O Grande Alicante Bouschet da Herdade do Rocim Quando dei por mim estava a pensar em Oscar Wilde

Piparote na adega

Texto João Barbosa

Podem o Governo e organizações económicas fazer campanhas de promoção e defesa das produções portuguesas que o indígena vai sempre olhar para si e para a algibeira. Somos um povo individualista, muitas vezes invejoso e com grande pontaria para acertar com as balas nos pés.Há dias provei um vinho da Adega Cooperativa de Vila Real que bom prazer daria num dia quente. Um rosado guloso para ser bebido à conversa, demasiado doce para acompanhar o que quer que seja.

Não havia nada de errado com o vinho. A crítica vai para o vedante. É certo que vinhos para serem bebidos jovens se compreende a utilização de carica ou tampa de rosca. Percebe-se, mas fica mal aos portugueses. Pelo menos no que vendem dentro de portas. Há mercados que preferem objectos sintéticos… e aí é negócio, compreendo se enquadrem nessa prateleira de vinhos fáceis e breves.

Uma empresa que escolher, para fechar o seu vinho, um cilindro sintético, escorregadio para saca-rolhas razoáveis, de cor a imitar a da cortiça, devia pagar 85% de IRC. No mínimo! Não só é uma «fraude» imitar cortiça, como é um atentado à economia.

Fake

Rolha sintética

O turismo é responsável por 5,8% da riqueza nacional. Em Maio, talvez Abril, chegam escandinavos da cor de leite, pouco resistentes à força do Sol da Europa meridional. De Junho a Setembro, chegam aos milhares, em voos regulares, em companhias low-cost, em charters, de comboio… todo o ano chegam cruzeiros. Lisboa, Algarve, Porto, Madeira ou Fátima oferecem variedade: praia, negócio, cultura, espiritualidade, etc.

O turista senta-se numa esplanada da Rua Augusta e pede um vinho. O empregado, de humor variável, apresenta-lhe uma garrafa com vedante artificial. Que imagem leva para a sua terra? Que os portugueses desprezam a sua economia.

A Adega Cooperativa de Vila Real não é, infelizmente, caso único. O que torna mais grave é ser uma empresa que lida com muitos agricultores, que lhes paga as uvas e sustenta emprego directo e indirecto. Devia ter mais respeito pelos silvicultores e industriais nacionais.

Ao escolher uma rolha falsa, a Adega Cooperativa de Vila Real deita por terra o incentivo ao consumo do que é nosso. Por que raio hei-de beber vinhos portugueses? O que me levará a oferecer Douro, Alentejo, Bairrada… a um amigo doutro país?

Os cilindros com cor de cortiça – além de parecerem o que não são – são feitos com materiais sintéticos, com impacto negativo no ambiente. Pode argumentar-se que pode ser reciclado. Pois, mas até aí chega a cortiça: além de reciclável é facilmente reutilizável. Acresce, que os montados, para lá do rendimento e do emprego que geram – directa e indirectamente – são positivos para o meio ambiente, fixando carbono e sustentando ecossistemas.

Irá longe o tempo em que beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses. Vai longe, mas a fileira dá emprego a muitos portugueses. Em 2012, o vinho foi responsável por 11% das exportações de bens alimentares. No conjunto das vendas ao exterior, o vinho pesou 1,6% – correspondendo a 725 milhões de euros.

Cork

Rolha cortiça

E o que dizer da cortiça? Pela casca do sobreiro nascem 2% das exportações nacionais – 845,7 milhões de euros, por 189,3 mil toneladas. A fileira da cortiça dá trabalho a mais de 8.700 pessoas.

Não seria melhor que os portugueses se apoiassem mutuamente? Os silvicultores, muitos deles também vitivinicultores ou viticultores, merecem reconhecimento. Não é caso único, repito… mas a uma casa com tantos agricultores fica muito mal trocar a rolha de cortiça por um bocado de «palavrão».

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