Texto Sarah Ahmed | Tradução Bruno Ferreira
Pormenor significa detalhe. Sem dúvida que Pedro Coelho olhou aos detalhes e fez o trabalho de casa – os seus primeiros lançamentos de Pormenor 2013, Douro, já esgotaram. Nada mal para um enólogo de primeira geração que me disse “o meu avó era um produtor de carvalho, o meu pai produtor de cortiça, por isso… era preciso que houvesse alguém na família que produzisse e bebesse vinho… esse alguém sou eu!!!!”
Portanto, além do entusiasmo juvenil de Pedro pelo projecto, qual é a atracção? A embalagem é simples – não exagera – mas tem classe com um toque contemporâneo que chama a atenção na prateleira. E quão contemporâneo é lançar dois Douros brancos e um tinto! O seu consultor enólogo é o ex-Niepoort Luis Seabra, mais um detalhe, a cuja própria gama de vinhos Cru escrevi estas páginas anteriormente este ano.
Tal como Luis Seabra, o objectivo de Pedro é o mostrar o Douro “no seu estado mais natural… com o mínimo de intervenção, dando prioridade às principais carecterísticas do Vale do Douro: vinhas, uvas, solo e clima”. E tal como a gama Cru de Luis Seabra, estes brancos são vivos e muito texturais. De certa forma, não são muito diferentes dos rótulos – sem exagerar mas a insinuar – encontram a sua própria marca.
Na realidade os brancos são o ponto mais forte, achei o tinto um pouco rústico. Algo que é fascinante se considerarmos que os brancos provêm da sub-região Douro Superior, normalmente mais seca e quente , e o tinto da sub-região Cima Corgo. Cima-Corgo, bem no “coração do Douro”, é recorrentemente citada como fonte dos mais elegantes vinhos do Douro e vinhos do Porto, e os Pormenor brancos mantêm essa fasquia – o diabo está nos detalhes, especialmente na especificidade do local. É precisamente este factor que explica porque é que, contrariamente a sabedoria recebida, o Douro Superior é uma das fontes de alguns dos meus vinhos brancos Douro favoritos. Por exemplo, Conceito, Quinta de Maritávora, Ramos Pinto Duas Quintas, Muxagat (apesar de, infelizmente, Mateus Nicolau de Almeida já não estar envolvido no projecto) e Mapa.
Aqui estão as minhas notas relativamente a estes lançamentos de estreia:
Pormenor Branco 2013 (Douro DOC) – este pálido vinho amarelo provém de vinhas muito velhas sobre xisto no Douro Superior, situadas entre 400 a 500 metros de altitude em Carrezeda, Ansiães. As uvas foram apanhas no fim de Agosto a fim de preservar a acidez. Aparentemente a Rabigato e a Códega do Larinho predominam, ambas as castas têm boa fruta, mas a Rabigato é alta em acidez e a Códega do Larinho é mais usave, menor acidez. O vinho foi fermentado e envelhecido em tanques inox. É um amarelo pálido com um palato altamente individual impregenado de abacaxi grelhado com canela, damasco e marmelo mais firme – bastante frutado para o Douro. Uma complexidade de mel de acácia e um nogado cremoso remetem para um palato sedoso e redondo. Uma madura e perfeita, ininterrupta acidez permitem um longo final. Bebe-se já muito bem e sozinho, tem peso e potencial para funcionar bem com pratos condimentados de peixe branco. 12.63%
Pormenor Reserva Branco 2013 (Douro DOC) – Similarmente, o blend de vinhas velhas (com a Rabigato e a Códega do Larinho a predominarem) foi colhido precocemente de vinhas em Carrezeda, Ansiães. No entanto, a fruta veio de vinhas mais altas, entre 600 a 800m de altitude, portanto, o palato do Reserva (amarelo ligeiramente mais escuro), é, mais firme, mais concentrado, com mais fruta de uva e mineral, assim que ultrapassada a madeira – gostei bastante mais no segundo dia, quando a madeira não foi tão intrusiva e terminou longo, focado e mineral. O Reserva foi naturalmente fermentado e envelhecido durante nove meses em barris de carvalho francês da Borgonha sem controlo de temperatura nem batonnage. Deixa-lo-ia repousar durante mais ou menos um ano de forma a permitir a integração da madeira. 12.5%
Pormenor Tinto 2013 (Douro DOC) – este blend de médio corpo de algumas uvas clássicas do Douro (principalmente Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Amarela e Rufete) provém de vinhas velhas com mais de 50 anos, em Soutelo do Douro, Cima Corgo, plantadas entre 500 a 600 metros de altitude. Foi fermentado e macerado em cubas de inox com alguns cachos inteiros (engaço e uvas) durante 25 dias e envelhecido durante 14 meses em barris de carvalho francês. Como o Reserva Branco, este vinho precisava de ar. Desta vez por causa de “ruído branco” terroso no nariz que prejudicou a fruta (e que inicialmente pensei ser causado por deterioração bacteriana, brettanomyces). No entanto, a lucidez do palato (da mesma garrafa) ao terceiro dia, sugere que tenha sido um perfil “engaçado” derivado da fermentação com os cachos. Como estava o Pormenor Tinto ao terceiro dia? Apresentou-se com groselha vermelha fresca, cereja e ameixa, com um toque subtil de “floralidade”. Apesar de os taninos serem terrosos e rústicos, não se meteram no caminho dos aspectos mais agradáveis deste vinho – a fruta e a frescura (de facto permitiram aquele bonito toque floral aparecer). Enquanto que a rusticidade remete para a ideia de Pedro mostrar o Douro “da maneira mais natural”, na melhor das hipóteses, os engaços na fermentação de cacho inteiro podem produzir vinhos com especiarias e estrutra empolgantes. Pedro disse-me que este vinho foi colhido no início de Setembro de forma a “manter o alto nível de acidez” mas, embora saude a frescura do palato, pergunto-me se os engaços não teriam benificiado mais se estivessem um pouco mais maduros? Claro que 2013 foi um ano complicado – a partir de 27 de Setembro houve um período de chuvas intenso que incentivou a colheita precoce. Estou sim, interessada em provar as próximas colheitas deste vinho. 12.5%
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Tel: (+351) 919 679 393
Email: geral@pormenor-vinhos.com
Website: www.pormenor-vinhos.com
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