeito pela natureza. Há uns anos era sabido que, para se ter sucesso, bastava rotular uns números grandes (com um gatafunho indicador da moeda) e pôr o vinho numa garrafa com tara de 1,7 quilogramas (verídico).
O vidro é nobre, mas não se bebe. Tive de escrever isto porque o que apresento tem muito «do mundo». É um bom vinho (!), está numa boa garrafa e não pesa uma tonelada. Vidro de qualidade é fundamental para guardar um néctar pelo qual se tem a garantia que vale a pena esperar. Só isso e nem mais um grama.
A outra «metade» do «mundo» é a natureza que se encontra nos vinhos da Quinta de Foz de Arouce. Se há vinhos que merecem ser «acusados» de demonstrar terroir, este é um deles. Quanto a mim, essas sete letras são um acrónimo poético de solo, subsolo, enquadramento geofísico, agricultura e/ou vegetação próxima, casta, fauna, clima, sabedoria agrícola e de adega e… já escrevo a última componente. Não há vinho sem o homem, por isso tem de estar na equação.
Podem fazer-se maus vinhos tendo tudo para serem bons, mas o inverso é impossível. É também verdade que há territórios mágicos, onde nascem obras-primas, mas que o pintor compõe a «Gioconda», de Da Vinci, em vez do «Nascimento de Vénus», de Sandro Botticelli. Aí entra a última componente: o produtor – tem de exigir o seu retrato, a sua imagem e linhagem.
A Quinta de Foz de Arouce fica num não-lugar! Não fica na Bairrada, nem no Dão nem noutro sítio. Esta propriedade é única, pois se não fosse haveria, por ali, muitos vinhos desta dimensão.
Se ficasse na Borgonha, Foz de Arouce seria um «Grand Cru», um «Monopole». Aprendi na escola que se situa na Beira (Alta, Baixa e Litoral) – o não-lugar situa-se a 23 quilómetros de Coimbra.
Terei exagerado quando escrevi «Grand Cru»? Este é um vinho que não conheço irmão. Tem uma capacidade de envelhecimento notável. Estamos em 2015 e abri a de 2005. Em plena forma física, elegante, longo, fundo, complexo. Valerá a pena despejar descritores? Todo ele (o vinho) vai e vem, junta e afasta, como numa dança, com o passar do tempo no copo. Tem 14% de álcool e ninguém o diz até o ler no contrarrótulo.
A casa condal tem documentos, datados do século XVII, que referem a qualidade do vinho. Levaria tempo a contar, mas um Senhor de Foz de Arouce pregou uma partida a Filipe III de Portugal (Felipe IV de Espanha), tendo apostado barricas do seu já afamado néctar.
Este – o Quinta de Foz de Arouce Vinhas Velhas de Santa Maria 2005 – é um monumento, e duma casta que ganhou má fama. Hoje já se começam a cantar laudes à baga. Tenha origem no Dão ou na Bairrada, não é um gatinho mimado. Tem garras afiadas e prontas a espetar.
Em termos humanos, João Portugal Ramos – genro do actual conde de Foz de Arouce – é reconhecido como um dos melhores enólogos portugueses. Ali, naquela quinta coimbrã conta com João Perry Vidal, que trata aquelas videiras por tu e conhece o nome de todas as abelhas e joaninhas.
Originalmente só havia vinhas de casta baga. Há uns anos foram cultivadas vides de touriga nacional, criando uma diferenciação entre o Foz de Arouce «normal» e o «vinhas velhas». Nasceu também um vinho branco, da casta cerceal.
Todos bons, mas há o «único».
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Quinta de Foz de Arouce
3200-030 Foz de Arouce
Lousã, Portugal
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Fax: (+351) 268 339 918 / 268 339 916
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Website: www.fozdearouce.com
Alberto Ferreira
Agradeço informação preço deste vinho, vinhas velhas de santa maria, 2005- Obrigado.