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Wine Magazine
Um Sensato Recém-Chegado ao Douro: Mateus Nicolau de Almeida

Texto Sarah Ahmed  | Tradução Patrícia Leite

Temo-nos correspondido por e-mail. Já provei os seus vinhos. Até já estive várias vezes com o seu pai e com a sua mulher. E, finalmente, conheci Mateus Nicolau de Almeida no “Simplesmente Vinho” no Porto no mês passado. Na semana seguinte eu já estava de volta, numa visita à quinta da família no Douro Superior, de onde Mateus obtém parte das uvas para sua marca Muxagat e de onde também faz o vinho Quinta de Monte Xisto, em conjunto com o seu pai e o seu irmão (João Nicolau de Almeida sénior e júnior), o qual é comercializado pela sua irmã Mafalda Nicolau de Almeida. Parece que esta família do vinho funciona muito bem, porque o blend é muito harmonioso!

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Photo by Sarah Ahmed / All Rights Reserved

João Nicolau de Almeida sénior tem o seu lugar na história do Douro como resultado do seu trabalho pioneiro na Quinta de Ervamoira da Ramos Pinto. Marcando o nascimento de uma nova era da viticultura no Douro, Ervamoira foi a primeira quinta do Douro a ser totalmente plantada com parcelas de castas únicas focadas no chamado “top cinco”, que o estudo-piloto de Nicolau de Almeida ajudou a identificar (as castas são Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinto Cão e Tinta Barroca). Foi também a primeira quinta a ser plantada de forma vertical (uma ruptura com a tradição de terraços de contornos horizontais).

Seguindo firmemente as pegadas do pai e do avô (o criador do Barca Velha, Fernando Nicolau de Almeida), Mateus está também a desbravar novos caminhos. Descrevendo-se como um “Douro Vigneron“, diz que a vida da cidade do Porto não é para ele. Vive efectivamente no Douro Superior, onde pode concentrar-se em tratar das suas vinhas e também fazer o vinho. Até mesmo o jardim da frente da casa onde vive com a mulher (Teresa Ameztoy, Enóloga da Ramos Pinto) é uma vinha! Diz que “não há uma cultura de vignerons no Douro – isso é muito recente. Posso contar pelos dedos de uma mão quantos enólogos vivem no Vale do Douro e não nas grandes cidades. Agora, está a começar a viver aqui uma nova geração”.

Mateus Nicolau de Almeida criou raízes no Douro Superior em 2003, no momento em que deu início ao projeto Muxagat. Adoptando a metodologia do avô para o Barca Velha (que o pai também tem usado com sucesso para a gama Duas Quintas da Ramos Pinto), Mateus obtém as uvas de vinhas velhas de várias castas situadas em altitudes mais elevadas, como Muxagata e Meda (entre 500-700 m), e ainda da Quinta do Monte Xisto que, a cerca de 300 m de altitude, é mais baixa e mais quente.

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Photo by Sarah Ahmed / All Rights Reserved

Nas áreas da Quinta do Monte Xisto que não tinham sido previamente cultivadas, Mateus e os seus irmãos plantaram a vinha de forma biológica com sucesso. A vinha foi plantada entre 2005 e 2006 e está agora certificada como Biológica. Mateus explica que “a terra era virgem, por isso, não quisemos adicionar produtos químicos”. Apesar das dúvidas do pai sobre uma abordagem não-intervencionista (“o seu background é a mecanização”), Mateus estava preparado para ter a mente aberta e tem ficado muito feliz com os resultados. O orgulho e a alegria de Mateus no projecto familiar manifestam-se num sorriso de orelha-a-orelha quando partilhei com ele o comentário do pai de que aprendeu muito a trabalhar com os filhos. Mateus acrescenta que “somos de gerações diferentes, temos ideias e perspectivas diferentes, mas chegamos sempre à mesma conclusão [grandes uvas e grande vinho], mesmo que seja de uma forma diferente”.
Então, por que é que esta abordagem não-intervencionista provou ser tão bem-sucedida? Mateus afirma, entre outras coisas, que “as vinhas são como crianças – têm de sofrer, caso contrário ficam mimadas”. Ele diz que teria sido tudo muito fácil se tivéssemos aplicado herbicida quando a relva crescia entre as vinhas, mas a concorrência tem sido boa para as vinhas. Salienta ainda a importância de viver na região “porque demora muito tempo a compreender uma vinha. Vê-se os resultados daquilo que se faz num ano apenas cinco anos depois… é preciso falar com a Natureza e estar aqui todos os dias para a sentir e conectar-se com ela”. É por isso que, embora tenha adoptado algumas práticas biodinâmicas (por exemplo, o cultivo da vinha de acordo com os ritmos planetários e a aplicação da preparação 500/composto estrume de vaca), Mateus não contratou um consultor de Biodinâmica e não anda no encalço da Certificação Biodinâmica.

Está, no entanto, convencido da importância da biodiversidade “porque com a biodiversidade podemos chegar a um momento em que já não é preciso tratar a vinha; já tratamos a vinha cada vez menos”. E quando aplicam tratamentos ou tisanas, incluem ingredientes locais naturais, como por exemplo o eucalipto (um anti-séptico) e cactos “que agem como o aloe vera na pele”, protegendo as uvas do sol. Tendo testado uvas cultivadas com e sem os cactos, Mateus verificou que esta utilização torna os vinhos mais frescos (com um pH mais baixo) e leves (com um álcool inferior).

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Em termos gerais, Mateus notou que, ao receber na adega as uvas das vinhas cuidadas por si pessoalmente, é como se já as conhecesse – “Eu sei o que vai acontecer”. É quase como se as próprias uvas fossem parte da família. Na verdade, eu diria que os vinhos são encantadores e provocantes, muitos parecidos com a família Nicola de Almeida. Aqui estão as minhas notas sobre os vinhos:

Muxagat MUX Branco 2012 (Douro)

Esta combinação de 80% Rabigato com outras castas (não especificadas das vinhas velhas) é muito mineral e tem uma frescura de estalar os lábios, com limões maduros, uma estrutura marcadamente cítrica e um toque de avelã esfumada no seu final longo e bem focado. Este vinho prensado pela gravidade é em parte envelhecido em cubas de betão subterrâneas e também em barricas de carvalho de 600 L. Muito bom – adoro a sua energia e o seu vigor.

Muxagat Os Xistos Altos Rabigato 2011 (Douro)

Este 100% Rabigato de uma vinha a 500 m de altitude teve dois anos de envelhecimento numa combinação de Foudres austríacos de 2000 L e fermentadores de betão em forma de ovo. É um vinho mais pedregoso, com mais textura e com uma ponta salgada num final longo e límpido. Menos directo e mais subtil do que o MUX, oferece-nos muito menos. Mas com mais estrutura terá tempo para desvendar os seus segredos. E eu acho que a espera vai valer a pena. Muito bom; decantar agora ou dar-lhe mais 6 meses a 1 ano.
Muxagat MUX Rosé 2012 (Douro)

Este é um rosé muito interessante – Estou tentada a dizer intelectual, mas se calhar isso é um exagero! Enfim, o que quero dizer é que ele tem poucas semelhanças com os vinhos rosados ​​mais doces, baratos e alegres, para poder ser encontrado em qualquer loja ou supermercado. O que tem toda a lógica dado que MUX provém de uma vinha muito alta, a 700 m, e, por outro lado, é influenciado pelo tipo de rosés secos e muito saborosos que os amigos de Nicolau de Almeida do Sul de França gostam de beber num dia de verão (estou a pensar em Provence, Bandol, Tavel). Um lote de Tinto Cão e Tinta Barroca, fermentado e envelhecido em parte no tanque e também em barricas velhas, este vinho bege-rosado é cremoso, mas seco e redondo, com boa acidez, notas florais e de especiarias secas e um toque de chocolate no seu final persistente. Muito mais agradável do que parece!

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Muxagat Tinta Barroca 2012 (Douro)

Para Mateus a chave deste Tinta Barroca surpreendentemente vivo (propenso a níveis elevados de açúcares / álcool) está baixos rendimentos e altitude. Como o Rosé, este vinho provém de uma vinha a 700 m. As uvas são desengaçadas e esmagadas e depois fermentadas em cubas de betão subterrâneas (fechadas), onde o vinho é envelhecido por 8 meses para maximizar os aromas e a expressão de fruta. É um trabalho bem feito, porque, embora seja um pouco fechado no nariz, este é um vin de soif vibrante e delicadamente perfumado com notas florais, chocolate, pedaços de canela picante, ameixa e bagas vermelhas. Taninos suaves mas fibrosos, leve mineralidade do sal e boa frescura contribuem para um vinho interessante, contudo fácil. Muito bem feito. 13%

Muxagat MUX Tinto 2011 (Douro)

Este vinho é um típico 2011, na sua concentração com estrutura. Tem uma adorável intensidade de bagas pretas suculentas, cerejas e groselhas. Pedaços de canela, as ervas selvagens, chocolate e alcaçuz dão-lhe poder, profundidade e intensidade no final. Taninos maduros e forte acidez contribuem para um final longo e muito vigoroso. Excelente. Carácter e classe.

Muxagat Cisne 2010 (Douro)

Mateus chamou-lhe Cisne porque, como o patinho feio do conto de fadas de Hans Christian Andersen, a principal casta deste vinho (Tinto Cão) só revela a sua beleza com a idade. Na verdade, uma semana antes eu tinha provado este vinho juntamente com um 1981 Tinto Cão da Ramos Pinto (um vinho experimental). O vinho mais velho surpreendeu-me completamente com a sua poderosa intensidade e cor incrivelmente profunda (tinta de lula) e jovem. Cisne é co-fermentado com Rabigato (7%) e envelhecido durante três anos em barricas de carvalho velhas, em esforço para domar seus excessos mais selvagens. Ainda assim, é um vinho muito intenso com notas firmes de chocolate muito amargo/floral e de especiarias, groselha preta bem definida, framboesa silvestre e também um toque vegetal. Taninos bem maturados, porém firmes, e uma acidez que faz prever uma longa vida. Como se diz em Portugal, este não é um vinho “consensual”. Beneficiará certamente do tempo em garrafa. Mas não podemos deixar de dizer que não lhe falta carácter. Singular e, como uma pessoa de personalidade forte, focado em si mesmo e reservado no início, mas depois as ideias vêm em catadupa… e são boas! 14 %

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João Nicolau de Almeida & Filhos Quinta do Monte Xisto 2011 (Douro)

A 300 m de altitude, poder-se-ia esperar que o Quinta do Monte Xisto fosse mais extenso e pesado do que os vinhos Muxagat, que são provenientes em parte de vinhas mais altas. No entanto, com duas encostas, uma voltada a norte (mais fria) e a outra ao sul (mais quente), e a retenção de água do subsolo de xisto sólido, o Quinta do Monte Xisto é surpreendentemente bom, até mesmo elevado. Para isso contribui o facto das uvas das encostas mais baixas serem pisadas em lagares, ao passo que as uvas de maior altitude são fermentada em cuba para preservar o aroma e as frutas. E ainda o facto de ser envelhecido (durante 18 meses) na sua grande parte em grandes barricas velhas e secas de carvalho francês e de austríaco de 4000 L. É muito profundo na cor e muito perfumado no nariz com pétalas de rosa sobre um exótico lokum (Manjar Turco ou Delícia Turca), que se mantém até à boca. E, com framboesa muito pura e esmagada, amoras silvestres e taninos puramente finos, surpreende levemente o paladar. Mas o que é mais notável é a sua mineralidade pronunciada. Não é por nada que o nome da quinta é uma homenagem aos seus solos de xisto. Longo e persistente com uma agradável saturação e vivacidade na boca, o seu final afinado e mineral tem uma deliciosa fluidez – tão distante dos estilos “quanto maior, melhor” do passado. Uma excelente estreia desta jovem vinha.

Contactos:

www.muxagat.pt
Facebook Simplesmente Vinho
quintadomontexisto.com

 

Almoço – Restaurante Palco

Texto José Silva

No primeiro encontro do painel de provadores da Blend, fomos recebidos no Restaurante Palco, do Hotel Teatro, num ambiente requintado e tranquilo, para um almoço em que se pretendia provar grandes vinhos portugueses da actualidade, em harmonia com uma culinária moderna baseada em bons produtos portugueses.

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Feitas as apresentações e com a presença de Paulo Costa, Director do Hotel, que nos fez companhia, começou uma refeição que se viria a revelar de enorme qualidade, ajudada também pelo trabalho excelente dos profissionais de mesa do restaurante, quer no serviço e apresentação de cada prato, quer num serviço de vinhos impecável, entre copos, temperaturas e quantidades servidas.

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Os vinhos, provados dois a dois, estiveram à altura da ementa e fizeram como que um bailado entre si e um diálogo sério com a comida, dando-nos imensos momentos de prazer. Começou-se com um espumante da Bairrada, o Encontro Special Cuvée 2010, que apresentou bolha muito fina com mousse persistente, aromas secos e tostados, na boca tem elegância, notas de palha, excelente acidez, seco, com grande final.

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Fizemos então uma viagem deliciosa por um menu de degustação que começou com uma tapenade de tomate seco bem apresentada, bem ligada, com textura suave e elegante, para barrar no pão, e que veio à mesa numa pedra redonda de belo efeito. Seguiu-se um corneto de azeitona com barandade de bacalhau, que vinha espetado num recipiente repleto de sementes tostadas, num contraste visual muito bem conseguido: a massa crocante e o recheio do pequeno corneto muito bem ligados, a desfazer-se na boca, o contraste bacalhau/azeitona a percorrer o palato e deixar boa memória.

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O Rosé Principal Tête de Cuvée 2010 que veio a seguir estava surpreendente, de uma cor salmão pálido muito requintada, aromas exóticos, com notas secas de fumo, suaves fragrâncias de frutos vermelhos e um volume de boca soberbo, com notas de framboesas e mirtilos muito sedosas, acidez muito equilibrada, alguma frescura, final muito longo.

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Ainda ao nível das entradas, surpreenderam o torricado de pão saloio com cavala fumada e creme de cebola tostada, em que o pão, muito bom, tostadinho, serviu de base ao exotismo da cavala fumada, encimada pela cebola tostada e ladeada por duas salicórnias em tempura. Uma explosão de mar e fumo na boca.

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Continuando nas entradas, com a viagem cada vez mais intensa, o chefe presenteou-nos com aquilo a que chamou “uma versão diferente de bife tártaro e batata frita com mostarda Savora”, assim mesmo: a tosta muito fina e crocante dobrada a formar um tubo, recheada pelo tártaro preparado com rigor, muito saboroso, a ligar de forma inusitada com o paladar forte da mostarda que recheava duas batatinhas fritas às rodelas.

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Depois veio um vinho branco do Dão, da Quinta da Passarela, o Vila Oliveira branco 2012, Casa da Passarela, um vinho extraordinário, com aromas complexos de fruta e plantas do monte, grande estrutura na boca, alguma mineralidade, com uma óptima acidez e um final longo e sedoso..

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Para fechar o ciclo das entradas, um prato que mais parecia uma paleta de cores, mas que na boca revelou uma enorme frescura e uma ligação muito interessante entre ingredientes tão diversos como as vieiras, cannelloni de abacate com sapateira, puré de raiz de aipo fumada com cítrico e camarinhas, aqueles camarões de rio minúsculos de aroma e sabor intensos, que faziam a ligação de todo o prato, excelente.

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Passamos depois a dois vinhos Alvarinho de Melgaço com perfis muito diferentes entre si, ambos muito bons. Primeiro o Curtimenta 2011 de Anselmo Mendes, que se apresentou muito suave no nariz, muito elegante, notas de frescura e de frutos tropicais bem maduros, na boca é envolvente, tem óptima estrutura e grande mineralidade, acidez intensa mas bem equilibrada, um vinho complexo mas exuberante.

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Nos pratos de peixe, começou-se com robalo com caldo de Bulhão Pato, mexilhão, lingueirão e esférico de batata, muito requintado quer no paladar, quer na textura, caldo aveludado, batata cremosa, textura do peixe de mar correctíssima, o mexilhão e o lingueirão a reforçar o paladar a mar, tudo muito suave na textura.

O segundo prato peixe foi o salmonete no seu caldo, gnochis de batata, o peixe de textura acertada, rijinho, saboroso, o caldo cremoso e muito sedoso, o gnochi de batata apaladado, num conjunto algo exótico, muito bom.

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E veio outro grande Alvarinho, o Soalheiro Reserva 2011, com aromas de madeira, tostado, com alguma mineralidade, na boca é intenso, belo volume, fresco e com óptima acidez, notas ligeiras de baunilha, a deixar grande final.

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Sendo o terceiro peixe o bacalhau de meia cura com caldo de cebola tostado, cebolinhas caramelizadas e cebolete, e cannelloni de lombarda com bochechas de bacalhau. Muito complexo na sua harmonização, revelou-se incrivelmente simples no paladar e na textura, tudo a ligar bem e a tomar conta do nosso palato, óptimo.

Seguiu-se o M.O.B. tinto 2011, que apresentou aromas florais cheios de elegância, alguma frescura, exótico, na boca com bela acidez, taninos muito redondos, bem construído, seguro e elegante, notas de frutos vermelhos maduros, aveludado, um vinho para ir descobrindo. Depois foi o Quinta da Casa Amarela Grande Reserva tinto 2011, concentrado, elegante, aromas intensos de frutos vermelhos, notas de fumo e madeira, na boca tem rusticidade, é especiado e elegante, tem volume, os frutos vermelhos bem maduros, um vinho gastronómico.

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Passando às carnes, começou-se com um produto extraordinário, o rabo de vitela maronesa com cremoso de batata trufado e foie gras. Várias texturas a ligar bem entre si, o foie por cima e o cremoso de batata por baixo da carne a transmitir-lhe um toque do trufado ligeiro, a carne a desfazer-se, de paladar intenso mas delicioso.

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Então apresentaram-se dois grandes vinhos de duas grandes regiões. O tinto do Dão, Vinha do Contador 2008, é um clássico daquela região, cheio de elegância, com aromas sofisticados de flores, de plantas silvestres, com um volume de boca incrível, bem estruturado, boa acidez e alguma frescura, frutos vermelhos maduros, algum fumo e um grande final.

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O Quinta do Crasto – Vinha Maria Teresa tinto 2011 representa a excelência do Douro, muito elegante no nariz, aveludado, notas florais de esteva e de urze. Na boca tem excelente volume, é cremoso, sofisticado, taninos soberbos, bem casados, longo, com um final imenso. Os dois vinhos fizeram companhia a todo o requinte e elegância da carne de veado no seu lombinho, beterraba, maçã reineta e cantarelos, paladares secos da terra e de húmus, a carne aveludada e saborosa, o molho a ligar o conjunto, num patamar culinário já muito alto.

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Antes da sobremesa e para limpar o palato, apreciou-se um Amontillado de Jerez, seco, com acidez incrível e com notas adocicadas a contrastar. A sobremesa dizia-se ser “o limão e as nozes em texturas”. E assim foi, várias texturas, das nozes e do crocante de várias folhas tostadas, o limão entre uma esfera, um creme e uma tosta. Resultado retumbante.

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Para as sobremesas apreciou-se um Porto Barros branco velho que esteve muito elegante, aromas intensos de frutos secos, ligeiras notas fumadas, alguma complexidade na boca, com alguma frescura e muito boa acidez a equilibrar o conjunto. E o Moscatel de Setúbal da Casa Horácio Simões que esteve muito bem, nariz intenso, com notas de citrinos, caramelo, fresco. Na boca é envolvente, aveludado, com óptima acidez, toque de casca de tangerina, notas ligeiras de frutos secos e algumas especiarias.

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Acabou-se com uma proposta com nome cheio de humor, mas ainda assim muito bem conseguida: “o bosque visto da baixa do Porto”. Muito bom.

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Fecharam-se os trabalhos com um espumante muito especial, o Quinta dos Abibes Grande Reserva Brut Nature 2009, pleno de elegância, bolha finíssima e cordão com alguma persistência. Nariz encantador, aromas a passar pela fruta branca, algumas nozes, palha, cheio de frescura e vigor. Na boca tem um volume seguro, acidez vibrante e aromas exuberantes, seco, fumado, cremoso, final longo e sedoso.

Um belo final!

Cheers!

Porto Colheitas de Excelência

Texto João Pedro de Carvalho

A Quinta do Noval é uma das grandes casas de Vinho do Porto, que não só produz o mais famoso Vinho do Porto Vintage, o lendário “Nacional”, como é também a única casa cujos vinhos são exclusivamente single vineyard (i.e., “Quinta”).

A história da Quinta do Noval remonta a 1715, altura em que o seu nome surge pela primeira vez nos registos. A área total de cento e quarenta e cinco hectares, que domina o Vale do Pinhão (Cima Corgo), constitui a essência e a alma da Quinta do Noval. Em 1894 (após a devastação causada pela filoxera) a Quinta foi comprada pelo ilustre comerciante António José da Silva. Da Silva deu uma nova vida à Quinta do Noval, com a replantação dos cento e quarenta e cinco hectares de vinha (classificada com letra A), com porta-enxertos americanos. Em 1925, uma muito pequena parte de vinha no coração da Noval (dois hectares) foi selecionada para a tentativa de manter a vinha indígena Portuguesa em porta-enxerto Português (Nacional) como um experimento. O primeiro vinho a ser produzido e vendido resultante destas jovens vinhas foi o Quinta do Noval Nacional Vintage 1931, considerado o mais sensacional Porto do século XX.

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Quinta do Noval © Blend All About Wine, Lda

O trabalho de António José da Silva foi continuado pelo seu genro, Luiz Vasconcelos Porto, que geriu a empresa durante 30 anos, tendo-se aposentado em 1963. Autor de um vasto programa de inovações, transformou os antigos socalcos estreitos em socalcos mais largos, característica distintiva da Noval, com as suas escadas caiadas de branco.
O estêncil nas garrafas foi pela primeira vez introduzido pela Noval em 1920, tendo sido também pioneira no conceito de Tawnies com indicação de idade (10, 20 e 40 anos) e a primeira casa a lançar um late-bottled vintage: 1954 Quinta do Noval LBV.

Em anos excecionais, determinados lotes de vinho com grande potencial de envelhecimento são postos de lado e colocados em barricas. Apenas em determinado momento a Noval decide engarrafar parte dessas Colheitas. O resto é mantido em barricas onde o vinho irá ganhar toda uma nova dimensão em fases posteriores do seu envelhecimento. Os Porto Colheita da Noval são verdadeiras raridades, combinam requinte e elegância, sendo a expressão máxima dos Tawnies com idade e tal como um Porto Vintage assumem as características específicas do respetivo ano de colheita. A legislação exige um estágio mínimo de sete anos em casco, embora na Quinta do Noval apenas sejam comercializadas após 10 a 12 anos de envelhecimento.

António Agrellos, o diretor técnico da Quinta do Noval desde 1994 e um dos grandes “Wine Blenders” do vinho do Porto, conduziu-nos num fantástico passeio pelos Colheitas da Quinta do Noval.

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Quinta do Noval Colheita 2000 © Blend All About Wine, Lda

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Quinta do Noval Colheita 1995 © Blend All About Wine, Lda

Quinta do Noval Colheita 2000

Mostra toda a classe de um Tawny jovem e cheio de vida, com espírito adolescente, que nos conquista pela energia e presença. Exibe uma boa complexidade, com um bouquet intenso e bem definido, fruta cristalizada, nozes e tabaco, num conjunto jovem, fresco e revigorante. Complexo e doce no palato, fresco e preciso, revela uma estrutura elegante e um final harmonioso e persistente.

Quinta do Noval Colheita 1995

Um tawny a caminho da fase adulta, numa nova dimensão com aromas mais evoluídos e de maior complexidade e profundidade. Bem definido nos aromas, mostra uma bonita complexidade, caramelo, frutos secos (nozes e avelãs), especiaria doce, fruta cristalizada (laranja, limão, damasco). Corpo médio, elegante, untuosidade e boa acidez, tudo num final longo e persistente.

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Quinta do Noval Colheita 1976 © Blend All About Wine, Lda

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Quinta do Noval Colheita 1971 © Blend All About Wine, Lda

Quinta do Noval Colheita 1976

Um vinho temperamental que nasceu na era do Punk Rock. Envolto em rebeldia, é certamente o vinho mais exótico da prova ao melhor estilo Ramones. Hey! Ho! Let’s go! – The Anthology. Muito boa complexidade, caixa de charutos, resina, frutas secas e caramelo. Medianamente encorpado e persistente na boca, suave como seda, apresenta nuances de especiarias num longo final.

Quinta do Noval Colheita 1971

A saudade exprime um sentimento muito próprio quando sentimos falta de algo de que gostamos. Este é um daqueles vinhos que deixa saudade. Pura sedução, dominado por uma encantadora complexidade, especiarias, caramelo, passa de uva e frutas cristalizadas. No palato é de uma enorme riqueza e elegância, tem uma frescura fantástica que o envolve com notas de especiarias num final longo e persistente. Um vinho fantástico.

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Quinta do Noval Colheita 1964 © Blend All About Wine, Lda

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Quinta do Noval Colheita 1937 © Blend All About Wine, Lda

Quinta do Noval Colheita 1964
Tal como em 1964 as admiradoras de bandas como Beatles ou The Rolling Stones saltavam e gritavam de entusiasmo, ao provar este vinho apeteceu-me fazer exatamente o mesmo. Intrigante e ao mesmo tempo conquistador, mostra-se dominado por uma refinada complexidade, aroma delicado e pleno de harmonia, com notas de nozes, passa de uva e da madeira velha onde estagiou. Apeteceu-me ficar toda a tarde a cheirar este vinho. Boca de grande nível, quase veludo, cheio e saboroso, com enorme frescura para a idade que tem e com um final muito longo. Espectacular.

Quinta do Noval Colheita 1937

O ano de 1937 foi marcado pela coroação do Rei George VI de Inglaterra, data em que a ponte Golden Gate (São Francisco) foi também inaugurada e J. R. R. Tolkien publica ‘The Hobbit’. Apenas um vinho como este poderia estar à altura de tamanhos acontecimentos. Estrondoso tawny velho a mostrar uma fantástica complexidade, fruto seco, grande definição, especiarias, marmelada, caixa de tabaco e madeira velha. Palato luxuoso, com uma belíssima acidez. Tudo muito equilibrado com camadas de sabor que nos guiam num final interminável e sedutor.

Contactos
Quinta do Noval Vinhos, SA
AV. DIOGO LEITE, 256
4400 – 111 VILA NOVA DE GAIA
Portugal
Tel: (+351) 223 770 270
Fax: (+351) 223 750 365
Email: noval@quintadonoval.pt
Website: www.quintadonoval.com

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M.O.B.

Texto Ilkka Sirén | Tradução Patrícia Leite

Lembro-me de um jantar tardio que tive no ano passado no Douro, na Quinta do Vale Meão, durante a vindima, no qual o Xito falou-me pela primeira vez deste projecto MOB, com um sorriso de menino. Garantiu-me que não tinha nada a ver com a mafia Portuguesa (1) , mas eu não fiquei completamente convencido. Então o qual é o significado de MOB?

Estive mesmo para apresentar uma versão do Tupac Shakur para o nome, mas algo me diz que não o devo fazer.

MOB significa Moreira Olazabal Borges e é a nova joint venture no Dão dos enólogos Jorge Moreira (Poeira), Francisco “Xito” Olazabal (Quinta do Vale Meão) e Jorge Serôdio Borges (Wine & Soul). Estes três consagrados enólogos têm a sua actividade assente no Douro mas juntaram forças para produzir um vinho na região vitivinícola do Dão.

Sei o que estarão a pensar. Estes “senhores” vão fazer um vinho do Dão ao estilo do Douro e tudo terminará em lágrimas. Não é bem assim. Este grupo vitivinícola tem grande conhecimento sobre as diferentes regiões vitivinícolas Portuguesas, que inclui a própria região do Dão. De facto, a ideia deste projecto é produzir vinhos com uma identidade pura do Dão, o que normalmente significa vinhos delicadamente frutados e com grande acidez. O “gang” MOB arrendou em 2010 a Quinta de Corujão, na parte da região do Dão, no sopé da Serra de Estrela, a cadeia montanhosa mais alta de Portugal Continental.

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M.O.B. white 2012 – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

Esta exploração vitícola situa-se a 500m sobre o nível do mar e posso garantir-vos que lá faz muito frio. É um local bem diferente dos paraísos quentinhos de surf que habitualmente vemos nos postais Portugueses. É até completamente diferente do Douro, que não está muito longe e, por isso, os vinhos são também “animais” completamente diferentes.

Para mim, as joint ventures sempre tiveram um ponto de interrogação. Talvez seja por uma dificuldade de comprometimento pessoal, demasiados compromissos e um grande “ego” ou porque elas visam apenas conseguir publicidade, dinheiro ou dominar o mundo mas, em muitos casos, os vinhos destas alianças não conseguem mesmo vingar. E também é comum que se acabe por pagar mais por estes vinhos. Mas, algumas vezes, bastante raras, podemos obter o melhor de dois mundos ou, neste caso, o melhor de três mundos.

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M.O.B. white 2012 – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

M.O.B. White 2012
Dão

Antes de começar a divagar sobre estes vinhos, devo dizer que gostei bastante da cor usada na cápsula. Normalmente não dou muita atenção às cápsulas e outro tipo de vestimentas dos vinhos, mas simplesmente gostei desta. Será que estou a ficar mais sensível?

Este vinho é um lote de Encruzado e Bical, ambos excelentes exemplos da grande riqueza de castas em Portugal. A viscosidade combinada com um ligeiro “sal” e acidez crocante torna toda a experiência num momento de “água na boca”. Embora já tenha algum carácter, este vinho evoluirá, com mais algum tempo, para um verdadeiro go-go juice(2). Devo dizer que este vinho fez-me sentir muito feliz. É por causa de vinhos como este que as castas ímpares de Portugal estão a ganhar atenção que merecem.
Sugiro que deixe na mesa um copo extra com este vinho por algum tempo porque ele abre e desenvolve alguns aromas interessantes similares aos de um Riesling. Muito apetitoso !

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M.O.B. red 2012 – Foto de Ilkka Sirén | Todos os Direitos Reservados

M.O.B. Tinto 2011

Dão

As uvas incluem uma intrigante mistura de variedades: Touriga Nacional, Jaen (Mencia), Alfrocheiro e Baga. Morangos maduros, Pepsi Cola e endro, que associo normalmente à casta Jaen. Parece ser mais “focado” no sabor. Agradável final apimentado. Um pouco desarticulado mas um bom vinho que não dá muita luta a descer a garganta. Na verdade, este vinho faz-me lembrar aquelas danças Flash Mob que vemos no YouTube. Todas as castas juntaram-se, sabendo mais ou menos como a dança deveria acontecer, mas a coreografia acaba por ficar um pouco estranha e não sincronizada na perfeição. Mas não importa que seja uma dança Flash Mob, já que cada um é vedeta e no final todos se divertem. E quem sabe, com mais alguns anos de prática dentro da garrafa, estas castas poderão unir-se e apresentar um espectáculo de classe mundial tipo Gangnam Style em vez dos movimentos ligeiramente erráticos de uma dança Harlem Shake.

Contactos

Jorge Moreira / Francisco Olazabal / Jorge Seródio Borges
EN 17 27, 27, 6290-261, Rio Torto Gouveia, Guarda

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Aphros: Na vanguarda da Biodinâmica em Portugal

Texto Sarah Ahmed  | Tradução Patrícia Leite

Vasco Croft coloca dinâmica na Biodinâmica, o método holístico de cultivo no qual ele tem sido pioneiro na região dos Vinhos Verdes (e sobre o qual poderá consultar toda a informação neste site.

Desde a última vez que visitei em 2010 a quinta deste anterior Designer de Mobiliário e Arquitecto, em Ponte de Lima, o portefólio ganhou uma “cara nova” com um novo nome (Aphros e não Afros) e novos rótulos.

Croft explica que a mudança do nome foi motivada por um pedido dos EUA, o seu maior mercado de exportação, onde havia preocupações sobre a possível confusão do nome com África ou com o estilo africado de penteado. Felizmente (não me parece ser pessoa de ceder em vão), diz que “o novo nome, que corresponde à escrita em Grego, mantém-se em sintonia com o nome original, que significa “a espuma mítica de onde surge Afrodite”. Tudo está bem quando acaba bem.

Quanto aos rótulos, têm um padrão de três círculos interligados, que foram desenvolvidos a partir de gravuras do seu primo José Pedro Croft, um artista plástico internacional. Não foi só a ligação à família que o fez interessar-se pela imagem. Croft explica: “Espero que esta imagem seja uma lufada de ar fresco no mundo dos rótulos de vinho e que torne a arte contemporânea e o vinho mais próximos”. A propósito, acho que a rotulagem dos vinhos portugueses tem vindo a melhorar. Os rótulos estão mais coloridos e com mais personalidade, o que ajuda os vinhos a destacarem-se nas prateleiras e dá a conhecer aos consumidores algo sobre as pessoas por trás dos vinhos. Uma coisa muito positiva.

Mas o que conta verdadeiramente é o que está na garrafa e, na Aphros, as mudanças vão muito para além da aparência. Croft tem vindo a expandir de forma sustentada o portefólio com um ambicioso Vinhão em madeira (Aphros Silenus), Aphros Rosé, Aphros “Ten” (um Loureiro com baixo teor de álcoo, 10% vol.), Daphne (um Loureiro muito interessante que teve contacto com as películas da uva) e, mais recentemente, AETHER (um lote 50:50 de Loureiro e, para minha surpresa, Sauvignon Blanc, uma casta não-nativa).

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Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

O surto de crescimento na Aphros estende-se às vinhas e também aos vinhos. Em 2009, Croft adquiriu e instalou vinha na Quinta de Casa Nova na freguesia vizinha de Refóios, que foi cultivada desde o início de forma biodinâmica. Planeia ainda transformar uma casa em ruínas num wine bar e, já este ano, deu início aos trabalhos para uma nova adega com capacidade de produzir 120.000 garrafas. Depois disso, ele irá provavelmente “brincar” com um Aphros Pinot Noir da Quinta de Valflores, uma exploração vizinha que arrendou a longo prazo à família Bossert de Oregon, EUA (o que explica a casta Pinot Noir)!

Entretanto a pequena adega original (situada, conforme a tradição, debaixo da casa) da Quinta do Casal do Paço, propriedade histórica da família Croft, continuará a ser utilizada para os lotes mais pequenos, os vinhos artesanais. Sendo pertença da família desde o século XVII, as uvas da quinta eram vendidas às cooperativas locais até Croft dar início à marca Afros/Aphros em 2005. Ele reestruturou as vinhas e começou a cultivá-las de forma biodinâmica com a colaboração de Consultores franceses da área, primeiro Daniel Noel, agora Jacques Fourès; a quinta está certificada na íntegra desde 2011 pela Demeter (Agricultura Biodinamica). É aqui que o composto (na foto) é semeado com preparações biodinâmicas feitas exclusivamente a partir de matéria orgânica, sendo depois aplicado na vinha de acordo com os ciclos dos planetas. Quantidades homeopáticas das preparações são diluídas primeiro com água da fonte, dinamizada pela forma do fluxo da corrente (na foto), e depois energizada pela agitação no tanque de cobre (na foto). São também preparados aqui bio-estimulantes experimentais (na foto).

Mas para Croft nem tudo anda à volta do vinho. Ele Salienta que “[F]azer vinhos por si só não chega”. Para ele, “ser biológico ou biodinâmico é uma questão, em primeiro lugar, de consciência, relacionada com a compreensão e respeito pela Natureza e com a criação de uma relação profunda com a Terra da qual nós somos parte”. Afirma ainda que “não é só uma técnica, muito menos uma opção de Marketing”. É por isso que a sua visão se estende “para a criação de um centro agrícola / cultural”, com um espaço de permacultura e “floresta de alimentos” na Quinta do Casal do Paço – um “santuário” para diferentes espécies de plantas.

Este tipo de aumento da biodiversidade da quinta ajuda a natureza a auto-regular-se (por exemplo, incentiva os predadores naturais que matam as pragas da vinha ou desencoraja as pragas, proporcionando-lhes algo para comer que não seja a vinha!). E a floresta de alimentos irá fornecer produtos da quinta para o wine bar previsto para a Quinta de Casa Nova.

Estou desejosa de conhecer o wine bar numa futura visita mas, entretanto, posso recomendar vivamente que procurem a gama de vinhos Aphros. No mês passado, provei os últimos lançamentos (expostos infra) com Rui Cunha, o Consultor de Enologia de Croft, e aproveitei para lhe perguntar sobre os benefícios de trabalhar de forma biológica e biodinâmica. Ele lembra-se, rindo, que “as pessoas pensavam que era um pouco de loucura no início”. Rui Cunha encontrou-se com praticantes da Biodinâmica alemães e franceses durante as suas viagens, mas a sua prova de fogo aconteceu na Quinta da Covela. Diz que “foi assustador” quando Nuno Araújo (o anterior proprietário desta quinta dos Vinhos Verdes) anunciou que iam começar a converter toda a quinta para a produção Biodinâmica. Isto aconteceu em 2004, num período em que os cursos de enologia em Portugal não faziam qualquer referência ao modo orgânico da agricultura Biodinâmica.

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Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Tal como Croft, Nuno Araújo contratou o Consultor Francês Daniel Noel e, diz Rui Cunha que “vimos um aumento imediato da qualidade das uvas. Eram menos produtivas e de repente mais equilibradas; com o tempo, tornaram-se mais consistentes no rendimento”. Acrescenta que a maturação tem sido mais lenta e a acidez maior, que provou ser particularmente útil num clima quente. Claro que, sendo o sabor o teste final, Rui Cunha diz que “as uvas sabem muito melhor”. Refere ainda que é como comparar um fruto da nossa própria árvore com um fruto comprado, que tenha sido cultivado de forma convencional (ou seja, com produtos químicos – fertilizantes, herbicidas e pesticidas). Quanto às especificidades, Rui Cunha admite que não pode explicar o motivo de algumas práticas biodinâmicas funcionarem, mas já viu em primeira mão como a preparação biodinâmica 500 (um composto de estrume de vaca) dá muito maior vitalidade ao solo e apenas 200 gramas de 501 (pó de quartzo) pode ter um impacto significativo na produção – “as folhas tornam-se mais espessas, ficando mais resistentes ao sol (a queimaduras) e insectos”.

Vasco Croft tem notado que, ultimamente, cada vez mais produtores portugueses estão a trabalhar de forma biológica ou biodinâmica, mesmo que não certifiquem os seus vinhos. De acordo com o Instituto da Vinha e do Vinho, Portugal tem agora cerca de 2.500 hectares de vinhas biológicas certificadas, que são cultivadas por 485 produtores de uva e 52 produtores de vinho certificados como Biológicos. Referindo-se a “uma tendência mundial de respeito pela terra e pela tradição e autenticidade dos vinhos”, na sua opinião, “[I]sso é bom, porque a era agro-química já desapareceu em termos éticos e científicos, pertence ao passado, mesmo que ainda permaneça por um tempo devido à inércia”.

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Aphros AETHER 2013 – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

Aphros Ten 2013 (Vinho Verde)
Ten foi produzido pela primeira vez em 2011 e provém de uvas Loureiro de vinhas mais jovens. O seu nome é uma referência ao baixo teor alcoólico (claro está, cerca de 10% vol.). O vinho de 2013, uma amostra da cuba, é muito bonito – este Loureiro meio-seco é um floral clássico com notas de pó-de-talco, sabor cristalino de lima e toranja e ainda uma pitada de casca de frutas cítricas. A acidez vivaz e de fazer crescer água na boca mantém o foco e equilíbrio (melhor do que na colheita de 2011, em que faltou um pouco de vitalidade). Muito bom; um excelente vinho para se beber avidamente e com o coração. 10%

Aphros Loureiro 2013 (Vinho Verde)

Há aqui uma série de factores para fazer um vinho mais sério, concentrado e estruturado. Primeiro, a uva vem de vinhas mais velhas. Em segundo lugar, o contacto com as películas da uva durante cerca de 4-6 horas (na prensa) e, uma vez prensado, o mosto é fermentado a temperaturas ligeiramente mais elevadas. É envelhecido nas borras com batonnage, o que dá corpo e complexidade. Assim, embora liderem os sinais florais do Loureiro, o vinho é muito mais firmemente estruturado, focado e mineral. Muito fino, longo e persistente. Acho-o mais puro do que as colheitas anteriores. Rui Cunha concorda comigo, salientando que esta colheita beneficiou com a aquisição de uma prensa (antes a prensa era alugada e não estava sempre disponível no momento ideal em função da vindima). Agora, as uvas podem ser colhidas precisamente no momento certo e ir directamente para a prensa, o que explica a precisão encantadora deste vinho. Muito bom mesmo e tem potencial de envelhecimento. 11,5%

Aphros AETHER 2013 (Minho)
Este vinho é um lote 50:50 de Loureiro e Sauvignon Blanc, produzidos na quinta. Rui Cunha explica que adora a casta Sauvignon, mas também há uma lógica empresarial subjacente a este vinho. A Aphros está a usar a mais conhecida casta francesa para “abrir portas” para os mercados de exportação. Para mim, Aether é um vinho de duas metades. O Loureiro impõe-se no nariz com as suas notas encantadoras, e até celestiais, de flores e talco. O Sauvignon domina na boca, com a mineralidade do giz, notas de rebentos de groselha e um final crocante mais marcado do que os Aphros Loureiros. É agradável e limpo, com o poderoso carácter varietal do Sauvignon, mas tenho que admitir que, pessoalmente, viro-me sempre mais para o charme do Loureiro! 12%

Contactos
Quinta Casal do Paço
Padreiro (S. Salvador)
Arcos de Valdevez 4970-500 Portugal
Tel: (+351) 91 42 06 772
E-mail: info@afros-wine.com

Website: www.aphros-wine.com

Morgadio da Calçada – (N)a História do Vinho

Texto Patrícia Leite 

A aldeia de Provezende, inserida no coração do Alto Douro Vinhateiro, património mundial da UNESCO, está por natureza ligada à história do Vinho. Situa-se no concelho de Sabrosa, terra de famílias nobres que prosperaram em poder e influência no século XVIII com a produção e comércio de vinho. Aí terá nascido a ideia da criação da Região Demarcada do Douro, concretizada pelo Marquês de Pombal em 1756.
Para além de ter desempenhado um papel de destaque na criação da cultura e da paisagem do Douro Vinhateiro, Provezende beneficia de uma densidade patrimonial invulgar, incluindo vários solares e um Pelourinho de 1578. É nesta Aldeia Vinhateira que encontramos uma das 13 casas senhoriais do século XVII, a Casa da Calçada, que foi classificada em 2009 como Imóvel de Interesse Público e que alberga o projecto enoturístico Morgadio da Calçada desde Janeiro de 2013.

Fonte:www.morgadiodacalcada.com

O edifício solarengo e a capela são completados pelas dependências agrícolas, formando um pátio com portal, conjunto este que constitui um dos exemplares da tipologia “casa nobre em espaço rural” e é um dos espaços emblemáticos da região duriense. A Casa da Calçada viu também reconhecida a sua importância histórica e das personalidades com ela relacionadas na construção da cultura e paisagem do Douro Vinhateiro. É nesta “viagem ao passado” que encontramos uma das características distintivas do projecto Morgadio da Calçada.

Pela sua excelência, a Rede de Capitais de Grandes Vinhedos (uma aliança de dez regiões vinícolas internacionalmente reconhecidas) atribuiu a esta unidade enoturística o prémio Best of Wine Tourism 2014 na categoria Arquitectura e Paisagem, sendo um dos 5 projectos considerados do melhor se faz no enoturismo em Portugal.

O alojamento do Morgadio da Calçada consiste em 8 quartos situados nas antigas cavalariças e armazéns agrícolas, os quais foram recuperados de forma contemporânea com materiais e objectos portugueses da melhor qualidade, oferendo todo o conforto e privacidade com o charme das antigas construções rurais.

Fonte:www.morgadiodacalcada.com

A antiga cozinha dos trabalhadores da quinta foi transformada numa acolhedora sala de estar, onde podemos passar os serões de inverno à lareira e receber a brisa fresca dos pátios no verão. Da sala vemos e acedemos à paisagem maravilhosa das vinhas de onde provêem os vinhos “Morgadio da Calçada”.

Na actual cozinha tudo foi pensado para a partilha com os clientes do prazer e tradição gastronómicos da família na confecção das antigas receitas das cozinheiras da Casa da Calçada, com ingredientes da horta da quinta e da região.

Fonte:www.morgadiodacalcada.com

Lá fora, o espaço é tranquilo e prazenteiro, protegido por grandes árvores e com recantos que convidam ao relaxamento. E a piscina também marca a diferença: foi construída dentro das ruínas de um dos antigos armazéns da quinta, ficando-nos na memória pela sua originalidade.

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Fonte:www.morgadiodacalcada.com

Mas o nome “Morgadio da Calçada” é também a identidade de um conjunto de vinhos, sempre presentes no serviço aos clientes desde que chegam à unidade.

Fonte:www.morgadiodacalcada.com

Os vinhos são produzidos por Dirk Niepoort, fruto da parceria entre a Casa da Calçada e a empresa Niepoort (Vinhos), SA. Para além dos vinhos tranquilos Douro com rótulos do Arquitecto Siza Vieira, a marca “Morgadio da Calçada” tem também 6 vinhos do Porto (Dry White, Tawny, Colheita 1998, Rubi, LBV e Vintage 2007), cujos rótulos são da autoria do Arquitecto Michel Toussaint.

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Fonte:www.morgadiodacalcada.com

A estadia no Morgadio da Calçada permite ainda usufruir da vivência da Aldeia Vinhateira de Provezende, com mercearia, padaria com forno antigo feito em pedra (onde o pão ainda é confeccionado à mão), monumentos e paisagens de suster a respiração. Na unidade enoturística, é também obrigatório visitar as vinhas, os armazéns e a casa senhorial, com grandes salões palacianos, ficando a conhecer as histórias da família e do local que se interligam com a história do Douro.

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Fonte:www.morgadiodacalcada.com

Afinal, o Morgadio da Calçada reflecte o gosto particular dos seus sócios-gerentes, Jerónimo Cunha e Pimentel e Manuel Villas-Boas, de partilhar momentos, espaços e histórias para que perdurem na memória.

Contacts:
Manuel Villas-Boas
mvb@morgadiodacalcada.com
Tlm +351 915 347 555
Tlm +351 937 745 886
Largo da Calçada/ Provesende
5060-251 Sabrosa, Douro – Portugal
Tel +351 254 732 218 | www.morgadiodacalcada.com

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Prova de Tawnies datados (10,20,30 e 40 anos) e Colheitas (1982, 1969 e 1952)

Texto Olga Cardoso

A Graham’s, marca pertencente à Symington Family Estates, foi fundada em 1820 por W & J Graham e desenvolveu com o passar dos anos uma notável reputação como uma dos maiores produtoras de Vinho do Porto.

Se o vinho é uma forma de arte, os Portos com indicação de idade são seguramente uma das suas mais puras expressões. Da arte do envelhecimento, da arte da tanoaria e da arte da lotação, nascem Tawnies velhos absolutamente arrebatadores. Encontram-se entre os mais desafiantes estilos de Porto e exigem muito de quem os faz e produz. São fruto da perícia e do saber, da paciência e da minúcia, da dedicação e da entrega.

Encontrar o equilibrio correcto entre a elegância e a delicadeza que resultam do prolongado envelhecimento em casco, preservando simultaneamente a frescura e o sabor da fruta, é a missão que se impõe ao enólogo e a combinação que confere a estes vinhos toda a sua estrutura e longevidade. Os Tawnies datados são acima de tudo vinhos únicos e eruditos, que nos desafiam os sentidos e nos estimulam a razão.

Os Porto Colheita, dos quais sou uma fã assumida, são vinhos que exprimem a excelência e a magnitude de um só ano. Neste encontro, foram três os Colheitas provados, 1982, 1969 e 1952. Décadas de evaporação, conferem aos Colheitas mais antigos enorme concentração, até os transformar quase numa essência, originando intensos e profundos aromas a frutos secos e um paladar denso e untuoso, repleto de sabores ricos e complexos.

Portos Colheita são vinhos nobres e requintados, verdadeiros símbolos de prestígio e tradição. No meu caso particular, são vinhos que me entusiasmam, que me emocionam e que me remetem para uma outra dimensão! São vinhos que carregam consigo o peso da História, vinhos que encerram em si mesmos o Sonho dos Homens e que a cada trago nos reforçam o orgulho de ser Português!

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10, 20, 30 & 40 Years Old Tawnies © Blend All About Wine, Lda

 

TAWNY 10 ANOS, Douro

Conta no seu curriculum com duas medalhas de ouros atribuídas pela Decanter World Wine Awards e diversas medalhas de prata conferidas noutros prestigiados concursos. É, de facto, um dos melhores vinhos da sua categoria. Notas caramelizadas, intensas sensações de nozes, tâmaras e figos secos marcam o seu bouquet. Fruta rica e madura, associadas a notórias sensações de mel, proporcionam-lhe um paladar aveludado e um final macio e sedoso.

TAWNY 20 ANOS, Douro

Aroma simultaneamente delicado e intenso, revela a presença de frutos secos, como nozes e avelãs, combinados com notas de casca de laranja, tudo muito afinado e requintado. Na boca mostra-se redondo e concentrado, equilibrado e harmonioso, terminando com um final longo e elegante. Um vinho onde poderemos encontrar tudo o que se espera de um Tawny 20 anos!

TAWNY 30 ANOS, Douro

Complexo e magnífico, apresenta uma camada de frutos secos, casca de laranja, mel e compota de pêssego. A boca é plena, rica e muito limpa. As notas de mel e caramelo fazem-se sentir com alguma evidência, conferindo-lhe uma textura aveludada e intensa. Concentrado e com notável acidez, o seu final é longo e impressionantemente persistente.

TAWNY 40 ANOS, Douro

A sua cor apresenta já uns laivos esverdeados, consequência da elavada idade dos vinhos que lhe deram vida. O seu nariz é intenso, complexo e com marcada profundidade. Caramelo, pralinés, mel e até chocolate fazem-se evidenciar. A boca é densa, volumosa e portentosa. A sua acidez equlibrada e o seu acentuado comprimento, conduzem-no para um final longo e requintado.

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Porto Colheita 1982 & 1952 © Blend All About Wine, Lda

 

PORTO COLHEITA 1982, Douro

A Graham’s celebrou o nascimento do Príncipe George de Cambridge com uma Edição Especial de Vinho do Porto. Um Porto Colheita de excepção, 1982, o ano de nascimento do Duque e da Duquesa de Cambridge. Foi envelhecido durante mais de 30 anos em cascos de carvalho nas Caves 1890 da Graham’s em Vila Nova de Gaia e resultou da selecção de apenas seis cascos, levada a cabo por Charles Symington, principal provador e director de enologia.

Rico em frutos secos, com acentuadas notas caramelizadas e figos secos, revela uma boca aveludada, com taninos sedosos e sensações especiadas. O seu final é doce, longo e deliciosamente persistente.

PORTO COLHEITA 1969, Douro

É um Porto de um engarrafamento especial de apenas seis tonéis da colheita de 1969, produzindo cada um apenas 712 garrafas numeradas. Charles Symington provou cada um dos 21 barris de 1969 que ainda estão em envelhecimento nas caves da Grahams e selecionou as seis por ele consideradas excepcionais.

O seu nariz é uma verdadeira explosão de aromas. Nozes, caramelo, pau de canela, algum verniz e até folha de tabaco, aroma que me fez recordar uma marcante visita a uma fábrica de charutos em Havana. A boca é intensa e sedutora, denotando frutos cristalizados e especiarias exóticas, remetendo-me agora para os meus longos passeios pelas medinas de Tunis e Marrakech. Complexo e concentrado, este Colheita, termina intenso, focado e poderoso

PORTO COLHEITA 1952 – Jubileu de Diamante, Douro

Vinho do Porto de excepcional qualidade, especialmente seleccionado para comemorar o Jubileu de Diamante de Sua Majestade a Rainha Isabel II. Testemunhando seis décadas do reinado da soberana Britânica, este foi o vinho com o qual se fez o brinde real no final do almoço comemorativo. É, por essa razão, um motivo de grande orgulho para a família Symington, que tão sabiamente se decidiu pelo lançamento deste Colheita por associação a tão nobre efeméride.

Com uma extraordinária intensidade aromática, apresenta frutos secos, delicadas tâmaras Marroquinas, raspas de laranja e notas especiadas de noz moscada e cravo-da-índia. A boca é intensa e magestosa, com uma frescura assinalável e uma acidez mordaz. Verdadeiro hino ao equilíbrio e à harmonia estrutural. Para uns um adagio, para outros um allegro vivace, este Colheita é acima de tudo, um vinho ímpar, aristocrático, tremendamente concentrado e complexo. Um Porto grandioso e sibilino, pleno de matizes e nuances, verdadeiro exemplar da excelência vínica que o Douro e o Porto conseguem alcançar.

Contacts
Graham’s Porto
Vila Nova de Gaia
Portugal
Tel: (+351) 223 776 484 / 485
Email: grahams@grahams-port.com
Website: www.grahams-port.com

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Casas do Côro – (En)Canto de Marialva

Texto Patrícia Leite

No mapa vitivinícola português, a freguesia de Marialva divide-se entre a região do Douro e a da Beira Interior. E é no coração desta belíssima Aldeia Histórica de Portugal, de grande importância estratégica nos alvores da nacionalidade, que encontramos as Casas do Côro, uma unidade de casas de campo, hotel vínico e eco-friendly Spa.

Na chegada às Casas do Côro de imediato percebemos como esta unidade enoturística respira história, tranquilidade e respeito pela natureza, num conceito único que resulta de uma enorme paixão pela terra e por bem-receber dos proprietários Cármen e Paulo Romão.

Source:www.casasdocoro.pt

Tudo começou há 14 anos, com a simples ideia de recuperação da primeira das casas – a Casa do Côro – que passou depois a funcionar como casa principal deste projecto turístico de excelência. Esta casa é como um pequeno hotel, a única que não se aluga na totalidade, e tem quatro quartos de casal, um quarto individual e uma suite júnior. Lá encontramos também uma magnífica sala de jantar acompanhada de uma acolhedora sala de estar.

Source:www.casasdocoro.pt

À casa principal juntaram-se mais oito casas em total respeito pela traça beirã, que manda erguer paredes em granito, xisto e madeira de castanheiro e pinho.

É possível ainda usufruir do magnífico espaço exterior em volta de cada uma das casas, bem como dos jardins e da piscina, para passear, relaxar ou até mesmo para jantar ao luar nas noites quentes de Verão.

Em plena harmonia com a Natureza, podemos ainda encontrar a suite eco-sustentável dos Bogalhais: um espaço de design rodeado de carrascos e sobreiros, com uma vista arrebatadora sobre Marialva.

Source:www.casasdocoro.pt

Actualmente as Casas do Côro têm 24 quartos, mas com os investimentos já realizados e agora em fase final, o alojamento da unidade será em Julho de 2014 no total de 31 quartos distribuídos por 6 tipologias diferenciadas, contando também com um eco-friendly Spa.

Nesta unidade de enoturismo experiencia-se ainda, claro está, a tradição da gastronomia e do vinho, num ambiente acolhedor e requintado. Na verdade, a oferta de uma gastronomia de excelência é também uma aposta das Casas do Côro, da responsabilidade de Cármen Romão. E muito do que é servido nas refeições é produzido na unidade, sendo tudo o mais comprado nas redondezas: pão cozido em forno de lenha, compotas, mel, sumos naturais de frutas da época provenientes da horta biológica, queijo curado, requeijão, chouriço e lombo, ovos caseiros, bolos, entre outros.

Source:www.casasdocoro.pt

Em 2008, as Casas do Côro entraram no negócio do vinho pela mão do amigo Dirk Niepoort. Primeiro começaram a comprar uvas às pessoas da aldeia de Marialva, mas depois decidiram começar a ter também uvas próprias e plantaram vinha. Os vinhos “Casas do Côro” provêm das duas regiões vitivinícolas que “dividem” Marialva: do Douro (Rosado, Branco Reserva e Tinto Grande Reserva) e da Beira Interior (Branco, Tinto e Tinto Reserva). Dirk Niepoort assina os vinhos Douro Rosado e Branco Reserva e Rui Reboredo Madeira os vinhos Beira Interior Branco, Tinto e Tinto Reserva e os vinhos Douro Tinto Grande Reserva.

Mas, para além de encontrarem na Loja do Côro uma oferta de vinhos seleccionada por Paulo Romão, os entusiastas do vinho têm ainda a oportunidade de viver experiências vínicas com os vários programas oferecidos pela unidade enoturística: “Casas do Côro & Gourmet & Wine Experience, “Casas do Côro & Oporto Ramos Pinto Experience”, “Casas do Côro & Wine & Train Tour Experience” e “Casas do Côro & Douro Boat & Ervamoira Museum”.

Source:www.casasdocoro.pt

Nestes programas, com duração de 3 dias, é possível usufruir de provas de vinho, de visita às quintas e adegas vitivinícolas, de momentos de degustação gastronómica e de caminhada nocturna e visita ao Património Histórico, Religioso, Arquitectónico e Natural de Marialva.

Segundo Paulo Romão e a sua mulher Cármen, muito mais do que um hotel, as Casas do Côro são sinónimo de “amor, família, cultura, história, património e terra”. Para mim, são um verdadeiro (en)Canto de Marialva!

Contactos

Marialvamed – Turismo Histórico e Lazer, Lda
Largo do Côro
6430-081 Marialva
Portugal
 Telefone (+351) 917 552 020
Fax (+351) 279 850 021
info@casasdocoro.pt ou reservas@casasdocoro.pt
www.casasdocoro.pt

Morgadio da Calçada, de Provesende para o mundo

Texto João Pedro de Carvalho

Na pacatez da pitoresca Vila de Provesende reina um ambiente acolhedor e pleno de tradição. Pela manhã o ar fresco e puro é tomado pelo cheiro a pão cozido que percorre as ruelas e guia-nos a uma visita obrigatória à padaria.

Um dos mais antigos solares daquela vila é a Casa da Calçada, um imponente solar duriense cuja fundação remonta ao séc XVI pertença do Morgado da Calçada, mandado construir no final do século XVII pelo desembargador Jerónimo da Cunha Pimentel, mantendo-se na família até aos dias de hoje.

É Manuel Villas-Boas quem nos abre o portão que dá passagem para um conjunto de antigos edifícios agrícolas, alvos recentes de uma profunda e cuidada reabilitação, que deram origem a uma bonita unidade de enoturismo. No total são oito quartos e piscina, onde o bom gosto se alia à tradição com um ligeiro e necessário toque de modernidade. Se aliarmos tudo isto à arte de bem receber de Manuel Villas-Boas, apenas faltará abordar os belíssimos vinhos que ali são produzidos.

Casa da Calçada – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Na verdade, o vinho sempre fez parte da história daquela casa e a visita à antiga adega apenas o confirma com a presença de imponentes e históricos tonéis de madeira. Os cerca de 4,5 hectares de vinhas moram lado a lado com a casa e reconversão das mesmas teve início no ano de 1980, terminando por volta dos anos 90. A vinha divide-se em três parcelas: a mais velha com mais de 100 anos, uma só de castas brancas de cerca de 2,5 hectares com idade a rondar os 20 anos e outra de castas tintas com idade aproximada de 30 anos. Foi nessa altura que se criou a parceria Casa da Calçada – Niepoort com o surgimento da marca Morgadio da Calçada, sendo todo o processo de vinificação tratado na Quinta de Nápoles (Niepoort). Também aqui os detalhes não foram deixados ao acaso e no desenho dos rótulos surge a assinatura do Arq. Siza Vieira para os vinhos tranquilos e do Arq. Michel Toussaint para os vinhos do Porto. Dirk Niepoort é um confesso admirador das vinhas de Provesende, criando ali vinhos de grande frescura e elegância, para o que muito contribuem os 600 metros de altitude e as grandes amplitudes térmicas. Em prova, nenhum dos vinhos se revelou marcado pela madeira e todos mostraram uma enorme apetência gastronómica.

Morgadio da Calçada Branco 2012, Douro – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Morgadio da Calçada Branco 2012, Douro

Fruto de um grande ano, reina aqui a limpeza e frescura da fruta madura (citrinos, ameixa branca, pera) de grande qualidade. Apenas 60% do lote passou por madeira num conjunto muito novo e cheio de energia, dominado em fundo por austeridade mineral. Prova de boca elegante, fruta presente com harmonia, alguma tosta da madeira com frescura a envolver todo o conjunto.

Morgadio da Calçada Branco Reserva 2010, Douro

Um vinho que cresce com tempo no copo, beneficia se for decantado, a mostrar um requintado bouquet com fruta presente (citrinos, ameixa branca), complexo, elegante e convidativo. Da passagem a 100% por madeira, ganhou algum peso num perfil mais estruturado e profundo, complexo e sério que o irmão mais novo. Na boca, muito boa presença com leve cremosidade, fruta cheia de sabor, num final especiado, mineral e persistente.

Morgadio da Calçada Tinto 2004, Douro – Foto de João Pedro de Carvalho | Todos os Direitos Reservados

Morgadio da Calçada Tinto 2011, Douro

Estagiou em barricas usadas, madeira discreta ampara um conjunto dominado pela frescura de fruta vermelha/negra (bagas, framboesa,) gulosa com leve doçura, toque de fumo, cacau. Todo ele elegante, com boa estrutura, palato cheio de frescura e fruta, envolvente a terminar com ligeira secura.

Morgadio da Calçada Tinto 2004, Douro

Foi o primeiro tinto Morgadio da Calçada, simplesmente delicioso, cativa no imediato. A fruta limpa, madura e muito bem definida mostra-se banhada numa capa de leve doçura, envolto em frescura e complexidade, especiarias, esteva, cacau, profundo e conversador. Boca cheia de sabor e frescura, macio no palato, muito requinte, leve traço vegetal e especiaria em final longo e persistente. Muito bom.

Morgadio da Calçada Tinto Reserva 2007, Douro

Da selecção das melhores uvas das vinhas mais velhas nasce o Reserva, sério e complexo, sente-se uma ligeira austeridade tão característica dos tintos do Douro, a pedir tempo de copo. Fruta expressiva (cereja, amoras) com notas de esteva, especiaria, nota de licor, mineral, elegante e macio no palato. Saboroso com rica textura, frescura e profundidade, num tinto de gabarito e classe.

Contactos
Largo da Calçada | Provesende
5060-251 Sabrosa (Portugal)
Tel: (+351) 254 732 218
Telemóvel: (+ 351) 915 347 555
E-mail: mvb@morgadiodacalcada.com
Website: www.morgadiodacalcada.com

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Filipa Pato: Mais do que uma Enóloga, uma Produtora de Vinhos

Texto Sarah Ahmed | Tradução Patrícia Leite

Se há uma característica que admiro particularmente nos enólogos, na verdade, na vida em geral, é a mente aberta.

A vontade de aprender e crescer – uma humildade que, na minha (humilde) opinião, é absolutamente fundamental para a verdadeira busca da excelência.

É uma qualidade típica de uma nova geração de enólogos portugueses bem-viajados, mesmo que, como Filipa Pato, estejam agora firmemente enraizados no vernáculo regional. Nada é mais tradicional do que produzir Baga na Bairrada!

Embora tenha tido a oportunidade de estudar Enologia, Filipa diz-me: “Eu preferi aprender e praticar com bons enólogos, porque, quando se estuda muito, fica-se muito técnico e não se tem experiência prática suficiente”.

Interessada nas oportunidades de viagem que o vinho proporcionava (o seu pai é o maestro itinerante/viajante da Baga da Bairrada, Luís Pato), ela aproveitou os contactos do pai em Bordeaux (Bordéus), passando algum tempo no Château Cantenac Brown, Margaux. Mordida pelo bichinho das viagens, Filipa foi então para Leeuwin Estate em Margaret River, um dos produtores de Chardonnay mais elogiados da Austrália, seguindo depois para a Argentina, onde trabalhou na empresa Finca Flichman.

Qual o resultado desta “espionagem industrial”? Filipa diz que “é importante para provar vinhos de outros países para que possamos entender as diferenças em relação a nós, comparar preços e qualidade e ver muito bem a nossa posição no mercado. Onde os nossos vinhos se situam no cenário mundial”. Especialmente onde, acrescenta, os mercados de exportação são mais exigentes. É um processo que testemunhou em primeira mão na Leeuwin Estate, onde, relembra de olhos arregalados, a equipa de enologia ia todos os dias saborear os melhores Bourgognes (Borgonhas) – “Não os vinhos da aldeia, mas do Domaine Leflaive Batard-Montrachet Grand Cru”!

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Filipa Pato – Foto de Sarah Ahmed | Todos os Direitos Reservados

 

Embora esteja agora focada exclusivamente na produção de vinho para o seu rótulo homónimo de Bairrada, Filipa acredita que “é um óptimo exercício continuar a provar de outros vinhos, porque abre-me os horizontes e dá-me confiança no que estou a fazer e orgulho nas nossas próprias tradições”.

A Bourgogne (Borgonha), que visita todos os anos, tem um lugar especial no coração de Filipa. Os seus olhos brilham ao lembrar-se das conversas sobre uvas, colheitas e vinificação com eruditos de Bourgogne como Eric Rousseau (do Domaine Armand Rousseau).

Não apenas por causa de suas formidáveis capacidades , mas também, explica, “porque eles têm vindo a crescer no mesmo contexto que eu. Nasceram no meio do campo e a Bourgogne é muito semelhante à Bairrada com os seus solos [calcários argilosos], encostas e adegas no meio de aldeias, cada uma das quais produz vinhos de perfis diferentes”.

O sonho de Filipa é desenvolver para micro-climas da Bairrada um reconhecimento semelhante, para o que ela e o seu marido (o famoso Sommelier e empresário da restauração belga William Wouters) têm arrendado ou comprado todas as boas vinhas velhas que encontraram. Filipa até já começou a criar um mapa de seus melhores terroirs (na foto).

Mais importante ainda, explicando que “Não gosto de dizer que eu sou enóloga, sou uma produtora de vinho que produz uvas e faz vinho”, Filipa abraçou a cultura dos vignerons da Bourgogne (ou produtores de vinho). Estando eu impressionada com esta preocupação com vinhas velhas e grandes terroirs, Filipa diz “se for à Bourgogne, verá que os vignerons passam a maior parte do tempo na vinha”. É por isso que, quando as vinhas estão “a dormir” durante o inverno, Filipa viaja e, durante o período de produção (Março a Outubro), procura estar em casa, na Bairrada.

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Filipa Pato – Foto Cedida por Filipa Pato

 

Diz que “agora para mim é muito importante fazer vinho apenas numa região, para poder “respirar” a Bairrada todos os dias e trabalhar com as mesmas uvas e vinhas e, com experiência e foco, poder melhorar todos os anos”. E melhorar significa produzir vinhos que reflectem sua origem única ou, como dizem os seus rótulos “vinhos autênticos, sem maquilhagem”.

Embora diga que Portugal não teve de facto no passado essa cultura de produtores ou, pelo menos, não era bem vista, Filipa considera que “há um novo movimento de vignerons [bem vistos] em Portugal”. Acrescenta que o desenvolvimento é incalculável não apenas para o vinho, mas porque “precisamos de produtores de vinho e outros artesãos, ou não vamos manter nossas aldeias; estes lugares irão perder o seu encanto”. É por isso que Filipa e William estão a recuperar uma antiga adega no coração de Óis do Bairro, a aldeia onde ela cresceu. E, é claro, isso significa que ela poderá estar perto das vinhas.

Aqui estão as minhas notas sobre os últimos lançamentos de vinhos autênticos de Filipa Pato sem maquilhagem:

Filipa Pato 3B Blanc de Blancs 2013 (Vinho)
Pela primeira vez, Pato prensou este lote tradicional de Bical e Maria Gomes com engaço, lote este que, combinado com uvas de vinhas velhas provenientes de solos calcários argilosos, contribui para um vinho espumante excepcionalmente fresco e preciso. Pureza adorável e persistência de pera perfumada. Muito bom. 12,5% vol.

Filipa Pato Nossa Calcário Branco 2012 (Bairrada)
Este 100% Bical (vertido de uma magnum) é um dos meus brancos favoritos da região (e certamente de Portugal). Feito a partir de uvas provenientes da aldeia de Filipa, Óis do Bairro, este vinho complexo e com textura é envelhecido em barricas de carvalho francês de 500 litros, sobre as borras com bâtonnage. As frutas de caroço maduras e cremosas são habilmente equilibradas e despedaçadas num longo final pelo corte rápido e impulsivo da acidez mineral da toranja. Salgado, com nuances de fumo que falam de terroir Atlântico de argila calcária. Esplêndido. 13.5% vol.

Filipa Pato FP Baga 2012 (IGP Beira Atlântico)

Esta é a primeira vez o FP tinto de Filipa Pato (o tinto júnior) tem tudo de Baga (costumava ser usada uma percentagem significativa de Touriga Nacional para “suavizar” o sabor). Em 2012, a atractividade do vinho é agora alcançada por uma pitada de uvas brancas co-fermentadas (1% Bical e 1% Maria Gomes) e um “mergulho frio” nas películas, seguidos de uma maceração super-curta e suave de 2-3 dias. Além disso, o vinho não viu madeira (que aumentaria os taninos) e foi envelhecido em cubas de betão. É um vinho encantador, com algumas reminiscências de um Cabernet Franc do Loire (de que Filipa é fã), com as notas estaladiças e apimentadas de canela acabada de cortar, cereja, ameixa e bons taninos. Mais que bebível. 12% vol.

Filipa Pato Nossa Calcário Tinto 2010 (Bairrada)
Moderno na pureza e clássico na estrutura este 100% Baga (vertido de uma magnum) tem frutos vermelhos maduros, crocantes mas doces, uma mineralidade dura e fumada e excelente frescura e persistência. Intenso em vez de denso, uns reflexos ultra-finos dos taninos polvilham um final prolongado, seco mas interessante. Muito bom. 13% vol.

Filipa Pato Nossa Calcário Tinto 2011 (Bairrada)
A colheita 2011 revela frutas da floresta mais maduras (vermelhas e pretas), que são bem suportados por taninos mais doces e arredondados. No entanto, muito fiel às suas raízes, é um vinho bem estruturado e bem definido – longo e persistente com um final delicadamente trabalhado com nuances minerais controladas. Muito bom. 13% vol.

Filipa Pato Espírito de Baga Uma Saga (Vinho)
Pato recuperou uma tradição da Bairrada que foi perdida no final do século XVIII, como consequência de medidas destinadas a proteger a indústria do vinho do Porto. O que parece um bocado disparatado quando este vinho tinto fortificado tem poucas semelhanças com um Porto. Como seria de esperar dada a influência atlântica, é um vinho mais fresco e mais bem trabalhado. Verdadeiramente macio, sustentado e persistente com fruta preta carnuda, mas bem definida, notas de pimenta e um final longo de nuances minerais controladas. O segredo para a elegante integração do Espírito? Vem de uvas Baga da Bairrada. Único e excelente. 17% vol.

Contactos
F. Pato – Vinhos Unip Lda
Rua da Quinta Nova, s/n, 3780-017 Amoreira da Gândara.
Tel: (+351) 231596032
Email: filipa@filipapato.net
Site: www.filipapato.net