Texto Ilkka Sirén | Tradução Patrícia Leite
Primeiro deixem-me começar por dizer: Vinho Verde é uma região e não um estilo de vinho. Quando se fala sobre Vinho Verde ouve-se com demasiada frequência as pessoas dizerem “Vinho Verde? Aquele vinho carrascão gaseificado do Norte de Portugal?” – e isso dá-me logo vontade de lhes dar um soco. Claro, a região do Vinho Verde é conhecida por produzir este vinho gaseificado tipo Spritzer e isso parece ser bastante popular mesmo até aos dias de hoje. E para ser honesto, não me importo. Mas uma coisa que as pessoas devem saber sobre Vinho Verde é que é uma grande região vitivinícola. Na verdade, é uma das maiores da Europa. Esse facto associado à enorme variedade de castas autóctones torna a região num terreno fértil para novos projectos vitivinícolas, como a Quinta de Covela. A quinta e os seus vinhos não são novos, mas através de uma série de, digamos, “incidentes” estão agora a renascer.
Os vinhos captaram alguma atenção a nível nacional e internacional no dia em que Nuno Araújo comprou a quinta no final de 1980. Nuno foi um dos primeiros a iniciar em Portugal a implementação de viticultura orgânica e biodinâmica. Com os seus rótulos invulgarmente “modernos” e os seus interessantes blends de castas, os vinhos Covela tornaram-se conhecidos junto dos entusiastas do vinho Português. Em 2008, Quinta de Covela caiu nas mãos de um banco. Não me lembro o nome do banco, mas isso não importa porque todos nós sabemos o que acontece quando as coisas caem nas mãos de um banco. Tudo se destrói. Escusado será dizer que o banco não se preocupou em fazer o que quer que fosse com a quinta, que ficou completamente ao abandono. Tal aconteceu até 2011, quando Tony Smith e seu sócio Marcelo Lima recuperaram a exploração vitícola. E devo dizer que, desde então, a ascensão da Quinta de Covela foi bastante impressionante. Em poucos anos, passou do estado de quase completamente esquecida ao do produtor de vinho de que todos falam.
Photo by Ilkka Sirén / All Rights Reserved
A Quinta de Covela produz Vinho Verde, sim, mas a quinta situa-se a 500 metros a apenas do rio Douro. O que acho bastante interessante e algo que se pode detectar nos vinhos. Têm o solo granítico do Vinho Verde, mas o clima de Douro. Primeiro pensei “óptimo, um Vinho Verde sem frescura”. Mas, como sempre, com o vinho não é tão simples assim. Isso dá aos vinhos um carácter único, mas em vez de serem muito maturados com toneladas de frutas tropicais e todos as espécies de tutti-frutti, diria que os vinhos são realmente um pouco contidos. É a magia inexplicável do terroir.
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Acho que uma das coisas mais inteligentes que os novos proprietários fizeram foi contratar o Enólogo Rui Cunha. Rui, que também trabalha com Aphros (Vinho Verde) e Secret Spot (Douro), já tinha trabalhado na Covela durante muitos anos, pelo que conhece bem a quinta.
A adega é uma bela casa com pé direito alto, paredes cor-de-rosa e umas fantásticas cubas antigas de betão. Pequena, mas muito prática. Devido à falta de espaço sobrepuseram as barricas umas sobre as outras e ligaram ao seu fundo uma espécie de um dispositivo de válvula para a trasfega. Quando há vontade, há um caminho, certo? A quinta abrange 49 hectares, dos quais 18 hectares são plantados com vinha. Embora a Covela seja bem conhecida pelos seus vinhos brancos, também produz alguns vinhos tintos. Além da casta Touriga Nacional, plantaram muitas castas internacionais, como Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot. Não é bem um “Super Toscano”, mas talvez um Super Douro Verde?
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Eis as minhas escolhas da degustação:
Covela Edição Nacional Avesso 2013 (Branco)
Não se pode falar de Covela sem falar sobre a casta Avesso. Esta casta difícil do Minho é raramente utilizada no seu próprio país, mas no lugar certo e nas mãos certas esta pequena casta pode dar um verdadeiro vinho delicioso. Edição Nacional Avesso: um balde cheio de água mineral, citrinos, fragmentos de rocha e algumas fatias de casca de laranja. Coisa boa.
Covela Escolha 2013 (White)
Um interessante blend de Avesso, Chardonnay, Viognier e um pouco de Gewürztraminer. Começa um pouco como aquele jogo de iPad, o Fruit Ninja. Fruta a voar por todo o lado; uma mistura de pêra, pêssego e limão. Mas, de repente, tudo é atacado por uma navalhada de acidez que corta a fruta como um cirurgião plástico remunerado em excesso. Sabores agradavelmente persistentes com um final seco e cortante. Tem definitivamente uma vertente gastronómica bem promissora.
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Sobre os tintos… O Covela Escolha Tinto 2005 foi uma beleza. Vinho bem maturado com os aromas típicos de “galinheiro atacado por uma bola de couro”. Coisa saborosa! O Covela Reserva 2012, por outro lado, estava um pouco estranho. É óbvio que ainda é um bebé, mas com 18 meses de estágio em barricas 100% novas não sei se alguma vez será a minha “onda”. O Rui disse que a percentagem de madeira nova será menor no futuro. Não quis comprar barricas em segunda mão porque queria ter certezas sobre a qualidade. Fico à espera desse futuro, mas até lá continuarei alegremente a beber o tão delicioso Avesso.
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Contactos
Quinta de Covela
William Smith & Lima Lda.
S. Tomé de Covelas
4640-211 BAIÃO
+351 254 886 298
info@covela.pt
www.covela.pt
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