Texto João Barbosa
Queria apenas escrever acerca de três vinhos do Dão, mas a corrente deste rio levou-me a enquadrar, porque a região nasceu bem, enfraqueceu e está (ainda) a renascer. Termino onde desejei começar.
A qualidade tem vindo a aumentar e faz justiça à natureza e ao engenho humano, pois o Dão é das melhores regiões vinhateiras portuguesas. No elencar das virtudes e fealdades da região dou três exemplos que traçam o meu boneco. A Dão Sul, a Sogrape e a Casa de Mouraz. Qualquer delas conhece o sucesso e as vitórias nunca acontecem por acaso. Uma retrato a preto e branco e dois a cores.
A cores: Quando em 2004 comecei a fazer o programa «Da Terra Ao Mar» – domingos, às 11h00, na RTP 2 – uma das primeiras reportagens foi sobre a Casa de Mouraz. Um casal jovem mudara-se de Lisboa para lavrar uma vinha em modo biológico, hoje em biodinâmico. Tinham quatro hectares e hoje Sara Dionísio e António Lopes Ribeiro oficiam em mais zonas do país, mantendo o coração no Dão.
A preto e branco: A Dão Sul (Global Wines) foi fundada em 1989 e a ela se deve muito do renascimento da região, recolocando-a nos escaparates. Uma estratégia de qualidade acima da média e preço amigo da algibeira.
A Quinta de Cabriz tornou-se conhecida do grande público. Um sucesso avassalador que ditou a chegada de uvas doutras terras da zona e que a marca passasse a ser apenas Cabriz. A Quinta dos Grilos – supostamente doutro produtor, embora doutro dono, dizem as más-línguas –serviu para criar uma dinâmica de competição. Outro caso de popularidade, embora menos visível. Hoje é só Grilos, pela mesma razão do anterior.
Infelizmente, Cabriz e Grilos decaíram na qualidade. Fazer muito e muito bem é quase a quadratura do ciclo, é muitíssimo difícil. A Casa de Santar, outrora com mais sainete, conhece a mesma sina. Contudo, a contratação do enólogo Osvaldo Amado está a dar melhores resultados. À parte: o vinagre de Cabriz é excelente!
A Global Wines não faz só vinhos de gama baixa. Os Paço dos Cunhas de Santar e o Pedro & Inês – evocativo do grande e trágico amor entre o infante Dom Pedro, mais tarde rei Pedro I de Portugal, com Dona Inês de Castro – fazem parte do melhor da região.
O pretexto original era o de contar acerca de três vinhos da Quinta dos Carvalhais, propriedade da Sogrape. É a maior empresa portuguesa do sector – uma multinacional familiar – que não brinca em serviço. No Dão faz vinhos de classe mundial e criou três «indivíduos»: personalidade e expressão da origem; terroir.
A touriga nacional é original do Dão, onde oferece um ramalhete de violetas. Sem caricatura de aroma – exagero que está a acontecer na região – tem o carácter é educado. Quinta dos Carvalhais Touriga Nacional 2012 é pedagógico, expressa a casta e elegância que deu fama ao sítio onde nasceu.
Igual valor tem o amarelo, concretizado com a variedade mais vistosa da zona, muito fresca e mineral . O Quinta dos Carvalhais Encruzado 2013 tem igualmente uma função formativa, do que é a casta e do que de melhor se faz no Dão.
Porém, a regra portuguesa dita que os vinhos sejam resultado da junção de várias castas, embora a empresa não forneça, no seu sítio na internet, quais as que o encarnam. O Quinta dos Carvalhais Reserva Tinto 2010 reúne o verdadeiro carácter do Dão.
O melhor de antigamente, a longevidade. Foram feitos para durar, mas podem beber-se já. Com os anos que têm pela frente… compre várias garrafas, beba umas e guarde outras. Tire apontamentos para comparar e recordar.
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